sábado, 30 de julho de 2011

Os quatros cavaleiros da utopia

Os quatro cavaleiros da utopia

27 de julho de 2011 | 0h 00


Isabel Lustosa - O Estado de S.Paulo
Ao longo da História do Brasil, quatro ideais foram verdadeiros motores da transformação. Os princípios do constitucionalismo, do federalismo, do abolicionismo e do desenvolvimentismo, manejados pelos que neles apostavam, podem ser considerados os nossos quatro cavaleiros da utopia. Essas ideias motivaram grandes debates, rupturas e até mesmo guerras que alteraram o curso do nosso destino.
O constitucionalismo foi a ideia-força que moveu o País no sentido da independência. A partir da independência dos EUA, em 1776, o mundo entrou na era das Constituições e o Brasil encontraria no constitucionalista o impulso para fazer a sua. Foram os portugueses, aliás, que deram início ao movimento, eles mesmos desejosos de sacudir o jugo absolutista que os condenava à obediência cega a um rei que vivia na América. Reivindicando para si uma ordem regida por leis fixas e elaboradas em função das necessidades da grande nação portuguesa, eles despertaram do lado de cá do Atlântico os mesmo desejos de liberdade e igualdade. Foi em torno dessa igualdade desejada pelos brasileiros e negada pelos portugueses que se travou a grande disputa que resultou na independência.
Se o constitucionalismo foi a bandeira sob a qual se fez a independência, foi em torno do desejo de ver implantado no Brasil o federalismo que se travaram as guerras internas mais sangrentas de nossa História, das quais a Confederação do Equador (1824) e a Guerra Farrapos (1835-1845) foram as mais famosas. Segundo Evaldo Cabral, para Frei Caneca a autonomia provincial tinha prioridade sobre a forma de governo, tanto fazia ser Monarquia ou República, desde que fosse Federação. A reivindicação federativa acompanhou a vida política de todo o Segundo Reinado, dividindo conservadores, quase sempre favoráveis à centralização, e liberais, mais identificados com o federalismo. Desta última tradição fez parte Rui Barbosa, partidário de uma descentralização administrativa e política que desse maior autonomia às províncias. Na República, no entanto, Rui tornar-se-ia crítico do modelo tal como foi adotado. A seu ver, um país que até 1889 praticara a unidade de todo o poder nas mãos do imperador não podia descentralizar-se subitamente, enfraquecendo a própria ideia de Federação.
Outro grande tema que mobilizou o Brasil do século 19 foi a escravidão. O debate mesclava questões econômicas com sociais e morais e foi, mais de uma vez, motivo de tensão nas relações do País com a Inglaterra. Para alguns brasileiros, a escravidão não era só a nódoa que envergonhava o País, mas também fator de atraso econômico. A defesa da mão de obra livre como elemento de progresso - feita pelos que viam na livre concorrência, no livre mercado e na diversificação das matrizes econômicas fatores de progresso - esbarraria sempre na defesa intransigente dos interesses da monocultura baseados no trabalho escravo. A economia cafeeira, que começara a tomar impulso durante o Primeiro Reinado, oporia forte e eficaz resistência a qualquer projeto abolicionista. O movimento abolicionista só tomaria impulso mesmo depois da Guerra do Paraguai. No entanto, a Abolição (1888), seguida de perto pela Proclamação da República (1889), não propiciou nenhuma campanha consistente com vista à integração do antigo elemento servil à sociedade brasileira.
A República manteve o já consolidado constitucionalismo, adotando o sempre desejado federalismo. Seus principais patrocinadores, no entanto, eram os mesmos que, durante o século 19, conservaram a economia brasileira atrelada à monocultura do café e à escravidão. Assim, o Brasil viveu os 30 primeiros anos do século 20 dominado por uma elite econômica indiferente ao destino da maioria do povo. A crise de 1929 revelou a equivocada política de valorização artificial do preço do café, que sacrificava todo o resto do País aos interesses de um grupo. O esforço de industrialização empreendido pelo primeiro governo Vargas, no bojo de uma política nacionalista que envolveu a tentativa de organização e inclusão da classe trabalhadora, demonstrou o rumo da política econômica e social que poderia mudar o destino do Brasil. No entanto, o contexto ditatorial em que foram implementadas parecia sugerir que o preço do desenvolvimento do País era a limitação da liberdade política.
Foi apenas nos anos 1950, no ambiente democrático do segundo governo Vargas, que o ideal desenvolvimentista encontrou sua forma na obra de Celso Furtado. Na visão de Furtado - e para resumi-la me baseio em excelente artigo de Vera Cepeda (2009) -, a predominância da economia agroexportadora baseada na monocultura era a principal responsável pelo nosso atraso econômico e, ao descuidar-se do mercado consumidor interno, também pela escassez e pelo custo dos alimentos.
Cabe ao Estado democrático planejar e orientar a atividade econômica por meio de instrumentos como tributação, políticas cambiais, subsídios e investimentos em determinados setores, como a agricultura de pequena propriedade voltada para o mercado consumidor interno. Para garantir a dinâmica desse mercado - base do crescimento de qualquer economia - é preciso proteger o emprego e os salários do trabalhador. Para Celso Furtado, esse processo tem de ser resultado da participação política, da organização social e da pressão sindical, pois só a sociedade civil pode cobrar um destino público para o crescimento econômico. A atualidade desse pensamento se vê hoje pelo sucesso de sua aplicação às políticas que vêm orientando o Brasil nos últimos anos. Comprovamos agora, na prática, que a ação racional do Estado promotora de um desenvolvimento planejado é capaz de tirar da miséria aqueles que foram, desde o começo da nossa História, largados à própria sorte.
Esta é a era do quarto cavaleiro: a do desenvolvimentismo.
CIENTISTA POLÍTICA PELO IUPERJ, É HISTORIADORA DA CASA DE RUI BARBOSA NO RIO DE JANEIRO

A UNE MORREU

A UNE morreu e não sabe

*Por Claudio Carneiro
Manifestação “Fora Collor” dirigida pela UNE

A União Nacional dos Estudantes (UNE) experimenta hoje a patética e confortável situação de uma repartição com ares de chapa branca, mantida como um inquilino do poder.
Entidade que já representou os legítimos anseios de milhões de integrantes da classe estudantil e que teve importante papel na história recente do país – até mesmo e principalmente na oposição a governos e à ditadura militar – a União Nacional dos Estudantes (UNE) experimenta hoje a patética e confortável situação de uma repartição com ares de chapa branca, mantida como um inquilino do poder.
Cooptar a representatividade estudantil e deitá-la eternamente em berço esplêndido constava do decálogo elaborado pelos pensadores do Partido dos Trabalhadores quando da confecção de um projeto de poder de longo prazo – que tem em José Dirceu um de seus ideólogos. A féria destinada ao projeto atraiu e silenciou também sindicatos, ONGs e movimentos tidos e ditos sociais, como o MST. Tão apáticos que ninguém sequer se lembra deles.
Nascida em 1937, a UNE parece ter perdido a ousadia de uma juventude preocupada com os rumos políticos do Brasil. Nunca antes na história desse país se neutralizaram de tal forma as vozes que um dia, por exemplo, lutaram pelo fim da ditadura Vargas em 1940, que ajudaram o país a escolher o lado certo na Segunda Guerra – uma vez que Getulio simpatizava com o jeito Mussolini de governar.
Paralisia e decadência
A organização — que pintou a cara pelas Diretas e pelo impeachment de Collor — observa impassível tantos episódios de corrupção na política. Nem mesmo diante dos escândalos envolvendo as provas do Enem – que interessa diretamente aos estudantes – a entidade sequer se mexeu. O preço da inércia fica ali entre os R$ 3 milhões e R$ 4 milhões anuais – a UNE jamais fala sobre o valor exato de sua mudez.
Um dos maiores parceiros da instituição, ao lado do ex-presidente Lula, é justamente o ministro da Educação Fernando Haddad – patrocinador da UNE ao lado da Petrobras. Candidato de Lula ao governo de São Paulo – ao contrário do que deseja Dilma — o ministro é aquele mesmo que não viu nada de mais nos erros de português do livro Por uma vida melhor – celebrizado pela frase “nós pega o peixe”. Passou também por baixo de seu nariz – e aprovado por seu ministério — o livro de matemática com erros em contas de somar e subtrair, bem como as recorrentes trapalhadas e fraudes do Enem. E o que fez a UNE diante disso? O mesmo que Cesar Cielo nas piscinas: nada!
É certo também que a UNE serviu de trampolim político pra muita gente. Mas é fato que José Frejat, José Serra, Aldo Rebelo, Lindbergh Farias e Orlando Silva Junior estão longe de apresentarem a participação pífia dos dirigentes estudantis desta década. O governador de São Paulo, por exemplo, foi presidente da entidade quando explodiu o golpe militar de ’64. O hoje senador Lindbergh fez a garotada pintar a cara pelo impeachment de Fernando Collor. Hoje é visto trocando afagos com José Sarney e seu antigo inimigo alagoano – seja em festas ou enterros.
Ex-presidente da entidade, Augusto Chagas passou todo o seu mandato até 2009 – aos 27 anos de idade – fazendo uma única coisa: negar a rendição da UNE. Chagas foi fotografado, diversas vezes, reunido com Lula e Haddad. Outro ex-presidente, Fernando Gusmão (PCdoB) denuncia o marasmo do movimento: “Eu não sei o que a UNE está fazendo. Não vejo quais são as bandeiras, não vejo mais passeatas”, reclama.
A UNE na mão do Governo.
Para quem não sabe, a UNE tem suas bandeiras: ela defende a destinação de 10% do PIB para a educação além de 50% do Fundo do Pré-sal. O site da instituição lembra o de um partido político: a palavra “gestão” é das mais frequentes. A UNE de hoje lembra a Arena Jovem – criada durante a ditadura para fingir o apoio da juventude ao regime militar. Uma pena.
A propósito, alguém saberia dizer o nome do atual presidente da UNE? Diante da certeza de que não saberá, segue aqui uma “cola”: trata-se de Daniel Illiescu. Vai que perguntam num quiz e o leitor faz um bonito?
*Claudio Carneiro é jornalista e publicitário.
*Fonte: Sítio do PSOL Serramar
André Medeiros (86) 9963-1472
História/UESPIAssembléia Nacional de Estudantes - Livre
JPSTU-LIT/QI

__._,_.___
.

__,_._,___

terça-feira, 26 de julho de 2011

80 anos do Clube 3 de Outubro (1931-2011)


Clube 3 de Outubro


Associação política em que os tenentes revolucionários procuraram organizar-se, logo após a vitória da Revolução de 1930. Teve participação ativa em muitos episódios pós-revolucionários, sendo contrário à imediata reconstitucionalização do país. No congresso revolucionário que realizou em 21 de novembro de 1932, Juarez Távora recomendou a adoção de uma "tendência socialista" adaptada a realidade nacional. Desapareceu em 1935, logo após o manifesto que lançara contra as eleições presidenciais.

FONTE: LAROUSSE CULTURAL, Ed. Abril, 1990. Pg.215

link sobre esse assunto: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/Clube3Outubro

Livros sobre o Clube 3 de outubro:
Tenentismo pós-30: Continuidade e ruptura - ANITA LEOCÁDIA PRESTES.
História dos partidos brasileiros - VAMIREH CHACON

Entrevista do historiador Francisco Doratioto sobre a Guerra do Paraguai

Entrevista com o professor Francisco Doratioto
Por: Radio Brasil Atual
Publicado em 25/07/2011, 15:40
Última atualização às 15:51
Marilú Cabañas: Dentro da série “Quem Tem Medo da Guerra do Paraguai”, conversamos com historiadores que publicaram livros entre os anos 1960 e 1980, sobre o conflito mais sangrento da América do Sul, que envolveu de um lado Brasil, Argentina e o Uruguai e de outro o Paraguai. Ouvimos o argentino León Pomer, autor do livro “A Guerra do Paraguai - Grande negócio”, e o brasileiro Júlio José Chiavenato que escreveu “Genocídio Americano - A Guerra do Paraguai”. Os dois apontam que a Inglaterra teria apoiado os países aliados contra o Paraguai. Hoje o nosso diretor de jornalismo, Oswaldo Luiz Colibri Vitta, e eu vamos conversar com o historiador Francisco Doratioto, mestre e doutor em História das Relações Internacionais, pela Universidade de Brasília, professor da UNB, membro do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, membro correspondente da Academia Paraguaia de História e também da Academia Argentina de História, e autor do livro “Maldita Guerra”.
Bom dia, professor Francisco Doratioto.
Francisco Doratioto: Bom dia. É um prazer falar com vocês e seus ouvintes.
Colibri: Bom dia, professor. Já vamos começar aqui. A primeira pergunta para o senhor é, se o senhor é a favor da abertura desses arquivos sobre a Guerra do Paraguai e se o senhor acha que vai ter alguma novidade ai que o senhor ainda não sabe a respeito, se forem abertos os arquivos?
Francisco Doratioto: Olha, se existisse esse arquivo, se insistir nesse arquivo, eu seria a favor. Mas, eu acho muito improvável que exista um arquivo Guerra do Paraguai, como é citado normalmente que seria um arquivo ultrassecreto e se é tão ultrassecreto, eu me pergunto como as pessoas sabem que ele existe. Mas um arquivo ultrassecreto Guerra do Paraguai no arquivo do Itamarati, eu pesquisei lá durante meses, mais de uma vez, conheço diplomatas, conheço os arquivistas e quando eu pesquisei fiquei dois meses pesquisando numa das minhas pesquisas, fiz amizade com os funcionários, e nunca ninguém falou, ninguém conhece este arquivo. Eu lhe digo o seguinte, eu acho que se existir um arquivo secreto Guerra do Paraguai, no Itamarati, eu diria que os diplomatas brasileiros merecem ganhar o Oscar de melhor ator, porque eles são excelentes atores.
Colibri: Mas dizem também que alguns arquivos estão com o exército brasileiro, na verdade, não é?
Francisco Doratioto: Eu não conheço nenhum historiador que... eu não trabalhei no arquivo do exército para esclarecer, é que normalmente a referencia é sempre o Itamarati. No Itamarati, eu acho altamente improvável que exista qualquer coisa. No exército, eu não trabalhei mas eu conheço outros historiadores que trabalham na Guerra do Paraguai e nenhum deles levanta, ou tem a suspeita de que exista um arquivo secreto. Eu escuto apenas na imprensa normalmente ou de políticos. Veja bem, eu não digo que não exista documentos inéditos ainda sobre a Guerra do Paraguai, porque um arquivo tem milhões de documentos. O pesquisador que vai em arquivo, sabe a dificuldade que é, porque os documentos são do século dezenove e foram catalogados. Então por exemplo; pode ser que um documento referente a uma batalha naval, o tema principal desse documento fosse transporte de carvão, vamos supor, e pode estar classificado em transporte marítimo, ou carvão, então esse documento está mal classificado ou está com outra classificação e ainda não foi pesquisado, então eu não descarto a hipótese de que existam documentos inéditos sobre a Guerra do Paraguai.
Colibri: Agora quem citou isso, é uma pessoa que já está mexendo com alguns arquivos ligados à ditadura militar, que é o caso do ex secretário de Direitos Humanos, o Paulo Vannuchi, ele foi uns do que citou, só para citar.
Francisco Doratioto: Pois é, mas ele não é historiador.
Colibri: É ele não é historiador, mas ele por exemplo levantou um livro chamado “Direito à Verdade e à Memória” onde ele pediu para historiadores, jornalistas e escritores e pessoas de pesquisa, naturalmente, que investigassem a ditadura militar. Se ele está se referindo à Guerra do Paraguai, nós aqui professor, imaginamos que têm alguma coisa que ainda não foi revelada, não sei.
Francisco Doratioto: O Mário Miranda também, o ex ministro, citou e citou textualmente, o Itamarati.
Colibri: É verdade.
Francisco Doratioto: E eu quando vi isso fiquei pasmo, porque realmente eu acho que é um pouco lenda urbana sabe? Mas tomara que exista um arquivo com documentos inéditos, porque é o sonho de todo historiador, mas eu acho que se houver, provavelmente, é que estão mal organizados. Veja bem, é que existia um arquivo secreto realmente, proibido de ser pesquisado, chamado Guerra do Paraguai no Itamarati. Ele foi liberado em 1997 e eu acho que a origem de toda essa celeuma é que as pessoas não tomaram conhecimento que existia esse arquivo e que ele foi liberado. Esse de 1997, e que foi uma decepção, não tinha quase nada interessante. Não tinha nenhuma novidade. Dificilmente vai surgir um documento bombástico, que pudesse alterar as grandes interpretações que já existem sobre a guerra.
Colibri: Pode acontecer de ter algum texto que desabone de certa forma, o Duque de Caxias ou o Conde D’Eu, que tiveram participações importantes?
Francisco Doratioto: Olha, o Duque de Caxias eu acho difícil que ele saia menor numa relação de documentos. O Caxias foi verdadeiramente, um grande chefe militar na guerra, primeiro. Segundo, ele foi corajoso. Em terceiro, para os padrões da época ele foi patriota, quer dizer, ele era um senador de um partido conservador, já tinha feito tudo na vida, já tinha sido Primeiro Ministro e poderia ter ficado no Rio de Janeiro tranqüilo curtindo a aposentadoria dele, e ele com sessenta e poucos anos, e naquela época era ser muito velho ter sessenta e poucos anos, ele vai para a Guerra do Paraguai em um momento em que o exército aliado estava prostrado psicologicamente. E todo o desempenho dele na guerra, enfim, pode-se criticar opções que ele fez, etc, mas no geral, eu creio que a figura do Caxias não tem como ser diminuída. Agora o Conde D’Eu, ele é quase que uma unanimidade entre os historiadores o desempenho dele na guerra, aspectos de crueldade, ele não queria ir para a guerra, foi forçado para a guerra, D. Pedro o obrigou a ir, enfim, eu acho que sobre o Conde D’Eu pode ter documentação desabonadora, mas nós já conhecemos a figura histórica dele e boa parte dos historiadores, ou quase todos, não têm uma visão positiva do papel dele não. Acho que essa questão de o nome Guerra do Paraguai aparecer toda hora, me soa mais como uma cortina de fumaça para esconder outras coisas mais importantes.
Marilú Cabañas: Por exemplo?
Francisco Doratioto: Não sei. Mas por exemplo, a construção de Itaipu. O preço de Itaipu original ficou muito mais caro que o preço original. Como é que fica? Lá no Paraguai é conhecido, por exemplo, que fortunas que foram construídas em Itaipu. Agora, será que do lado brasileiro, por exemplo, todos os gastos foram de acordo com o plano original e o dinheiro foi bem gasto? Uma hipótese, não é?
Colibri: O senhor está “levantando uma lebre”!
Francisco Doratioto: Ou outra por exemplo, mais recente, é a questão do Programa Nuclear Brasileiro, quer dizer, nós sabemos que o Brasil, isso a imprensa publicou, desenvolveu uma tecnologia nova de centrífugas, etc e tal. Quer dizer, se a gente liberar esse tipo de informação, é uma informação industrial que tem um custo financeiro, quer dizer, então de repente nós não temos interesse em... estou supondo, é uma hipótese um raciocínio, nós não temos interesse em liberar esse tipo de informação. Imagine por exemplo, um arquivo sobre a Amazônia, dos anos sessenta e setenta. A gente vai falar assim; mas só tem quarenta anos, já está na hora de liberar, mas de repente o sistema de defesa militar da Amazônia hoje, utiliza estratégias e informações que vem da década de sessenta, então revelar um documento da década de sessenta sobre isso, pode neste momento, comprometer a defesa da Amazônia.
Marilú Cabañas: Uns quarenta anos está bom também, não é professor?
Colibri: Da Guerra do Paraguai, tem que liberar tudo, se é que tem alguma coisa!
Francisco Doratioto: Mas é o que eu te falei, eu acho que não existe um arquivo secreto Guerra do Paraguai no Itamarati, acho altamente improvável. E se existe em outro lugar eu não posso dizer.
Marilú Cabañas: Doratioto, em relação a participação ainda de Duque de Caxias, em relação à ida de escravos, dos negros, para a guerra, seria algo desabonador ou não?
Francisco Doratioto: Olha, tanto o Brasil quanto o Paraguai, tinham escravos, é bom lembrar isso. O Paraguai tinha escravos. O Paraguai em uma população de quatrocentos mil pessoas, os números são muito variáveis, quase todos os números sobre a guerra são variávies, mas eu penso que seria um número mais próximo do real; quatrocentas mil pessoas, tinha quarenta mil escravos negros. Era diferente da escravidão no Brasil, porque escravidão não era o pilar do sistema econômico, do sistema produtivo do Paraguai, mas era o pilar do sistema brasileiro. Então os dois tinham escravos. Os escravos paraguaios, das estâncias da pátria, foram mobilizados e enviados primeiro para a frente de batalha, tanto é que a população paraguaia praticamente não tem negros, morreram em combate. No caso brasileiro, também foram enviados os escravos, mas atenção, existe uma confusão. Existe um historiador do Rio de Janeiro, excelente Ricardo Salles, ele estudou a escravidão na guerra e ele faz esse alerta; não se pode confundir negros na Guerra do Paraguai, com escravos. Quer dizer, todo escravo era negro, mas nem todo negro era escravo. Então, segundo os cálculos do Ricardo Salles, no máximo dez por cento dos combatentes seriam compostos de escravos libertos para irem para a guerra.
Marilú Cabañas: Libertos, não é?
Francisco Doratioto: É. Libertos para irem para a guerra, quer dizer; era o preço mas seria dez por cento. Não é como se diz, a maioria da tropa ou a maioria da tropa. Agora de negros não. De negros teria mais porque existiam negros libertos, mulatos, assim como brancos pobres também eram obrigados a irem para a guerra, etc.
Marilú Cabañas: Estamos conversando com o professor Francisco Doratioto, autor do livro “Maldita Guerra”, Colibri.
Colibri: Na abertura do seu livro, o senhor comenta alguns fatos colocados por outros historiadores no caso León Pomer, do livro “A Guerra do Paraguai – Um grande Negócio”, e também cita o escritor Júlio José Chiavenato que escreveu “O Genocídio Americano - A Guerra do Paraguai”, o senhor fala sobre revisionismo. Eu queria que o senhor explicasse para o ouvinte o que é isso, e por que o senhor claramente contesta o que eles escreveram na sua pesquisa.
Francisco Doratioto: O revisionismo, esses revisionismo; há vários revisionismos históricos, ele surgiu basicamente nos anos sessenta, e o León Pomer, que é um historiador argentino sério, competente, ele escreveu um livro chamado, no original, na primeira edição “La Guerra del Paraguay - Gran Negocio”, em que ele faz uma análise da guerra que teve profundo impacto na Argentina. Faz pesquisa em fonte primária, quer dizer, vai em documentos. O livro dele tem notas e rodapé, quer dizer, um trabalho de historiador não é um trabalho de narrativa pura e simples, quer dizer, nós não damos informações sem dizer de onde tiramos essa informação, que é para o outro pesquisador ir lá e de repente, uma outra interpretação pode esclarecer. Nem sempre o documento não fala sozinho, eu tenho que interpretar o documento, eu o historiador. E um historiador com uma outra formação, as vezes mais perspicaz ou algo assim, pode de repente chegar a conclusões diferentes e melhores, por isso nós pomos notas em rodapé. Primeiro para indicar que nós não estamos inventando e segundo para permitir que a pesquisa cientifica avance; o conhecimento avance. Então o León Pomer escreveu esse livro e nesse livro ele responsabiliza o governo inglês e os banqueiros ingleses. Mais tarde quando ele esteve exilado no Brasil, ele escreveu um livro de divulgação, numa série chamada História Popular, nossa guerra contra esses soldados, que tinha a foto de um soldado paraguaio na capa e que ele diz textualmente que a Inglaterra foi a responsável pela guerra. No entanto nos anos oitenta ele escreveu uma carta para um historiador, pesquisador brasileiro, que é o primeiro que vai contestar essa visão, Luiz Alberto Moniz Bandeira. Ele tem muitos livros e é muito conhecido e ele fez uma tese doutorado que foi publicada com o título de “O Expansionismo Brasileiro”, e nesse livro tem uma carta do León Pomer para o Moniz Bandeira, os dois são amigos pessoais, em que o León Pomer reconhece que não foi a Inglaterra que fez a guerra e depois ele também publicou um artigo, se eu não me engano, no antigo Caderno Mais, da Folha de São Paulo, que ele diz que ele não falou que era a Inglaterra e sim os banqueiros ingleses que tinham interesse na guerra.
Colibri: Qual é a opinião do senhor, o senhor que estudou tanto...
Francisco Doratioto: Olha para Inglaterra, essa guerra foi uma guerra no fim do mundo que tinha pouco interesse para ela e muito interesse para nós. A Inglaterra, o governo inglês, em si, permaneceu neutro, primeiro. Segundo, há de se lembrar que quando começou a guerra, o Brasil estava de relações diplomáticas rompidas com a Inglaterra. Nós não tínhamos relações diplomáticas. Então não poderíamos ser agentes, suposto agentes, do imperialismo inglês na região. Terceiro, os banqueiros efetivamente emprestaram dinheiro, mas não só Brasil e Argentina, tentou emprestar dinheiro na Inglaterra, o Solano López também. Nós temos que lembrar que o capital, ele não tem patriotismo, ele não tem nacionalidade, ele busca lucro. Então um banqueiro ele empresta dinheiro para quem pode devolver esse dinheiro com juros. Agora o Paraguai, também tem que se lembrar disso, Solano López que começa a guerra, quer dizer, o Solano López que ataca o Brasil, Mato Grosso primeiro depois o Rio Grande do Sul e o Solano López que ataca a Argentina. A Guerra do Paraguai, chamada A Guerra do Paraguai, há outras designações, Guerra do Tríplice Aliança,por exemplo, não é uma guerra iniciado pelo Brasil e nem pela Argentina.
Marilú Cabañas: Mas professor, no seu livro mesmo, o senhor não fala que, falando das origens dessa guerra, que o Brasil teria invadido primeiro o Uruguai, não é isso?
Francisco Doratioto: Sim, esse vai ser o pretexto para o Solano López invadir o Brasil, quer dizer, o Solano López estabeleceu como objetivo, como interesse nacional paraguaio, que não houvesse intervenção argentina e brasileira e como estava havendo no Uruguai para depor o Governo Blanco, do Partido Blanco, porque era um governo que tinha convencido Solano López, aparentemente, a gente não pode ter certeza disso, mas a documentação leva a pensar isso, que Brasil, Argentina iriam invadir o Uruguai, ocupar o Uruguai e depois se voltar contra o Paraguai. Agora, pelo direito internacional, e é claro a intervenção brasileira no Uruguai, foi naquele momento um grande erro político. Foi um governo fraco, que era o Governo Liberal do Rio de Janeiro, pressionado pelos interesses dos fazendeiros, dos gaúchos que tinham fazenda no Uruguai e que estavam tendo os seus interesses comprometidos pelo Governo Blanco que não queria mais ficar sob a tutela nem brasileira nem argentina.
Colibri: Na origem que o senhor fala, da origem , o senhor explica bem no livro, o Paraguai era uma país estratégico, a gente está falando sobre a invasão de um, o Solano López invadiu o Mato Grosso e Corrientes na Argentina, o Brasil invadiu o Uruguai a Argentina estava preocupada com tudo isso. A questão era estratégica porque o Paraguai fica em uma posição estratégica, não é?
Francisco Doratioto: Na realidade uma posição estratégica para o Brasil, porque nós temos que lembrar que a ligação Mato Grosso era uma província, na época chamada província, mas o que é hoje o estado do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, porque a província de Mato Grosso era isolada do resto do país, então por exemplo, quando Solano López atacou Mato Grosso, a notícia por terra vinda a cavalo, demorou dois meses para chegar ao Rio de Janeiro. Era impossível por exemplo, transportar víveres, alimentos, comunicações, então esse caminho, por terra mesmo, somente será possível em 1912 e com a Ferrovia Noroeste do Brasil que vai chegar em Mato Grosso. Antes disso, antes de 1912 até o começo do século vinte, tinha que se descer navegando pela costa brasileira, subir o Rio da Prata, navegar o Rio Paraná e Paraguai passando por Assunção. Então para o governo brasileiro, para o Império do Brasil a manutenção da unidade territorial do país, quer dizer a manutenção de Mato Grosso no império, passava pela livre navegação do Paraguai, um pressuposto necessário.
Colibri: Esses rios Paraguai, Paraná e Rio da Prata, estratégicos e claramente na questão do comércio. O senhor acredita que todo começo de guerra tem a questão política sim, mas a questão econômica, ele é que norteia a invasão de um país, ou a declaração de Tríplice Aliança, três países contra o Paraguai?
Francisco Doratioto: Olha, cada guerra, é uma guerra. Cada guerra tem um motivo. Agora no caso da Guerra do Paraguai, por exemplo, o Moniz Bandeira, ele vai mais por um viés... ele não chega a assumir totalmente, mas ele dá uma ênfase no aspecto econômico dizendo o seguinte; Carlos Antonio López, que foi um grande estadista, tinha uma visão de longo prazo, era um homem muito inteligente, ele procurou abrir o país após a morte do ditador anterior, o Francia, que morre em 1840, e ele envia inclusive, alguns estudantes para a Europa para estudar engenharia, etc. E contrata uma empresa inglesa para representar os interesses do Paraguai, porque o Paraguai não tinha serviço diplomático. Então essa empresa inglesa chamava-se Blit and company, ela foi responsável pelo equipamento da primeira ferrovia que o Paraguai tem enviado a Inglaterra, telégrafos, contrata engenheiros, médicos na Europa e foram enviados para o Paraguai. Esse pessoal, esses duzentos a trezentos ingleses mais ou menos, escoceses, eles vão ser responsáveis por um salto de modernização no Paraguai no final dos anos de 1850, começo dos anos de 1860. Só que para fazer isso o Paraguai precisava de dinheiro, ou seja, precisava aumentar as suas exportações e basicamente o que o Paraguai exportava era erva mate para o Rio da Prata e segundo Moniz Bandeira, ele mostra no início dos anos de 1860, havia uma decadência, uma queda do preço do mate no Rio da Prata e um dos concorrentes, quer dizer, o outro concorrente que era exatamente o mate produzido no Brasil. Então ai , Solano López, que assumiu o poder em 1862, teria começado a se interessar em achar um outro caminho para exportar o mate para o comércio externo que seria através do porto de Montevideo e não de Buenos Aires e portanto, daí o interesse de Solano López em apoiar o governo Uruguaio que estava sendo hostilizado pelos governos brasileiros e argentino.
Marilú Cabañas: Estamos conversando com Francisco Doratioto, historiador, professor da Universidade Federal de Brasília e autor do livro “Maldita Guerra”. Nós vamos fazer um intervalo e voltamos já, já.

Bloco II

Marilú Cabañas: Voltamos a conversar com professor Francisco Doratioto, historiador, professor da Universidade Federal de Brasília e autor do livro “Maldita Guerra”. Professor, ainda sobre a participação da Inglaterra na Guerra do Paraguai, o jornalista Júlio José Chiavenato disse que o primeiro rascunho do Tratado da Tríplice Aliança, foi feito pelo embaixador da Inglaterra em Buenos Aires, Edward Thornton, portanto o governo inglês já teria o conhecimento dessa guerra?
Francisco Doratioto: A Inglaterra não tinha interesse era na guerra. No meu livro está publicado e você pode ver ai, a carta desse diplomata o Thornton que ele cita, o Thornton tem uma carta dele para o Ministro das Relações Exteriores do Paraguai, depois que o Paraguai prendeu o navio, Marques de Olinda em Assunção, e que ele percebe que vai haver a Guerra do Paraguai com o Brasil, ele escreve uma carta para o Ministro das Relações Exteriores do Paraguai, oferecendo seus préstimos pessoais para evitar uma guerra. Como eu sabia que ninguém ia acreditar nisso, apesar de eu ter um título, ser um professor universitário, em princípio a minha palavra ser crível e inclusive eu coloquei a fotocópia da primeira página dessa carta dentro do meu livro. Está ai.você pode olhar.
Colibri: É verdade.
Francisco Doratioto: Uma coisa é a gente inventar uma historinha bonitinha, conspiratória, coerente internamente, que a Inglaterra queria destruir um suposto país industrializado, que não tinha indústria, acrescento, e outra coisa é ir no documento e ver o documento. E a documentação britânica, que já foi também pesquisada também, enviada do Rio da Prata dos diplomatas. Os diplomatas britânicos no Rio da Prata, a correspondência deles é muito negativa em relação ao Solano López. Porque o Solano López efetivamente era um tirano. Ele era um tirano e se tornou sanguinário durante a guerra. Ele mandou açoitar a mãe, e fuzilar os irmãos, enfim, é claro que ele não tinha uma boa imagem junto aos diplomatas. Mas uma coisa é a posição dos diplomatas e outra é a do governo inglês. O governo inglês manteve uma neutralidade, agora é o que eu estava dizendo antes, os banqueiros por exemplo, emprestaram dinheiro. Claro, emprestaram dinheiro a quem podia pagar e dar lucros para eles. Agora, o banqueiro inglês é uma coisa, o governo inglês não é a mesma coisa.
Marilú Cabañas: Qual é a sua opinião a respeito dessa participação dos banqueiros ingleses segundo León Pomer, graças a esses empréstimos, é que a guerra se prolongou ainda mais. Quer dizer o capital, então o lucro justifica então o genocídio?
Francisco Doratioto: Não, primeiro eu... essa palavra genocídio eu questiono o uso. O genocídio é um termo bem técnico, é o objetivo de extinguir, exterminar ou um povo por sua cultura ou por sua etnia. Não é o caso da Guerra do Paraguai. Agora...
Marilú Cabañas: Noventa e cinco por cento da população masculina, a partir de sete anos de idade foi exterminada, não é isso? Ou os dados estão errados?
Francisco Doratioto: Olha vamos voltar para os banqueiros e depois vamos para esta questão para mantermos a ordem.
Colibri: É depois o senhor explica o negócio dos números que são polêmicos.
Francisco Doratioto: Mas a questão dos banqueiros, por exemplo, o dinheiro que o Brasil, eu não tenho os dados quanto a Argentina, mas o dinheiro que o Brasil gastou na guerra que foi em torno de seiscentos e doze mil contos de réis, só para dar uma idéia, na época o orçamento anual do governo brasileiro no primeiro ano antes da guerra, no último ano de paz; foi de cinqüenta e quatro, cinqüenta dois mil contos de réis. Então a Guerra do Paraguai custou equivalente a dez anos ou doze anos dos gastos públicos brasileiros. Desse dinheiro que foi gasto pelo Brasil, apenas doze por cento vieram de empréstimos da Inglaterra. Da Argentina deve ter sido mais, mas não deve ter chegado a trinta por cento não, só para dar o número concreto. Segundo, quanto aos números de perda do Paraguai, ai sim é tudo muito nebuloso. Nós não sabemos quantos soldados o Brasil enviou para a guerra. Por exemplo, há um número de cinqüenta mil, há um número de cem mil e há quem diga como Ricardo Salles que foram cento e cinqüenta mil. Nós não sabemos o número em mortes. Eu por exemplo, eu trabalho mais com a idéia que foram cento e vinte mil e no Paraguai morreram cinqüenta a cinqüenta e cinco mil brasileiros. Mas o Ricardo Salles fala que morreram cem mil, quer dizer, de toda forma é uma perda enorme independente do número absoluto.
Colibri: É verdade.
Francisco Doratioto: O fato concreto é que as perdas foram muito grandes e no lado paraguaio também que boa parte dos homens paraguaios morreram, também é verdade. Mas, atenção, tanto do lado brasileiro quanto do lado paraguaio, a maior parte das mortes não se deram em campo de batalha com tiros e sim como vítimas de fome no caso do Paraguai, mas também de doenças como cólera diarréia, etc.
Marilú Cabañas: Professor, o senhor coloca no livro este percentual de mortes entre os paraguaios de 8,7 por cento da população a 69 por cento, é realmente muito amplo esse espectro. Onde o senhor tirou este 8,7?
Francisco Doratioto: Esse número mínimo é uma historiadora norte americana que fez uma pesquisa, porque os números são muito precários, o censo paraguaio era muito precário, o estado era precário. Ela fez um cálculo com projeções, ela chegou ao número máximo de cinqüenta mil mortos paraguaios, que eu acho muito pouco e eu acho que é mais. Depois um outro historiador, Thomas Wigan, que eu conheço pessoalmente, um excelente historiador, fez um estudo e disse que não, que não é isso. Agora o argumento dele, o raciocínio dele é o que eu faço o meu. Nós não sabemos os números exatos, o que nós sabemos é que foi uma grande mortandade e que comprometeu no caso paraguaio, comprometeu demograficamente o crescimento do país para o futuro.
Colibri: Parece que antes de começar a guerra, pelo menos tinham seiscentos mil habitantes, almas, no Paraguai.
Francisco Doratioto: Eu acredito que houvesse quatrocentos mil, porque o último senso sério que se tem notícia, em 1840, apontava duzentos e cinqüenta mil ou duzentos e vinte mil, mas acontece que o governo paraguaio, depois, no começo da década de sessenta, estabeleceu um senso que dizia um milhão ou oitocentos mil, eu não lembro o número exato. Mas dizia por quê? Porque o Paraguai temia uma invasão por parte de Buenos Aires, temia uma guerra. Então para assustar, para intimidar, o governo argentino de evitar uma invasão, inflou o número da população. E muitos historiadores depois ou não necessariamente historiadores, mas enfim, estudiosos com um senso crítico menos desenvolvidos, não se deram conta disso, e iam comparar a população depois da guerra com o último senso dos anos sessenta, e ai diziam; realmente foi um genocídio, mas essa palavra genocídio é mal usada, inclusive porque esvazia o conteúdo verdadeiro que é muito sério e trágico da palavra genocídio, banalizando a palavra.
Colibri: De qualquer forma, mesmo que a gente não adote a palavra genocídio, foi um massacre, ou não?
Francisco Doratioto: Sem dúvida nenhuma. Mas o que você chama de massacre? Massacre é você matar a população ou o soldado desarmado. Em alguns momentos pontuais como a batalha de Peribebuí que o Conde D’Eu ordenou isso; nós tivemos combates leais.
Marilú Cabañas: O duro também é a gente saber que muitas crianças e mulheres civis foram mortos também não é professor?
Francisco Doratioto: Em todas as guerras infelizmente, nenhuma guerra é bonita, não é? Só é bonita depois que termina que se cria lá... não sei o que, agora o uso de crianças , tem duas grandes lendas, eu brinco e chamo de lendas urbanas que hoje em dia tem de internet, que é as crianças paraguaias na guerra e segundo que Caxias teria ordenado jogar corpos no Rio Paraguai com cólera para levar a cólera aos soldados paraguaios. As crianças, efetivamente foram mortas na Batalha de Acosta Ñu. Agora o que não se comenta muito, porque veja bem, houve crueldade dos dois lados, mas normalmente só se fala de um lado, do lado aliado. E a guerra, normalmente, um só mata outro, tendo ódio do outro, se não, não mata. Então, normalmente em um combate corpo a corpo, as duas partes têm ódio entre si e fazem realmente coisas que depois nós analisando friamente, não tendo participado dos eventos, classificamos como uma crueldade, não deixa de ser crueldade, mas tem que contextualizar. Então no caso dos Paraguaios por exemplo na Batalha de Acosta Ñu, primeiro, Solano López enviou crianças para lutar contra soldados profissionais, quer dizer isso é uma coisa impressionante. Segundo, ele mandou essas crianças vestirem barbas. Terceiro, essas crianças estavam a dois quilômetros das tropas aliadas, no meio do mato em uma época em que os binóculos, instrumentos de visualização eram precários. Então a tropa aliada que dá a carga e é a cavalo, só se dá conta que é criança quando está em pleno combate e essas crianças são massacradas efetivamente, são mortas. Mas ai a responsabilidade histórica disso, não pode ser jogada só de um lado. E quem ordenou à crianças combaterem contra soldados profissionais, não tem nenhuma responsabilidade histórica?
Marilú Cabañas: Estamos conversando com Francisco Doratioto, historiador, professor da Universidade Federal de Brasília e autor do livro”Maldita Guerra”. Professor, quais são os motivos que levaram Duque de Caxias a sair da Guerra do Paraguai?
Francisco Doratioto: Existem duas versões. A versão oficial que ele estava doente e efetivamente ele desmaiou na Catedral de Assunção depois da tomada da capital, e uma segunda versão que eu assino embaixo, eu que inclusive recuperei essas informações sobre isso, que ele estava desiludido com a guerra, não acreditava mais na guerra, não via mais sentido na guerra, e achou que a guerra tinha acabado. Porque normalmente quando você ocupa a capital do inimigo, você ganhou a guerra, já ocupou a capital do inimigo.
Colibri: E por que não acabou?
Francisco Doratioto: Pois é, é uma boa pergunta. É uma boa pergunta. Por que Solano López não se rendeu.
Marilú Cabañas: Mas também os países aliados não poderiam ter dito: bom então agora ele não vai se render, mas de qualquer forma, vamos parar com isso e acabou e muda o tratado...
Francisco Doratioto: Mas uma guerra não acaba com uma decisão unilateral. Se a outra parte continuar atirando e bombardeando como você vai acabar uma guerra?
Marilú Cabañas: Bom o Brasil queria continuar, não é professor?
Francisco Doratioto: Como é que você vai acabar a guerra... Agora existe sim um interesse ai e vamos contextualizar politicamente, o interesse de D. Pedro II que a guerra continuasse até o fim. Agora o fim não era matando Solano López. O Tratado da Tríplice Aliança e objetivo, toda a documentação mostra isso, o objetivo central do exército aliado era tirar Solano López do poder.
Colibri: Mas olha, matar o Solano López, também estava nos planos, porque o próprio León Pomer falou isso já aqui, em um texto dele, quer dizer é aquela história sempre passando para a história de hoje; tinha que matar o Bin Laden para acabar com o negócio, quer dizer, eles também tinham a intenção de matar o cara que está ordenando, que está liderando do outro lado. É uma forma de acabar com a guerra, matando ele, acabaria a guerra.
Francisco Doratioto: Não matando o líder adversário nem sempre é, mas nesse caso seria. No caso do Bin Laden matar o Bin Laden, não é o fim da guerra. No caso do Solano López era o fim da guerra efetivamente. Mas veja bem, esse raciocínio não é válido porque em 1867, um diplomata, um primeiro secretário da embaixada da legação britânica em Buenos Aires, foi ao Paraguai para tentar tirar os cidadãos paraguaios que estavam lá dentro. Por exemplo, o engenheiro chefe do exército paraguaio, era um engenheiro britânico. O médico chefe do exército paraguaio, era o doutor Stewart, que era britânico também. E eles estavam impedidos de sair e existia neste momento provavelmente umas cinqüenta famílias britânicas dentro do território paraguaio, impedidas de sair. Então o Golf que era o secretário, foi e estabeleceu uma negociação com o Solano López , que o Solano López se retiraria do Paraguai, e o lado aliado o Caxias estava aceitando, depois o Solano López recuou. Então se o Solano López tivesse pedido para sair da Paraguai, ou tivesse se rendido, a vida dele teria sido preservada. Agora uma coisa é certa, ele não teria sido mantido no poder e seria impedido de voltar ao poder ou seus familiares.
Marilú Cabañas: Existe informações no seu livro, que a paz negociada sem vitória até podia comprometer a estabilidade do regime monárquico brasileiro, é isso?
Francisco Doratioto: Sim por isso que Pedro II, porque Caxias em agosto de 1868, ele está cansado da guerra desanimado, e o partido dele, que era o partido conservador, chegou ao poder, voltou ao poder no Rio de Janeiro, no governo brasileiro, então ele escreve ao Ministro da Guerra, que era amigo pessoal dele, dizendo o seguinte: olha a guerra, militarmente o Solano López não é mais uma ameaça para nós. Não tem mais sentido continuar a guerra. A única coisa que impede é essa maldita exigência, que o Solano López tem que sair do poder. Então o Caxias defende que se negocie a paz com o Solano López. E o Caxias era um soldado obediente, quer dizer ele passaria isso para o Ministro da Guerra que é o superior dele, o Ministro da Guerra consulta o imperador, e Pedro II ordena Caxias que continue a guerra. O Caxias que não acreditava mais na guerra, continua a guerra até tomar a capital do inimigo, que é a função seis meses depois. Agora, porque Pedro II insiste nesse aspecto? Nessa rendição? Tem dois aspectos. Um é que nós hoje em dia damos pouco valor mas na época tinha muito valor, que era uma questão de honra nacional, honra do soberano, esse tipo de coisa. Então por exemplo, só para vocês terem uma idéia, faz a pouco tempo acho que uns quatro ou cinco anos mais ou menos, o Japão pediu desculpas oficiais aos Estados Unidos por ter atacado Pearl Harbor, sem declarar guerra. Então essa questão da honra nacional. Então Pedro II, achava primeiro que o Paraguai tinha atacado, e atacou, o território brasileiro sem hostilidade do Brasil para o Paraguai. Logo era uma questão de honra nacional. Em segundo lugar, ai sim, é uma questão prática quer dizer, existia uma forte contestação à guerra e a capacidade do governo Imperial de vencer a guerra. Se o governo imperial parasse a guerra sem vencer, poderia acontecer o que aconteceu na Guerra da Cisplatina que Pedro I não conseguiu vencer a guerra, a guerra de 1825 a 1828 contra Buenos Aires, e depois foi uma das causas não a única que levou a crise que o obrigou a sair do país, a renunciar. Na prática ele foi derrubado do poder. Então eu creio que também tem essa dimensão, quer dizer, a Monarquia sairia desmoralizada se não vencesse a guerra. A partir daí uma série de contradições internas vão se agravar que vai levar mais a adiante o fim da monarquia.
Marilú Cabañas: Agora professor, o León Pomer disse que exatamente, já no período do Gaspar Francia, depois Carlos Antonio López, existia praticamente uma distribuição de terras à população e parece que o Duque de Caxias, enfim, os militares brasileiros estariam com dúvidas: nossa! Por que eles conseguem arregimentar tantas pessoas do lado do Paraguai para lutar contra? E o León Pomer explica que eles eram proprietários da terra, eram os donos da própria terra, diferentemente do Brasil que havia escravidão, então eu queria saber o senhor discorda dessa visão do León Pomer?
Francisco Doratioto: Parcialmente, quer dizer que os Paraguaios lutaram bravamente porque eles acreditavam que efetivamente estava em jogo a independência do Paraguai. Que não estava. Mas eles acreditavam que estava e que o objetivo dos aliados era dividir o Paraguai entre si. E eles não poderiam ter outra visão porque, mesmo porque grande parte dos paraguaios eram analfabetos, ao contrário do que diz a lenda. Falavam só guarani, não falavam espanhol. E o único jornal que existia no Paraguai, era do governo. Logo, não tinha imprensa, não tinha fonte de informação e era um país isolado. Então o que dizia o governo, e o Solano López dizia isso, a propaganda dele dizia isso, que o país travava uma luta de morte, quer dizer, ele transformou ele mesmo na causa nacional. O que estava em jogo era ele no poder. Agora, quanto aos paraguaios serem proprietários de terra, veja bem, existiam umas estâncias da pátria, por exemplo, o primeiro governo Gaspar de Francia, para ele se manter no poder, ele confiscou propriedades de todos aqueles que pudessem ser uma sombra sobre ele, inclusive tentou impedir que as famílias tradicionais, fizessem alianças com outras famílias tradicionais proibindo o casamento delas. Então para casar tinha que pedir autorização para o ditador. E ele só autorizava normalmente, casamento de branco com mulher indígena para evitar esse tipo de coisa, e muitas propriedades foram confiscadas e essas propriedades confiscadas foram não dadas como propriedade, mas os camponeses puderam trabalhar essa terra. Mas só que o resultado do trabalho dessa terra ia para o estado. Então tem um economista paraguaio o Herken Krauer, que escreveu um livro em 1986, é antigo já pesquisando em arquivos diplomáticos britânicos e o título era “Gran Bretana y la Guerra de la Triple Alianza”, em que ele mostra quanto era pago, o que era produzido por esses camponeses, que era basicamente tabaco ou erva mate, quanto se pagava para eles, quanto o estado dava depois para o atravessador em Assunção, que normalmente era meia dúzia de famílias amigas do Carlos Antonio López e por quanto isso era vendido em Buenos Aires. Existia um processo de acumulação de capital na mão de uma pequena burguesia nascente, que era essa entorno da família López e dos próprios López que é a família López que usava o estado em uma propriedade pessoal.
Colibri: Está certo professor, muito obrigado pela participação, Marilú por favor.
Marilú Cabañas: Muito obrigada professor pela entrevista de hoje e um grande abraço.
Francisco Doratioto: Eu que agradeço a oportunidade e um abraço para vocês e seus ouvintes, muito obrigado.
Marilú Cabañas: Conversamos com Francisco Doratioto, historiador, professor da Universidade Federal de Brasília e autor do livro “Maldita Guerra”.

--
Fabrício Augusto Souza Gomes

domingo, 24 de julho de 2011

Greve na universidades federais

Greve dos técnicos das universidades federais ameaça início do semestre letivo

23/7/2011 13:42,  Por redação, com ABr - de Brasília
A greve dos técnicos administrativos das universidades federais já dura 45 dias. Até agora, não houve reunião alguma para discutir as reivindicações dos servidores. Segundo o governo, só haverá negociação se o movimento for suspenso. Sem perspectiva de diálogo, a categoria promete reforçar a paralisação, o que pode atrasar o início das aulas no segundo semestre, comprometendo o calendário universitário.
Fernando Haddad
O ministro da Educação, Fernando Haddad, espera pôr fim à paralisação até o final do mês de agosto, quando devem recomeçar as aulas

O movimento tem a adesão de servidores de 39 das 59 universidades federais. De acordo com o Ministério do Planejamento, o impasse foi criado pela Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores das Universidades Brasileiras (Fasubra), que decidiu deflagrar a greve durante a negociação. Entre as reivindicações da categoria, está o reajuste do piso salarial em pelo menos três salários mínimos. Segundo a entidade, o vencimento desses servidores hoje é R$ 1.034.
Apesar de não terem ligação direta com o trabalho desenvolvido em sala de aula, os servidores são responsáveis por atividades administrativas importantes, como o processamento da matrículas. De acordo com o coordenador-geral da Fasubra, Paulo Henrique Silva, o movimento grevista agora tentará prejudicar esse processo.
“Esse é um ponto, dentro das universidades, que nos favorece. É um processo necessário de resistência para que a gente possa ter uma resposta”, disse Silva. Segundo ele, o comando de greve também vai intensificar a paralisação de serviços prestados pela categoria nos hospitais universitários.
A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) espera que o problema seja resolvido durante o período de férias e não comprometa o próximo semestre letivo. “Quando há conflito de interesses, só a conversa resolve”, disse o secretário executivo da associação, Gustavo Balduíno. Os reitores, informou, participaram do processo de interlocução entre os servidores e o governo. Até o momento, acrescentou, os prejuízos causados pela paralisação foram superados.
“Apostamos na responsabilidade do movimento sindical”, destacou Balduíno. “A categoria [dos técnicos] não causará prejuízos aos alunos e professores. A universidade oferece um conjunto de serviços de extrema importância que precisa funcionar em benefício da sociedade – e não em benefício do reitor ou do governo.”
Na terça feira, o ministro da Educação, Fernando Haddad, disse  que a greve dos servidores técnico-administrativos das universidades federais não prejudicará as matrículas do segundo semestre de 2011.
O ministro espera pôr fim à paralisação até o final do mês de agosto, quando devem recomeçar as aulas. A greve teve início no mês de junho.
O ministro contou que se encontrou com representantes dos servidores técnico-administrativos, na última segunda-feira, em Brasília, e reforçou a proposta de intermediar as negociações com o Ministério de Planejamento.
Haddad também comentou o anúncio de paralisação dos docentes de Instituições Federais de Ensino (Ifes) – prevista para 5 de julho – e disse que, desde 2005, o Ministério da Educação não enfrenta graves crises.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

dia 27/07/2011 - julgamento do cel. Ustra

Família de jornalista Eduardo Merlino comenta julgamento de cel. Ustra
Ana Ignacio

Em de julho de 1971 o jornalista Luiz Eduardo Merlino foi morto. Há 40 anos, foi levado de sua casa, em Santos. Foi para São Paulo "explicar" sua militância política. Nunca mais voltou. Merlino, então com 23 anos, foi mais uma vítima da Ditadura Militar no país.

Com passagens pelo Jornal da Tarde, Folha da Tarde, jornal Amanhã e Jornal do Bairro, mais um capítulo de sua história - não esquecida - será escrito no próximo dia 27. Nessa data, o coronel reformado do Exército Brasileiro, Carlos Alberto Brilhante Ustra, será julgado pelo assassinato do jornalista. Merlino foi torturado e morto nas dependências do Doi-Codi. Na época, o órgão era comandado por Ustra.

Essa é a segunda ação movida pela família de Merlino - a primeira foi extinta em 2008 antes que se chegasse à audiência das testemunhas. No dia 27, ex-militantes do Partido Operário Comunista (POC), organização em que Merlino militava, irão depor em defesa do jornalista. O presidente do Senado José Sarney é uma das testemunhas do cel. Ustra.

IMPRENSA conversou com Tatiana Merlino, jornalista e sobrinha de Eduardo Merlino. Tatiana falou sobre a importância do julgamento, as dificuldades que a família encontrou para conseguir concretizá-lo e o significado de uma possível condenação de Ustra. Acompanhe.

IMPRENSA - QUAL A EXPECTATIVA DA FAMÍLIA PARA O JULGAMENTO?
Tatiana Merlino - Nossa expectativa é grande, pois não foi fácil chegar até essa audiência. Essa é a segunda ação movida pela família contra o coronel Ustra. A primeira, uma ação civil declaratória, foi extinta em 2008 antes que se chegasse à audiência das testemunhas. Nessa nova ação por danos morais, de 2010, o coronel Ustra tentou impedir que chegássemos à audiência, mas o juiz não aceitou o recurso, chamado de agravo de instrumento, e aí estamos. Acreditamos que diante dos relatos das testemunhas, que são ex-militantes do Partido Operário Comunista, o ex-ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi e o escritor Joel Rufino dos Santos, que relatam detalhes das torturas que Merlino passou até morrer, e do momento que precede sua morte, a Justiça Paulista pode se convencer da responsabilidade de Ustra no assassinato de Merlino.

QUAL A IMPORTÂNCIA DESSE JULGAMENTO?
Importantíssimo para a história do país, visto que estamos muito atrasados em relação ao que se chama de Justiça de Transição: memória, verdade e justiça. Até hoje, há apenas uma decisão da justiça declarando que um agente do Estado foi torturador: a da família Teles contra o próprio Ustra. Nós passamos por essa dificuldade enorme para chegar até a audiência das testemunhas, sendo que essas ações nem são na área penal, como as que estão sendo movidas na Argentina, onde os torturadores e agentes do Estado que cometeram assassinatos e torturas estão sendo levados para a cadeia. Ou seja, no aspecto justiça ainda estamos engatinhando. Já em relação à verdade, também corremos grandes riscos, dependendo de como a Comissão da Verdade será, e por conta da discussão do sigilo dos documentos. Aí ressalto que entre os defensores do sigilo eterno está o senador e ex-presidente José Sarney, que foi arrolado como testemunha do coronel Ustra na ação que a família move contra ele.

QUAL SERIA O SIGNIFICADO DA CONDENAÇÃO DO CORONEL USTRA, CASO ISSO OCORRA?
Se Ustra for condenado, o Brasil dará um passo importante para consolidação da democracia brasileira. Se não resolvermos a impunidade do passado, e saber exatamente quem esteve envolvido nos crimes de tortura, estupro, sequestro e assassinato dos opositores do regime militar, não conseguiremos fortalecer as instituições do país.
Fonte: Núcleo Memória

terça-feira, 19 de julho de 2011

Jango, o conciliador

Jango, o conciliador

Lançando extensa biografia sobre João Goulart, historiador Jorge Ferreira fala sobre a importância do ex-presidente e afirma: ele não foi covarde, foi sensato


Ronaldo Pelli

Tarefa, no mínimo, complexa, a que o historiador Jorge Ferreira se propôs: descrever o ex-presidente João Belchior Marques Goulart (1919-1976), em toda a sua humanidade. Não queria compactuar com o discurso que repete uma série de injúrias contra o político que foi, ao mesmo tempo, sucessor de Getúlio Vargas, e cunhado de Leonel Brizola, com quem teve uma amizade conturbada. Nem com o tom de vitimização, que o coloca numa posição passiva em relação ao golpe de 1964, que o tirou do poder. O resultado desse trabalho é o livro “João Goulart, uma biografia”, um calhamaço de mais de 700 páginas, que tenta evidenciar um personagem indispensável para um episódio decisivo da história recente do Brasil.

Segundo Ferreira, professor titular de História do Brasil da UFF, foram dez anos de trabalho, em pesquisa ou redação, que não se concentraram apenas no período em que Jango estava em evidência. O livro tenta reconstituir da infância de Janguinho, no Rio Grande do Sul, ao fim de sua vida, no exílio, entre suas fazendas no Uruguai e na Argentina, onde morre, em mais um episódio envolvido em teorias que resvalam na conspiração.

Conspiração, aliás, que Jango enfrentou antes, durante e depois da presidência, vinda de todos os lados ideológicos, por ser, em tempos de radicalizações políticas, um homem que valorizava a democracia, o diálogo e a conciliação. Ferreira se atém aos fatos e tenta mostrar, na medida do possível, o que realmente aconteceu durante o governo Jango, trazendo à luz as ações - e suas consequências - do então presidente que desembocariam numa ditadura de 21 anos. Também apresenta como a figura de Goulart foi avaliada por pesquisadores em seguida: geralmente com um desprezo, além de desumano, desnecessário.

Em entrevista sobre o seu livro e seu biografado, o professor sugere que devemos pensar em Jango, não como um medroso que saiu do governo sem lutar, mas como um homem que evitou uma guerra civil e o derramamento de sangue de irmãos. “Jango, nesse aspecto, não foi covarde. Foi sensato”, opina. Leia o restante da entrevista:

Revista de História - Qual era o objetivo de escrever “Jango”?

Jorge Ferreira - O livro tem o objetivo de retirar Jango do limbo do esquecimento em que ele se encontra. Embora tenha sido um personagem importante da vida política do país, as análises sobre ele, quando raramente surgem, via de regra o definem como demagogo, populista e incompetente ou, então, vítima da grande conspiração de empresários brasileiros em conluio com o governo norte-americano. Jango, quando é lembrado, é para ser culpabilizado ou vitimizado. Meu objetivo, no livro, é compreender o personagem. E somente compreendemos quando conhecemos.

"Jango, no ministério do Trabalho, aproximou-se do
movimento sindical e passou a dialogar com os trabalhadores
e líderes sindicais. Para a direita e os udenistas, tratava-se
de algo inconcebível para um ministro de Estado."
RHBN - Como você interpreta essas desqualificações ao ex-presidente João Goulart?

JF - Desde que Goulart entrou na vida pública, em fins de 1945, e, particularmente, quando foi identificado como pessoa próxima a Vargas, começaram as críticas sobre ele veiculadas na imprensa. Mas sua atuação como ministro do Trabalho desencadeou uma séria de ataques e insultos vindo dos setores conservadores, particularmente da UDN. O que incomodava os conservadores é que Jango, no ministério do Trabalho, aproximou-se do movimento sindical e passou a dialogar com os trabalhadores e líderes sindicais. Para a direita e os udenistas, tratava-se de algo inconcebível para um ministro de Estado. Daí surgiram as críticas: demagogo, manipulador, incompetente, instigador de greves, agitador etc. A estas denúncias de cunho político, juntaram-se outras, de cunho moral: mulherengo, alcoólatra etc. Quando, ao final de sua gestão no ministério, os opositores perceberam que Jango se tornara o herdeiro político de Getúlio Vargas, os ataques aumentaram ainda mais, surgindo a expressão “República sindicalista”

As imagens negativas sobre Goulart tomaram outra dimensão após o golpe militar de 1964. Os golpistas, civis e militares, passaram a desqualificar o regime democrático que derrubaram e a pessoa de Goulart em particular. Dele, os vitoriosos de 1964 retomaram os ataques formulados anteriormente, acrescido de adjetivos como corrupto, irresponsável, despreparado etc. Jango, no exílio, sequer podia se defender das acusações. As esquerdas, por sua vez, também contribuíram para o processo: “populista”, por exemplo, foi conceito criado nas Universidades para desqualificar lideranças anteriores a 1964.

"Jango era um conciliador porque buscava o entendimento
entre as partes. Seu objetivo era alcançar acordos e
compromissos políticos."
RHBN - Ser um presidente “conciliador” num momento de exacerbações, como no início da década de 1960, foi o maior erro de Jango?

JF - Em 1961 o país estava à beira da guerra civil. Jango, ao aceitar o parlamentarismo, evitou o conflito de um país dividido e conseguiu, logo a seguir, unir a sociedade em torno da volta ao presidencialismo. Ao longo de seu governo, ele se esforçou para ter maioria parlamentar no Congresso Nacional. Para Jango, assim como para JK, era fundamental unir PSD-PTB para obter maioria parlamentar e isolar a direita, representada pela UDN. A estratégia de Jango era negociar as Reformas de Base via pactos entre pessedistas e trabalhistas. Mas em uma coalizão de centro-esquerda, as reformas não poderiam ser com o programa máximo, como queriam as esquerdas, mas nem também com um programa tímido, como queriam os pessedistas. Nesse sentido, Jango era um conciliador porque buscava o entendimento entre as partes. Seu objetivo era alcançar acordos e compromissos políticos. Ocorre que o PTB se esquerdizava desde os anos 1950 e a conjuntura internacional era marcada pelo contexto maniqueísta da Guerra Fria. Nesse clima, a aprovação das reformas negociadas no Congresso Nacional tornou-se inviável.

Goulart compreendeu o que ocorreu nos dias 31 de março e 1º de abril de 1964. Não eram pequenos grupos civis e militares isolados da sociedade que tentavam golpes. Tratava-se do conjunto das Forças Armadas com o apoio dos principais governadores de estados: Guanabara, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul – com suas polícias militares e civis. Mais ainda, o presidente do Congresso Nacional conclamou os militares a deporem Goulart e o presidente do STF silenciou-se. O golpe também tinha o apoio dos meios de comunicação, do empresariado e de amplas parcelas das classes médias. Jango ainda soube, na manhã de 31 de março, que o governo norte-americano apoiaria em termos financeiros, diplomáticos e militares o governador mineiro Magalhães Pinto. Naquela manhã, ele também tomou conhecimento da chamada Operação Brother Sam.

"Jango deve ser valorizado por aquilo que não fez:
jogar o país em uma guerra civil que seria agravada
com a intervenção militar dos Estados Unidos."
Jango deve ser valorizado por aquilo que não fez: jogar o país em uma guerra civil que seria agravada com a intervenção militar dos Estados Unidos. É muito fácil acusar Jango de não liderar a guerra civil. Afinal, o sangue que correria seria dos outros, sobretudo da população civil. Jango, nesse aspecto, não foi covarde. Foi sensato. É preciso considerar, também, que os golpistas civis e militares não planejavam implantar uma ditadura de 21 anos. O objetivo era depor Goulart. O presidente acreditou que, em breve, a normalidade democrática retornaria ao país. Não foi o que aconteceu. Mas nós sabemos disso hoje. Os personagens que viveram aqueles acontecimentos não poderiam conhecer o futuro.

RHBN - Afinal: Jango foi assassinado ou teve uma morte “natural”?

JF - No livro, as considerações sobre a morte de Jango são similares as de Moniz Bandeira na última edição de seu livro. Há o caso do depoimento do uruguaio Mário Barreiro Neira. Preso no Brasil em presídio federal de segurança máxima, ele alegou ter trocado os remédios de Jango por veneno. As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público desqualificaram suas afirmações. Ele foi preso no Brasil por vários crimes, mas quer evitar a extradição para o Uruguai, onde também foi condenado por diversos assaltos. O ministro do STF, José Neri da Silveira, julgou que Neira não praticou crime político algum no Uruguai, mas, sim, contra o patrimônio. Pessoalmente, eu não descarto a possibilidade de atentado. Pode ter ocorrido. Mas, até o momento, não há prova alguma de que tenha sido efetivado. Jango, por sua vez, era um cardiopata. Seu primeiro acidente cardiovascular ocorreu ainda em 1962. Sofreu um enfarto em 1969. Além disso, levava uma vida sedentária, fumava, gostava de uísque, era hipertenso e alimentava-se de carnes gordurosas. No exílio, passou a sofrer um processo depressivo. Os remédios que controlavam a pressão arterial prejudicavam a produção de serotonina, deflagrando ou agravando a depressão.

Os boatos sobre o atentado surgiram porque sua morte foi próxima às de Juscelino Kubistchek e de Carlos Lacerda. Mas o historiador lida com provas e indícios. Desse modo, embora não tenha havido autópsia, a hipótese de morte natural é, no momento, a mais plausível.

RHBN - Por que há tantas acusações de corrupção contra Jango?

JF - No livro, o leitor pode conhecer as qualidades e os defeitos de Jango – como ocorre em qualquer ser humano. Sobretudo, me esforcei para mostrar suas ambigüidades – algo também humano. Mas não encontrará denúncias de corrupção. Goulart era um homem rico. Sua riqueza foi herdada do pai e multiplicada por ele antes de entrar para a vida pública em 1945. Ele não precisava roubar. Depois do golpe militar, Jango e JK sofreram uma série de acusações de práticas de corrupção, todas sem fundamentos, baseadas em calúnias e difamações. Mesmo sem poderem se defender, nenhuma acusação foi comprovada.

RHBN - O quanto Brizola ajudou e o quanto ele atrapalhou Jango na sua carreira política?

JF - João Goulart e Leonel Brizola mantiveram relações políticas de mútua dependência. Ao longo dos anos, Goulart apoiou politicamente Brizola no Rio Grande do Sul, enquanto Brizola apoiava Goulart no plano nacional. Foi Brizola que lutou, de maneira corajosa, pela posse de Jango na presidência da República durante a Campanha da Legalidade. Nesse episódio, Brizola teve um papel extremamente positivo, defendendo a Constituição e a legalidade democrática. Contudo, durante o mandato de Goulart na presidência da República, Brizola radicalizou à esquerda e tornou-se grande opositor do presidente. Diversos partidos e organizações de esquerda, sob a liderança de Leonel Brizola, fundaram a Frente de Mobilização Popular. Junto com o PCB, a FMP exigia que Goulart rompesse com o PSD e governasse apenas com as esquerdas – mesmo que perdesse a maioria no Congresso Nacional. Jango, nesse sentido, teve que enfrentar as oposições de direita, como Carlos Lacerda e a máquina anticomunista, e as de esquerda, sobretudo lideradas por Leonel Brizola. No conflito entre esquerdas e direitas, o regime da Carta de 1946 se desestabilizou e encontrou seu fim em 1º de abril de 1964.
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/entrevista/jango-o-conciliador

--


Fabrício Augusto Souza Gomes

E-mail: fabricio.gomes@gmail.com

Greve dos professores continua em MG, RN e SC.

Profissionais da Educação acampam em frente à secretaria do Rio; greve
continua em MG, RN e SC - www.cspconlutas.org.br


*No Rio, acampamento na Seeduc -* Na terça-feira (12) os profissionais da
Educação do Rio de Janeiro, em greve desde o dia 7 de junho, radicalizaram o
movimento e acamparam em frente à Seeduc (Secretaria Estadual de Educação do
Rio). A categoria chegou a ocupar o 5° andar prédio, exigindo uma audiência
com um representante do governo. Após a pressão feita pelos manifestantes, o
secretário da Educação, Wilson Risolia, e o secretário de Planejamento,
Sergio Ruy, se reuniram com representantes do Sepe (Sindicato dos
Professores Estaduais do Rio de Janeiro), porém não houve contraproposta
salarial por parte do governo.



Uma nova audiência foi marcada para esta quinta-feira (14). Os trabalhadores
da Educação decidiram permanecer em frente ao local até a realização desta
reunião.



Confira o vídeo feito pelo Sepe sobre o acampamento:
http://www.seperj.org.br/ver_video.php?cod_video=29



*Greve longa em MG -* Também em Minas Gerais os professores e funcionários
das escolas estaduais estão em luta por melhores salários e condições de
trabalho. Numa greve que já dura 37 dias. Nesta quarta-feira (13) eles
realizam uma assembleia estadual da categoria para definir os rumos do
movimento.



Na terça-feira (12), mais de mil pessoas, entre profissionais da Educação,
trabalhadores da saúde e estudantes secundaristas da Grande Belo Horizonte,
realizaram manifestação na Cidade Administrativa, em Belo Horizonte. Em
outras regiões do estado também ocorreram manifestações, como em João
Monlevade e Unaí.



O governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), se mantém
intransigente em atender as reivindicações da categoria, como o piso de R$
1597, o fim do subsídio e a recomposição da carreira. Os trabalhadores em
Educação exigem do governador a abertura de negociação imediata para que
sejam resolvidas as questões levantadas pela categoria.



*Piso nacional em SC -* Nesta quarta-feira (13), os educadores de Santa
Catarina, em greve desde o dia 8 de junho, que já conquistaram a legalidade
do movimento, lotaram as galerias da Assembleia Legislativa do Estado. Eles
são contra a aprovação do PLC (Projeto de Lei Completar) 026/2011 que,
segundo a categoria, desfigura o nível e referência da tabela salarial do
magistério e seria prejudicial ao Plano de Carreira.



Os trabalhadores reivindicam uma negociação com o governo para a discussão e
elaboração de um projeto que contemple o piso da carreira com a manutenção
de todos os direitos dos profissionais do magistério.



*Contra tutela antecipada em RN* – No Rio Grande do Norte, os trabalhadores
em Educação, em greve desde o dia 28 de abril, lutam contra a tutela
antecipada pelo governo do estado de ilegalidade da greve que será julgada
nesta quarta-feira (13).



A greve dos professores já contabiliza 73 dias. É a maior paralisação da
categoria nos últimos 11 anos. Diversas manifestações foram realizadas. Um
ato unitário aconteceu no dia 6 de julho, em Natal, com a participação de
cerca de 400 trabalhadores estaduais, que unificaram suas reivindicações e
fizeram um acampamento em frente à sede do governo. Dentre as categorias que
permanecem em greve naquele estado, estiveram presentes no protesto
servidores da Educação, do Detran/RN, da Tributação e da Universidade
Estadual, além de setores da administração indireta.



*Solidariedade -* A CSP-Conlutas manifesta seu apoio a todos (as) os (as)
profissionais de Educação que se encontram em greve. Também faz um chamado a
todas essas categorias a se unirem na Jornada de Lutas de Agosto, convocada
pela Central juntamente com outras entidades, que defende entre outras
medidas, uma educação pública e de qualidade.

Um lugar para Jango

Um lugar para Jango

João Goulart, que há 50 anos chegava à Presidência, é resgatado do limbo da memória do país em biografia que faz análise distanciada de paixões políticas

Bosco/Acervo UH - 11.nov.63/Folhapress

João Gourlart toma chimarrão em Goiás em 1963

ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO
Fraco, medíocre, demagogo. Fujão, covarde, traidor.

Direita e esquerda carimbaram vários adjetivos na imagem de João Goulart, o presidente deposto pelo golpe militar de 1964.

Esquecido, quase sem lugar nos livros de história, Jango tem em torno de si silêncio. Jorge Ferreira, 54, professor de história do Brasil na Universidade Federal Fluminense, busca desinterditar a memória desse personagem com "João Goulart, uma Biografia".

Nesta entrevista, ele fala do livro e diz que populismo não é um conceito teórico, mas uma desqualificação política. "Populista é sempre o outro, aquele de quem você não gosta", afirma.

Folha - Por que o sr. resolveu fazer esse livro?

Jorge Ferreira -
Estudei Getulio Vargas e o trabalhismo, daí a curiosidade sobre João Goulart. Foram dez anos de trabalho. Creio que chegou o momento de retirar Jango do limbo da memória do país.

Ele foi um personagem importante, mas as análises sobre ele não se distanciam das paixões políticas. Ora é definido como demagogo e incompetente, ora como vítima de um grande conluio de empresários brasileiros com o governo norte-americano. Quis conhecer o personagem para compreendê-lo, e não julgá-lo.

E o que encontrou de novo?

O livro é um relato biográfico, enfocando sua vida política e privada. Evitei enfoques sensacionalistas. Talvez a maior novidade seja lembrar à sociedade brasileira que um dia Jango foi líder político de expressão. Como diz o historiador inglês Eric Hobsbawm, o papel do historiador é lembrar à sociedade o que aconteceu no passado. Foi o que eu fiz.

Quais foram as influências sobre Goulart?
Goulart, assim como Brizola, era jovem quando Vargas instituiu a ditadura. Ele entrou para a política no período democrático. Em 1945 e 1946, a democracia liberal tinha grande prestígio. As esquerdas e o trabalhismo associaram os ideais democráticos com o nacionalismo, o desenvolvimentismo, as leis sociais e o estatismo.

Nos anos 1950, o Estado interventor na economia e nas relações entre patrões e empregados era um sucesso na Europa. Os trabalhistas observavam a experiência inglesa com o programa de estatizações e também o sucesso da industrialização soviética, com o Estado interventor e planejador da economia.

Também culpavam os Estados Unidos pela pobreza da América Latina.

Por que há pouco dados sobre o empresariado em relação a Goulart e aos militares?
O golpe de 1964 não foi dado por empresários que usaram os militares. O golpe foi dado por militares com apoio empresarial. A Fiesp, em inícios de 1963, apoiou Goulart na efetivação do Plano Trienal. Ele teve apoio de setores conservadores, desde que estabilizasse a economia, controlasse a inflação e se distanciasse das esquerdas, sobretudo dos comunistas e dos grupos que apoiavam Brizola na Frente de Mobilização Popular.

Os grandes empresários, os políticos conservadores e a imprensa se afastaram de Goulart e passaram a denunciar o "perigo comunista" no segundo semestre de 1963, quando a economia entrou em descontrole e Jango se aproximou das esquerdas.

Com o comício de 13 de março de 1964, os golpistas crescem e se unificam. A revolta dos marinheiros foi a fagulha que faltava, desencadeando gravíssima crise militar. A crise do governo Goulart tem uma história. É preciso reconstituí-la, com documentos e provas, superando repetidos jargões.

No livro o sr. discute a questão do populismo. Por que populismo continua sendo um termo pejorativo?
Sou crítico em relação ao conceito de populismo. Populistas podem ser considerados Vargas e Lacerda, Juscelino e Hugo Chávez, Goulart e Collor, FHC e Lula.

Personagens tão diferentes, com projetos díspares, com partidos políticos distintos são rotulados sob o mesmo conceito.

Qualquer personagem político pode ser chamado de populista, basta não gostar dele. Populista é sempre o outro, o adversário, aquele de quem você não gosta.

Não se trata de um conceito teórico, mas de uma desqualificação política. Eu prefiro nomear os personagens assim como eram chamados na época: Jango era trabalhista, Lacerda, udenista, e Prestes, comunista.

Qual é o maior legado de João Goulart?
O governo Goulart foi o auge do projeto trabalhista, que começou com as políticas públicas dos anos 1930, em época de autoritarismo. Mas que se democratizou, se modernizou e se esquerdizou a partir da segunda metade dos anos 1950.

Seus elementos fundamentais foram o nacionalismo, o estatismo, o desenvolvimentismo, a intervenção do Estado na economia e nas relações entre patrões e assalariados, a manutenção e a ampliação dos benefícios sociais aos trabalhadores, a reforma agrária e a liderança política partidária de grande expressão. Creio que muitas dessas tradições inventadas pelos trabalhistas ainda estão presentes entre as esquerdas brasileiras.

--


Fabrício Augusto Souza Gomes

E-mail: fabricio.gomes@gmail.com

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Região amazônica vai medir taxa de desmatamento do bioma

Região amazônica vai medir taxa de desmatamento do bioma

12/7/2011 13:21, Redação, com agências internacionais
A Amazônia representa 6% da superfície do planeta
A partir de agosto, uma série de estudos será feito pelos países da região amazônica para medir a taxa de desmatamento do bioma. A zona abriga 20% das reservas de água doce do planeta.
Segundo a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, o monitoramento sobre desmatamento busca harmonizar critérios para medir a perda de área verde, que varia de país para país.
Será o primeiro estudo desse tipo de alcance regional, e contará com especialistas de Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. Entre as causas do fenômeno do desmatamento, está a pressão sobre o uso da terra.
Também haverá o primeiro estudo de recursos hídricos fronteiriços, com o objetivo de promover uma melhor e mais adequada utilização da água, disse Dorfler.
A Amazônia representa 6% da superfície do planeta. Contém mais da metade do parque úmido tropical e 20% das reservas de água doce do mundo, o que a converterá em um território estratégico frente a fenômenos como o aquecimento global.
A região abarca 7,4 milhões de quilômetros quadrados – equivalentes a 40% da superfície do território sul-americano. É uma das mais diversas do planeta, habitada por 420 povos indígenas.