sábado, 24 de março de 2012

PT: quem te viu e quem te ver, hein!!!

PT: quem te viu, quem te


vê!





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Brasil - Batalha de

ideias



Quarta, 21 Março 2012 02:00



[image: 200312_lula_ulisses_tancredo]Correio da

Cidadania -

[Gilvan Rocha] Não faz tanto tempo que o PT repudiava qualquer aliança com

os partidos tidos como da burguesia. Em especial com o PMDB da época.

Rejeitava com veemência o PMDB ideológico, onde se destacavam figuras de

peso histórico como Franco Montoro, Mário Covas, Ulysses Guimarães (foto,

esquerda), Tancredo Neves (foto, direita), Pedro Simon, Paes de Andrade.



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A intransigência, até louvável, do PT naquela ocasião levava a que o

partido se negasse a participar do “espúrio” Colégio Eleitoral que elegeria

Tancredo Neves, chegando ao cúmulo de expulsar dois deputados federais

petistas que participaram do Colégio Eleitoral.



A mão de ferro de conotação ideológica negou-se, de início, a assinar a

Constituição aprovada em 1988 pela assembleia constituinte presidida por

Ulisses Guimarães.



Tudo leva a crer que o PT seria fiel aos interesses históricos dos

trabalhadores. Qual nada! Bastou que esse partido chegasse ao governo para

se mancomunar com Sarney, em lugar de Ulisses Guimarães, com Renan

Calheiros, em lugar de Tancredo Neves, com Michel Temer, em lugar de Mário

Covas, com Jader Barbalho, em lugar de Franco Montoro...



Vê-se, então, que o PT negou-se a dialogar com o PMDB ideológico, para

fazer negócios, trambicagens, com o PMDB fisiológico, representado por

figuras da pior qualificação política, que formam o atual PMDB.



Luizianne Lins, prefeita petista de Fortaleza, militante aguerrida e

participante da Democracia Socialista, corrente radical do PT, hoje cai nos

braços do senador Eunício Oliveira, um dos expoentes do PMDB fisiológico. E

por aí vai para os esgotos pútridos da política burguesa toda esperança que

um dia representou o PT para nós socialistas.



Aqui e ali, a burguesia sentiu-se amplamente acalentada pelo comportamento

petista que soube manter sob controle as massas populares e garantir

grandes lucros aos capitalistas sem que fosse necessário experimentar

momentos de tensões e intranqüilidades.



Por isso dizemos: o PT foi verde, depois maduro, para depois apodrecer.

Quanto a esse fato só resta dizer: quem te viu, quem te vê!



*Gilvan Rocha* é militante socialista e membro do Centro de Atividades e

Estudos Políticos.

terça-feira, 20 de março de 2012

Frente de Esquerda (PSTU-PCB-PSOL) reunidos novamente no Maranhão pra eleições municipais em 2012

PSTU chama PCB e PSol para formarem frente de esquerda

14 /mar /2012

http://www.maranhaohoje.com.br/?p=1493



Pela primeira vez em sua história, no Maranhão, o PSTU sinaliza que poderá

formar uma aliança para disputar a prefeitura de São Luís este ano. Os

partidos preferidos para formação desta frente são o PCB e o PSol, de

acordo com manifesto publicado pelo partido.



No manifesto, os dirigentes do PSTU dizem que “necessitamos mudar a

realidade de São Luís e apresentar candidaturas a prefeito que representem

as reivindicações dos setores explorados e oprimidos, pois estes são os que

mais sofrem com a irresponsabilidade social das administrações municipais”.







Marco Silva é a principal liderança do PSTU em São Luís





Diz ainda que oO PSTU sempre esteve na luta real dos trabalhadores do

Maranhão, denunciando os governos que não os representam e organizando a

luta por melhores condições de vida e contra os ataques provenientes dos

patrões e governos, “portanto, tem legitimidade para apresentar e encabeçar

candidaturas de esquerda, classista e socialista às prefeituras, pois

diariamente, independente de período eleitoral, estamos nas lutas sociais,

seja no campo sindical, no movimento popular, operariado, nas lutas contra

as opressões, nas reivindicações da periferia e do povo pobre ou na

juventude”.



Frente de Esquerda - Para fortalecer esta candidatura, “fazemos um

chamamento ao PCB e PSOL com o intuito de construir uma Frente de Esquerda,

com um programa classista e socialista e que combata a falsa polarização do

PT/PMDB e PCdoB/PP/PTC/PSB que representam proximidades de projetos e

apenas fazem uma disputa de poder, mas que não mudarão esta triste

realidade do nosso estado, pois ambos os grupos mantém laços com o os

poderosos que governam o Maranhão e com o grupo Sarney”.



“Frente que combata as políticas nacionais do governo Dilma e seus

representantes nas prefeituras municipais que atacam os direitos dos

trabalhadores com terceirizações, privatizações, congelamento salarial e

ataques aos servidores públicos federais, estaduais e municipais, péssimas

condições de saúde e educação e projetos de moradia e transporte que só

favorecem as grandes empresas”, diz a nota.

sábado, 17 de março de 2012

129 anos da morte de Karl marx

Carta O Berro.........................................................repassem

Marx, mais vivo e atual do que nunca, 129 anos após sua morte
Por Atilio Boron
desde Buenos amires, 14 de março 2012

Em um dia como hoje[14/03], há 129 anos, morria placidamente em Londres, aos 65 anos de idade, Karl Marx. Correu a sorte de todos os grandes gênios, sempre incompreendidos pela mediocridade reinante e o pensamento dominado pelo poder e pelas classes dominantes. Como Copérnico, Galileu, Servet, Darwin, Einstein e Freud, para mencionar apenas alguns poucos, foi menosprezado, perseguido, humilhado. Foi ridicularizado por anões intelectuais e burocratas acadêmicos que não chegavam a seus pés, e por políticos complacentes com os poderosos de turno, a quem causavam repugnância suas concepções revolucionárias.


A academia cuidou muito bem de fechar suas portas, e nem ele e nem seu eminente colega, Friedrich Engels, jamais habitaram os claustros universitários. E mais, Engels, que Marx disse ser “o homem mais culto da Europa”, nem sequer estudou em uma universidade. Mesmo assim, Marx e Engels produziram uma autêntica revolução copernicana nas humanidades e nas ciências sociais: depois deles, e ainda que seja difícil separar sua obra, podemos dizer que, depois de Marx, nem as humanidades, nem as ciências sociais voltariam a ser como antes. A amplitude enciclopédica de seus conhecimentos, a profundidade de seu olhar, sua impetuosa busca das evidências que confirmassem suas teorias fizeram de Marx, suas teorias e seu legado filosófico mais atuais do que nunca.


O mundo de hoje, surpreendentemente, se parece ao que ele e seu jovem amigo Engels prognosticaram em um texto assombroso: o Manifesto Comunista. Esse sórdido mundo de oligopólios de rapina, predatórios, de guerras de conquista, degradação da natureza e saque dos bens comuns, de desintegração social, de sociedades polarizadas e nações separadas por abismos de riqueza, poder e tecnologia, de plutocracias travestidas de democracia, de uniformização cultural pautada pelo american way of life, é o mundo que antecipou em todos os seus escritos.


Por isso são muitos que, já nos capitalismos desenvolvidos, se perguntam se o século 21 não será o século de Marx. Respondo a essa pergunta com um sim, sem hesitação, e já estamos vendo: as revoluções em marcha nos países árabes, as mobilizações dos indignados na Europa, a potência plebéia dos islandeses ao enfrentarem e derrotarem os banqueiros, as lutas dos gregos contra os sádicos burocratas da União Européia, do FMI e do Banco Central Europeu, o rastro de pólvora dos movimentos nascidos a partir do Occupy Wall Street, que abarcou mais de cem cidades estadunidenses, as grandes lutas da América Latina que derrotaram a ALCA e a sobrevivência dos governos de esquerda na região, começando pelo heróico exemplo cubano, dentre muitas outras mostras de que o legado do grande mestre está mais vivo do que nunca.


O caráter decisivo da acumulação capitalista, estudada como ninguém mais o fez em O Capital, era negado por todo o pensamento da burguesia e pelos governos dessa classe, que afirmavam que a história era movida pela paixão dos grandes homens, as crenças religiosas, os resultados de heróicas batalhas ou imprevistas contingências da história. Marx tirou a economia das catacumbas e não só assinalou sua centralidade como demonstrou que toda a economia é política, que nenhuma decisão econômica está livre de conotações políticas. E mais, que não há saber mais político e politizado do que a economia, rasgando as teorias dos tecnocratas de ontem e hoje que sustentam que seus planos de ajuste e suas absurdas elucubrações econométricas obedecem a meros cálculos técnicos e são politicamente neutros.


Hoje ninguém acredita seriamente nessas falácias, nem sequer os porta-vozes da direita (ainda que se abstenham de confessar). Poderia se dizer, provocando o sorriso debochado de Marx lá do além, que hoje são todos marxistas, mas à lá Monsieur Jordan, personagem de Le Bourgeois gentilhomme (O gentil homem burguês, O Burguês ridículo, dentre outras traduções já feitas da obra), de Molière, que falava em prosa sem saber. Por isso, quando estourou a nova crise geral do capitalismo, todos correram para comprar O Capital, começando pelos governantes dos capitalismos metropolitanos. É que a coisa era, e é, muito grave pra perderem tempo lendo as bobagens de Milton Friedman, Friedrich Von Hayek ou as monumentais sandices dos economistas do FMI, do Banco Mundial ou do Banco Central Europeu, tão ineptos como corruptos e que, por causa de ambas as coisas, não foram capazes de prever a crise que, tal como tsunami, está arr asando os capitalismos metropolitanos.


Por isso, por méritos próprios e vícios alheios, Marx está mais vivo do que nunca e o faro de seu pensamento ilumina de forma cada vez mais esclarecedora as tenebrosas realidades do mundo atual.

Atilio Boron é doutor em Ciência Política pela Harvard University, professor titular de Filosofia da Política da Universidade de Buenos Aires e ex-secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO).

Tradução: Gabriel Brito, jornalista do Correio da Cidadania.

quarta-feira, 14 de março de 2012

O Custo da Corrupção

12/03/2012 - 06h00

Corrupção está mais 'rasteira e evidente', avalia especialista

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JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A corrupção vem crescendo no Brasil, nas últimas duas décadas, porque o Congresso, na prática, aboliu as cassações de mandato como forma de punição. É o que diz Modesto Carvalhosa, que na próxima quinta-feira completa 80 anos.
Em meio a uma dezena de obras que publicou, sobretudo em direito societário e comercial, Carvalhosa coordenou as 493 páginas de "O Livro Negro da Corrupção" (1995), centrado nas revelações que levaram à queda, em 1992, do então presidente Fernando Collor de Mello.
Newton Santos-19.jul.10/
'
Modesto Carvalhosa foi professor de direito comercial na USP, presidente do Condephaat (1984-1987), quando foi tombada a Serra do Mar, consultor da Bovespa e presidente do Tribunal de Ética da OAB-SP. Também presidiu a Associação de Docentes da USP, liderando em 1978 uma greve contra o regime militar.
Sua publicação de maior fôlego foram os quatro volumes dos "Comentários à Lei das Sociedades Anônimas", publicados em 1977 e atualizados em sucessivas edições até o ano passado.
O professor e advogado é homenageado em documentário de 45 minutos produzido por sua filha Sofia.
O filme passará em duas sessões na próxima quarta-feira, no MIS (Museu da Imagem e do Som), às 21h e às 22h. Os ingressos são gratuitos, mas para a primeira sessão eles já estão esgotados.
Folha - Excetuados os textos de direito, sua obra mais conhecida é "O Livro Negro da Corrupção", de 1995. Desde sua publicação, a corrupção aumentou ou diminuiu no Brasil?
Modesto Carvalhosa - A situação piorou. Na época prevalecia uma ética na sociedade que levava os corruptos, ao menos no Congresso Nacional, à cassação. Hoje em dia a corrupção é mais rasteira e evidente. O instituto da cassação foi abolido, na prática. O último político atingido foi o José Dirceu, em 2005. A sanção política desapareceu, e com isso há agora muito mais campo para corruptores e corruptos.
E a Lei da Ficha Limpa?
É é uma grande medida, mas não impede que o político eleito vá sujar sua ficha dentro do Congresso, o que ocorre se ele for cooptado pelos lobbies corruptores. A única inibição da corrupção é a sanção social, representada pela falta de decoro e pela cassação.
O chamado "presidencialismo de coligação" teria algo a ver com a impunidade?
Claro, já que o Brasil é um país presidencialista, mas que adota um governo que teoricamente tem um pouco a ver com o Parlamentarismo europeu no pós-Guerra. No Brasil a coalizão de partidos não dá sustentação ao governo, ela divide o poder com ele. Cada partido troca o seu apoio por cargos. Isso gera crises frequentes. E os partidos, por lotearem o poder, acabam por se unir para evitar a punição de ministros, deputados e senadores.
Há alguns anos a percepção era de que a corrupção estava circunscrita ao Executivo e ao Legislativo. O Conselho Nacional de Justiça mostra que uma minoria do Judiciário também está contaminada. A seu ver o CNJ já está solidificado, ou ainda podem cortar as asas dele?
A dialética dessa questão é interessantíssima. A partir de dezembro do ano passado, o Supremo Tribunal Federal enfrentou um desgaste, uma desmoralização na opinião pública, por ter impedido que o CNJ fiscalizasse desembargadores. Mas a opinião pública elegeu o CNJ como um órgão de atuação positiva e moralizadora, como a grande instituição brasileira capaz de atuar contra as improbidades.
O sr. é um crítico histórico da lentidão do Judiciário. Até que ponto a quantidade de recursos emperra os processos, muito mais que o anacronismo dos tribunais?
A reforma do Poder Judiciário deveria seguir recomendações de outro tribunal superior, o STJ (Superior Tribunal de Justiça), que tem a visão mais arejada e moderna do problema. O papel do STJ é extraordinário. Ele sugere um sistema em que os casos podem terminar em conciliação ou arbitragem. Seria necessária uma emenda à Constituição, que, sem afetar o direito pleno à defesa e à cidadania, desse força judicial a essa alternativa. Seria o caminho para as questões que não são de interesse coletivo. Um acidente de trabalho é questão de interesse coletivo. Mas não é o caso de uma disputa societária, entre sócios e acionistas. É um litígio próprio à arbitragem, sempre e apenas em primeira instância. Há 80 milhões de processos em curso no Brasil. Se riam necessários 800 mil juízes e 100 mil desembargadores para lidar com essa massa, o que é materialmente impossível.
E a súmula vinculante [decisões do STF que devem ser seguidas em instância inferior], de que se falou tanto há alguns anos?
Isso é algo muito, muito importante. Pena que não esteja se expandindo.
Vejamos o direito societário, sobre o qual o sr. lecionou e publicou. As empresas com controle acionário pulverizado e com administração profissional deram -ou não- mais dinamismo aos mecanismos de decisão?
Cada caso é um caso, dependendo dos administradores. Nos anos 90 falou-se em "governança corporativa" como se fosse uma religião, ao lado do cristianismo e da fé islâmica. Mas os administradores das companhias de controle pulverizado muitas vezes se apropriam de recursos imensos, por meio de bonificações que eles têm o poder de conceder a si mesmos. Há na Europa e Estados Unidos casos em que administradores recebem honorários de US$ 10 milhões, US$ 50 milhões. Companhias com controladores mantêm a rédea sobre os administradores. No mercado americano, montadoras há três anos falidas distribuíam milhões em bônus aos administradores.
Como o sr. avalia o desempenho das estatais brasileiras, que têm um grande controlador, a União?
Depois das privatizações, as estatais que permaneceram sob controle do Estado são administradas de modo mais técnico, conveniente, mais profissionalizado, mas com deficiências próprias à ingerência política e pressão dos fundos de pensão, que atuam como repúblicas independentes, dentro do Brasil.
Qual seu tombamento preferido: o Caetano de Campos, em 1975, quando o sr. chefiou um grupo de pressão, ou a Serra do Mar, quando o sr. presidia o Condephaat, durante o governo de Franco Montoro (1983-1986)?
No caso do Caetano de Campos eu era jovem, e, além da questão urbanística, havia a contestação de uma decisão autoritária do regime militar. Além disso eu estudei no Caetano de Campos, onde tenho fortes raízes sentimentais. Naquela época, o governo pretendia fazer uma grande estação de metrô na praça da República, às custas da demolição daquele colégio. Nas semanas em que durou o caso a Folha dava chamadas de primeira página. Eles ao fim recuaram.
Entre 1977 e 1979 o sr. também presidiu a associação dos professores da USP, que promoveu uma greve. Havia também contestação ao regime?
Claro que sim. Foi um momento que aconteceu quando tomávamos consciência da necessidade urgente de mais democracia. Nossa greve ocorreu na mesma época que a dos metalúrgicos de São Bernardo.
Chegou a ser convidado para entrar em algum partido político?
O governador Montoro me fez alguns convites, mas eu preferi nunca me filiar a nenhum partido.
Sua geração viveu a adolescência no pós-Guerra, quando as pessoas acreditavam que o mundo seria melhor, diferente.
O mundo mudou desde então, e para melhor. A democracia se impôs em certas áreas e ela funcionou como uma forma de aperfeiçoamento civilizatório. Houve um grande avanço nos direitos da sociedade civil. Com relação ao Brasil, estávamos em mãos de uma oligarquia que acreditava em valores éticos, mas não tinha uma visão social. Ocorreu uma abertura, mas a classe política ficou com um perfil mais vulgar. A sociedade civil, no entanto, cresceu e está bem mais poderosa.
Qual o papel das ONGs nesse processo?
Todos os movimentos sofrem, depois de determinado tempo, os efeitos da burocratização, da degeneração, de perda de seus objetivos iniciais. As ONGs perderam muito de seu impulso generoso ao se institucionalizarem. Em lugar de um ideal, elas hoje querem se aproximar dos governos. A institucionalização degrada as ideias.
Como pianista amador, quantas horas por semana o sr. tem se exercitado?
Muito pouco, talvez umas quatro horas. Tenho estudado peças menos difíceis de Mozart, Bach, Satie e o Liszt que seja mais fácil.
E com relação às leituras?
Tenho lido historiadores franceses e obras de psicologia, à procura de respostas a uma antiga obsessão minha, que são as impulsões do ser humano, no sentido de Nietszche. As impulsões são muito negativas, uma tragédia. Saramago tem uma frase terrível: "O ser humano não merece a vida." Só por essa frase ele já teria merecido o Prêmio Nobel.

domingo, 4 de março de 2012

Quantidade x qualidade na educação

*Quantidade versus qualidade no sistema educacional* - Otaviano Helene -
01.03.2012

Entre os problemas quantitativos do nosso sistema educacional estão, por
exemplo, a pequeníssima taxa de atendimento na educação infantil (cerca de
20% na faixa etária até os 4 anos), a altíssima evasão escolar antes mesmo
do término do ensino fundamental, da ordem de 30%, e a baixa taxa de
conclusão do ensino médio (apenas cerca de 50% daqueles que ingressam no
sistema escolar concluem esse nível educacional). Isso significa, por
exemplo, que, a cada ano, perto de um milhão de pessoas entram na idade
adulta sem, sequer, o ensino fundamental completo e outras cerca de 700 mil
sem o ensino médio, números assustadores e capazes de comprometer
significativamente nossas possibilidades de desenvolvimento social e
cultural, e com graves repercussões em nossas possibilidades econômicas
futuras.

Nas décadas recentes, quando esses problemas quantitativos foram
enfrentados, o foram em detrimento dos aspectos qualitativos. Exemplo
marcante disso é o que ocorreu ao longo da segunda metade da década de
1990. Nesse período, as taxas de matrícula e de conclusão dos ensinos
fundamental e médio aumentaram significativamente. Entretanto, esse aumento
ocorreu sem que fossem fornecidos ao sistema educacional os meios
necessários para atender ao aumento do número de estudantes. Esses meios
são formados, basicamente, por recursos financeiros, necessários para a
contratação de mais profissionais e para construir, equipar e manter
escolas.

Durante aquele período de crescimento das matrículas, os recursos públicos,
medidos como percentual do PIB, não apenas não cresceram como apresentaram
reduções em alguns anos. Como resultado, o desempenho médio dos estudantes
foi significativamente reduzido ao longo do período, como mostra a média
das pontuações das avaliações feitas pelo Sistema de Avaliação da Educação
Básica dos estudantes das quarta e oitava séries do ensino fundamental e
terceira do ensino médio, em matemática e português. Em resumo: mais
estudantes com os mesmos recursos resultam em pior desempenho, o que parece
óbvio.

A correlação entre indicadores quantitativos, qualitativos e de recursos,
observada na segunda metade de década de 1990, é corroborada pelo que
ocorreu depois disso. Ao longo da década que se iniciou em 2000, os números
de concluintes e matrículas nos ensino fundamental e médio praticamente se
estagnaram (e em patamares bastante baixos). Entretanto, nesse mesmo
período, em especial na sua segunda metade, os recursos destinados à
educação pública (onde está a enorme maioria dos estudantes da educação
básica) aumentaram. Esse aumento é explicável pela melhora nas arrecadações
de impostos havida no período e esta, por sua vez, explicável pelo aumento
da produção econômica por meio do setor formal. Como os gastos com educação
são definidos, constitucionalmente, com base na arrecadação de impostos,
eles também aumentaram. Assim, passou-se a atender a um mesmo número de
estudantes com mais recursos, acontecendo o inverso do que vimos na década
anterior: o desempenho, agora medido pelo Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (IDEB), melhorou entre 2005 e 2009 de uma média 3,6 para
4,1. Entretanto, pagamos um preço muito alto por essa melhora: deixamos de
incluir no sistema educacional enormes contingentes de jovens e crianças.

Quando o desempenho dos nossos estudantes é comparado com o desempenho dos
estudantes de outros países, nossos problemas qualitativos assustam ainda
mais. Há um programa internacional de comparação do desempenho de
estudantes de 15 anos de idade e que tenham menos do que três anos de
defasagem idade-série, o PISA (programa da OCDE que examina a proficiência
em leitura, matemática e ciências (1)), que, em sua versão de 2009, avaliou
estudantes de 65 países. Menos do que 1% dos nossos estudantes de 15 anos
de idade atinge os dois níveis superiores de uma escala que vai de 1 a 6,
padrão atingido por cerca de 10% dos estudantes dos países mais
desenvolvidos.

No outro extremo, daqueles que sequer atingiram o primeiro nível da escala,
estão 21% dos nossos estudantes de 15 anos, contra 5% dos países da OCDE (e
3% dos membros da OCDE que fizeram parte do bloco socialista e apenas 1%
dos finlandeses). A diferença é muito grande, e seria ainda maior se fossem
incluídos na amostra todos os nossos jovens de 15 anos de idade, muitos dos
quais não foram considerados no levantamento por já terem sido excluídos da
escola ou apresentarem defasagem idade-série superior a dois anos,
problemas que praticamente inexistem nos países mais desenvolvidos.

Nessa comparação internacional, o objetivo não é fazer um ranqueamento dos
países para ilustrar como estamos mal. O objetivo é entender as nossas
possibilidades de inserção soberana entre as demais nações quando países
muito menos populosos que o nosso ou pequenas regiões dos países mais
populosos têm um número maior de estudantes bem preparados (níveis 5 e 6 na
escala do PISA) do que o Brasil como um todo.

No ensino superior, a qualidade é comprometida pelo pequeno número de
estudantes bem preparados que conclui o ensino médio e pela enorme
privatização do setor. De fato, o Brasil é um dos recordistas mundiais em
privatização e, talvez para desgosto dos defensores do liberalismo, os EUA
não estão entre eles. E, pior, privatização dominada por instituições
mercantis que, como regra, oferecem cursos com apelo mercadológico, em
regiões geográficas e áreas do conhecimento que não correspondem nem às
necessidades de profissionais do país nem às carências das diferentes
regiões. Essa privatização fez com que, em comparação com os demais países,
tenhamos uma concentração muito alta de estudantes em cursos de baixos
retornos cultural, social e econômico e poucos (ou pouquíssimos) em áreas
relacionadas ao desenvolvimento do setor produtivo e à promoção do bem
estar da população.

Assim, a expansão do ensino superior por meio do setor privado, coisa para
a qual todos os governos federais e muitos dos estaduais e municipais
contribuíram durante o último meio século, não só não foi suficiente para
nos colocar em uma posição quantitativa compatível com nossa realidade
econômica e social, como comprometeu, de forma gravíssima, a qualidade do
sistema.

É fundamental reverter essa situação, enfrentando simultaneamente os
problemas qualitativos e quantitativos. Entretanto, para que essa tarefa
faça parte das agendas governamentais (dos municípios, dos estados e da
União), muita luta ainda é necessária, inclusive e especialmente com o
objetivo de aumentar os recursos públicos dirigidos ao setor educacional.

Notas:

(1) Program for International Student Assessment (Programa Internacional de
Avaliação de Estudantes). Os percentuais citados correspondem a valores
médios dos desempenhos em leitura, matemática e ciências.

Otaviano Helene, professor no Instituto de Física da USP, foi presidente do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(Inep).

Marxismo no século XXI

*Marxismo no século XXI* - *Rafael
Rossi
 
Enquanto boa parte dos marxistas olha para a Europa buscando respostas para
a renovação do pensamento socialista e outros socialistas apostam na
construção confusa do socialismo do século XXI, outro nome para o chavismo,
podemos encontrar alternativas nas propostas mais radicais do socialismo
revolucionário: o trotskismo, o existencialismo e outra proposta que não
era socialista, mas que se faz indispensável – a antropofagia.
 
 
Nada de realmente revolucionário virá de gramscianos e de chavistas. Estes
são os neorreformistas de discurso radical, mas incapazes de se tornarem
portadores do futuro.
 
 
 
Os social-democratas e os stalinistas já foram condenados pela História,
sendo cadáveres insepultos, que atuam como auxiliares do poder nos governos
e no movimento. Agentes da classe dominante, voluntária ou
involuntariamente, desde sempre.
 
 
 
O guevarismo é produto do desespero da vanguarda frente à terrível
realidade ou de um romantismo ingênuo, inspirador e cativante, mas que
cimenta a estrada para a derrota, assim como o maoísmo e de fora do
marxismo, o anarquismo, e todas as demais correntes voluntaristas e
subjetivistas.
 
 
 
A terceira via é o neoliberalismo de base social de esquerda e progressista
e, assim como o trabalhismo brasileiro e o populismo latino-americano, não
passa de uma estratégia da classe dominante para disputar a consciência e
os votos da classe trabalhadora.
 
 
Infelizmente, as correntes mais avançadas do marxismo e do movimento social
e intelectual do nosso tempo sempre foram minoritárias, senão marginais. O
trotskismo e sua concepção absolutamente radical, pautada na estratégia da
revolução socialista mundial e no princípio da democracia operária, que se
aplicaria tanto ao movimento quanto ao Partido e se estenderia ao Estado
socialista futuro; e o existencialismo sartreano e a busca da liberdade
individual, através do caminho da escolha e da responsabilidade pelas
escolhas feitas, relacionando a liberdade pessoal com a luta pela
libertação coletiva, devolvendo ao marxismo a dimensão do humanismo, sempre
tiveram mais força entre a juventude do que entre os trabalhadores e sempre
foram criticados e até mesmo rechaçados pela maioria dos lutadores sociais
e dos intelectuais.
 
A situação do mundo atual não parece corroborar com as teses dessa maioria.
 
 
Além disso, não existe possibilidade de renovar o marxismo que não seja
pelo caminho da originalidade, da criatividade e da ousadia.
 
 
 
Mariatégui e Oswald de Andrade trazem para o marxismo uma nova visão de
mundo, que rompe completamente com o evolucionismo e com o eurocentrismo.
 
 
 
Mariatégui foi capaz de enxergar a possibilidade histórica de uma transição
socialista a partir das comunidades indígenas. O modo de vida comunitário
de indígenas e de camponeses pode ser uma ponte para o comunismo futuro. O
regime de cooperação e o coletivismo presentes na cultura indígena podem
servir para fortalecer o coletivismo presente no comunismo marxista.
 
 
 
Uma visão dura de progresso, inteiramente iluminista e europeia, pode
obscurecer o nosso campo visual e contribuir para a manutenção do estado
atual de coisas, por não mobilizar as forças sociais reais existentes e por
não trilhar os atalhos históricos possíveis em direção ao socialismo.
Talvez precisemos de um certo primitivismo contra a alienação tecnológica
capitalista, que barra o progresso social, aprisionando o nosso horizonte
na lógica mercantil, produtivista, tecnicista.
 
 
 
Oswald de Andrade é um mergulho no que temos de mais primitivo e originário
e, portanto, mais autêntico e transforma o primitivo na versão moderna dele
mesmo até o ponto em que se torna um produto completamente original. A
antropofagia é o laço que une o nacional e o regional e o universal, o
local com o global, o antigo com o moderno, o velho com o novo, o estado
primitivo ou natural com a técnica mais avançada. O tropicalismo expressou
de maneira bastante viva essa concepção estética e até mesmo filosófica.
 
 
O marxismo do século XXI deve se encontrar com a juventude e com os povos
indígenas de modo inextricável e ter esses setores sociais como seus
pilares de sustentação na vida política e social. Esses grupos sociais se
insurgem contra o poder capitalista de forma sistemática e irreconciliável.
A vida comunitária de indígenas e de quilombolas é por si só uma ameaça ao
capitalismo e à propriedade privada, sendo, por isso mesmo, mais duramente
combatida. A inexistência de propriedade privada e a ausência de uma lógica
mercantil que domine as relações sociais são exemplos perigosos.
 
 
 
O trotskismo, o existencialismo e a antropofagia são armas política,
filosófica e estética fundamentais na renovação do marxismo.
 
 
 
O radicalismo presente na ideia de revolução mundial é o que torna o
trotskismo tão odiado. Não existe possibilidade de acordo ou de cooptação,
porque o objetivo não é ganhar posições, mas, sim, destruir por completo a
sociedade burguesa e o sistema capitalista.
 
 
 
A luta antiburocrática torna o trotskismo incômodo por ameaçar os
privilégios dos burocratas socialistas e capitalistas.
 
 
 
O existencialismo sartreano rompe com a obediência cega aos chefes como
valor fundamental, restitui ao indivíduo o seu papel na construção da
sociedade, permite-lhe a liberdade de escolha e a história e a vida passam
a ser vistas como um campo de possibilidades, colocando em xeque todo tipo
de fatalismo, de estruturalismo e de determinismo.
 
 
 
A antropofagia permite que o índio devore o burguês e vomite o homem novo.
 
 
 
Um partido leninista pode ser composto por jovens, ter uma base indígena,
realizar ocupações de terras e mobilizar através de blogs.
 
 
 
Um músico pode tocar numa guitarra uma mistura de samba com música
clássica, cantando uma letra de rap. A originalidade é o caminho para a
revolução.