segunda-feira, 30 de julho de 2007

Liberalismo x Democracia social

Liberalismo versus democracia social por Alfredo Bosi [*] Se há um objetivo que Losurdo persegue de modo coerente ao longo desta Contra-história do liberalismo é o de preferir o exame das políticas liberais "em sua concretização" ao engessamento em definições genéricas pelas quais o termo "liberalismo" se toma como uniforme e abstrata doutrina. A sua regra de ouro é historicizar sempre, isto é, analisar os papéis efetivos que os diversos grupos políticos exerceram em nome de idéias e ideais liberais. O método é fecundo, daí a riqueza dos resultados. Limito-me a pontuar alguns momentos fortes em que vemos, em ato, propostas e decisões tomadas por políticos assumidamente liberais. John Calhoun, vice-presidente dos Estados Unidos entre 1829 e 1832, líder do Partido Democrático, escreveu textos apaixonados em defesa da liberdade individual e das minorias, contra os abusos do Estado e a favor das garantias constitucionais. Sua fonte teórica é o pai do liberalismo político inglês, John Locke. Ao mesmo tempo e com igual convicção, Calhoun defende a escravidão dos negros como um "bem positivo", recusando-se a considerá-la como "mal necessário", fórmula concessiva de seus companheiros de partido e fé liberal. Os abolicionistas, os philanthropists religiosos, eram, para Calhoun, "cegos fanáticos" que se propunham a destruir "a escravidão, uma forma de propriedade garantida pela Constituição". Losurdo poderia, a partir desse primeiro exemplo, ter ido um pouco além e verificar que estudiosos e expositores de Adam Smith nos estados do Sul não viam nenhuma contradição entre proclamar os dogmas da Economia Política clássica e defender a peculiar institution, como chamavam o cativeiro negro. O que inquieta nosso autor é constatar o prestígio neoliberal dos textos de Calhoun reeditados em 1992 em uma coleção norte-americana que se intitula "Clássicos da Liberdade". A relação entre doutrina liberal e escravidão, que, teoricamente, pareceria uma disjuntiva radical, revela-se na "verità effettuale della cosa" (não por acaso, expressão de Maquiavel) uma conjunção reiterável nos mais diversos contextos. Começando por John Locke: solicitado pelos proprietários da Carolina a colaborar na redação das Constituições daquela colônia, o filósofo subscreveu um artigo (de n.110) pelo qual "todo homem livre da Carolina deve ter absoluto poder e autoridade sobre seus escravos negros, seja qual for sua opinião e religião". Locke, entusiasta da Revolução Gloriosa e acionista da Royal African Company, escrevia no século XVII. John Stuart Mill, em pleno século XIX, retomaria galhardamente os ideais de liberdade individual na mais pura tradição britânica, mas não deixaria de afirmar que "o despotismo é uma forma legítima de governo quando se lida com bárbaros, desde que a finalidade seja o seu progresso e os meios sejam justificados pela sua real obtenção". Mais adiante, exige "obediência absoluta dos bárbaros", cuja escravização seria "uma fase necessária, válida para as raças não civilizadas". São exemplos de atitudes que não se esgotam, porém, na hipótese, só em parte verdadeira, de que foi a situação colonial a responsável pela combinação de liberalismo com a escravidão. Calhoun era vice-presidente de uma nação que já desfrutava, havia mais de meio século, de altiva independência política. Losurdo lembra incisivamente: Em 32 – dos primeiros 36 anos dos Estados Unidos – os que ocupam o cargo de Presidente são proprietários de escravos provenientes da Virgínia. George Washington, grande protagonista militar e político da revolta anti-inglesa, John Madison e Thomas Jefferson (autores respectivamente da Declaração da Independência e da Constituição Federal em 1787), foram proprietários de escravos. Quanto à hegemonia da liberal Inglaterra no que se refere ao tráfico ao longo do século XVIII, sabe-se que a Royal African Company arrancou da decadente Espanha o monopólio do comércio de carne humana. No caso da Holanda, pátria da tolerância religiosa nos séculos XVII e XVIII, a conivência assumida com o tráfico é de molde a abalar os corações eurocêntricos mais convictos. O primeiro país a entrar no caminho do liberalismo é o país que revela um apego particularmente ferrenho ao instituto da escravidão. Em 1791, os Estados Gerais declaram formalmente que o comércio dos negros era essencial para o desenvolvimento da prosperidade e do comércio nas colônias. E deve-se lembrar que a Holanda abolirá a escravidão nas suas colônias só em 1863, quando a Confederação secessionista e escravista do Sul dos Estados Unidos caminha para a derrota. Losurdo tenta, a certa altura, percorrer outro caminho para enfrentar a relação que se estabeleceu no Ocidente entre ideologia liberal-capitalista e trabalho compulsório. Lembrando que o número de escravos trazidos da África aumentou de modo extraordinário na primeira metade do século XIX, precisamente quando o liberalismo se convertia em ideal hegemônico além e aquém do Atlântico, o autor vai rastrear uma das razões então alegadas para justificar o cativeiro dos negros: a inferioridade racial. Os liberais, para manter a cara limpa em face da violência que os seus interesses os levavam a perpetrar, lançam mão do preconceito que a ciência do século já estava transformando em dogma. A discriminação permaneceria ainda mais viva depois da abolição, e aqui a observação de Tocqueville é de citação obrigatória: "Em quase todos os estados [dos Estados Unidos], nos quais a escravidão foi abolida, são concedidos aos negros direitos eleitorais, mas, se eles se apresentam para votar, correm risco de vida. Oprimido, pode até lamentar-se e dirigir-se à magistratura, mas encontra só brancos entre os seus juízes". O que se conhece da discriminação racial ao longo dos séculos XIX e XX (linchamentos, apartheid...) só viria confirmar a reprodução dos limites internos da burguesia liberal que, chegando ao poder, sabe quem e como excluir. No capítulo central da obra, Losurdo volta-se para a história exemplar do liberalismo francês entre as revoluções de 1789 e 1848. A admiração anglófila dos philosophes é conhecida. A Inglaterra é o modelo perfeito das liberdades para Voltaire e Diderot, como o fora para Montesquieu. O alvo, atingido na ilha, é o absolutismo combinado com os abusos da nobreza e do clero. Mas, passado o Terror, todo o esforço das novas gerações liberais será, desde o Diretório, "terminar a revolução". A escravidão nas Antilhas é abolida pela Convenção, mas será restaurada por Napoleão em 1802, em nome dos sagrados direitos de propriedade dos colonos. Direitos que serão mantidos pela política de centro-direita da Restauração (1814-1830) e continuariam intactos sob a monarquia liberal de Luís Felipe (1830-1848). Direitos, enfim, plenamente confirmados pelos decretos da abolição que obrigavam o novo Estado republicano francês a indenizar os proprietários dos 250.000 escravos libertados. As observações do autor rimam com o excelente (embora não citado) Le moment Guizot de Pierre Rosanvallon, que reconstituiu a história dos mecanismos antidemocráticos acionados pelos grandes mentores do liberalismo francês, Guizot, Thiers, Benjamin Constant. Entre esses mecanismos, o mais eficiente foi o voto censitário que entronizou a figura do cidadão-proprietário em todas as nações do Ocidente que emergiam da crise do Antigo Regime. É curioso verificar que a questão do trabalho compulsório é aleatoriamente levantada por alguns liberais, que hoje situaríamos na conjunção de centro e esquerda, como Raynal, Condorcet e Brissot. Os três confiam na "revolução americana", modelo que substituiria, nos seus escritos, a anglofilia dos enciclopedistas. Onde o liberalismo excludente encontra a mais firme resistência é no pensamento abolicionista radical. A voz enérgica do abbé Grégoire se faz ouvir na Convenção exigindo a supressão imediata e total do trabalho escravo nas colônias e enaltecendo a figura de Toussant Louverture e a revolução do Haiti. "Uma república negra no meio do Atlântico" – diz Grégoire – "é um farol elevado para o qual dirigem o olhar os opressores enrubescendo e os oprimidos suspirando. Olhando-a, a esperança sorri para os 5 milhões de escravos espalhados nas Antilhas e no continente americano". (De passagem, falta traduzir para o português a obra pioneira desse bispo republicano que tão bravamente denunciou a escravidão e o preconceito de cor: De la noblesse de la peau, ou du préjugé des blancs contre la couleur des Africains et celle de leurs descendants noirs e sang-mêlés.) Quem retomaria a bandeira de Grégoire seria outro republicano radical, este agnóstico, Victor Schoelcher, que conduziu a luta final pela abolição em plena revolução de 1848. Nessa altura de sua exposição, Losurdo pode traçar a linha principal de clivagem. De um lado, o liberalismo clássico, proprietista e excludente e, quando lhe é proveitoso, racista e escravista. De outro, o radicalismo democrático, que tem como horizonte precisamente superar as barreiras de classe e de raça que os liberais conservadores ergueram para defender os seus privilégios. O autor detém-se longamente nas oscilações do mais fino e arguto dentre os liberais franceses, Alexis de Tocqueville. Não cabe nesta resenha enumerá-las. Verá o leitor que, após 48, Tocqueville retrai-se em face dos movimentos democráticos da Itália de Mazzini e da Hungria de Kossuth, perdendo o equilíbrio que marcara A democracia na América e chegando a augurar um projeto militar que reverta o processo revolucionário desencadeado em quase toda a Europa. Quanto à recente conquista da Argélia, Tocqueville não usa de meios-termos: é preciso domar completamente as populações árabes e forçá-las a viver sob a civilização branca, francesa. Involução ou coerência do capitalismo liberal europeu que está reiniciando, nesse momento, o ciclo da conquista colonial prestes a atingir todo o continente africano? A discutir. Na esfera do radicalismo, Losurdo situa certas declarações de Simón Bolívar (hoje tão oportunas), que, louvando a revolução do Haiti, sonha para a América andina uma democracia de brancos e índios, negros e mestiços. Resta perguntar: o que fizeram os políticos liberais que assumiram o poder na maioria das novas nações americanas? O que sabemos ao certo é que houve uma reprodução local da conivência de liberalismo burguês e escravidão (caso do Brasil, das Antilhas e do sul dos Estados Unidos); e uma fusão do mesmo liberalismo formal com a semi-servidão do indígena na Colômbia, no Equador, no Peru e na Bolívia. Caso Losurdo houvesse tratado mais detidamente das formações sociais latino-americanas, muito lhe teria aproveitado a leitura dos Sete ensaios de interpretação da realidade peruana (1928), em que Mariátegui desvendou a estreita relação entre a política liberal-oligárquica, que regia o Peru após a Independência, e a brutal exploração do índio nos latifúndios da região serrana. Os argumentos dos liberais conservadores brasileiros não eram nada originais: misturavam críticas anódinas à instituição com firmes recusas de enfrentar o problema de fundo, alegando sempre os interesses de nossa economia de exportação sustentada pelo braço negro. No plano político-jurídico, a Constituição de 1824, incorporando dispositivos da Carta da Restauração e o duro proprietismo do Código Napoleônico, omitia pudicamente o termo "escravidão", exatamente como fizeram os autores da Constituição norte-americana e as cartas liberais das monarquias européias. Cá e lá..., o cimento ideológico aplicado pelos donos do poder valeu-se largamente do rótulo prestigioso do liberalismo. O cerne da questão desnuda-se e ganha atualidade quando o autor passa da relação senhor-escravo, ainda vigente nos meados do século XIX, para o par moderno patrão-operário. Vem então à luz a oposição estrutural entre capital e trabalho e, em termos ideológicos, entre o liberalismo e os vários socialismos que se foram gestando na prática das lutas operárias e na cabeça de pensadores revolucionários ou reformistas. Em toda parte aonde chega a Revolução Industrial, a regra é a superexploração do trabalhador e a degradação de sua qualidade de vida, como agudamente a descreveu Engels na Manchester de 1844. A tensão que se estabelece entre legisladores liberais e os sindicatos é recorrente e não podemos dizer que tenha desaparecido. O neoliberalismo é o grande adversário das garantias trabalhistas que pretende, à Thatcher e à Reagan, suprimir ou precarizar. Um dos apóstolos do fundamentalismo liberal-capitalista, Hayek, considera "dever moral do Estado" (sic!) impedir que os sindicatos interfiram no jogo livre do mercado. É no mínimo estranho que ainda se diga, de boa ou de má-fé, que o liberalismo foi ou é sinônimo de democracia económica e social. Ou então que só no Brasil a burguesia imperial e seus porta-vozes no Parlamento encenaram uma comédia ideológica ao protelarem a abolição do cativeiro. Se farsa houve, ela foi representada em diversos contextos e em todo o Ocidente desde que se criou o termo liberalismo. O ensaio de Losurdo contribui para desfazer qualquer equívoco eurocêntrico ao demonstrar que o poder liberal, onde quer que estivesse instalado, não se propôs jamais compartilhar com "os de baixo" as suas sólidas vantagens. Não se tratava de comédia, mas do drama composto, em nível mundial, pela estrutura contraditória do capitalismo em expansão. A oposição entre liberalismo e efetiva democracia social oferece exemplos em toda parte, desde os mais grosseiros e violentos até os mais refinados. Um dos mais eminentes economistas liberais italianos, Einaudi, chamava, em 1909, o imposto progressivo de "banditismo organizado para roubar o dinheiro dos outros mediante o Estado". Losurdo poderia fechar o seu belo ensaio citando uma tese de Karl Polanyi reexposta brilhantemente em As metamorfoses da questão social de Robert Gastel: o mercado auto-regulado, forma pura do desenvolvimento da lógica econômica entregue a si mesma, é, estritamente falando, inaplicável, porque não comporta nenhum dos elementos necessários para fundar uma ordem social. Mas poderia destruir a ordem social que lhe preexiste. Textos de Losurdo em resistir.info: As raízes norte-americanas do nazismo Negacionismo e liberdade de investigação [*] Professor de Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo e autor, entre outras obras, de História concisa da literatura brasileira, O ser e o tempo da poesia, Dialética da colonização, Machado de Assis: o enigma do olhar, Literatura e resistência de Brás Cubas em três versões. É editor da revista ESTUDOS AVANÇADOS e membro da Academia Brasileira de Letras. abosi@usp.br O original encontra-se na revista Estudos Avançados , nº 59. Esta resenha encontra-se em http://resistir.info/ . 26/Jul/07

As amantes de Mauricio de Nassau

Jornal do Commercio As amantes de Nassau Publicado em 27.07.2007 Leonardo Dantas Silva Ao contrário dos portugueses que traziam suas famílias aferrolhadas nas casas-grandes, escondendo suas mulheres e filhas da vista de estranhos e até mesmo dos parentes, o holandês era mais liberal no trato da vida do lar e de suas relações em sociedade. Em maior número do que as originárias de Portugal, as mulheres holandesas revelavam jovialidade pouco comum às nativas. Testemunha frei Manuel Calado, quando das festas em regozijo à Aclamação do Duque de Bragança, D. João IV, ao trono de Portugal, realizadas no Recife em abril de 1641: "Nesses convites se achavam as mais lindas damas e as mais graves mulheres, holandesas, francesas e inglesas, que em Pernambuco havia, e bebiam alegremente melhor que os homens, e arrimavam-se ao bordão de que aquele era o costume de suas terras". No ambiente da família holandesa, ao que se depreende das inúmeras denúncias chegadas ao Conselho Eclesiástico, a situação parecia não ser diferente, como assevera Hermann Wätjen: "Muita mulher infiel de soldado, metida em varas, teve de passar horas inteiras no pelourinho, exposta ao calor ardente do sol, na praça pública, muita dama elegante foi vergastada coram publico pelo carcereiro mor". Como agente ativo da prática do adultério não escapou nem o conde João Maurício de Nassau, que teria tido relacionamentos afetivos com várias mulheres, inclusive com Dona Anna Paes, proprietária do Engenho Casa Forte, que o tratava "de vossa excelência a muito obediente cativa". Em 1630, quando da invasão holandesa, Dona Anna Paes (1612-1678) era casada com o capitão Pedro Correia da Silva, morto em combate quando da defesa do Forte São Jorge. Viúva ainda jovem, Anna Paes veio novamente a casar com o capitão holandês Charles de Tourlon, oficial da guarda pessoal do conde de Nassau, continuando a residir em seu engenho em Casa Forte. Em 1643, acusado por Nassau de crime de traição, foi Charles de Tourlon preso e remetido de volta à Holanda, tendo falecido na Zelândia em 18 de fevereiro de 1644. Novamente viúva, Anna Paes torna a casar com o conselheiro Gisbert de With, do Conselho de Justiça, em companhia de quem se transfere para a Holanda e aonde vem a falecer em 1672. Mulher instruída, ela oferece ao conde a dádiva de "seis caixas de açúcar branco", cada caixa de açúcar pesava em média 20 arrobas, ou seja, 300 quilos. Divulgada pela primeira vez por José Higino Duarte Pereira, no n.º30 da Revista do Instituto Arqueológico Pernambucano (Recife, 1886), transcrita com correções por José Antônio Gonsalves de Mello, em 1947, a carta em questão, numa leitura livre do português em uso nos nossos dias, teria o seguinte teor: "Ilmo. Sr. - Como nós devemos toda a obediência a nossos superiores tanto mais a vossa excelência de quem temos recebido tantas honras e mercês, assim que este ânimo me faz tomar atrevimento de pedir a vossa excelência queira aceitar seis caixas de açúcar branco, perdoando-me vossa excelência o atrevimento (que meu ânimo é de servir a vossa excelência) e fico pedindo que Deus aumente a vida e estado de vossa excelência para amparo de suas cativas. De vossa excelência a muito obediente cativa Dona Anna Paes". Mas não ficou somente em Dona Anna Paes, o relacionamento do conde João Maurício de Nassau com outras mulheres. Denuncia frei Manuel Calado o seu envolvimento com Margarita Soler. Tratava-se de uma jovem senhora casada com um senhor-de-engenho, que abandonara o marido, segundo o seu próprio pai, em razão de sua frieza (impotência) e de suas ausências com os seus compromissos matrimoniais. Era ela filha do reverendo calvinista Vicente Soler, espanhol de Valência, o qual tendo sido frade agostiniano migrou para a França onde adotou o calvinismo, vindo a casar-se com uma mulher de nome Maria, de cujo casamento lhe vieram dois filhos Margarita e Jean Soler. Escreve frei Manuel Calado ser "Margarita Soler uma das amantes do Conde de Nassau, que a desprezou pelo amor da filha do sargento-mor Cornélio Bayer", fato que veio dar "causa da filha de Soler morrer de paixão e de tristeza". Em se falando das aventuras amorosas de João Maurício, o escritor José Van den Besselaar, lembra ainda as suas ligações com Inês Gertrudes Van Byland, esposa do seu mordomo em Cleve, da qual existe um retrato pintado por Jan de Baen (o mesmo que pintou o retrato de Nassau) no museu daquela cidade da Alemanha: "A vida amorosa de Maurício está por se escrever ainda, e talvez seja impossível reconstruí-la, porque neste terreno é muito difícil separar os boatos mexeriqueiros de informações seguras e objetivas. Só podemos dizer que Maurício, ao contrário de muitos outros príncipes da sua época, não deixou bastardos conhecidos como tais". » Leonardo Dantas Silva é jornalista e escritor. --

domingo, 29 de julho de 2007

A chegada do ACM no Inferno

"A chegada de ACM no Inferno" Por Tonho da Jumenta O Diabo ficou louco quando ACM morreu, O Inferno era pouco diante do poder que ACM perdeu. Já sabia o Diabo que pra cá ele viria E que ía querer governar e no Inferno mandar. Pensou então o Diabo no que deveria fazer, Reuniu o Conselho de velhos diabos de grande saber, Depois de muita confabulação, resolveu o Conselho, Para evitar confusão, pedir aos Céus que desse a ACM todo o perdão. Dessa forma ACM no céu ficaria, Evitando assim a disputa de poder, Que por certo aconteceria entre o Grande Diabo E o que ACM poderia querer. As maldades que ele fez aqui na Terra, Deram a ele o apelido de Toninho Malvadeza, O que lhe daria no Inferno um certo grau de nobreza, Ameaçando o poder do Diabo com toda certeza. ACM muito esperto já sabia que no céu não mandaria Porque já estava Nosso Senhor que lá vivia, A quem todos do Céu tinham grande simpatia, ACM concluiu que ali não tinha vez, Então do Céu fugiu e foi isso que ele fez. Quando chegou no Inferno o porteiro não quis receber, Pois tinha do Diabo essa clara instrução, ACM reclamou disse que assim não poderia ser, Uma vez que tinha morrido e merecia consideração. O porteiro ligou pro Diabo e explicou a situação, O Diabo deixou entrar porque era sua obrigação, Mesmo sabendo que ACM iria provocar confusão, Pois quando era vivo comandava um perigoso pelotão. ACM foi entrando e foi logo mandando:"Mande fazer uma licitação de uma grande obra, Vai ganhar o meu genro que tem conhecimento de sobra, Com a vantagem de ter na minha mulher a sua sogra. Quanto a Comunicação, passe logo tudo pra mim, Para que eu faça a distribuição de rádio e televisão, Vão todas para os amigos para não haver discussão, Pois tem muito esquerdista nesta grande nação. Quero também deixar claro a minha intenção, Quero tudo pra mim, seja lá qual for o tostão, Pobre tem que continuar pobre para que a política tenha precisão, Pois se esse povo se soltar vai ter muita aperreação". O Diabo preocupado com medo de ficar de lado, Tramou logo uma conspiração, mas ACM convocou o neto E fizeram uma reparação, colocaram microfone no tetoDe todo e qualquer cristão. Com o grampo descobriram logo a armação, ACM fez uma pasta com a sujeira de cada um, Mostrou a eles a ameaça de uma detenção, E para evitar o zum-zum-zum, Os capetas deixaram o diabo na mão. Agora, o Diabão vive isolado, com pensão de aposentado, Enquanto ACM manda em tudo, com o nome de Malvadeza II, Todo posudo, Rei do mundo da escuridão, nem está preocupado Com a sua expiação, pois como queria, continua com o poder na sua mão. Tonho da Jumenta é um cordelista de Poço Redondo (SE).

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Até o caos aéreo caiu na mídia estrangeira, pior situação para o nosso Brasil

Mais uma vez o nosso país recebeu uma desmoralização enorme até na mídia internacional olhe só e principalmente deprimente.
Imprensa internacional comenta crise aérea brasileira
25/07/2007
O caos que engloba atrasos e cancelamento de aproximadamente 50% dos vôos e o agravamento da crise aérea no Brasil vêm sendo comentados por veículos como Fox News, CNN, BBC e a revista Economist.
A Anac vetou a venda de passagens para vôos iniciados de Congonhas, e impôs limite de 60 dias para que todos os vôos saindo do aeroporto ou chegando a ele tenham duração de duas horas, no máximo.
A Infraero informou que 109 dos 219 vôos previstos em Congonhas foram cancelados ontem, e que os atrasos no país alcançaram mais de 37%. O fechamento de Congonhas para pouso por três vezes em função das chuvas deixou o aeroporto sem aviões e provocou um efeito dominó, atingindo outros aeroportos brasileiros.

TEMPO É ASSASSÍNIO

TEMPO É ASSASSÍNIO > >Robert Kurz > >Que o tempo é dinheiro e nada mais, já o capitalismo sabia antes de >Karl Marx. O tempo linear abstracto da economia empresarial >corresponde ao "trabalho abstracto", ao dispêndio de "nervo, músculo >e cérebro" que há que optimizar para o fim em si da valorização do >capital monetário – com indiferença face ao conteúdo e face à saúde >dos trabalhadores. A máquina social capitalista faz também do ser >humano uma máquina. Já nos tempos do milagre económico foi observado >que o ritmo do tempo de trabalho apodera-se até do "tempo livre". A >corrida geral contra o tempo tornou-se precisamente o signo da >sociedade pós-moderna da aceleração. O filósofo Paul Virilio falou >em "pausa frenética". No Japão deu que falar o "Karoshi", a morte >repentina em serviço no sagrado local de trabalho. > >A crise mundial da terceira revolução industrial levou a loucura do >trabalho ao paroxismo. Quanto mais o desemprego e o subemprego >alastram, tanto mais descaradamente se espreme até ao tutano os >orgulhosos ocupantes de postos de trabalho. Seja nas fábricas dos >conglomerados ou entre o pessoal das empresas de serviços, seja nos >privatizados correios e caminhos de ferro ou mesmo nos templos do >capital financeiro: em toda parte uma só pessoa tem de desempenhar as >tarefas que antes eram de três ou quatro. Nos EUA e na Argentina veio >a público que os supermercados distribuiram fraldas às empregadas das >caixas, para que elas não "roubassem tempo" à economia da empresa com >as suas necessidades fisiológicas. A ocupação total vem a par da >humilhação, tudo em nome das necessidades da rentabilidade. > >Mas de maneira nenhuma a lufa-lufa do trabalho atinge apenas as >camadas inferiores das cadeias globais de criação de valor. Uma vez >que a máquina de combusão de seres humanos não se alimenta só >de "músculo", mas também de "nervo e cérebro", também não são >poupados os "oficiais e sub-oficiais" da muito invocada sociedade do >conhecimento. Quando, no início de 2007, um jovem advogado financeiro >da renomeada sociedade de advogados "Freshfields Bruckhaus" se lançou >do sétimo andar do museu londrino Tate Modern, ouviu-se lamentar: "A >City devora os seus filhos". Apesar da perspectiva de um salário >anual de 1 milhão de libras para breve, o ambicioso elemento da elite >não aguentou mais as jornadas de 16 horas, sete dias por semana, a >que o imperativo "up or out" obrigava. Ao mesmo tempo foi conhecida >uma série de suicídios no centro de tecnologia da Renault. Um >director de informática lançou-se para a morte, um engenheiro >altamente qualificado afogou-se num lago próximo, um outro enforcou- >se na sua residência. Como pano de fundo está o programa de >saneamento "Renault Contrat 2009", o qual acaba em psicoterror entre >os trabalhadores de topo, com críticas negativas na presença dos >colegas. > >Tais acontecimentos, abordados mediaticamente com completa >impotência, são apenas a ponta do iceberg. Tempo é dinheiro, ou seja, >assassínio. Possivelmente ainda vamos ver empresários modelos a pôr >fraldas de manhã cedo, para não desperdiçar, com desnecessárias idas >à casa de banho, o precioso tempo do seu cérebro. Fraldas >descartáveis para todos e "Karoshi" para todos, então talvez se >consiga mais facilmente aguentar o estremo escachar dos rendimentos e >talvez a "retoma" possa prosseguir. É preciso aceitar que entretanto >as panes e as catástrofes se acumulem, pois, de todo o modo, o que >conta no capitalismo virtual não é a qualidade do conteúdo. Para uma >cultura de combustão universal impõe-se também a obrigação de uma >corajosa autocombustão.

SERES HUMANOS NÃO RENTÁVEIS

SERES HUMANOS NÃO RENTÁVEIS > >Ensaio sobre a relação entre história da modernização, crise e >darwinismo social neo-liberal > >Robert Kurz > >Nota Prévia: Este texto constitui a versão escrita de uma >apresentação efectuada a 15.11.2005 em Brunnen, Suiça, nas Jornadas >Anuais da INTEGRAS (Schweizer Fachverband für Sozial- und >Heilpädagogik) [Associação Profissional de Pedagogia Médica e >Social]. O texto não desenvolve ideias novas, mas consegue dar, ainda >assim, uma perspectiva sobre as afirmações standard na análise da >crítica do valor e da dissociação, de outro modo só possível de >encontrar espalhada em diversos artigos ou no contexto da >argumentação mais extensa dos livros. Os sub-títulos são de >responsabilidade da redacção da INTEGRAS. As apresentações desta >jornada serão publicadas brevemente em brochura > > > >É incontestável: a divisão da sociedade aprofunda-se e assume >proporções dramáticas; simultaneamente, as instituições que devem >tratar e administrar o social definham e paralisam devido a >restrições financeiras. O problema pode apresentar actualmente >aspectos diferentes em cada país, de acordo com a sua situação >económica no mercado mundial, as tradições nacionais e as relações >estruturais; mas a tendência de fundo é em todo o lado a mesma. Se >uma ordem social agrava permanentemente o catálogo das suas >exigências e exclui cada vez mais seres humanos, tal constitui um >indício de que ela atingiu os limites imanentes na sua constituição >fundamental, como modo de produção e de vida. Trata-se, pois, de uma >crise estrutural das formas que constituem a base da sua reprodução, >cegamente pressupostas por norma. Por isso esta crise, como problema >social total, não pode ser explicada nem vencida por nenhum ponto de >vista duma actividade específica, dum interesse particular ou duma >instituição particular. Torna-se necessária, por assim dizer, a vista >aérea panorâmica da crítica social, para encontrar uma orientação >na "nova intransparência [Unübersichtlichkeit]" (Habermas). > >Em primeiro lugar estamos perante uma grande confusão após a >derrocada do socialismo. O fim do conflito de sistemas e da guerra- >fria foi interpretado como vitória definitiva do capitalismo >ocidental; prometia-se uma nova idade do ouro de prosperidade, >através da abertura a todo o mundo do mercado, num sistema mundial >universal unificado. Entretanto é tão violenta a desilusão, com >sempre novos cortes sociais, crises económicas, guerras civis por >todo o mundo e barbárie crescente, que se tornou necessária uma >explicação diferente. Não são os pontos diferentes, mas sim os pontos >comuns de ambas as sociedades do pós-guerra que são essenciais para >se conseguir entender este desenvolvimento. > >Todas as sociedades modernas são sistemas produtores de mercadorias, >independentemente de o serem numa constituição mais regulada >estatalmente (socialismo de estado, keynesianismo) ou na forma do >mercado mais desenfreado (capitalismo de concorrência neoliberal); e >o seu sistema de referência comum é o mercado mundial. O mercado >universal, porém, não existe por si, mas é a esfera funcional dum fim- >em-si social irracional, que consiste em fazer do valor mais valor >para fazer do dinheiro mais dinheiro (valorização do capital ou >acumulação de capital). Só através deste fim em si que no fundo lhe >está subjacente é que o mercado se tornou universal, enquanto a >produção de mercadorias nas sociedades pré-modernas tinha apenas >carácter marginal e a vida era reproduzida na sua maior parte sob >outras formas. Karl Marx apreendeu esta diferença em duas simples >fórmulas da relação de mercadoria (M) e dinheiro (D). Enquanto >simples forma de nicho nos poros das sociedades agrárias a relação >funcionava segundo a fórmula M-D-M. O dinheiro limitava-se aqui ao >papel de mediação, estando os objectos da necessidade em forma de >mercadoria no princípio e no fim da transacção. Na modernidade >inverte-se a relação, que aqui funciona segundo a fórmula D-M-D'. Os >próprios objectos concretos da necessidade são apenas o "meio" para a >valorização do capital-dinheiro, isto é, para a transformação de >valor (D) em mais valor (D'). Isto significa que a satisfação das >necessidades é rebaixada a um simples subproduto da valorização e >torna-se dependente desta. A produção desliga-se dos laços sociais da >vida, como "economia empresarial" e autonomiza-se como processo >sistémico anónimo face aos seres humanos, que deixam de ter qualquer >controle sobre a reprodução da sua própria vida. > >Trabalho, valor, valorização > >O mecanismo interno desta "economia desvinculada [herausgelösten]" >(Karl Polanyi) reside na exploração de energia humana ("trabalho"). >Nas sociedades pré-modernas a abstracção trabalho era negativamente >conotada, como nome colectivo originariamente para as actividades dos >dependentes (escravos). Apenas na modernidade o trabalho foi >positivado e universalizado. Aqui o trabalho funciona >como "substância" (Marx) do valor e da valorização. O dinheiro não é >senão a representação de um quantum de trabalho. Contudo, a >actividade nesta forma correspondente à autofinalidade sistémica é >também desvinculada dos conteúdos da necessidade e portanto >indiferente face a estes; por isso se trata de "trabalho abstracto" >(Marx). É indiferente se se fabrica bolachas de chocolate ou granadas >de mão, o importante é que a energia humana abstracta como "dispêndio >de nervo, músculo e cérebro" (Marx) possa ser transformada em >dinheiro (mais-valia). À autofinalidade da valorização corresponde a >autofinalidade do "trabalho abstracto"; a infindável acumulação de >valor não é senão a infindável acumulação de trabalho morto >(passado). Do trabalho tem que se fazer sempre de novo trabalho. Sob >estas condições o mercado já não representa nenhuma troca entre >produtores independentes. Ele não passa da esfera da realização da >mais-valia, isto é, da retransformação de "mais trabalho" em "mais >dinheiro". Por isso a "liberdade do mercado" é ilusória; esta >liberdade tem por base a relação coerciva do "trabalho abstracto". >Aqui a coerção já não é pessoal (como por exemplo na relação de >senhor e servo), mas uma coerção sistémica anónima de se vender a si >mesmo como "máquina de dispêndio" de energia humana abstracta (força >de trabalho) na "economia desvinculada". > >Todas as actividades, "atitudes" e comportamentos que são necessários >para a reprodução da vida, mas que não podem ou dificilmente podem >ser incluídos no sistema do "trabalho abstracto" e da economia da >valorização desvinculada foram historicamente dissociados deste e >delegados nas mulheres como "trabalho de amor" sem custos (o chamado >trabalho doméstico, a assistência, o acompanhamento, a dedicação, o >desempenho de funções de amortecimento socio-psíquico etc.). O >sistema da economia desvinculada é, portanto, desde logo, >simultaneamente um sistema de "dissociação sexual [geschlechtlichen >Abspaltung]" (Roswitha Scholz). Daí que a dissociação é uma categoria >da totalidade, tal como a valorização e o "trabalho abstracto"; a >relação social total apresenta-se assim como uma relação social >complexa, intrinsecamente fragmentada. A relação de dissociação não >se limita a uma determinada esfera (por exemplo, a família), mas >apresenta-se transversal a todas as áreas da reprodução, incluindo o >próprio "trabalho abstracto". A "economia da valorização" é definida >como "estruturalmente masculina". Entretanto, no processo da >modernização, também as mulheres foram cada vez mais usadas como >reservatório de força de trabalho. Não, porém, no sentido de uma >libertação, mas como dupla subordinação, ao "trabalho abstracto" e >aos momentos dissociados em boa medida considerados de menor valor e >secundários ("dupla carga"). Até hoje as mulheres têm sido em regra >mais mal pagas na economia da valorização, continuam a ser pouco >representadas nas funções de direcção e simultaneamente todo >o "trabalho de amor" continua a ser considerado da sua competência em >todos os domínios. > >O moderno patriarcado produtor de mercadorias e as suas contradições > >Este breve esboço da conexão sistémica que está na base de todas as >variantes do moderno patriarcado produtor de mercadorias (pois esta é >a designação mais precisa da sociedade da valorização, incluindo a >relação de dissociação) revela só por si um monstruoso desaforo. No >entanto este foi interiorizado e transformado em normalidade >inquestionável no decurso dum longo processo histórico. Os seres >humanos têm que ser "rentáveis" no sentido do fim em si do sistema; >só assim a existência está garantida. Estas exigências foram impostas >nos primórdios da modernidade desde o século XVI e no capitalismo >primordial dos séculos XVIII e XIX com coacção sangrenta e contra uma >longa resistência dos movimentos sociais. Na primeira metade do >século XX, na época das guerras mundiais industrializadas e das >crises da economia mundial, o moderno patriarcado produtor de >mercadorias já parecia fracassar nas suas contradições internas e >dissolver-se no caos e na barbárie – com manifestação extrema no >sistema de aniquilação de seres humanos especificamente alemão do >anti-semitismo exterminador ou nacional-socialismo. > >Mas depois da segunda guerra mundial houve o "curto Verão" do milagre >económico. O desenvolvimento das forças produtivas forçado pela >concorrência libertou potencialidades nunca sonhadas, que haveriam de >tornar possível uma "civilização do capitalismo". Apesar da >racionalização a necessidade de "trabalho abstracto" cresceu como >nunca antes, porque os bens industriais de luxo, antes limitados a >uma estreita camada (automóvel, electrónica de uso doméstico e de >entretenimento etc.), entraram no consumo de massas e os mercados >alargaram-se bruscamente. Só então é que as mulheres foram integradas >no trabalho profissional da economia da valorização em grande escala >social. O consumo de massas, incluindo o turismo de massas etc., >transformou-se numa espécie de quase religião. O fim em si irracional >do sistema parecia reconciliar-se com as necessidades, ainda que numa >forma adaptada, sob muitos aspectos destrutiva (transporte >individual, destruição do ambiente etc.). Outro subproduto do boom do >pós-guerra foi a imparável construção do estado social e de infra- >estruturas públicas, com um elevado standard de educação, trabalho >social e cuidados médicos para todos. É verdade que a realidade >desta "época dourada" da sociedade de valorização do valor e >dissociação, designada "fordismo", do nome do fabricante americano de >automóveis Henry Ford, se limitava aos países do núcleo industrial >ocidental, mas luzia ainda assim uma perspectiva >de "desenvolvimento", também para o resto do mundo. > >Ainda que o desenvolvimento das forças produtivas sob a pressão da >concorrência do mercado universal seguisse, depois como antes, o >ditame de transformar trabalho em mais trabalho, e ainda que o brilho >do "milagre económico" tenha começado a esmaecer já desde os anos >setenta, o potencial da produtividade foi desde então celebrado >como "máquina de civilização". Recaíram no passado as muitas gerações >queimadas sob péssimas condições no "trabalho abstracto". Até a >libertação da mulher das suas atribuições tradicionais parecia ser >conseguida em grande medida, apesar da "dupla carga", uma vez que >elas podiam cada vez mais "ganhar o seu dinheiro", as tarefas >domésticas eram consideradas susceptíveis de robotização com a >electrónica e muitos dos domínios dissociados haveriam de ser >resolvidos em sectores comerciais ou em instituições públicas >financiadas pelo Estado. > >Porém, desde os anos oitenta que a terceira revolução industrial da >microelectrónica transtornou gravemente os planos de todas estas >esperanças positivas. Desde logo era o mesmo desenvolvimento da >produtividade, que obteve tão grandes sucessos na história do >fordismo no pós-guerra, que constituía simultaneamente a condição da >crise. Pois quanto maior a produtividade, tanto menor a "substância >do trabalho" por mercadoria, e portanto tanto menor o valor a que se >chega no processo da valorização. A contradição está em que cada >empresa individual não "realiza" imediatamente no mercado a mais- >valia que criou dentro das suas quatro paredes, realiza sim uma parte >da mais-valia social total. Esta parte é definida através da >concorrência, onde uma empresa obtém tanto mais êxito quanto mais >barata conseguir fazer a sua oferta. Ora o meio para isso é o aumento >da produtividade. Desde modo, contudo, entram em contradição o meio e >o fim sociais: uma empresa consegue apropriar-se duma parte tanto >maior da mais-valia social total quanto mais contribuir para, através >da elevação da força produtiva, esvaziar e socavar a produção de >valor enquanto tal. Esta contradição chegou a manifestações >explosivas sucessivas nas crises históricas. Contudo ela pôde ser >sempre suplantada porque a queda do valor e com ele da mais-valia por >mercadoria, com a redução da substância de trabalho, era mais que >compensada pela simultânea expansão da quantidade de trabalho total, >com o alargamento dos mercados; com sucesso na era fordista do pós- >guerra, como se viu. > >A revolução microelectrónica e as suas consequências > >Na revolução microelectrónica, contudo, esta compensação já não >funciona. O potencial de racionalização é agora tão grande que >continuamente se torna supérfluo mais trabalho do que aquele que pode >ser absorvido adicionalmente na valorização, através do aumento da >produção de mercadorias. Apesar do aumento da quantidade de >mercadorias, diminui rapidamente a substância de trabalho >social "válida" no standard de produtividade da microelectrónica e >consequentemente a crise assume carácter estrutural. Nas regiões >periféricas do mercado mundial, na zona do socialismo de Estado do >Leste e da "desenvolvimento atrasado" do Sul, tal situação já >conduziu à derrocada social, precisamente porque a microelectrónica >não pôde ser aplicada com êxito por falta de força de capital e por >isso a respectiva produção caiu abaixo do standard de produtividade >mundial (tornando-se, portanto, "não rentável" e deixando de ter >capacidade de concorrência). Esta situação foi interpretada como >falhanço próprio das variantes do socialismo de Estado, em vez de >como parte de uma crise mundial da terceira revolução industrial, >apesar de o mesmo problema há muito se ter feito notar também no >Ocidente, como desemprego estrutural de massas; e precisamente por >causa da forçosa aplicação da microelectrónica. > >Desde então a crise atingiu profundamente os centros ocidentais. Cada >vez mais seres humanos se tornam "não rentáveis" e são excluídos; por >todo o lado partes inteiras dos países ficam abandonadas, enquanto a >economia empresarial se globaliza num terreno de rentabilidade que se >reduz. Na falta de produção de mais-valia real, o capital dinheiro >refugia-se simultaneamente numa economia de bolhas financeiras. Já >não é a venda de mercadorias que é decisiva, mas são os ganhos >diferenciais na circulação de títulos financeiros que suportam uma >valorização tornada fictícia. Empresas e partes de empresas são >tratadas como pedaços de carne para trinchar (fusionite e batalhas >por aquisições, sem investimento real). Na interpretação popular, o >complexo causal é na maior parte dos casos posto de pernas para o ar, >responsabilizando erradamente pela miséria, em tom anti-semita, uma >espécie de "praga de gafanhotos" de especuladores, como se o problema >não residisse nas próprias contradições do sistema produtor de >mercadorias. A expansão dos mercados, no contexto do poder de compra >em queda por falta de capacidade de utilização com êxito de "trabalho >abstracto" rentável, transforma-se em capacidades excedentárias >globais, que são sucessivamente desactivadas. É absurdo: pelo facto >de a produtividade se ter tornado "demasiado elevada" e de poderem >ser fabricados muitos bens com pouco trabalho, cada vez mais seres >humanos são rebaixados a um nível de pobreza ainda há pouco tempo >inimaginável. A divisão da sociedade aprofunda-se cada vez mais; até >a classe média está a ser entretanto apanhada pelo turbilhão da crise. > >O Estado social está a ser desmontado > >Não se trata, porém, apenas da desmontagem das capacidades de >produção não rentáveis mas, na senda desta tendência negativa, também >o Estado se transforma cada vez mais numa simples administração do >estado de emergência, porque já não consegue regular a economia >empresarial globalizada e porque lhe estão a faltar as receitas. Há >um consenso neoliberal suprapartidário em quase todos os países, que >executa e legitima ideologicamente a crise do sistema, apenas e só >contra os seres humanos. Agora se vê que as "aquisições >civilizatórias" do período do pós-guerra não são auto-sustentáveis, >mas tinham que ser alimentadas com uma valorização conseguida >do "trabalho abstracto". Na mesma medida em que este regride, também >a civilização social é obrigada a recuar. É precisamente sob as >condições do desemprego de massas e da nova pobreza que o Estado >social é desmontado e abandona os seus filhos. Estruturas inteiras >definham e são reduzidas a poucas "regiões metropolitanas". O Estado >desfaz-se dos serviços públicos, como um nobre arruinado se desfaz >das pratas da casa. A privatização significa em regra redução à >capacidade de pagamento privada e portanto o fim das estruturas >universais. Os caminhos-de-ferro deixam linhas ao abandono, os >correios fecham estações. No sistema de ensino expande-se o ensino >para duas classes (conceito de elite), nos serviços de saúde a >medicina de segunda classe. Agora diz-se de novo e sem qualquer >cerimónia: tens de morrer mais cedo porque és pobre. Na maior parte >dos casos são as camadas inferiores da pirâmide social as mais >duramente atingidas pelas restrições financeiras nos serviços >públicos, como é o caso das instituições de trabalho social, de >prestação de cuidados aos deficientes, aos sem abrigo e aos idosos, >porque dispõem dos lobbies mais fracos. > >Após os despedimentos em massa nos sectores comerciais e industriais, >a crise do Estado social e dos serviços públicos resultante da crise >da valorização conduz, também nos sectores antes geridos pelo Estado, >a uma "disponibilização" similar de empregados, que vão engrossar o >exército dos caídos. Um número cada vez maior de seres humanos vê-se >obrigado à prestação de serviços baratos e à venda ambulante, ao >empresariado de miséria etc., na esfera da circulação. As mulheres >são particularmente afectadas. O discurso sobre o fim do patriarcado >é desmentido. Por um lado o Estado e a economia delegam novamente as >tarefas financeiramente exauridas do tratar e do cuidar no >amplo "trabalho de amor" voluntário feminino. Por outro lado as >mulheres também são desproporcionadamente afectadas pelo >desmantelamento dos serviços públicos. Sendo certo que as mulheres >nos países ocidentais igualaram os homens no que respeita a >habilitações académicas, o seu emprego, contudo, concentrou-se em >grande medida nos serviços públicos, precisamente os que agora são >reduzidos. Elas sofrem massivamente a desvalorização das suas >qualificações. Em parte os seus lugares são ocupados por mães >solteiras, tratadas com particular dureza pela administração social, >que são obrigadas a trabalhar sem qualificações ou com qualificações >diferentes. Estas, por sua vez, têm que deixar os filhos em centros >de acolhimento, em que na maior parte dos casos trabalham migrantes >leste-europeias, ainda mais mal pagas. Também a pobreza pública é em >primeira linha uma pobreza feminina. A crise da economia da >valorização e do "trabalho abstracto" é simultaneamente uma crise da >identidade masculina; no quotidiano da crise cresce dramaticamente a >violência (familiar) masculina contra as mulheres, enquanto se fecham >centros de acolhimento e casas de apoio às mulheres. > >A hierarquia dos não rentáveis > >Quais as consequências do agravamento das condições da crise? Na >generalidade, pode dizer-se que mais cedo ou mais tarde todos somos >não rentáveis. Isso é verdade, mas há nesta abstracção uma cilada >argumentativa, pois assim não são consideradas as diferenciações >internas. Quanto mais a crise se agrava, mais se agrava também a >concorrência universal, que é instrumentalizada pela administração da >crise para jogar uns contra os outros os diversos grupos de caídos. >Há divisão social não apenas entre os vencedores em número cada vez >menor e os perdedores em número cada vez maior, mas também entre os >próprios perdedores. Ainda ocupados e desempregados, mulheres e >homens, jovens e velhos, herdeiros em perspectiva e filhos de >indigentes, saudáveis e doentes, não incapacitados e incapacitados, >nacionais e estrangeiros defrontam-se mutuamente ao nível da pobreza; >e trata-se de ver "quem é que ainda se safa". Temos que nos >confrontar com uma hierarquia de não rentabilidade atravessada por >precárias lutas pela partilha. Mesmo no fundo dessa hierarquia >encontram-se os absolutamente abandonados, que já nem maus e >criminosos podem ser: doentes mentais, incapacitados psíquicos e >físicos, dependentes de assistência e doentes terminais. São em série >os repetidos escândalos em lares de idosos e de internamento, >causados também pela desqualificação do pessoal, em número reduzido e >sob a pressão dos custos e do serviço. > >Mesmo no centro das democracias ocorrem uma descivilização e uma >desumanização estruturais, que até agora se julgavam bem longe, na >periferia do mercado mundial, donde de qualquer modo já foram >copiadas em grande parte. Não se trata de nenhum pessimismo, mas de >uma realidade social em expansão. Sob tais condições, as clássicas >reacções de crise e ideologias de crise do sexismo, do racismo e do >anti-semitismo encontram-se na ofensiva por todo o mundo, >transversais a todas as camadas sociais. Os demónios do século XIX e >princípio do século XX regressam em forma modificada; não em último >lugar na forma de uma mentalidade social-darwinista, que tem as suas >raízes no liberalismo clássico e que por isso pode manter hoje a >bênção neoliberal na forma completamente desenfreada. "Survival of >the fittest" é a palavra de ordem repetida de novo e já nada >discretamente. A lógica de base subjacente reza que não é o >patriarcado produtor de mercadorias declarado lei natural que chega >ao fim, mas sim o interesse vital e o direito à vida dos seres >humanos não rentáveis. Regressa com novas honras a teoria >da "superpopulação" do liberal hardcore Thomas Malthus do princípio >do século XIX. > >Não foram apenas os nazis que inventaram a divisa assassina da "vida >que não merece ser vivida" e a levaram às últimas consequências, pelo >contrário, ela ganhou fôlego a partir de uma larga corrente de >pensamento social-darwinista, na qual, até à primeira guerra mundial >e mesmo depois, se incluem, além dos liberais, grande parte da >esquerda e da social-democracia (o que hoje é completamente >ignorado). É por isso que o consenso neoliberal suprapartidário pode >hoje prosseguir novamente o velho consenso social-darwinista até ao >meio do centro social, e mesmo no interior da esquerda parlamentar: >uma base legitimadora tácita para as tendências de descivilização da >administração da crise e das forças que com elas fazem a co- >administração. Elementos deste pensamento encontram-se não apenas >entre os bandos da direita radical, que na Alemanha já insultam os >incapacitados como "devoradores de recursos" e os derrubam das >cadeiras de rodas, mas também no aparelho da administração social e >entre os quadros da classe política democrática. Entre os seus >antepassados inclui-se, por exemplo, o social-democrata austríaco >Rudolf Goldscheid, que antes da primeira guerra mundial inventou o >conceito de "economia de seres humanos" e recomendou ao Estado >uma "criação rentável de seres humanos", pelo que não deveria ser >alimentado o material humano incapacitado. Precisamente na época de >uma crise do "trabalho abstracto" e das sobrecapacidades da >hiperprodução é que é hoje mobilizada de novo a ilusão deste >revigoramento físico. A aparente suplantação do darwinismo social >pertence à filosofia do bom tempo do passado milagre económico, que >agora se enterra silenciosamente. > >Resistência e crítica social > >Que possibilidades de resistência existem, face a esta grande >tendência avassaladora de descivilização? Obviamente já não basta uma >limitada política de lobbie dos enfraquecidos serviços sociais. É um >facto que não existe um puro determinismo objectivo da crise e que em >cada situação dada podem ser usadas as margens de manobra imanentes >para "conseguir algo". Mas isso já só funciona em ligação com um >amplo movimento social, que seja capaz de começar a suplantar a >concorrência universal e a impor um conjunto de exigências, mesmo que >com estas não se supere a crise, a qual radica nas contradições >sistémicas do "trabalho abstracto" e da sua estrutura de dissociação >sexual. Para que um tal movimento em geral possa ser possível é >necessária uma pequena guerra tenaz também no dia a dia, contra o >pensamento social-darwinista, sexista, racista e anti-semita, em >todas as suas variantes. Quando a resistência imanente encontrar a >perspectiva de outro modo de produção e de vida, para lá do >patriarcado produtor de mercadorias e portanto também para lá do >antigo socialismo de Estado, as formas de desenvolvimento da crise >podem abrir-se para além disto, para uma nova sociedade. Esta >abertura só é possível através da simultânea abertura do horizonte >mental a uma nova crítica social radical – em vez de se deixar >consumir completamente pelo dia a dia da crise.

A QUEIMA DO FUTURO

A QUEIMA DO FUTURO Robert Kurz Com o desenvolvimento da crise económico-social, desde fins dos anosnoventa que a destruição capitalista das bases naturais tem passadoprogressivamente para segundo plano. Agora, de repente, as mudançasdo clima há muito conhecidas fazem de novo manchete. Paralelamenteaos limites internos da valorização do capital (desemprego massivo esub-emprego globais, economia de bolhas financeiras e instáveiscircuitos de déficit) começam a erguer-se os limites externos danatureza. Por um lado, anuncia-se para as próximas décadas oesgotamento das reservas de energias fósseis de acesso fácil. Comesse esgotamento é previsível uma subida de longa duração dos preçosda energia, até aos limites do suportável e mesmo para além deles.Por outro lado, com a emissão de gases com efeito de estufa, foiprogramado um aquecimento global, com catástrofes climáticas emparte já manifestas (secas aqui, inundações acolá, furacões, etc).Segundo um estudo de Nicholas Stern, ex-economista do Banco Mundial,em consequência disso a economia mundial cairá cerca de 20%.Efectivamente, poderiam coincidir ambos os momentos de sentidocontrário dos limites naturais: o choque económico da explosão dopreço da energia poderia reduzir drasticamente as emissões, à custade uma quebra do crescimento, convergindo porém simultaneamente comos efeitos das catástrofes climáticas, que não vão parar a curtoprazo. Já a relativa diminuição das emissões globais de 1990 a 2000,que levou a um falso fim do alerta, não se deveu ao protocolo doclima e às medidas de regulação, mas ao colapso económico do antigobloco do Leste. Foi apenas porque enormes estruturas industriaisforam desvalorizadas pelo mercado mundial e ficaram paralisadas que,segundo o secretariado da Convenção Internacional do Clima, asemissões baixaram 40% neste espaço, com repercussão nos valoresglobais. Desde então as emissões de CO2 a nível mundial subiram denovo dramaticamente; cerca de 25 % só no sector dos transportes, porcausa do processo da globalização.Os responsáveis não são apenas as zonas económicas de exportaçãochinesas e os Estados Unidos. Também a União Europeia ficará muitoaquém dos objectivos do Protocolo de Kyoto. Apesar disso, a ComissãoEuropeia desagravou os limites das emissões de gases dos automóveis,em consequência do lobby automóvel alemão. Pois os conglomeradoslocais fabricam sobretudo modelos ostentosos, com elevadas emissões.Embora fosse necessária uma redução para 120 gramas de CO2 porkilómetro, a auto-vinculação da União Europeia ficou-se pelos 140gramas. Contudo o Classe S da Mercedes emite mais de 300 gramas;sendo isso permitido, graças à gradação em função da cilindrada. Osalemães gostam de considerar-se românticos defensores das florestase "verdes", mas na realidade triunfa a ideologia do cavalo-potência.Só a protecção do clima é que é travada.O capitalismo é uma cultura de combustão, assente num emprego deenergia em crescimento contínuo que, de certa maneira, se queima asi mesmo e consigo o futuro da humanidade. A retórica oca do postode trabalho e a igualmente oca retórica do clima apoiam-semutuamente, no seu sentido contrário. A crise económico-social e acrise ecológica começam a cruzar-se e a potenciar-se uma à outra. Omodo de produção e de vida dominante deixa apenas a alternativa de acatástrofe climática ser abrandada pelo colapso económico ou, pelocontrário, que a catástrofe climática desenfreada leve à violentaqueda da economia. Depois de nós, o dilúvio! Esta secreta divisa dosgestores da combustão deve ser entendida à letra.Original ZUKUNFTSVERBRENNUNG in www.exit-online.org. Publicado noNeues Deutschland, 9.2.2007 http://obeco.planetaclix.pt/ http://www.exit-online.org/

O QUE A GENTE PENSA QUE SABE, MAS NÃO SABE

O QUE A GENTE PENSA QUE SABE, MAS NÃO SABE Laerte Braga Imagine o Brasil, um país de dimensões continentais, com um peso político e econômico decisivo na América Latina e hoje, em todo o mundo globalizado segundo os interesses do neolliberalismo, numa situação semelhante à da Argentina, pós De La Rua, com as pessoas nas ruas sem dinheiro, o Estado falido, desemprego em massa, fome, classe média atingida por um caos nunca imaginado, logo a Argentina, um país rico e de maioria branca e que, tempos atrás, chegou a emprestar, grosso modo, dinheiro aos Estados Unidos. Terminadas as eleições de 1998, quando FHC foi reeleito, em cima da conversa fiada que um real era igual a um dólar e nossa moeda era forte, os donos do mundo decidiram sangrar o Brasil, as reservas brasileiras.Com conivência governo FHC. Pouco antes das eleições, em 11 de setembro de 1998, uma turbulência na bolsa de valores de São Paulo, fez com que cerca de 1,7 bilhão de dólares deixasse o País de forma silenciosa para não prejudicar a reeleição. Em outubro do mesmo ano cerca de 400 milhões de dólares saíram, por dia, do Brasil em manobras semelhantes. O Banco Central do Brasil estava sendo saqueado e o governo não instituiu nenhum controle sobre o câmbio. Pedro Malan, ministro da Fazenda, era contra qualquer restrição ao capital estrangeiro. Elevaram as taxas de juros, num jeito artificial, e isso implicou em um aumento dos serviços da dívida externa (juros, taxas adicionais, etc) da ordem de 5 bilhões de dólares por mês. A avaliação é do banco e da consultoria J.P. Morgan, um dos maiores do mundo. Está no livro do economista canadense Michel Chossudovsky, professor da Universidade de Ottawa. Essa manobra toda custou uma elevação da dívida interna do Brasil em janeiro de 1999, para 254 bilhões de dólares, sendo que 45 bilhõesforam pagos até outubro do mesmo ano. Tudo isso foi decidido em Wall Street, centro financeiro do mundo capitalista, a denúncia é do mesmo professor. A reeleição de FHC, dois anos antes, também foi decidida pelos mesmos "donos". Uma forma de ocupar e tomar conta do sistema financeiro brasileiro. Uma espécie de compra de ações do Estado brasileiro, onde, hoje, são acionistas majoritários. De um total de reservas do Banco Central Brasileiro de julho a setembro de 1998, cerca de 30 bilhões de dólares foram transferidos para os cofres dos bancos privados. Em seguida o FMI veio com o célebre empréstimo de igual valor. Estava liquidado o Banco Central do Brasil, ainda hoje, em poder de banqueiros norte-americanos (texanos). Todo esse processo diz respeito a cada cidadão brasileiro, à medida que isso foi, literalmente, uma quadrilha no poder, vendendo e liquidando o patrimônio público nacional, abrindo mão de um projeto de crescimento econômico e largando à deriva, toda a infra-estrutura do País. Rodovias, vendeu ferrovias, serviços básicos e e estratégicos, portos, aeroportos, não cuidou de saúde, educação (iniciou o processo de retirada de autonomia das universidades públicas e privatização das mesmas, vide o primeiro decreto de José Serra sobre o assunto, agora no governo paulista). A falência geral e irrestrita do Brasil, digamos assim. Quando FHC, na sua característica forma cínica e corrupta de ser chamou os candidatos a presidente a palácio para mostrar o nível de compromissos do País com o FMI e foi claro e enfático ao dizer que estávamos falidos e iríamos seguir os mesmos passos da Argentina. Se, sempre o se, os candidatos não assumissem o compromisso de assinar uma carta de intenções com o FMI. Lula assinou. Ciro Gomes não (não tinha chances, era mais fácil). José Serra, o outro candidato, em 2002, era da copa e cozinha de FHC, sabia de tudo e também assinou, lógico. Ainda se deu ao luxo, cinicamente, de fazer críticas e ressalvas. Lula assumiu o governo em janeiro de 2003 de um País falido, dilacerado de norte a sul, leste a oeste e dominado pela corrupção. Claro. Para a reeleição de FHC indispensável a todas essas manobras,foi necessária a compra (provada) de votos de deputados e senadores). Para manter a mídia silenciosa, foi necessário pagar a dívida da GLOBO e silenciar outros órgãos de comunicação, sempre a chamada grande mídia. A corrupção foi generalizada no governo FHC entre os partidos que sustentavam o presidente. Rodovias, aeroportos e portos (os que não foram privatizados) foram deixados à matroca. Educação e saúde viraram o caos que se conhece, enfim, a tarefa de reconstruir as bases de um País como o nosso coube a Lula. O Brasil hoje não deve nada ao FMI. O governo Lula está tentando reconstruir os serviços públicos essenciais, destroçados pelas "reformas" do ministro Bresser Pereira (primeiro governo FHC e fraudador do imposto de renda). Para evitar o caos optou por silenciar sobre os danos causados por tucanos e aliados. Um erro. Poderia ter governado com o povo, bastava exibir o que fora feito e teria varrido a corrupção. Ao invés disso buscou ajudar escorpiões atravessarem o rio e acabou picado por uma série sucessiva de escândalos, pago o preço desse equívoco. Volta agora a conversa de privatizar os aeroportos, privatizar a INFRAERO, entregar o controle do espaço aéreo nacional a grupos estrangeiros, a empresas privadas, como se os acidentes aéreos fossem culpa do governo. É visível a cumplicidade da mídia nesse processo (as agências de publicidade gerenciam as contas das empresas), a GLOBO acima de tudo. A FOLHA DE SÃO PAULO, dentre os veículos impressos, e com maior ímpeto, pois porta-voz oficial da FIESP (Federação das Indústrias de São Paulo) e de Wall Street. A primeira é extensão da segunda. O caminho não é por aí. Seria fernandizar de um jeito pleno e absoluto o governo Lula. Arrematar o processo de entrega do Brasil e sua transformação na imensa roça de cana sonhada e desejada por Bush, seus celerados e a turma que tem ainda o controle acionário do Estado brasileiro. O caminho passa pela aceitação da Venezuela no MERCOSUL, passa pela criação do Banco do Sul, pela maior integração regional, pela retomada do patrimônio público, como agora a campanha pela reestatização da Cia. Vale do Rio Doce (dona do subsolo brasileiro), pela recuperação do controle acionário da PETROBRAS (ações preferenciais, em mãos de fundos de pensão dos EUA), por todo um processo que um dia Lula chamou de "projeto Brasil" e que seu governo ainda não começou, ou começou de forma muito tímida e por isso vem sendo engolido pelos "donos" e é o que a mídia, GLOBO à frente, se delicia em mostrar todos os dias. São coisas que a gente pensa que sabe, mas não sabe. Mais ou menos como enfiar a cara igual ao avestruz num buraco qualquer e fingir que não conhece a realidade, não sabe o que fala. Muito menos se preocupa com a forma como somos usados. No todo ou individualmente.

sábado, 21 de julho de 2007

O Juízo da Inquisição

El origen del Santo Oficio parte de un concepto errado de libertad religiosa por Beatriz Comella Virgilio Angel -------------------------------------------------------------------------------- Para los especialistas, la leyenda negra de la Inquisición está ya superada. No así entre el gran público, que no entiende cómo durante tres siglos y medio algo menos de 5.000 personas pudieron ser ajusticiadas por motivos religiosos. El fenómeno es comprensible, sin embargo, teniendo en cuenta el erróneo concepto de libertad religiosa vigente en aquella época. La Iglesia aclaró en el Concilio Vaticano II que es la dignidad humana, no la verdad, el fundamento de la libertad de conciencia y lamentó el uso de la violencia al "servicio" de la verdad. -------------------------------------------------------------------------------- -------------------------------------------------------------------------------- El escudo de la Inquisición, en grabado de B. Picart de la Biblioteca Nacional. -------------------------------------------------------------------------------- l origen de la Inquisición española se remonta a 1242 y su abolición definitiva data de 1834. Sin embargo, el Santo Oficio adquirió mayor auge desde su refundación por los Reyes Católicos en 1478 y hasta el advenimiento de la dinastía borbónica a inicios del XVIII. La Inquisición española es no sólo una entidad polémica, sino también poco conocida por el gran público. Aproximarse a su actuación no significa, obviamente, realizar una apología. Divulgar su trayectoria equivale más bien a contrastar datos, interpretándolos en un contexto y también saber cómo valora la Jerarquía de la Iglesia en la actualidad su actuación global. Muchos y renombrados expertos contemporáneos han dado por zanjadas posturas de defensa a ultranza o condena total: "la controversia ideológica, el enfrentamiento religioso, tan agudos en tiempos lejanos, han dejado paso a una actitud serena y ecuánime que comparten hombres de las más diversas tendencias. No se trata de ensalzar ni de abominar, simplemente comprender, lo que no implica deplorar determinados comportamientos", ha afirmado el académico de la Historia A. Domínguez Ortiz. DE LA LEYENDA NEGRA AL RIGOR HISTÓRICO No cabe duda de que toda leyenda negra posee cierto fundamento y parte de falsedad, por ejemplo, en cuanto a su origen, que no es medieval ni español. La muerte en hoguera fue utilizada del Imperio Romano. Con la progresiva cristianización de Europa se fue fraguando la mentalidad de que la herejía, atentado grave contra la fe, era equivalente al delito de "lesa majestad" (en el que se incurría, por ejemplo, al atentar contra la vida del rey). En el caso de la herejía, se consideraba agraviada la majestad divina. Además, las autoridades civiles tomaron en consideración el indudable peligro social que entrañaba la disidencia religiosa de los bautizados que, de hecho, solían provocar divisiones, tumultos, guerras (como en el caso de los cátaros o albigenses en el siglo XIII). EL PRIMER TRIBUNAL El primer tribunal inquisitorial propiamente dicho no fue español: nació en Sicilia en 1223, con licencia papal, a petición del emperador Federico II Hohenstaufen, interesado en congraciarse con Roma. En España no se introduce hasta veinte años más tarde; como en otros paises europeos, los tribunales dependían de los obispos diocesanos y fueron generalmente benévolos. Es cierto, sin embargo, que el Santo Oficio español se convirtió con los Reyes Católicos en un tribunal eclesiástico supeditado a la monarquía; fue un instrumento represivo de la herejía y de la disidencia religiosa, influido con frecuencia por lo política, de un modo poco comprensible para la mentalidad actual. EMPIEZA LA LEYENDA NEGRA La leyenda negra inquisitorial se inicia en la primera etapa de su actuación durante el reinado de Isabel y Fernando (1480-1500): se dio un excesivo celo en la persecución de falsos conversos de origen judío y abusos en la confiscación de sus bienes. Estos hechos contrastan, en general, con las medidas religiosas que impulsaron a lo largo de su reinado: desde la postura propia de las monarquías renacentistas de entonces (control de lo eclesiástico), contribuyeron a la reforma del clero regular y secular, antes de las propuestas del Concilio de Trento, preparando de ese modo a los artífices de la cristianización de América. Si ésta es la cara de sus medidas eclesiásticas, la Inquisición puede considerarse la cruz. A finales del siglo XVI, exiliados politices españoles como González Montano en Alemania o Antonio Pérez, ex-secretario de Felipe II, en Francia e Inglaterra, difundieron el germen de la leyenda negra. Media Europa acogió de buen grado los libelos anti-españoles, según el hispanista H. Kamen, bien por su rivalidad en el dominio marítimo (Gran Bretaña, Francia), o por su deseo de librarse del dominio politice español (Paises Bajos, norte de Italia). La Ilustración y los afrancesados del XVIII continuaron la campaña y desde el siglo XIX, otro exiliado español, Juan Antonio Llorente, ex-secretario del Santo Oficio madrileño, fue el mejor difusor de la leyenda negra, a través de su "Historia critica de la Inquisición española", que contiene algunos elementos de interés, junto a errores de bulto de carácter estadístico. DESENMASCARAMIENTO Para desenmascarar la leyenda negra, según el académico L. Suárez Fernández, no es necesario aludir a ejemplos paralelos o más crueles como las persecuciones promovidas, por ejemplo, por los anglicanos y calvinistas de entonces. Quizá sea preferible, y no es poco, aproximarse a los datos históricos, con sus luces y sombras. Desde principios de siglo muchos historiadores occidentales se han interesado por el fenómeno inquisitorial español. Aunque actualmente no faltan opiniones sumamente criticas, en general, entre los expertos el tema se aborda desde aspectos no beligerantes, más cercanos a la reconstrucción de la mentalidad de control religioso de una sociedad, que pretendió unificar la fe de nuestros antepasados (ante judíos y musulmanes) y defenderla de la ruptura protestante. Son numerosos los expertos anglosajones, franceses, centroeuropeos, escandinavos, judíos y españoles, pertenecientes a escuelas y tendencias diversas, quienes han realizado análisis sin el sesgo antihispánico o anticatólico de otras épocas. Puede afirmarse que entre muchos especialistas en la Inquisición española su leyenda negra está asimilada y superada, aunque no ocurra algo paralelo entre los estudiantes de Humanidades y el gran público. -------------------------------------------------------------------------------- Retrato de los Reyes Católicos por Juan Antonio Morales. -------------------------------------------------------------------------------- HABLA LA IGLESIA Por su parte, la jerarquía católica ha dado a conocer su postura en el Concilio Vaticano II al clarificar el concepto de libertad religiosa ("Dignitatis humanae" ;7-12-65) y las relaciones con los no cristianos ("Nostra aetate" 28-10-65), que coincide sustancialmente con la postura de los primeros teólogos cristianos (Tertuliano, San Ambrosio de Milán, San Juan Crisóstomo), para quienes "no es licito que una religión aplaste a otra con violencia". Juan Pablo II se refirió a la Inquisición española en su primer viaje pastoral a nuestro país, aludiendo a las "tensiones, errores y excesos" que protagonizó. En su Carta Apostólica "Terbio Millenio Adveniente" (1011-94), el Santo Padre hace mención a los métodos intolerantes y violentos que han sido utilizados a veces por eclesiásticos. En la misma linea, la Conferencia episcopal española se ha lamentado del "uso de la violencia al servicio de la verdad" dentro de la Iglesia. Obviamente los cristianos actuales no tienen culpa subjetiva por las actuaciones de otros bautizados en siglos pasados, de modo semejante mutatis mutandis, los Ministros de Justicia de ahora no tienen responsabilidad ante los errores y abusos de los tribunales civiles de los siglos XVI y XVII, aunque tanto unos como otros pueden sacar conclusiones de hechos pasados. Se debe tener en cuenta, por otra parte, que a la Iglesia, de la que se espera santidad, siempre se la mira con lupa para señalarla con dedo acusador, olvidando que sus miembros son falibles. LAS ESTADÍSTICAS HABLAN Para hacerse una idea cabal del control religioso que ejerció la Inquisición es preciso afrontar los datos estadísticos. Hasta finales de los años 70 ha existido cierta confusión sobre el número de victimas mortales del Santo Oficio. Es preciso aclarar, no obstante, que los ajusticiados por herejía no son las únicas víctimas: existían penas menores (cárcel, multas, penitencias, etc.) y además, las familias de los reos quedaban marcadas por la infamia durante generaciones (de ahí la importancia que se dio en la España del XVII a la "limpieza de sangre", es decir, a no tener antepasados falsos conversos del judaísmo o islamismo, perseguidos por la Inquisición). Desde la perspectiva actual, para un cristiano es inconcebible la pena de muerte por motivos ideológicos o religiosos: una sola muerte por esas causas es rechazable para nosotros. Pero las circunstancias de hace quinientos años eran otras: también la legislación civil aplicaba con frecuencia la pena capital y la religión era un valor preciado a defender incluso de modo cruento. Es necesario, sin embargo, conocer realmente el alcance de la violencia inquisitorial desde el siglo XV. Hasta entrado nuestro siglo, se calculó erróneamente que los condenados a hogera fueron el 9,2% de los juzgados. En la actualidad se confirma que la pena capital se aplicó al 1,2% Las primeras cifras sobre victimas son de cronistas de la época (Pulgar, Palencia, Bernáldez): entre 1481 y 1488, etapa rigurosa en Andalucía, fueron ajusticiadas unas 2000 personas, en su mayoría judíos bautizados que renegaban de su nueva fe. A partir del siglo XIX, se consideraron válidas (aunque más tarde se demostraron erróneas) las cifras globales aportadas por J.A. Llorente, el citado secretario del tribunal de Madrid: el 9,2% de los juzgados. En 1986, Contreras y Henningsen, dos expertos, publicaron las conclusiones de un estudio realizado sobre 50.000 causas inquisitoriales sobreseidas entre 1540 y 1700, etapa de gran influencia social de la Inquisición: su conclusión es que el 1,9% del total de encausados fueron condenados a hoguera. Referido a una etapa más amplia, Escandell afirma que entre 1478 y 1834 (refundación y abolición del Santo Oficio), se condenó a muerte al 1,2% de los juzgados. ¿FUE LA INQUISICIÓN ANTISEMITA? El Santo Oficio persiguió esencialmente la herejía y algunas desviaciones morales (bigamia, blasfemia, incumplimiento del celibato, etc.). Entre los juzgados por razón de la fe destacan los falsos conversos del judaísmo, del islamismo y los seguidores de Lutero. Los hebreos bautizados con escasa sinceridad que mantenían los ritos mosaicos (criptojudaísmo) constituyeron un problema religioso de primer orden desde finales del siglo XV hasta principios del XVII. Las relaciones entre judíos y cristianos hablan sido desiguales antes del reinado de los Reyes Católicos. Los hebreos no siempre pudieron convivir en paz en Sefarad (España). Perseguidos por algunas leyes visigodas, hallaron tranquilidad con reyes castellanos y aragoneses como Alfonso X el Sabio o Pedro IV el Ceremonioso. Pero a finales del siglo XIV diversas ciudades (desde Sevilla a Barcelona) se levantaron de modo violento contra los prestamistas judíos, odiados por unos acreedores que debían pagar un interés del 33% anual, máximo permitido por la ley. Esta tensa situación propició la salida de población hebrea y otra oleada de bautismos por conveniencia de algunos, denominados "cristianos nuevos". COMUNIDADES JUDÍAS Y SU EXPULSIÓN Los Reyes Católicos fueron, inicialmente favorables a los judíos (el rey Fernando tenía sangre hebrea por linea materna) y un buen grupo de ellos servia en la Corte. En Castilla y Aragón existían unas 220 aljamas (comunidades hebreas) con cerca de 100.000 habitantes. Estos dependían directamente de los reyes, eran protegidos por leyes singulares y aportaban tributos especiales: constituían, sin embargo, una clase de súbditos de segunda categoría. Como es sabido los sefardíes (judíos españoles) fueron expulsados por los Reyes Católicos en 1492, siguiendo una línea politice adoptada anteriormente en reinos europeos como Inglaterra y Francia. Bien conocían Isabel y Fernando que su decisión no era "rentable" desde el punto de vista económico, ya que muchos hebreos se dedicaban al comercio y al mundo financiero, pero en su postura tuvo gran peso un motivo religioso y social: se temía la efectividad del proselitismo hebreo y se quiso evitar la violencia popular de los acreedores contra las aljamas. La alternativa era recibir el bautismo o el exilio forzoso, elegido por la inmensa mayoría de los sefardíes. Algunos autores contemporáneos han comparado la acción del Santo Oficio contra el criptojudaísmo al holocausto nazi. Es cierto que los sefardíes vivían en barrios especiales y que el Concilio IV de Letrán (1215) instó a que utilizaran una marca externa para distinguirlos de los cristianos (algo que podría recordar a la estrella de David bajo Hitler), pero la citada medida conciliar se difundió poco en España y tenía carácter religioso, no estrictamente racista. TORTURA Y AVARICIA Cabe subrayar que si las victimas del holocausto nazi fueron unos seis millones de seres humanos en pocas décadas, las de la Inquisición fueron menos de 5.000 en tres siglos y medio. El motivo de la persecución es también distinto: por una parte, los Reyes Católicos aplicaron una de sus máximas: la unidad territorial está unida a la unidad de la fe, un principio que ejercieron las monarquías renacentistas y el propio Lutero. Por otro lado, el odio popular hacia los judíos, sin excluir cierto racismo de tipo religioso, tenía relación con la falta de solvencia de los acreedores cristianos, mientras que en el III Reich la aversión poseía unas profundas raíces de racismo pagano. La leyenda negra de la Inquisición se asocia al abuso de la tortura y al enriquecimiento de los tribunales mediante la confiscación de bienes a los reos. Durante el siglo XVIII, se difundieron unos grabados sobre la tortura inquisitorial del francés Picart que no corresponden a la realidad por exceso. Los tormentos eran, no obstante, terribles, tenían como finalidad producir un gran dolor físico a los acusados, sin llegar a la mutilación o muerte, para conseguir su confesión (en el caso de herejía, el reo confeso era librado de la pena capital). El Santo Oficio utilizó de hecho con menor frecuencia la tortura que otros tribunales coetáneos (era ordinario usarla en todos). Hispanistas como Lea o Kamen confirman con estadísticas que en épocas "duras" (hasta 1530) en tribunales muy activos se utilizó el tormento en el uno o dos por ciento de los casos. A veces se presenta al Santo Oficio como una organización de rapiña. Es cierto que a los acusados se les confiscaban los bienes para cubrir los gestos del arresto y del tribunal, pero según estudiosos como R. de Carande o F. Braudel nunca constituyeron un negocio, aunque se dieron abusos contra los falsos conversos judíos hacia 1480 y 1 725. -------------------------------------------------------------------------------- Condenado por la Inquisición al que le han colgado un sambenito y le han entregado una tea. -------------------------------------------------------------------------------- La Inquisición siempre tuvo interés en acallar los rumores sobre avaricia, mientras fue solvente hasta mediados del siglo XVI; más tarde, los hechos se encargaron de desmentirlo: tuvo que buscar vías alternativas de financiación (asignación de canonjías, préstamos hipotecarios, compra de minas, etc.) SIN PREJUICIOS Acercarse sin prejuicios a la historia de la Inquisición española es necesario para tomar posición de modo adecuado sobre realidades pasadas. Sería interesante que muchos cristianos "de a pie", supieran encarar este polémico asunto con datos y argumentos, viajando mentalmente a la mentalidad de entonces. Si ahora la democracia, la tolerancia o la ecología son valores compartidos ampliamente en la sociedad occidental, para los hombres y mujeres de los siglos XIII al XVII, la religión, el honor de Dios y la defensa de la fe eran considerados bienes comunes, patrimonio de la mayoría, aunque tanto antes como ahora se cometan injusticias y abusos.

terça-feira, 17 de julho de 2007

O PT e Seu Estado Novo

O PT e o seu Estado Novo por Renato Pompeu(sobre um artigo de Luiz Werneck Vianna) Em esclarecedor artigo publicado (em português) no site(http://www.lainsignia.org/2007/julio/ibe_007.htm) ibero-americano La Insignia O sociólogo carioca Luiz Werneck Vianna, do Iuperj, lança a tese de que, na conjuntura política atual do Brasil, estamos vivendo, de forma democrática, uma versão petista do que foi o Estado Novo de Getúlio Vargas, cuja introdução completa em 2007 exatamente setenta anos.Trata-se, na visão de Werneck Vianna, de uma “revolução pelo alto”, na concepção desenvolvida nos anos 1930 pelo pensador italiano Antonio Gramsci. Na visão de Gramsci, quando ocorre uma situação em que são necessárias mudanças políticas, sociais e econômicas, mas os de baixo não têm força para exercer a hegemonia do processo, os de cima introduzem as mudanças, por meio de uma “revolução pelo alto”, centradas na fórmula “mudar para conservar”. Ou, como foi dito pelo idoso nobre no romance O Leopardo, do italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa, filmado pelo diretor Luchino Visconti, “é preciso mudar tudo para que nada mude”.Só que, para Werneck Vianna, a fórmula no Brasil de hoje se inverte, pois quem está na hegemonia do processo não são os de cima, mas representantes “jacobinos”, isto é, representantes dos de baixo. A frase de hoje seria “não se deve mudar nada, para que seja possível mudar alguma coisa”. Os petistas no poder construíram um esquema de alianças que “sugou” a política, a partir da sociedade civil, para dentro do aparelho de Estado, em especial do Executivo, num esquema semelhante ao do Estado Novo, mantendo porém as liberdades democráticas.Tal como no Executivo do Estado Novo se combinavam industriais e sindicalistas operários (“pelegos”), a classe média intelectualizada do alto funcionalismo e os grandes proprietários agrícolas, agora também, no “Estado Novo petista”, o Executivo é composto de representantes de industriais e sindicalistas, de proprietários agrícolas e de sem-terra, de bancos e de intelectuais, que pactuam acordos. A política, o jogo de interesses, como no Estado Novo, não se dá mais no Congresso ou na sociedade civil; as lideranças dos movimentos sociais passaram a fazer parte dos quadros do Executivo e, fora do Executivo, não há política; não existe política, principalmente, na sociedade civil; esta tem toda a liberdade para fazer política, porém não a exerce.Também outra semelhança com o Estado Novo é que o discurso neoliberal foi substituído por um discurso nacional-desenvolvimentista, ou social-desenvolvimentista, com o jogo de interesses no Executivo introduzindo alterações paulatinas na política econômica conservadora herdada do governo Fernando Henrique Cardoso. Igualmente, como no Estado Novo havia a figura carismática de Getúlio Vargas coonestando os acordos e cooptações, atualmente impera a figura carismática do presidente Luís Inácio Lula da Silva, que é quem “cola” os diferentes e contraditórios interesses de classes e de frações de classe representadas no Executivo.Em suma, temos uma “revolução pelo alto”, conservadora e não mobilizadora das massas, porém com a hegemonia dos representantes dos de baixo, os petistas “jacobinos”, na visão de Werneck Vianna, que cumprem algumas reivindicações dos de baixo. A maior diferença, em relação ao Estado Novo de Getúlio Vargas, além da vigência de plenas liberdades democráticas, seria que o Estado Novo petista tem data marcada para terminar e vai se encerrar com o fim do segundo mandato do presidente Lula. Como não pode haver uma segunda reeleição, vai ser difícil encontrar uma figura carismática da envergadura de Lula e, assim, o “Estado Novo petista” terá dificuldades para se manter.Além disso, depois de muito tempo de letargia da oposição, esta tenta agora arrancar a política de dentro do Executivo e transportá-la para o Legislativo e para a sociedade civil. Para Werneck Vianna, isso se dá por meio dos esforços da oposição para conseguir que quadros peemedebistas e o PMDB como um todo retirem seu apoio ao governo. O sociólogo carioca não diz, mas pode-se depreender, assim, que a campanha contra Renan Calheiros deva ser vista com outros olhos. Afinal de contas, como em Brasília tudo se sabe e a pensão à filha do presidente do Senado com a jornalista é paga há três anos, idade da menina, começa a ficar claro por que o escândalo veio a público agora e não antes. Renato Pompeu é jornalista e escritor, autor do romance-ensaio O mundo como obra de arte criada pelo Brasil, Editora Casa Amarela.

A Filosofia medieval

LA FILOSOFÍA MEDIEVAL Virgilio Angel A diferencia de lo que había ocurrido con la filosofía griega, que había centrado su reflexión en torno a la determinación del objeto, la filosofía medieval centró su interés en Dios. La filosofía helenística había dado una orientación práctica al saber, dirigiéndolo hacia la felicidad del hombre. Es el caso del estoicismo y del epicureísmo, que habían colocado a la ética en el vértice del saber. A lo largo de los primeros siglos de la era actual, la progresiva expansión del cristianismo y otras religiones mistéricas irá provocando la aparición de otros modelos de felicidad o "salvación individual", que competirán con los modelos filosóficos. Frente a la hostilidad hacia la filosofía manifestada por algunos de los primeros curas apologistas cristianos, sus continuadores encontrarán en la filosofía, especialmente a partir del desarrollo del neoplatonismo de Plotino, un instrumento útil, no sólo para combatir otras religiones o sistemas filosóficos, sino también para comprender, o intentar comprender, los misterios revelados. Surge de ahí una asociación entre filosofía y cristianismo o, más en general, entre filosofía y religión, que pondrá las bases de la futura filosofía medieval, entre los cristianos, los musulmanes y los judíos. El tema fundamental de reflexión pasará a ser la divinidad, quedando subordinada la comprensión e interpretación del mundo, del hombre, de la sociedad, al conocimiento que se pueda obtener de lo divino. La fe, que suministra las creencias a las que no se puede renunciar, tratará de entrar en diálogo con la razón. La inicial sumisión de la razón exigida por la fe, dejará paso a una mayor autonomía propugnada por Santo Tomás de Aquino, que conducirá, tras la crisis de la Escolástica, a la reclamación de la independencia de la razón con la que se iniciará la filosofía moderna. LA FILOSOFÍA MODERNA Si la filosofía antigua había tomado la realidad objetiva como punto de partida de su reflexión filosófica, y la medieval había tomado a Dios como referencia, la filosofía moderna se asentará en el terreno de la subjetividad. Las dudas planteadas sobre la posibilidad de un conocimiento objetivo de la realidad, material o divina, harán del problema del conocimiento el punto de partida de la reflexión filosófica. Son muchos los acontecimientos que tienen lugar al final de la Edad Media, tanto de tipo social y político, como culturales y filosóficos, que abrirán las puertas a la modernidad, y que han sido profusamente estudiados. En lo filosófico, el desarrollo del humanismo y de la filosofía renacentista, junto con la revolución copernicana, asociada al desarrollo de la Nueva Ciencia, provocarán el derrumbe de una Escolástica ya en crisis e impondrán nuevos esquemas conceptuales, alejados de las viejas e infructuosas disputas terminológicas que solían dirimirse a la luz de algún argumento de autoridad, fuera platónica o aristotélica. De las abadías y monasterios la filosofía volverá a la ciudad; de la glosa y el comentario, a la investigación; de la tutela de la fe, a la independencia de la razón. EL RENACIMIENTO Y LA EDAD MEDIA 1. La primera dificultad que se plantea al hablar del Renacimiento es la de señalar con precisión sus límites con respecto a la edad media. Al igual que ocurre con otras clasificaciones históricas resulta difícil deslindar el final de una época y el comienzo de otra, de tal modo que, dependiendo de los historiadores y de los lugares y factores que toman en consideración, podemos considerar que el Renacimiento se desarrolla en los siglos XV y XVI, haciendo avanzar a retroceder sus orígenes a lo largo del siglo XV en función de las consideraciones que hayamos tomado en cuenta, y alargando su final hasta bien entrado el siglo XVII, lo que supone un margen de imprecisión importante. 2. No menor dificultad representa la cuestión de determinar si el Renacimiento supone una radical ruptura o una continuidad con respecto a la edad media. El desarrollo de la burguesía, clase social impulsora de los ideales renacentistas, comienza en la edad media, y va asociada al desarrollo del individualismo; la penetración de la filosofía griega en occidente se había realizado ya a través de las escuelas de traductores (Toledo, Vich, Nápoles, Palermo...) a lo largo de la edad media, especialmente durante el siglo XIII, lo que supone un despertar "medieval" del retorno a los clásicos, que será otra de las características clave del Renacimiento. Lo mismo ocurre con el desarrollo de la ciencia, mediante la actividad de los medievales Ockham, Oresme y Buridano, a lo que podemos añadir otros acontecimientos importantes que dejarán sentir su influencia con posterioridad, como el descubrimiento de América o de la imprenta. 3. Pero si es cierto que podemos encontrar algunos elementos de continuidad entre la edad media y el Renacimiento, como los señalados anteriormente, eso no basta para reducir el Renacimiento a una mera continuidad de la edad media. Por supuesto que todas las épocas históricas se generan a partir de otras anteriores en las que podemos encontrar en germen algunos de sus caracteres principales; pero ni el grado de desarrollo de dichos elementos, ni su significación, es reducible al que tenían en la época anterior. Y eso ocurre también con el Renacimiento. Los europeos del siglo XVI tenían una clara conciencia de ruptura con respecto a la edad media, conciencia mantenida por la sucesión de una serie de transformaciones sociales, políticas, religiosas, económicas, culturales, que nacían con una clara voluntad de oposición a lo "medieval". Entre ellas podemos destacar la desintegración de la iglesia y el desarrollo de la reforma luterana, y el de la iglesia anglicana con Enrique VIII, que se producen en el marco de la consolidación de los Estados nacionales y de las monarquías absolutas que van a configurar un nuevo mapa político en Europa, al que hay que asociar el desarrollo de la burguesía y su papel predominante, con la expansión del comercio, lo que supondrá el principio del fin del feudalismo. El desarrollo de la cartografía, el descubrimiento de la brújula, la utilización de la pólvora, son elementos que va a conducir al descubrimiento y colonización de América, lo que provocará un aumento de la desconfianza respecto al saber medieval. El descubrimiento de la imprenta facilitará la circulación de las nuevas ideas. A.- Caracteres generales del Humanismo y del Renacimiento Las relaciones entre humanismo y Renacimiento se presentan bajo el aspecto de una polémica: mientras que el humanismo se caracterizará por el retorno a la sabiduría clásica, en el marco de una preocupación fundamentalmente de signo filológico y teológico, el Renacimiento lo hará como impulsor del desarrollo de la ciencia. Así, el Renacimiento, sin renunciar a los temas básicos del humanismo, le superará, al desligar tales temas de la perspectiva teológica y enlazarlos con el pensamiento científico a) Caracteres del humanismo 1. Uno de los rasgos distintivos más conocidos y destacados del humanismo es su interés por lo "antiguo", por lo clásico, interés en el que predomina el punto de vista de la investigación filológica. Este interés provoca el desarrollo de la perspectiva histórica en el acercamiento a otra cultura, por que se puede afirmar que con el humanismo se consolida la historicidad como clave del pensamiento europeo. 2. A diferencia de lo que ocurría en la edad media, donde el hombre era considerado fundamentalmente desde una perspectiva teológica, los humanistas valorarán el hombre desde una perspectiva mundana, no-divina, es decir, el hombre será visto como un ser natural e histórico. La religión, aparte de su función redentora, es considerada ante todo en su función civil. Así, tanto la religión como la tolerancia religiosa son instrumentos válidos para asegurar el ideal de la paz civil. La creencia en la unidad última de todas las religiones es afirmada, consecuentemente, desde esta caracterización. b) Caracteres del Renacimiento 1. El ideal común de este período viene definido por la esperanza de un renacer del ser humano a una vida verdaderamente "humana", mediante el recurso a las artes, las ciencias, la investigación... poniendo de manifiesto la consideración del ser humano como ser natural, en oposición a la consideración medieval del ser humano como ser-para-Dios. 2. El retorno a los antiguos significa no sólo la recuperación de su obra, sino fundamentalmente el retorno al principio, a los orígenes de la vida humana, cultural, del ser humano. Volver al principio no significa volver a Dios, sino precisamente al terreno del hombre y del mundo humano. De ahí la valoración del pensamiento filosófico pre-cristiano. El retorno significa, además, una conquista. La vuelta a los orígenes, al principio, conlleva la conquista de la personalidad humana. El que este retorno se efectúa mediante las artes y las ciencias, y no mediante experiencias místicas interiores, por ejemplo, significa una búsqueda de la objetividad. En efecto, sólo la objetividad puede poner en evidencia el status original del hombre frente a la naturaleza, es decir, manifestar su origen y su condición humana. 3. Por lo mismo, el hombre es libre de decidir su conducta, de elegir su destino, lo que supone una exaltación de la libertad individual tanto en el orden teológico como el orden cultural y social. B.- PRINCIPALES CORRIENTES FILOSÓFICAS DEL RENACIMIENTO a) Platonismo. b) Aristotelismo averroísta, Padua, un solo entendimiento y Aristotelismo alejandrino. - Alejandro de Afrodisia, muchos entendimientos. c) Estoicismo, epicureísmo, escepticismo. d) Naturalismo: Bruno, Telesio, Campanella. e) A ellas hay que sumar la actividad científica representada por Copérnico, Galileo y Kepler, en lo que supondrá la renovación de la concepción del Universo. C.- CARACTERÍSTICAS FILOSÓFICAS 1. Una de las características más notables del Renacimiento es el antropocentrismo, lo que supone una valoración no sólo de la personalidad del ser humano, sino también de su individualidad. 2. También el naturalismo irá asociado al desarrollo del Renacimiento. Se destacan los aspectos naturales del hombre versus los aspectos sobrenaturales. Es algo de lo que encuentran los renacentistas que "vuelven" a Aristóteles: la separación del universo y de Dios y la exaltación de la naturaleza; al igual que los que se "vuelven" hacia Platón, buscando una religiosidad natural y la exaltación del hombre y de su libertad (el hombre no es malo, es ignorante, no necesita, pues, la gracia divina para su redención). 3. Bacon, Copérnico, Galileo, Kepler, son figuras centrales en el desarrollo de la ciencia, que supondrá la destrucción de la imagen ptolomeica del mundo, inspirada en el universo cerrado y geocéntrico de las dos esferas; la creciente y progresiva matematización de la naturaleza y el desarrollo del método experimental serán dos de las bazas más significativas de su triunfo. 4. El Renacimiento supone pues el renacer del espíritu de libertad de un ser humano que se quiere inserto en la naturaleza y en la historia. EL SER HUMANO Y LA LIBERTAD EN EL HUMANISMO Y EN LA REFORMA 1. El humanismo de Lorenzo Valla, de Vives, de Budé, de Tomás Moro, está impregnado de una visión del ser humano como ser natural e histórico que debe realizarse en el uso de la libertad. Tal humanismo lo podemos considerar entroncado en el de Erasmo de Rotterdam (1467-1536), del que destacamos las siguientes características: 2. La vida humana es comprendida por Erasmo como una cooperación del hombre con Dios. El hombre no es malo por naturaleza (la naturaleza humana no queda corrompida por el pecado original, nos dice Erasmo, contrariamente a lo que sostendrán los reformadores). Los elementos bíblicos y evangélicos, junto con la gracia, permitirán al hombre aspirar a la salvación, para lo que es necesario el uso de la libertad. El hombre ha sido privado por el pecado original de los bienes sobrenaturales que Dios le había concedido, pero conserva las facultades y las fuerzas que requiere una vida moral. Una de estas facultades precisamente la libertad. La afirmación de la libertad humana es necesaria para obtener la salvación. El hombre, ayudado por la gracia y eligiendo libremente el recto comportamiento moral puede aspirar a la recuperación de los bienes perdidos con el pecado, puede aspirar a la salvación. La gracia sola no bastaría. La salvación está al alcance del ser humano, pero necesita quererla y buscarla en el ejercicio de su libertad, aunque no dependa exclusivamente de ella, ya que, sin la gracia, la libertad sóla tampoco bastaría para conseguirla. 3. Entre los temas más destacados del pensamiento de la Reforma se encuentra la valoración de la experiencia interior del hombre frente a la acción hipócrita externa, que acentuará el subjetivismo. Ello se acompaña de una manifiesta hostilidad a la teología que será combatida con la "lectura interior" de la Biblia y los Evangelios. Además, la suerte del alma depende exclusivamente de Dios, lo que supondrá la afirmación del determinismo y la negación de la libertad humana apoyándose, para ello, en la consideración de la corrupción natural del hombre por el pecado original. Toda la pureza y bondad inicial del ser humano, con las que fue creado por Dios, se pierde con el pecado original, por lo que no puede haber realmente una acción moral que emane de la voluntad humana, corrompida ya por dicho pecado original. 4. Uno de los personajes clave de la reforma será Martín Lutero (1483-1546), en quien predomina una concepción pesimista de la naturaleza humana: el hombre está corrompido desde el pecado original, privado de toda rectitud, interior o exterior. Sólo con la ayuda de la gracia puede hacer algún bien. La rectitud moral, pues, no puede ser consecuencia de la libertad del hombre ya que esta no es más que una vez creencia. Depende exclusivamente de la voluntad arbitraria de Dios lo que le conduce a un estricto determinismo moral. En consecuencia, ni siquiera la ley moral puede ser cumplida, ya que la naturaleza "caída" del hombre lo impide. Sólo hay salvación en la fe de Cristo, que ha merecido el cielo para todo el que crea en Él. El hombre carga sus pecados a Cristo y éste nos imputa sus méritos. De modo que el hombre está predestinado y sólo a Dios pertenece la fijación eterna de la suerte del alma en la vida futura. Entre los humanistas y los reformadores hay, pues, algunos puntos de contacto, pero notables diferencias. a) Entre los puntos de contacto podemos destacar la coincidencia en el ataque a la teología oficial y a los representantes de la iglesia; la afirmación del papel central del hombre en el universo y el interés despertado por el tema de la libertad del hombre. b) Entre las diferencias, mientras los renacentistas y los humanistas destacan la bondad natural del ser humanoy exaltan su libertad, los reformadores las niegan. Para los representantes de la reforma el hombre es naturalmente malo y carece de libertad, lo que les conduce al determinismo moral. Para el humanismo cristiano sin embargo el hombre no es malo por naturaleza y la voluntad no es un don pasivo, sino que debe ejercerse en la libertad, sin la cual hablar de salvación del alma no tiene sentido. (Es conocida la polémica que mantuvo Erasmo con Lutero sobre la libertad en su obra "Sobre el libre albedrío", a la que respondió Lutero con "Sobre el albedrío esclavo"). EL ESTADO MODERNO 1. En los siglos XV y XVI observamos el desarrollo del absolutismo político, cambio histórico que se verá reflejado en la filosofía política de la época. Entre los acontecimientos más significativos al respecto podemos considerar, en Inglaterra, la aparición del absolutismo de los Tudor, iniciado con Enrique VII (1485-1509), al establecer un poder monárquico centralizado al término de la guerra de las Dos Rosas. En España, el matrimonio de Fernando e Isabel, (1469), reunió los reinos de Castilla y Aragón bajo la misma corona, base del desarrollo del absolutismo español que culmina con Carlos V (1516-1556). También en Francia podemos situar el origen del absolutismo en 1453, al término de la guerra de los Cien Años. A diferencia de lo ocurrido en España, en Inglaterra y Francia los comerciantes apoyaron la centralización del poder, a expensas de la nobleza feudal. Ello no significa, por supuesto, que el despotismo monárquico fuera la única teoría política del Renacimiento, sino que debe interpretarse como la expresión de la necesidad de unidad ante las cambiantes circunstancias económicas e históricas. En este sentido, la defensa del absolutismo político es una consecuencia de la creencia de que sólo un poder centralizado, fuerte y sin apenas limitaciones, es capaz de controlar las fuerzas que tienden a la "disolución" de la sociedad. 2. A medida que el absolutismo político se impone se desarrolla la teorización sobre algunos problemas derivados de la justificación del poder. Entre ellos podemos destacar: Rrincipales problemas La teoría del derecho divino de los Reyes y la limitación de su poder. Las nuevas reflexiones sobre la naturaleza y las bases de la sociedad política. El desarrollo de la conciencia nacional y su fundamento, justificación y límites. Las nuevas reflexiones sobre la ley natural y los derechos naturales. La ley natural implicaría una limitación en el ejercicio del poder político y actuaría como fundamento de los derechos naturales (propiedad privada, herencia, etc....) de los individuos. La reconsideración de la relación de la Iglesia con el Estado. El desarrollo de las teorías del contrato como fundamento de la sociedad civil. LA FILOSOFÍA POLÍTICA A) Nicolás Maquiavelo (1469-1527) 1. Maquiavelo nace en Florencia en 1469, de familia noble, y recibe una educación esmerada. Participa activamente en la vida política hasta los 44 años, dedicándose entonces a la teoría política. Su obra más importante es "El Príncipe". Maquiavelo se interesó fundamentalmente por presentar la mecánica del gobierno, prescindiendo de las cuestiones morales, y formulando los medios por los cuales el poder político puede ser establecido y mantenido. En la medida en que el fin del Estado es garantizar la seguridad y el bienestar, el gobernante tiene derecho a valerse de medios inmorales para la consolidación y conservación del poder. El pensamiento de Maquiavelo está dominado por el realismo político: se ha de analizar el acto político puro, sin connotaciones trascendente su morales. Este acto sólo es válido si resulta eficaz. Mediante este análisis pretende alcanzar las leyes inmutables y necesarias que rigen la historia del hombre, puesto que ésta se repite inexorablemente, pudiendo deducirse así lo que será la historia futura de la humanidad. 2. En este contexto, le resulta especialmente interesante el análisis de la personalidad del político. El político ha de ser una persona hábil, capaz de manipular situaciones valiéndose de cualquier medio; ha de poseer destreza, y una equilibrada combinación de fuerza y tesón, además de intuición para sortear los obstáculos que se le presente y una carencia total de escrúpulos. Ha de ser además capaz de actuar según los cambios momentáneos, buscando apoyos o forzando traiciones según las circunstancias. En consecuencia, el político no debe poseer virtud alguna, pero ha de estar en condiciones de simular poseerlas todas, lo que supone actuar con absoluta indiferencia ante el bien y el mal (amoral) con absoluto despotismo. 3. Respecto a las formas de gobierno, Maquiavelo considera la República como la mejor forma de gobierno posible, lo que parece difícilmente conciliable con su doctrina del despotismo político anteriormente expuesta. No obstante, el despotismo estaría justificado sólo como paso previo a la ordenación del Estado sobre el que se establecería la República. El despotismo político sería entonces un mal menor que conllevaría la posibilidad de establecer un gobierno republicano, es decir, un gobierno de la mayoría. El gobernante es bueno, es decir, justificable, por su eficacia, no por sus connotaciones ético-religiosas. No se trata de describir estados ideales, sino de gobernar estados reales. En definitiva, la "modernidad" de Maquiavelo parece radicar en el énfasis que puso en el Estado como un cuerpo soberano que mantiene su vigor y unidad mediante una política de fuerza, aunque no elaboró ninguna teoría sistemática e ni se preocupó tampoco nunca de hacerlo. B) Tomás Moro (1478-1535) 1. Bajo la influencia platónica (de la "República") escribió una novela filosófica que describe un Estado Ideal en la Isla de Utopía, teniendo como fondo una idealización de la vida moral de su época y, al mismo tiempo, una crítica de las condiciones sociales y económicas. Aunque desconocía "El Príncipe" su obra iba dirigida contra el ideal del gobierno despótico defendido por Maquiavelo. Igualmente se opone a la explotación comercial y contiene ideas que reaparecen posteriormente en el socialismo. 2. En su novela nos presenta una sociedad agrícola, en contraste con una sociedad adquisitiva, cuya unidad central es la familia. No existe propiedad privada ni el dinero es el medio medio de intercambio. Los medios de vida están asegurados para todos, en vistas a la creación de tiempo libre que se emplearía en objetivos culturales. La libertad y la tolerancia religiosa, dentro del respeto de la religión natural, son las piedras angulares de la vida en Utopía, en la creencia de que la vida política y la moral no podrían ser disociadas. 3. La Utopía de Tomás Moro, aun conteniendo aspectos ilustrados y prácticos, es ante todo una idealización de las sociedades cooperativas del pasado y, en algunos aspectos, se opone al avance de las fuerzas y tendencias que darán paso a la modernidad (como la expansión del comercio y la separación de poderes, entre otras).