Extraído do Terra
"No sábado 23 de junho, chegaram uns 30 ou 35 neonazistas. Alguns vinham de moto e todos estavam armados com bastões e protegidos com capacetes. Entraram em minha loja e me disseram: 'não queremos você aqui. Este é nosso país e não o seu. Vá embora. Tem uma semana para fechar esta loja'", disse à agência EFE o paquistanês Ahmet Nadim, que administra uma videolocadora no bairro ateniense de Nikea. "Eu tenho os papéis certos, pago meu aluguel e meus impostos", queixa-se ele, que vive na Grécia há dez de seus 35 anos.
Seu caso não é único. Os estabelecimentos contíguos, uma barbearia e uma mercearia, administrados por imigrantes, também foram ameaçados, enquanto a polícia, situada a 30 m, não interveio. "Tenho vários alunos que se queixaram do mesmo. Alguns foram ameaçados de atear fogo em seus estabelecimentos comerciais", destaca Katerina, professora de grego em um centro social para imigrantes.
A crise econômica, as medidas de austeridade, o elevado desemprego e a alta imigração legal e ilegal serviram de incentivo ao crescimento do Aurora Dourada, que ganhou influência com os bons resultados eleitorais: enquanto no pleito de 2009 a legenda tinha recebido 0,3% dos votos, dessa vez registrou quase 7%.
Nikea foi tradicionalmente um celeiro de votos comunistas, pois não esquece a batalha que seus habitantes travaram contra os ocupantes nazistas em 1944. A revolta foi reprimida pelas tropas alemãs e centenas de moradores foram executados.
Ainda hoje, mais de 60% dos votos do bairro vão para a esquerda (Syriza e Partido Comunista, especialmente), mas o Aurora Dourada foi o terceiro partido mais votado nas últimas eleições, com quase 9%, e desde que a inauguração do escritório local do partido neonazista, em maio, os ataques aumentaram no bairro. Segundo Javet Aslam, presidente da comunidade paquistanesa na Grécia, cerca de 300 imigrantes ficaram feridos em agressões racistas nos últimos três meses.
Em um dia de meados de junho, às 6h, o paquistanês Ghuldam Murtza estava a caminho do trabalho quando foi visto por quatro motoqueiros. Eles mudaram o sentido para persegui-lo e o espancaram até que sofreu severas contusões na cabeça e teve o nariz quebrado. "Se os membros do Aurora Dourada encontram um imigrante sozinho, sobretudo de noite, o enviam para o hospital. E isso ocorre diariamente", denuncia Mohammed, que trabalha no mercado do bairro.
Por isso, na quinta-feira passada, a União de Trabalhadores Imigrantes e o Movimento Unido Contra o Racismo e a Ameaça Fascista convocaram em Nikea uma manifestação de apoio aos imigrantes, exigindo o fim da violência e o fechamento da sede do partido neonazista no bairro. Cerca de mil pessoas, em sua maioria paquistaneses, se reuniram sob o lema: "Aurora Dourada é uma gangue neonazista. Nem no Parlamento nem em nenhum lugar, fora os fascistas dos bairros".
Cerca de 200 militantes do Aurora Dourada isolaram a rua de sua sede e, armados com bastões e escudos pintados com o símbolo da antiga Esparta, se apertavam em formação. "Estamos aqui para proteger nossa sede. É ridículo e inaceitável que paquistaneses, indianos e árabes se manifestem pedindo a ilegalização de um partido que está no Parlamento", critica Ioannis Lagos, um dos homens no comando da legenda e guarda-costas habitual do líder neonazista, o ex-militar Nikolaos Michaloliakos.
Outro porta-voz local do partido, Giorgos Patelis, acusa os imigrantes de cometerem roubos e protagonizarem episódios de violência "diariamente" no bairro e que seus homens se limitam a "comparecer em ajuda dos cidadãos gregos quando estes o pedem", o que implica patrulhar as ruas. Patelis nega ter ameaçado os paquistaneses e afirma que seu partido utiliza meios "legais" para suas ações. Além disso, ele menciona que o principal dos objetivos do grupo é "que todos os imigrantes vão embora", pois, para os neonazistas, "nenhum é legal".
"Não é verdade! Os que nos ameaçaram se apresentaram abertamente como membros do Aurora Dourada. O problema é que fomos denunciá-lo à polícia e nos disseram que eles não podiam fazer nada", protesta Aslam
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