sábado, 28 de fevereiro de 2009

Caso Battisti - 2a parte

BATTISTI, O BRASIL E A ITÁLIA: PRINCÍPIOS Bernard-Henri Lévy (*) Será preciso repetir? Não está em questão, aqui, a pessoa de Cesare Battisti. Ignoro se ele cometeu, ou não, os crimes que lhe atribuem e que ele, desde o início, vem negando com veemência. E detesto, de maneira geral, esse terrorismo do qual ele foi propagandista e para o qual, quanto a mim, nunca encontro circunstância atenuante. Isso posto, vejo as reações da imprensa desde que o ministro da Justiça brasileiro, Tarso Genro, decidiu conceder-lhe refúgio político em seu país. Observo, na Itália, esse estranho clima de histeria à ideia de ver escapar um homem que, como milhares de outros, abraçou a tese imbecil da “luta armada”, mas que está sendo transformado (sic) no pior criminoso dos anos de chumbo, na encarnação do horror daqueles anos, na personificação do mal, no diabo. E acho necessário, seja como for, e embora o caso pareça um tanto secundário diante da crise social, da miséria que cresce ou da rebelião na Guadalupe, lembrar mais uma vez certo número de princípios. 1. A Itália é, sem dúvida alguma, uma grande democracia. Acontece, porém, de as mais incontestáveis democracias encerrarem pontos de imperfeição e zonas obscuras. Os Estados Unidos e a pena de morte... A tortura, na França, durante a guerra da Argélia... A Inglaterra minada, décadas a fio, por uma guerra civil irlandesa que parecia só ter solução pelo sangue e pelas leis de exceção... Pois assim também na Itália que, em meio à urgência do combate ao terrorismo dos anos 1970, muniu-se de um arsenal legislativo em que figurava, em especial, uma lei de delação premiada permitindo que um homem, acusando outro, comprasse parcial ou integralmente sua própria impunidade. Foi o que aconteceu com Battisti. Com base no depoimento de arrependidos (entre eles o chefe de seu grupo, o equívoco Pietro Mutti) é que ele foi, há vinte anos, condenado à prisão perpétua. E há nisso, com o distanciamento, quando já saímos do estado de emergência e é chegada a hora de cuidar das feridas, algo que não se pode aceitar. 2. Entre os pontos críticos da democracia italiana, existe essa outra esquisitice que é a lei da contumácia, pela qual um acusado, condenado em ausência e posteriormente apanhado pela justiça, tem sua sentença automaticamente aplicada sem a possibilidade, como no França ou no Brasil, de um novo julgamento. Battisti, quando julgado por contumácia, foi representado por um advogado a quem remetera uma procuração desde seu exílio mexicano? Não, afirma justamente Fred Vargas que, fundamentada em perícias grafológicas, demonstrou aos brasileiros que paira mais que uma dúvida sobre a autenticidade dessa procuração. E, mais que nada, a defesa por meio de advogado jamais irá substituir realmente o comparecimento perante o juiz, frente a frente, palavra contra palavra, de um homem sobre o qual pesam suspeitas tão terríveis. O que quer que tenha feito, ou possa ter feito, trinta anos atrás, o futuro autor de Cargo sentimental [Cargueiro sentimental], ele tinha também o direito de se encontrar, ao menos uma vez, com seus juízes. E porque esse direito não lhe foi oferecido, porque o código penal italiano estipula que ele seria, em caso de extradição, diretamente encaminhado para a prisão vitalícia, é que era justo conceder-lhe, embora o termo pareça inadequado, embora seja chocante, o estatuto de “refugiado político”. 3. Não se enfrenta um problema tão imenso como esse dos anos de chumbo italianos fabricando um monstro, jogando sobre ele a totalidade dos crimes de sua organização, costurando-lhe na pele todo o arsenal dos pecados de uma época da qual ele não foi mais que pálido figurante, produzindo, em suma, um bode expiatório cuja execução judiciária dará a impressão de se estar quite, mediante um mínimo esforço, com a tarefa de rememoração e de luto. Foi isso, no entanto, o que fez Silvio Berlusconi quando, há cinco anos, tirou da cartola esse nome Battisti já esquecido de todos, ou quase todos. É o que tem feito essa parcela da opinião pública italiana que prefere, ao acusar apenas Battisti, apagar a assustadora complexidade de uma época em que se enfrentaram terrorismos de extrema esquerda, terrorismos de extrema direita, além das manobras mafiosas de um Estado que instrumentalizava ambos os lados (vide o filme Il Divo, que Paolo Sorrentino acaba de dedicar ao inoxidável presidente do Conselho daqueles anos e anos seguintes, Guido Andreotti). E isso não é bom nem para a Itália de hoje nem para o combate ao terrorismo de amanhã e nem, em suma, para as vítimas que não terão nada, nada a ganhar se, para liquidar as contas, forem jogados aos leões culpados incertos. Não sei se foi nisso, nesses termos, que pensou o ministro da Justiça do presidente Lula. Mas acho que foi sábia a sua decisão. Acho que é insensato se enfurecer com o Brasil, transformado (e com que desprezo!) numa república das bananas mais conhecida por “suas dançarinas que por seus juristas”. Pois a verdade, nesse que nunca deveria ter se tornado o “caso Battisti”, é a seguinte: não importam as pessoas, nesse tipo de assunto; não importa que tenham uma cara boa, uma boa mídia, uma boa reputação e que nos inspirem, ou não, simpatia; princípios só são princípios quando não sofrem nenhuma exceção. (tradução: Dorothée de Bruchard) * Filósofo e escritor francês, é autor de O Século de Sartre.

Crise econômica - 4a parte

*O nome da crise*" É preciso sepultar equivocadas interpretações que ajudam a explicar nossatolerância ao problema do desemprego", escreve *CesarBenjamin<http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=19539>*, editor da Editora Contraponto, em artigo publicado no jornal *Folha de S.Paulo*, 21-02-2009. Segundo ele, "é preciso sepultar quatro interpretaçõesequivocadas, amplamente difundidas, que ajudam a explicar a nossa tolerânciaao problema".*Eis o artigo.*O Brasil assistiu com leniência a um salto no patamar histórico dodesemprego durante a década de 1990. Nos últimos anos, houve uma suave quedanos índices, mas tudo indica que no próximo período o problema se tornaránovamente agudo. A recente queda na produção industrial foi de quase 20% emapenas um trimestre, um recorde que sinaliza o início de um ciclo decontração. Os números sobre o desemprego acabam refletindo esse movimentocom alguma defasagem no tempo. É o que veremos nos próximos meses. Combateressa tendência será o grande desafio. É preciso sepultar *quatrointerpretações* equivocadas, amplamente difundidas, que ajudam a explicar anossa tolerância ao problema.O aumento do desemprego foi apresentado, nos últimos 20 anos, como umsubproduto do aumento da produtividade da economia brasileira, o quepermitia considerá-lo, implícita ou explicitamente, como um aspectoproblemático de um processo essencialmente desejável e virtuoso. Daí a ideiade uma certa inevitabilidade. É falso:* modernização técnica e emprego nãose excluem*. O problema é que, no Brasil, a produtividade aumentou muitomais do que a produção, pois o crescimento econômico foi rastejante.Quando a produção cresce com a produtividade, o nível de emprego se mantém.Quando cresce mais, ele aumenta.Uma *segunda interpretação* tem destacado a baixa qualidade da força detrabalho brasileira. Abandona-se, assim, a questão social (ofertainsuficiente de empregos) e se transfere o problema para os indivíduosafetados (sua "baixa empregabilidade").Porém, excetuando situações específicas, não representativas do conjunto,também é *falsa a ideia de que o trabalhador brasileiro não tem aqualificação que a economia demanda*. As estatísticas mostram que perdem oemprego, principalmente, pessoas com 35 a 45 anos de idade, chefes defamília, com experiência profissional e razoável qualificação.Na outra ponta, criam-se empregos, principalmente, no setor de serviços semqualificação: balconistas, vigilantes, motoboys e assim por diante.Ao contrário do que se pensa, nossa força de trabalho se tornousuperqualificada em relação ao tipo de emprego que foi criado nos últimos 20anos no Brasil, cuja economia perdeu capacidade de agregar valor a cadeiasprodutivas cada vez mais internacionalizadas.A *terceira interpretação* falsa destaca o excesso de encargos sociais.Divulga-se que eles representam 102% dos salários. A base desse cálculo estáerrada, pois ele considera encargos o descanso semanal, as férias, o décimoterceiro etc. Encargos, em todo o mundo, são apenas as contribuiçõesdestinadas a fundos coletivos que financiam políticas gerais.Tudo o que é apropriado pelo próprio trabalhador é parte do seu salário.Fazendo as contas corretamente, a relação entre encargos e salários, noBrasil, é de apenas 25%. Além disso, o que é relevante para o investimento éo custo total do trabalho, que se mantém idêntico nas duas contas e énotoriamente baixo entre nós. A retirada de direitos trabalhistas não geranenhum novo posto de trabalho.Por fim, repete-se que o *desemprego é uma situação típica das metrópoles,onde se realizam as pesquisas mensais, e não se repetiria no conjunto dopaís*. Porém o último Censo -a única pesquisa com abrangência nacional-apurou uma taxa média de 15,04% em todo o território, quando o desempregomedido pelo IBGE em regiões metropolitanas estava em torno de 7%.Combater essas mistificações é o primeiro passo para enfrentarmos o problemacom a seriedade que ele merece.

Crise econômica - 3a parte

Nem mesmo o Carnaval, com seus dias de alegria e folia pelo país, podeencobrir o drama do desemprego que avança com números já assustadores.Segundo dados do Ministério do Trabalho, no mês de janeiro foram fechados101.748 postos de trabalho com carteira assinada. Façamos as contas: isso dáuma média de 3.282 demissões por dia. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, desde novembro foram eliminados 800 mil empregos com carteiraassinada no país. Bem, a conta anterior fica então "modesta". Pois temosentão uma média diária de 8.800 postos de trabalho fechados por dia, semcontar já o mês de fevereiro. Sem falar que nas vésperas do Carnaval aEmbraer anuncia 4.200 demissões.E só estamos falando dos empregos formais, com carteira assinada, ainda nãosurgiram números e levantamentos das conseqüências da crise econômica sobreos setores mais precarizados, subempregados da classe trabalhadora.*Cinismo do grande capital *Naturalmente esta situação no Brasil é reflexo do agravamento da criseeconômica mundial, que parece não ter chegado ainda ao seu fundo do poço ajulgar pelos números da violenta retração recessiva nos países centrais, omassivo desemprego, a bancarrota de gigantes do setor financeiro e daprodução nos Estados Unidos, Europa e Japão.Números que indicam uma situação criminosa, repleta de cinismo do grandecapital e de bravatas do governo. Pois cá como lá, a receita do grandecapital é despejar sobre os trabalhadores o ônus da crise na forma dedemissões, retirada de direitos, enquanto governos e bancos centrais tratamde despejar montanhas de dinheiro para salvar o capitalismo.No Brasil, o cinismo começa pelas grandes empresas, que nos períodos decrescimento bateram recordes de produção e de lucros: bancos, montadoras,empresas exportadoras, como a Embraer. Mal começa a crise e os cálculos sãosimples para o capital: cortam-se os empregos e custos trabalhistas. Eaproveitando o momento de extrema dificuldade e defensiva em que ficam ostrabalhadores diante da ameaça do desemprego, recolocam na pauta a questãoda retirada de direitos trabalhistas, flexibilização dos salários e dajornada como contrapartida para garantir o emprego.Vejam o caso da Embraer. A empresa quer cortar 20% do seu quadro defuncionários, mas segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dosCampos a empresa tem uma carteira de pedidos firmes de US$ 21,6 bilhões dedólares e uma produção contratada de 270 aeronaves para 2009.*Política do governo não defende emprego*Mas há cinismo também nas excessivas bravatas do governo federal e dopróprio presidente, que se limita a manifestações públicas de desagrado coma situação, críticas aos empresários que demitem, mas não há medidasefetivas para estancar essa sangria dos postos de trabalho. Como se jáconformado com essa situação, uma das maiores medidas de impacto do governofoi anunciar uma tímida extensão das parcelas do seguro desemprego e aindaassim para alguns setores...Mas peguemos o próprio caso das 4.200 demissões da Embraer para avaliar oquilate do cinismo. Pois neste caso, o governo federal é acionista daEmbraer, ainda que minoritário, através do BNDES, sem falar dos fundos depensão de estatais que também participam da gestão da empresa. Maisimportante: como membro do Conselho de Administração, o governo, através doBNDES, tem poder de vetar as demissões...A questão é que o foco da política geral do governo para os tempos de criseé, em primeiro lugar, salvar os capitalistas, seus negócios e tentarreaquecer a economia pelo mercado interno. Volta-se a reduzir, ainda quetimidamente, taxas de juros, mantém-se um aumento real do mínimo, os bancosestatais liberam dinheiro para empresas, estatiza-se com reservas cambiais adívida externa de curto prazo das empresas privadas.Bem, as empresas tomam dinheiro do governo e compram títulos da dívidapública, fazem outras aplicações financeiras, mas continuam demitindo. Ogiro para o mercado interno com esse nível de desemprego, combinado com ofato, nada secundário, de que o endividamento da população (cartão decrédito, cheque especial, empréstimos consignados) está em torno de 40% doPIB, além da pressão concreta para a redução de salários, não dá umaperspectiva animadora de reaquecimento da economia. E sob o atual cenárioexterno catastrófico, não se reorienta em curto prazo uma economia voltadapara exportação para o mercado interno.*Medidas concretas e radicais *Há uma situação dramática que é a ausência de uma plataforma geral, de umacampanha nacional de massas que explicitasse um ponto de vista da classetrabalhadora para defender o emprego sem aceitar o jogo da flexibilização dedireitos e salários.Com o aval de direções sindicais colaboracionistas, pouco afeitas aconstruir uma resistência difícil, mas imprescindível para defender oemprego diante desta ofensiva, tem avançado o número de acordos que aceita aredução dos salários com redução de jornada.É necessária uma campanha nacional para exigir a proibição das demissões eestabilidade no emprego. Começar por uma ampla, massiva e unitária campanhapara barrar as mais de 4 mil demissões na Embraer já seria um ótimo ponto departida.A defesa da redução da jornada sem redução salarial e corte de direitosdeveria estar no topo de uma campanha nacional dos sindicatos e centrais queefetivamente se propõem a defender a classe trabalhadora, assim como arejeição a qualquer tipo de formato de reforma trabalhista.Também não se deve ter qualquer preconceito quanto a pautar na sociedademedidas que certamente seriam atacadas e vistas como absurdas ou radicaispelo grande capital e sua mídia. Por exemplo, o controle público e do Estadode empresas que estão demitindo em massa ou próximas de fechar. Qual seria oproblema de o Estado assumir o controle da produção e da empresa junto comos trabalhadores que nela trabalham diante de situação tão excepcional emque nos encontramos? Ou vamos continuar no terreno das declarações oficiaisapenas condenando a situação de desemprego massivo?Seria correta uma série de medidas práticas do Estado em relação aosdesempregados, como uma verdadeira extensão do seguro-desemprego para pelomenos 12 meses, aumento do seu valor, incluindo aí direitos para odesempregado, como verba para transporte; massiva e imediata política deinvestimentos estatais na construção de escolas, hospitais, casas, serviçosde infra-estrutura, não apenas para gerar empregos, mas também para levardignos serviços públicos e sociais para a maioria da população,especialmente nestes tempos de crise.Em tempo: para isso, não seria má idéia que se recolocasse na pauta asuspensão do pagamento dos juros da dívida pública. Medida que abririaamplas fontes de recursos para o governo investir na geração de empregos eserviços e para dar um fim na picaretagem que empresas e bancos continuamoperando, beneficiando-se dos títulos da dívida e dos seus juros para manterseus lucros ou diminuir prejuízos.Pois, enquanto isso...8.800 trabalhadores e trabalhadoras são demitidos pordia no Brasil...*Fernando Silva é jornalista*

Um partido que desistiu do socialismo proletário

* O significado do Novo Partido Anticapitalista (NPA) da França * Ao se organizar em torno de “idéias contestatórias”, partido organizado pelaLCR, do Secretariado Unificado, aproxima-se do reformismo e abandona aestratégia revolucionária Raoul Guzman, de Paris • Numa entrevista intitulada *A extrema esquerda não deveria ser uma reservaindígena*, publicado no site de informações Mediapart em 22/05/08 OlivierBesancenot nos apresenta sua visão política e defende o projeto do Novo Partido Anticapitalista (NPA). Começa afirmando, de maneira correta, que asmobilizações do inverno de 1995 marcaram uma virada na luta de classes naFrança e que *“existe uma resistência que permanece e que se exprime mesmonos momentos difíceis. Muita gente pensava que a eleição de Sarkozy poderiaacarretar um golpe nas mobilizações, mas não foi o caso, as resistênciascontinuam”*. Depois, Olivier especifica os objetivos almejados com o lançamento do NPA: *“Aaposta é dupla. Há conflitos em cascata em setores que não estavamhabituados a ter gente entrando na luta. No comércio, Pizza Hut, McDonald’s,Fnac. Então, a primeira coisa pra nós é dar uma resposta política a essagente que descobriu o engajamento em suas novas lutas. Pra nós, trata-se deestar em sintonia com suas aspirações, de responder à sua vontade de ir maislonge. A segunda aposta é recriar um sentimento de classe majoritário queseja a imagem do proletariado tal como ele existe hoje”*. O primeiro objetivo, ou seja, procurar fornecer uma resposta política àaltura da demanda manifesta nas mobilizações, é completamente legítimo. Éeste, acreditamos modestamente, um objetivo buscado por todo militantepolítico que se respeite, que seja digno desse nome. A segunda aposta parecemais ampla, diríamos. Apesar das lutas em cascata em setores não *“habituadosa vê-las”*, apesar do fato de *“jamais ter havido tantos explorados”*,o *“sentimentode classe”* nunca foi tão fraco, afirma Olivier Besancenot. Mas então comoexplicar todas essas lutas, essas greves, essas ocupações? Seria possívelque o sentimento de classe esteja mais forte entre os trabalhadores do quepensa a Liga Comunista Revolucionária (LCR)? Besancenot resume assim seupensamento: *“Então o problema concreto é partir das lutas para reconstruirum sentimento de classe para esse novo proletariado”*. Se o objetivo centraldesse novo partido é de reconstruir um sentimento, por mais honorável queseja, e não de desenvolver a luta, então a burguesia pode dormir sossegada. Após essa análise político-sentimental, Besancenot prossegue e precisa: *“Desdea queda do Muro de Berlim, dizemos que é necessário um novo partido e umnovo programa, porque pensamos que há um ciclo histórico que começou em 1917com a Revolução Russa e que terminou em 1989. Dizer que este ciclo históricoterminou não significa que se deva rejeitar em bloco esse período, mas que énecessário observá-lo para tirar ensinamentos do que se deve ou não fazer, eao mesmo tempo compreender que estamos em um novo período. A Revolução Russa não pode continuar sendo o ponto de referência que foi para todas as organizações revolucionárias durante um século”*. Agora que a tese está posta, podemos entrar no mérito da questão. *O NPA não é o futuro do movimento operário * Para construir o partido revolucionário, podemos utilizar diferentesmediações táticas. Entretanto, não devemos jamais esquecer o objetivoestratégico, a construção de um partido revolucionário de massas para atomada do poder pelo proletariado, para a instauração de uma ditadurarevolucionária do proletariado, um poder capaz de submeter os elementos maisreacionários da burguesia, de quebrar suas instituições. A instauração de umgoverno a serviço dos trabalhadores só poderá ser feita a esse preço. Não poderemos chegar ao socialismo sem passar por um período transitório deduro enfrentamento entre as forças da reação e aquelas da revolução. Esteperíodo transitório será mais ou menos longo, o que dependerá do fatorsubjetivo, do partido e de seu programa. E sobretudo, no quadro doimperialismo, tal batalha será travada e resolvida em grande parte na arenainternacional. É esta uma das principais lições da Revolução de Outubro, dafalência do stalinismo e de sua teoria dita do “socialismo num só país”. Nãose trata apenas de construir “solidariedades internacionais”, mas também deconstruir uma ferramenta capaz de resistir às instituições militares eeconômicas internacionais do imperialismo. *Uma questão secundária... * *“Falo a título pessoal. Quando alguém me pergunta quem sou, digo quepenso que é necessário derrubar esse sistema e colocar outro em seu lugar. Éa natureza de meu engajamento. Depois, cada um tem seu método para o fazer,mas isso é secundário. Não vamos passar nosso tempo a discutir sobre nossarelação com Trotsky e a Revolução Russa. É necessário antes de tudo agirpela revolução. A clivagem reforma-revolução evoluiu. Hoje não há maisrevolucionários face a reformistas, mas revolucionários face a gestores dosistema”*. Assim, reformistas “sinceros” e revolucionários poderiam co-habitar nummesmo partido? Então, esse partido não será mais revolucionário! Aliás, oNPA não possui nem mesmo um projeto de sociedade claramente definido. É oque se afirma nas “Resoluções do Congresso Nacional da LCR”: *“Dêmo-nos umpartido para inventar o socialismo do século XXI”*. Ademais, a fórmula é tãovaga que foi retomada por Fabius na sua contribuição para o congresso doPartido Socialista (PS). O antigo primeiro-ministro de Mitterrand propõe“seis linhas diretrizes para um socialismo do século XXI...”. É já um poucomais preciso. Nada de projeto de sociedade claramente definido, portanto. A fórmula induza uma suposição: a de que o socialismo do século XX não é mais atual. Ou,mais precisamente, que as lições e conquistas da Revolução de Outubroempreendida pelos bolcheviques não são mais atuais. Teríamos então mudado deera, não estaríamos mais na época das guerras e das revoluções?Aparentemente sim, teríamos mudado, já que segundo a LCR o socialismo e ocomunismo do século XX se reduziriam hoje, no século XXI, a “idéiascontestatórias”. No entanto, desde há muitos anos, todas as experiênciasnovas de reforma, por contestatórias que fossem em aparência, tornaram-seinelutavelmente seu contrário. Seja na França (Mitterrand, Jospin), Espanha(Felipe Gonzáles, Zapatero), na Itália (D’Alema), Brasil (Lula), Venezuela(Chávez) ou Bolívia (Evo Morales). Afirmamos que todos aqueles que se fiam, por pouco que seja, no projeto doNPA, ou reconhecem nele aspectos progressistas ou anticapitalistas seequivocam. Na verdade, esse projeto corresponde à adaptação ao sistemacapitalista, via uma política neo-reformista, de uma corrente internacionalsaída do trotskismo, do Secretariado Unificado (SU). Hoje, o que estruturaessa corrente é a hipótese de humanizar o sistema por meio de suacontestação permanente. Ora, desde o advento da era imperialista tal comodefinida por Lênin, essa possibilidade não existe mais. Em compensação, apósa queda do stalinismo, existe a chance de se construir partidos operáriosrevolucionários pelo socialismo. A LCR decidiu, por meio de seu projeto do Novo Partido Anticapitalista e dasdeclarações de Olivier Besancenot, romper definitivamente sua ligação com acorrente trotskista de onde ela surgiu, para se transformar em um novopartido de tipo reformista contestatório. Sem nenhum projeto de sociedadealternativa ao capitalismo, sem método ou estratégia revolucionária, oanticapitalismo deste NPA será de fachada. Seu futuro é incerto porque, noterreno do reformismo, do eleitoralismo, existem outros projetos mais oumenos direitistas. A concorrência será dura com os altermundialistas, oPartido Socialista e vários outros. França: Liga Comunista Revolucionária se dissolve * Alberto Madoglio, da Itália • Organização francesa ligada ao Secretariado Unificado se dissolve paracriar “nova organização anticapitalista”. Mas qual é o limite deste tipo deorganização? O Portal publica, abaixo, um artigo do Partido da AlternativaComunista, seção italiana da LIT. O texto mostra tais projetos foram vãos eacabaram resultando numa combinação entre o reformismo e o centrismo, comoindicam as experiências da Refundação Comunista (Itália) e dos zapatistas(México) Entre os dias 24 e 27 de janeiro, ocorreu, em Saint Denis, periferia deParis, o XVII Congresso da Ligue Comuniste Revolutionnaire (LCR), no qual sedecidiu, por larga maioria (mais de 80%), dar início ao processo de criaçãode um “novo partido anticapitalista” e, conseqüentemente, dissolver a LCR. Não é de hoje que a LCR (assim como a tendência internacional da qual elafaz parte, o Secretariado Unificado – SU – representado no Brasil pelacorrente Democracia Socialista do PT) não é uma organização consequentementerevolucionária. Todavia não nos pode deixar indiferente o fato que a rupturadefinitiva com os últimos vestígios do patrimônio político do comunismovenha em 2008, exatamente quarenta anos depois da fundação deste partido quesob impulso do Maio de 1968 francês foi por muito tempo uma das maioresforças da extrema esquerda mundial. O processo que os delegados da LCR iniciaram não é uma novidade absoluta. Jáhá muitos anos, em particular desde o início dos anos 90, com a dissoluçãoda União Soviética, que se assiste a experiências políticas que, na intençãoque se propõem, deveriam ser a solução da crise de representação e depropostas políticas que os trabalhadores em nível internacional vêmenfrentando depois do fim da onda revolucionária dos anos 60-70 e depois dodesmoronamento do stalinismo. Contudo, todas as vezes a realidade demonstrou como tais projetos foramvãos, pois a falência já estava inscrita no seu DNA. Foi assim com omovimento zapatista guiado pelo subcomandante Marcos, que não só nãoconseguiu acabar com o domínio da burguesia mexicana, mas nem mesmoconseguiu restituir a dignidade política e social da população indígena dopaís. O mesmo sucesso se deu com o projeto político do PT brasileiro quetantas ilusões disseminou pelo mundo através da experiência do orçamentoparticipativo e do Fórum Social Mundial de Porto Alegre. Porém, uma vezchegando ao governo com Lula, o partido demonstrou ser o melhor garantidordos interesses do imperialismo no continente sul americano. Tudo isso para não falar da Itália, onde 15 anos de propaganda do PRC(Partido da Refundação Comunista) acabou se traduzindo na participaçãodireta em um dos governos mais antioperários que a Itália conheceu desde ofim da segunda guerra mundial. Não é só a experiência passada que nos faz dizer que também este novoprojeto que nascerá sobre as cinzas da LCR é destinado a falência: é,sobretudo, uma crítica a proposta política adotada que nos faz chegar a estaconclusão. Se a análise que a LCR faz da crise da sociedade capitalista e da bancarrotadas organizações operárias tradicionais, mesmo sendo absolutamentesuperficiais, podem ser em geral compartilhadas. E se a presença dareivindicação da luta por uma sociedade socialista, poderia nos induzir adar um juízo positivo desta tentativa política, uma leitura mais atenta dasteses aprovadas não deixa dúvida sob o significado liquidador desta decisão.Antes de tudo, o chamado ao socialismo encontra-se totalmente desligado daluta pela conquista da hegemonia política dos setores politicamente ativosda classe operária, através de um programa de reivindicações transitório,que tem como fim a destruição da hegemonia política, econômica e social daburguesia e a substituição da ditadura de uma minoria privilegiada pela daimensa maioria da população. De tal modo este chamado se reduz a umreferência ao socialismo como um abstrato horizonte da humanidade, que secombina com o reformismo da sociedade atual. Uma combinação que semprecaracterizou o reformismo e o centrismo dos últimos dois séculos. Por outro lado, a reivindicação da experiência da “revolução bolivariana” deChávez e da sua tentativa de construir o “socialismo do século XXI”demonstra quanto as teses estão distantes do que teorizaram e praticaram oscomunistas com Marx, Lênin, Trotsky e com Outubro. Uma confirmação dos limites estreitos desta perspectiva pode ser encontradalendo a proposta adotada sobre a atitude a ser assumida nas próximaseleições municipais, nas quais a escolha é simplesmente entre um possívelacordo de governo local com o Partido Socialista ou com o PCF (PartidoComunista Francês) ou, ainda, a possibilidade de um simples apoio externo aum governo local de centro esquerda (também neste caso não excluindo asustentação ao Partido Socialista). No que concerne a uma eventualidade de sustentar um governo decentro-esquerda, os documentos se limitam a dizer que esta escolha dividiuas forças anticapitalistas e antiliberais no Brasil e na Itália, mas nãodizem de fato que tal política é insustentável. Os companheiros franceses,portanto parecem inspirar-se na experiência de seus primos italianos daEsquerda Crítica (ou vice e versa) que, por dois anos, forneceram ao governoProdi um apoio parlamentar determinante (lembre-se as variadas ocasiões queos dois deputados desta organização, Cannavò e Turigliatto, apoiaram o votode confiança no governo, ou as inumeráveis ocasiões em que o segundo noSenado, não participando das votações, contribuiu indiretamente para salvara vacilante destino de Prodi) e que, também depois de terem rompido com aRefundação Comunista, afirmaram que avaliariam “caso a caso” se sustentariamou não o executivo de centro-esquerda, definindo-se por isto sua organizaçãocomo tendencialmente (sic!) de oposição. Por isto a proposta organizativa da Esquerda Crítica assemelha-se muito comaquela adotada na França. Assim no texto aprovado em sua assembléia defundação (dezembro passado) se afirma que “o marxismo não é a única teoriade liberação a qual terão por referência” e propõem a constituição de umagenérica “rede anticapitalista” em ruptura com toda referência ao trotskismoentendido como programa marxista revolucionário atual. A Liga Internacional dos Trabalhadores, nas suas teses para o VIII CongressoMundial, falava do “vendaval oportunista” para indicar o fenômeno políticoque depois da queda do Muro de Berlin arrastou diversas tendências domovimento operário mundial, tornando-as direta ou indiretamente responsáveispela política antioperária da burguesia. Quase vinte anos de distânciadestes eventos, este “vendaval” ainda faz sentir seus efeitos. Quem se iludeque da crise do stalinismo e da definitiva traição da social-democracia sepossa sair com inovações político-organizativas não indica uma viaalternativa para chegar a nossa meta (a alternativa de sistema), mas condenamais uma vez os jovens, os trabalhadores, as mulheres e todos os oprimidos anovas e mais devastadoras derrotas. Por isto a luta pela construção de verdadeiros partidos comunistas em cadapaís e de uma internacional comunista revolucionária, torna-se cada vez maisuma necessidade inadiável. Só um partido fundado sobre um programaautenticamente de classe e comunista pode fornecer a resposta concreta, nãosó para por fim a escravidão do proletariado, mas também a opressão degênero, ao racismo e a xenofobia, a devastação ambiental que uma sociedadefundada sobre o lucro coloca em questão cotidianamente. *Tradução: Rodrigo Ricupero*

domingo, 15 de fevereiro de 2009

A lenda do jogo de xadrez

Willian Conde A criação do jogo de xadrez é muito discutida, inúmeras hipóteses podem ser aceitas, mas a famosa lenda narrada por Beremiz Samir, o homem que calculava*, é bastante curiosa: Em uma época não muito precisa viveu e reinou na Índia um rico e generoso rei chamado Jadava. Durante uma guerra o generoso monarca perde seu filho, o príncipe Adjamir, e a partir deste fato se encerra em seus aposentos e só aparece para atender aos ministros e sábios, quando algum problema nacional o chamava a decidir. Após tantos dias angustiado, o rei é informado de que jovem sábio, pobre e modesto, solicitava sua audiência havia algum tempo. Como estivesse com boa disposição atendeu ao jovem. Seu nome era Lahur Sessa (nome do inventor do xadrez, significa natural de Lahur). Ele apresenta ao rei sua invenção, um grande tabuleiro quadrado, dividido em 64 casas iguais; sobre esse tabuleiro colocavam-se 2 coleções de peças distinguidas pelas cores brancas e pretas e curiosas regras que lhe permitiam movimentar-se de várias formas. Sessa explicou o jogo pacientemente ao rei e aos que o rodiavam. O monarca aprendeu rápido e após várias partidas ganhas o rei agradece ao jovem e tenta lhe recompensar pelo presente. Sessa permanece imperturbável e diz que não deseja nenhuma recompensa, queria apenas proporcionar momentos agradáveis ao soberano. O rei não crendo na sinceridade de Sessa insiste que ele escolha uma recompensa tão valiosa quanto o jogo de xadrez; diante de tal insistência, o jovem pede-lhe o pagamento em grãos de trigo, 1 grão de trigo pela 1ª casa do tabuleiro, 2 pela segunda, 4 pela terceira, 8 pela quarta, até a 64ª casa do tabuleiro, formando assim uma progressão geométrica. Todos riram do estranho pedido, pois Sessa poderia pedir tesouros e palácios. O rei chama o jovem de insensato e diz que com 2 ou três medidas de trigo pagaria facilmente o pedido. Mandou chamar os algebristas mais hábeis da corte e ordenou-lhes que calculassem a porção de trigo. Obtiveram um número cuja grandeza era inconcebível para a imaginação humana. A medida de trigo equivalia a uma montanha 100 vezes mais alta que o Himalaia e se a Índia semeasse todos os seus campos, não produziria em 2000 séculos a quantidade de trigo prometida pelo rei. Sessa não querendo deixar o rei constrangido perante os seus súditos, abre mão do seu pedido e acrescenta: Os homens mais avisados iludem-se não só diante da aparência enganadora dos números, mas também com a falsa modéstia dos ambiciosos. Infeliz daquele que toma sobre os seus ombros o compromisso de uma vida dividida cuja grandeza não pode avaliar. Mais avisado é o que muito pondera e pouco promete. * Do livro "O Homem que Calculava" de Malba Tahan.

Desemprego e fome nos EUA

Desemprego e fome se espalham... nos EUA*  - *15/2/2009* -
http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=20006

A primeira reação costuma ser de espanto, e é seguida de uma pergunta: como
é que os cidadãos do país mais rico do mundo podem chegar a um nível
financeiro tão desesperador? Em seguida, surge entre eles próprios a segunda
reação: lamentar-se com uma dose de constrangimento misturada à outra de
vergonha.

Isso é perceptível até mesmo no jargão oficial do governo.

A reportagem é de *José Meirelles Passos* e publicada pelo jornal *O Globo*,
15-02-2009.

Suas estatísticas mostram que hoje uma em cada nove residências é habitada
por pessoas com "insegurança alimentar". Esse passou a ser o termo usado
para se admitir, de forma menos chocante, de que se tratam de famílias que
chegam a passar fome.

O desemprego crescente — que já atinge a marca de 22,6% em alguns casos — é
uma das maiores causas dessa realidade.

Nada menos do que 3,6 milhões de pessoas ficaram sem trabalho desde dezembro
de 2007, quando começou a recessão. E a estimativa é que mais dois milhões
engrossarão esse contingente até dezembro próximo.

Os chamados "Centros de Carreira", 2.942 postos federais de treinamento e
ofertas de empregos, criados pelo Congresso dez anos atrás, jamais foram tão
freqüentados como nos últimos meses. Eles passaram a ser definidos como
"prontos-socorros" da economia americana:

— O que estamos vendo é um show de horror! – afirmou *Lawrend Mishel*,
presidente do Economic Policy Institute, um centro de pesquisas econômicas
de Washington.

*Classe média faz bico para enfrentar crise *

Cerca de 40 milhões de pessoas nos Estados Unidos não têm o suficiente para
comer. O número de americanos sobrevivendo graças a cupons alimentares
distribuídos pelo governo já ultrapassou pela primeira vez, em novembro
passado, a cifra de 30 milhões.

Trata-se, na verdade, de um cartão eletrônico para ser usado unicamente em
supermercados e armazéns. Para ter direito a ele, o chefe de família precisa
ter uma renda abaixo do equivalente a 130% do índice federal de pobreza
(pouco menos de US$ 2.300 mensais para uma família de quatro pessoas).

Só que o cartão compra cada vez menos, apesar de ser ajustado de acordo com
a inflação.

O seu valor hoje — US$ 110 mensais — é US$ 64 menos do que seria o
necessário para se levar para casa alimentos suficientes para cobrir a dieta
básica estipulada pelo Departamento de Agricultura, para uma família de
quatro pessoas. Por isso, muitas vão também aos centros de caridade que
servem refeições diárias: a procura aumentou 20% nas áreas mais ricas e 40%
nas mais pobres.

O aperto está atingindo em cheio inclusive a classe média.

*Richard*, que tinha um ótimo emprego até dezembro passado, está conseguindo
viver sem aquela ajuda — ainda que a um custo que define como igualmente
humilhante. Ele era alto funcionário na *General Dynamics*, firma
aeroespacial sediada em Falls Church, vizinha da capital americana, e que
também produz submarinos e sistemas avançados de combate para o Pentágono.

*Richard*, de 56 anos, ganhou o suficiente para comprar uma ampla casa, dois
carros importados e até uma lancha. Agora, faz das tripas coração para
tentar manter tais bens, ao preço de uma queda vertiginosa em seu padrão de
vida: ele agora trabalha à noite — das 22h às 5h — carregando mercadorias em
caminhões da UPS, a firma de entregas rápidas.

Dias atrás, ele comemorou o fato de ter conseguido um segundo bico, ainda
que seja para trabalhar *part time*, sem benefícios, no setor que deflagrou
a crise financeira: o de hipotecas, no qual se estima que mais dois milhões
de casas serão arrestadas este ano.

Ele começou a trabalhar numa financeira, aceitando ganhar comissão (2,5%)
que é metade do que a de praxe, para cobrar hipotecas atrasadas durante
algumas horas do dia.

— É um trabalho ingrato. Me corta o coração bater na porta das casas e
apresentar a cobrança, sabendo exatamente, na própria pele, o sacrifício que
as famílias estão fazendo para conseguir sobreviver — disse *Richard*,
praticamente implorando para que seu sobrenome e sua foto não fossem
publicados, sob o argumento de que jamais se sentiu tão envergonhado.

*Na Califórnia, mais cidades com desemprego alto*

Resta saber se o pacote de estímulo econômico de US$ 787 bilhões que o
presidente *Barack Obama* deverá assinar amanhã será suficiente para mudar,
pelo menos em parte, a evidente deterioração no padrão de vida dos
americanos.

Algo realmente não vai bem quando, de uma lista de 34 cidades onde o índice
de desemprego atingiu dois dígitos, 12 são da Califórnia — o estado mais
rico dos EUA.

E ali está o recorde nacional: em El Centro, cidade de 40 mil habitantes,
onde nasceu a cantora *Cher*, nas imediações de San Diego, está com nada
menos do que 22,6% de desempregados.

Ali há dois casos semelhantes ao registrado em New Franklin, no estado de
Ohio — onde 85% dos trabalhadores de uma fábrica de ferramentas que fechou
há um ano até agora não conseguiram outro emprego.

Fúria das Opus Dei na América Latina

Fúria do Opus Dei na América Latina por Altamiro Borges* O jurista Ives Gandra da Silva Martins, principal expoente da seita fascista Opus Dei no Brasil, está preocupado com o avanço das esquerdas na América Latina. Num artigo raivoso na coluna Tendências/Debates da Folha de S.Paulo, ele destilou ódio e preconceito contra Hugo Chávez, Evo Morales, Fidel Castro e Lula. Ele aproveitou também para criticar a "falta de preparo" de governantes pelo mundo afora e para oferecer seus cursinhos às novas gerações de dirigentes políticos. "Neste mundo atormentado por falsas lideranças e fantástica mediocridade, creio que valeria a pena a idéia, que propus em meu livro, de uma `escola de governo'... financiada pelos governos". No meio do arrazoado direitista, um merchandising para os seus lucrativos negócios! Na sua ótica elitista, "colhe o mundo, atualmente, uma notável safra de pseudolíderes, populistas e despreparados, que conduzem nações mais ou menos desenvolvidas exclusivamente baseados no poder de comunicação com o povo, principalmente com a parcela menos favorecida". Nesta safra, segundo o líder da seita, estariam incluídos "o histriônico presidente venezuelano – capaz de criar desnecessárias resistências por ser incapaz de controlar seus repentes e ofensas –, que transforma o narcotráfico colombiano e sua indústria de seqüestros em `idealística' guerrilha... O mesmo se pode dizer de Morales, que também pretende se perpetuar no poder e que começa, com sua enciclopédica e truculenta ignorância, a dividir a nação". A influência da seita fascista Após criticar o presidente Lula por elevar impostos que atingem principalmente os bancos, Ives Gandra encerra a safra latino- americana com mais uma esquizofrenia fascistóide. "É de lembrar que os três presidentes são amigos de um ditador que fuzilou, sem julgamento – os homicídios perpetrados nos famosos `paredóns' –, muito mais pessoas que Pinochet". Além de mentir sobre a realidade dos direitos humanos em Cuba, ele não consegue esconder a sua simpatia pelo regime ditatorial do Chile, que sempre teve o ativo apoio do Opus Dei. Até quando critica a "desastrada presidência de George W. Bush", Ives Gandra alerta para "o risco do voto num outro populista despreparado para conduzir seus destinos" – talvez numa referência doentia a Barack Obama. As idéias direitistas e preconceituosas do Opus Dei já são conhecidas, mas é bom não subestimar a influência desta seita mundial – que goza de espaços na mídia burguesa e tem forte presença no aparato estatal. Seu interesse pela América Latina também não é novo e paira sempre ameaçador. Desde a sua chegada ao continente, nos anos 50, o Opus Dei planeja ardilosamente sua ascensão ao poder. O projeto só ganhou ímpeto com a onda de golpes militares na região a partir dos anos 60. Seus seguidores presidiram várias nações ou assessoraram inúmeros ditadores. Nos anos 90, com a avalanche neoliberal, os tecnocratas fiéis a esta seita voltaram a gozar de certo prestígio. "Catequese" na América Latina Nos anos 50, a seita aliciou seus primeiros fiéis entre as velhas oligarquias que procuravam se diferenciar dos povos indígenas e pregavam o fundamentalismo religioso. Mas o Opus Dei só adquiriu maior pujança com a onda de golpes a partir dos anos 60. Até então, a sua ação ainda era dispersa. Segundo excelente artigo de Marina Amaral na revista Caros Amigos, "em 1970, Josemaría Escrivá [fundador da seita na Espanha] viajou para o México dando início às `viagens de catequese' pelas Américas que duraram até as vésperas de sua morte em Roma, em 1975". Em 1974, visitou a América do Sul, então dominada por ditaduras. "O clero progressista tentava usar o peso da Igreja para denunciar torturas e assassinatos e para lutar pelo restabelecimento da democracia. Em suas palestras, ele respondeu certa vez a um militar que perguntara como seguir o caminho da `santificação espiritual' do Opus Dei: `Os militares já têm metade do caminho espiritual feito'". Neste período sombrio, a seita apoiou os golpes e participou de vários governos ditatoriais, segundo Emílio Corbière, autor do livro "Opus Dei: El totalitarismo católico". No Chile, a seita fascista foi para o ditador Augusto Pinochet o que fora para Augusto Franco na Espanha. O principal ideólogo deste regime sanguinário, Jaime Guzmá, era um membro ativo da seita, assim como centenas de quadros civis e militares. Ela ainda apoiou os golpes e participou dos regimes autoritários na Argentina, Paraguai e Uruguai. Segundo Corbière, ela financiou o regime do ditador nicaragüense Anastácio Somoza até sua derrota para os sandinistas. Na década de 90, ainda deu "ativa assistência" à ditadura terrorista e corrupta de Alberto Fujimori, no Peru. O fundamentalismo neoliberal Outra fase "próspera" se dá com a ofensiva neoliberal nos anos 90. Gozando da simpatia do papa e de autonomia frente às igrejas locais, ela se beneficia da invasão de multinacionais espanholas, fruto da privatização das estatais. Muitas delas são influenciadas por numerários do Opus Dei. Segundo Henrique Magalhães, em artigo na revista A Nova Democracia, "a Argentina entregou as suas estatais de telefonia, petróleo, aviação e energia à Telefônica, Repsol, Ibéria e Endesa. A Ibéria já havia engolido a LAN [aviação], do Chile, onde a geração de energia já era controlada pela Endesa. Os bancos espanhóis também chegaram ao continente neste processo". "O Opus Dei é para o modelo neoliberal o que foram os dominicanos e os franciscanos para as cruzadas e os jesuítas para a Reforma de Lutero", compara José Steinsleger, colunista do jornal mexicano La Jornada. Nos anos 90, a seita também emplacou vários bispos e cardeais na região. O mais famoso foi Juan Cipriani, do Peru, amigo intimo do ditador Alberto Fujimori. Em 1997, quando da invasão da embaixada do Japão por militantes do Movimento Revolucionário Tupac Amaru, o bispo se valeu da condição de mediador e usou um aparelho de escuta no crucifixo, o que permitiu à polícia invadir a casa e matar todos seus ocupantes. Os tentáculos no Brasil No Brasil, o Opus Dei fincou a sua raiz em 1957, na cidade de Marília, no interior paulista, com a fundação de dois centros. Em 1961, dada à importância da filial, a seita deslocou o numerário espanhol Xavier Ayala, o segundo na hierarquia. "Doutor Xavier, como gostava de ser chamado, embora fosse padre, pisou em solo brasileiro com a missão de fortalecer a ala conservadora da Igreja. Às vésperas do Concílio Vaticano II, o clero progressista da América Latina clamava pelo retorno às origens revolucionárias do cristianismo e à `opção pelos pobres', fundamentos da Teologia da Libertação", explica Marina Amaral. Ainda segundo a reportagem, "aos poucos, o Opus Dei foi encontrando os seus aliados na direita universitária. Entre os primeiros estavam dois jovens promissores: Ives Gandra e Carlos Alberto Di Franco, o primeiro simpático ao monarquismo e candidato derrotado a deputado; o segundo, um secundarista do Colégio Rio Branco, dos rotarianos do Brasil. Ives começou a freqüentar as reuniões do Opus Dei em 1963; Di Franco `apitou' (pediu para entrar) em 1965. Hoje, a organização diz ter no país pouco mais de três mil membros e cerca de quarenta centros, onde moram aproximadamente seiscentos numerários". Crescimento na ditadura Durante a ditadura, a seita também concentrou sua atuação no meio jurídico, o que rende frutos até hoje. O promotor aposentado e ex- deputado Hélio Bicudo revela ter sido assediado duas vezes por juízes fiéis à organização. O expoente nesta fase foi José Geraldo Rodrigues Alckmin, nomeado ministro do STF pelo ditador Garrastazu Médici em 1972, e tio do candidato tucano a presidência em 2006. Até os anos 70, porém, o poder do Opus Dei era embrionário. Ele tinha quadros em posições importantes, mas sem uma atuação coordenada. Além disso, dividia com a Tradição, Família e Propriedade (TFP) as simpatias dos católicos de extrema direita. Seu crescimento dependeu da benção dos generais e dos vínculos com poderosas empresas. Ives Gandra e Di Franco viraram os seus "embaixadores"

, relacionando-se com os donos da mídia, políticos de direita, bispos e empresários. É desta fase a construção da sua estrutura de fachada – Colégio Catamarã (SP), Casa do Moinho (Cotia) e Editora Quadrante. Ela também criou uma ONG para arrecadar fundos: OSUC (Obras Sociais, Universitárias e Culturais). Esta recebe até hoje doações do Itaú, Bradesco, GM e Citigroup. Diante desta denúncia, Lizandro Carmona, da OSUC, implorou à jornalista Marina Amaral: "Pelo amor de Deus, não vá escrever que empresas como o Itaú doam dinheiro ao Opus Dei". Ofensiva recente na região Na fase recente, o Opus Dei fixou planos mais ousados para conquistar poder político na região. Em abril de 2002, participou ativamente do frustrado golpe contra o presidente Hugo Chávez, na Venezuela. Um dos seus fiéis, José Rodrigues Iturbe, virou ministro das Relações Exteriores do fugaz governo golpista. A embaixada da Espanha, governada na época pelo franquista Partido Popular (PP), de José Maria Aznar – cuja esposa é do Opus Dei –, deu guarita aos seus fiéis. Outro golpista ligado à seita, Gustavo Cisneiros, é o maior empresário das comunicações no país. Em dezembro de 2006, a seita assistiu a derrota do seu candidato, Joaquim Laví, ex-assessor do ditador Augusto Pinochet, à presidência do Chile. Já em maio de 2006, colheu nova derrota com a candidatura de Lourdes Flores, numerária do partido Unidade Nacional. Em compensação, ela festejou a vitória do narcoterrorista Álvaro Uribe na Colômbia, que dispôs de milhões de dólares do governo George Bush. Já no México, outro conhecido fiel do Opus Dei, Felipe Calderon, ex-executivo da Coca-Cola, venceu uma das eleições mais fraudulentas da história deste país. A sua jogada mais ousada, porém, foi a tentativa de eleição de um seguidor no Brasil. Segundo Henrique Magalhães, "as esperança do Opus Dei se voltaram para Geraldo Alckmin, que hoje é um de seus quadros políticos de maior destaque. A Obra tentou fazer dele presidente para formar um eixo geopolítico com os governantes da Colômbia e do México". A mídia e os tucanos até tentaram esconder esta sombria ligação. Numa sabatina à Folha de S.Paulo, Alckmin garantiu: "Não sou da Opus Dei; respeito quem é, mas não conheço". Mentiu ao esconder suas estreitas relações com a seita fascista – desde seus tempos de infância, no convívio com seu pai e o tio- ministro do STF da ditadura, até às ilícitas "palestras do Morumbi". Mas o povo não se deixou enganar. Isto explica as recentes lamúrias elitistas de Ives Gandra, o chefão do Opus Dei. ---------------------------------------------------------- ----------- *Altamiro Borges, Miro é jornalista, Secretário de Comunicação do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro "As encruzilhadas do sindicalismo" (Editora Anita Garibaldi, 2ª edição)

Caso Battisti - 1a parte

5/02/2009 - 07h35 Itália insulta o Brasil no caso Battisti, diz filósofo italiano Toni NegriThiago Scarelli Do UOL Notícias Em São Paulo (SP) Você acha que a Itália insulta o Brasil no caso Battisti? A Itália adota uma postura "insultante" com o Brasil no conflito em torno do ex-ativista Cesare Battisti, porque não se trata de um país desenvolvido, e mente quando diz que vivia um Estado de Direito nos anos 70. A análise é do filósofo italiano Antonio Negri, que passou mais de dez anos preso por seu envolvimento com a militância de esquerda na Itália. Negri é co-autor, com Michael Hardt, do livro "Império", publicado no Brasil em 2001 e umas das obras mais importantes e polêmicas sobre o processo de globalização. Com Giuseppe Cocco, publicou "Global - Biopoder e Luta em uma América Latina Globalizada"

, em 2005. Leia abaixo a entrevista completa, concedida por Negri via telefone desde Veneza. Quem é Toni Negri Antonio Negri, 75, é um filósofo italiano, professor da Universidade de Pádua (Itália) e do Colégio Internacional de Paris (França). Entre os anos 50 e 70, participou dos movimentos de esquerda na Itália, condenando tanto a direita quanto o stalinismo. Esteve preso entre 1979 e 1983, depois se exilou na França por 14 anos. Condenado por subversão, o filósofo voltou para a Itália em 1997 e cumpriu pena até 2003. Atualmente, divide seu tempo entre Veneza e Paris, cidades onde desenvolve atividades acadêmicas UOL - Como o senhor vê a posição da Itália no caso Battisti? Antonio Negri - A posição italiana é uma posição muito complexa. Como se sabe, o governo italiano é um governo de direita e é um governo que, depois de 30 anos, retomou a perseguição das pessoas que se refugiaram no exterior depois do final dos anos 70, depois do final dos anos nos quais na Itália houve um forte movimento de transformação, de rebelião. E, portanto, o governo italiano retoma hoje uma campanha pela recuperação destas pessoas. Em particular, tentou fazê-lo com a França, para conseguir a extradição de Marina Petrella [condenada por subversão pela justiça italiana] e não conseguiu porque o governo francês, a presidência francesa [Nicolas Sarkozy], impediu. Neste ponto, aparece em um momento exemplar o caso Battisti. UOL - O que o senhor quer dizer com perseguição? É perigoso neste momento para Battisti retornar à Itália? Negri - Eu não sei se é perigoso. Mas é certo que ele foi condenado à prisão perpétua e seria para ele uma situação muito grave. UOL - Um dos motivos que o Brasil cita para manter o refúgio político é a ameaça de perseguição política contra Battisti... Negri - Mas seguramente ele seria alvo de uma perseguição política e midiática. UOL - Trata-se, portanto, de um temor com fundamento? Negri - Veja bem, o governo italiano, depois de 30 anos, quer recuperar, para fazer um exemplo, as pessoas que se refugiaram no exterior. E que se refugiaram no exterior porque na Itália havia uma condição de Justiça que era impossível de aguentar. Premiê italiano, Silvio Berlusconi, afirmou que seu governo fará tudo o que for possível para conseguir a extradição de Cesare Battisti UOL - O que significa esse "exemplo"? A punição de Battisti resolveria a questão da violência na Itália nos anos 70? Negri - Precisamente. Resolveria em dois sentidos: por um lado, se recupera aquilo que eles chamam 'um assassino'; e por outro se esquece aquele que foi um Estado de Exceção, que permitiu a detenção e a prisão preventiva de milhares de pessoas durante estes anos. É necessário recordar que nos anos 70 o limite jurídico da prisão preventiva era fixado em 12 anos. É necessário recordar o uso da tortura e de processos sumários inteiramente construídos sob a palavra de presos aos quais era prometida a liberdade em troca de confissões. Este foi o clima dos anos 70. E não nos esqueçamos que nos anos 70 houve 36 mil detenções, seis mil pessoas foram condenadas e milhares se refugiaram no exterior. E se há quem duvide desses números, e que quer continuar duvidando, basta que deem uma olhada nos relatórios da Anistia Internacional naqueles anos. Portanto, essa é uma questão muito séria. O caso Battisti é, na verdade, um pobre exemplo de uma estrutura, de um sistema no qual a perseguição, insisto na palavra 'perseguição', era acompanhada por enormes escândalos na estrutura política e militar italiana. Houve uma construção, principalmente por meio de uma loja maçônica chamada P2, de uma série de atentados dos quais ainda hoje ninguém sabe quem foram os autores, atentados que deixaram milhares de mortos, por parte da direita. E o governo italiano nunca pediu, por exemplo, que o único condenado por estes atentados seja extraditado do Japão, onde se refugiou. Existe uma desigualdade nas relações que o governo italiano mantém com todos os outros condenados e refugiados de direitas que é maluca. O governo italiano é um governo quase fascista. UOL - Se houvesse um governo de esquerda na Itália o caso seria o mesmo? [O líder da oposição de centro-esquerda] Romano Prodi faria o mesmo? Negri - Eu não acredito que Prodi faria o mesmo, mas parte da esquerda faria o mesmo, isso é verdade. UOL - Como o senhor vê hoje o PAC [Proletários Armados pelo Comunismo, grupo do qual Battisti fazia parte]? Negri - O PAC era um grupo muito marginal, mas isso não significa que não estivesse dentro do grande movimento pela autonomia. Mas ouça, o problema é esse: eu acho que as coisas das quais foi acusado Battisti são coisas muito graves, mas - e isso me parece importante dizer - estas são responsabilidades compartilhadas por toda a esquerda verdadeira. Não se trata de um caso específico. O Supremo Tribunal Federal do Brasil construiu uma jurisprudência pela qual foram acolhidos outros italianos nas mesmas condições que Battisti. UOL - E como a Itália deve solucionar esta dívida com o passado? Negri - Isso deveria ser feito por uma anistia, mas o governo italiano nunca quis caminhar por este terreno. Talvez tudo isso tenha determinado tremendas conseqüências no sistema político italiano, porque foi retirada da história da Itália uma geração ou duas, que poderiam ter conseguido determinar uma retomada política. É uma situação muito dramática. E gostaria de acrescentar uma coisa: o a postura da Itália no confronto com o Brasil a respeito deste tema é uma postura muito insultante. Presidente da França, Nicolas Sarkozy, negou em outubro de 2008 a extradição da italiana Marina Petrella, alegando razão humanitária em função da frágil saúde da italiana UOL - Por quê? Negri - Trata-se de uma pressão feita sobre o Brasil, enquanto um país fraco, depois que os franceses não extraditaram à Itália Marina Petrella. Psicologicamente, trata-se de uma operação política e midiática muito pesada contra o Brasil, na tentativa de restituir a dignidade da Itália, no âmbito da busca de restituir os exilados. UOL - O senhor acha que as autoridades italianas se sentem especialmente ofendidas pelo fato de a decisão em favor de Battisti vir de um país em desenvolvimento, antiga colônia de um país europeu? Negri - Seguramente, porque se trata de pobres que reagem contra os ricos, contra os capitalistas. UOL - O senhor também esteve preso? Negri - Eu fui detido em 1979 e fiquei na cadeia até 1983, em prisão preventiva, sem processo. Em 1983, houve um eleição parlamentar e eu saí da cadeia porque fui eleito deputado, porque não era ainda condenado. Fiquei preso quatro anos e meio - e poderia ter ficado até 12. Ou seja, quando os italianos dizem que nos anos 70 foi mantido o Estado de Direito, eles mentem. E isso eu digo com absoluta precisão, com base no meu próprio exemplo: fiquei quatro anos e meio em uma prisão de alta segurança, prisão especial, fui massacrado e torturado. Pude deixar a prisão apenas porque fui eleito deputado - do contrário, eu poderia ter ficado na prisão por 12 anos, sem processo. Durante os anos que fiquei na França, exilado, eu fui processado e condenado a 17 anos de prisão, mas que foram reduzidos porque havia uma pressão pública forte em meu favor. Quando voltei para a Itália, fiquei outros seis anos presos e encerrei a questão. Aldo Moro, líder da Democracia Cristã e premiê por cinco vezes, foi sequestrado e morto pelas Brigadas Vermelhas em 1978 UOL - Quais eram as acusações? Negri - Associação criminosa, gerenciamento de manifestações que eram violentas nos anos 70, em Milão, em Roma, em toda Itália. Mas a primeira acusação que sofri não era de agitador político, por escrever jornais etc., mas de chefiar as Brigadas Vermelhas, o que não é verdadeiro, e de ter assassinado [Aldo] Moro, acusações das quais fui absolvido depois. Entende? Na Itália se busca desesperadamente fazer valer uma mitologia dos anos 70, que é falsa. E a direita no poder hoje busca a qualquer custo restaurar um clima de falsidade e de intimidação para não permitir que a história seja contada como foi. UOL - Existem aí semelhanças com o governo militar no Brasil? Negri - Isso eu não sei, porque acho que os governos militares na América Latina foram particularmente violentos. Mas o problema é outro: a questão é que a liberdade, o Estado de Direito e as regras da democracia não podem ser infringidos ou falsificados em nenhuma situação.

O novo nacionalismo

folha de São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009 Nacionalismo aumenta com recessão DA REDAÇÃO E spancada, na segunda passada, por skinheads em Dubendorf (Suíça), a brasileira Paula Oliveira acabou abortando a gravidez de gêmeos em decorrência dos ferimentos. Os agressores inscreveram a estilete, em suas pernas, a sigla do partido SVP -contrário à proposta, aprovada em referendo no domingo passado, de renovar e ampliar o acordo de imigração da Suíça com a União Europeia. Apesar de a maioria da população suíça ter se manifestado a favor do referendo, o crime não é o único exemplo da era da "desglobalizaçã

o". O termo foi cunhado pelo premiê britânico, Gordon Brown, no final de janeiro para referir-se aos países que endurecem as relações com imigrantes e capitalistas estrangeiros. "Essa forma de desglobalização, que vai levar ao protecionismo comercial se não for interrompida, é algo de que venho advertindo as pessoas", disse. Seu mote "empregos britânicos para trabalhadores britânicos" foi apropriado no protesto de operários ingleses que rejeitaram a contratação de italianos e portugueses por uma refinaria de petróleo. O Senado italiano suscitou protestos ao aprovar lei que torna crime a imigração ilegal (com até quatro anos de prisão) e estimula os médicos a delatarem imigrantes. A lei ainda carece de aprovação na Câmara. Na França, o ministro da Imigração, Eric Besson, propôs recompensar com vistos os estrangeiros que denunciarem redes de imigração. Nos EUA, o plano de estímulo à economia de Obama (mais de US$ 700 bilhões) condiciona a ajuda financeira ao uso de material proveniente de fornecedores americanos. ----------------------- Nações fora de lugar AUTOR DA TEORIA DO FIM DA HISTÓRIA DIZ QUE A INTERVENÇÃO ESTATAL NA ECONOMIA REPRESENTA UMA "NOVA FASE" DO CAPITALISMO John Giles - 4.fev.09 /Associated Press Operários ingleses protestam contra a admissão de estrangeiros estendendo bandeira do país com a frase "empregos britânicos para trabalhadores britânicos" SÉRGIO DÁVILA DE WASHINGTON A atual crise econômica não é o fim da história nem do capitalismo, mas do reaganismo, diz Francis Fukuyama. Para o autor de tese sobre o fim da história, acabou o movimento que há 30 anos prega a não-intervenção no mercado. "Agora, vamos começar uma nova fase, com mais intervenção do Estado", disse à Folha, em entrevista por telefone. Professor da Universidade Johns Hopkins, o economista e filósofo norte-americano de origem japonesa divulga nesta semana, em Washington, o recente "Falling Behind - Explaining the Development Gap Between Latin America and the United States" (Ficando para Trás - Explicando a Distância no Desenvolvimento da América Latina e dos EUA, Oxford University Press, 336 págs., US$ 29,95, R$ 69), organizado por ele. FOLHA - O que mudou na distância cultural-econômica entre a América Latina e os EUA desde que começou a estudar o assunto, em 2005? FRANCIS FUKUYAMA - Estamos no meio de uma crise econômica mundial, então tudo mudou para todo mundo. O que acho interessante nesta crise é que, desta vez, foi o mau gerenciamento nos EUA que a alavancou. A América Latina está sendo atingida, mas o dano até agora não é dos maiores, com algumas exceções, como a Venezuela. O gerenciamento macropolítico colocou os países da região em um bom lugar; ninguém vai passar por ela ileso, mas, em comparação com as décadas passadas, a América Latina está em uma posição muito melhor. FOLHA - Então, após décadas de sermões do FMI e do Banco Mundial, a região superou os mestres? FUKUYAMA - Sim, está melhor que o professor, em certos aspectos. Acho que os EUA não seguiram os mesmos conselhos que dão a outros países e só conseguiram fazer isso por causa do papel do dólar como moeda forte, então a economia americana pôde seguir suas próprias regras. Se isso não acontecesse, o dólar teria despencado muito tempo atrás. FOLHA - O sr. anteviu essa mudança de papéis? FUKUYAMA - Não, eu fiquei muito surpreso e não poderia imaginar que Wall Street sofreria esse colapso total. FOLHA - De volta a seu estudo, como explicaria a distância entre a América Latina e os EUA? FUKUYAMA - É uma história que começa 300 anos atrás. No começo, havia regiões na América Latina com renda per capita maior que a da América do Norte. Por exemplo, em 1790, a renda per capita em Cuba era maior que a de Massachusetts. Mas essa distância foi crescendo de maneira consistente, às vezes com velocidade maior, outras menor. Contudo a razão mais importante para que isso acontecesse foi a grande desigualdade na estratificação social na América Latina. Uma sociedade muito desigual pode crescer bastante, como aconteceu com o México ou o Brasil desde os anos 1950 até os anos 70 ou nos últimos cinco ou seis anos. Mas esses períodos de crescimento acabam por causa da instabilidade política e do fato de que a riqueza não é distribuída por toda a sociedade. Os longos períodos de instabilidade param o crescimento econômico, e é nesses momentos que a distância entre a América Latina e a América do Norte tende a ficar maior. Hoje em dia isso fica muito claro quando olhamos para países como Venezuela, Equador e Bolívia, em que há uma grande população de raças diferentes que nunca se sentiram incluídas no processo politico. O tipo de populismo que aparece hoje nesses países traz essas doenças sociais à tona, mas, a não ser que lidemos com elas de uma maneira séria e definitiva, a distância só vai continuar a crescer. FOLHA - O sr. também rejeita a tese de que católicos são piores colonizadores que protestantes. FUKUYAMA - A identidade dos colonizadores é importante, mas não por conta da religião. Tem a ver com o jeito como aquelas autoridades gerenciavam os seus impérios. Alguns países, como México e Peru, foram estabelecidos apenas para que os colonizadores viessem levar o ouro e a prata desses lugares para as suas metrópoles e, para fazer isso, fizeram os índios virarem escravos e estabeleceram um sistema hierárquico muito duro. E essa política social foi levada adiante até para países que não tinham esses recursos naturais. Na América do Norte, o sistema era muito diferente, porque não havia ouro nem prata nem outros recursos minerais que fossem apreciados à época. Ao invés de virem buscar riquezas, os colonizadores trouxeram famílias de fazendeiros e deram pequenos pedaços de terra para que pudessem plantar e viver do que plantavam, e um governo foi estabelecido para cobrar imposto dessas pessoas. Foi melhor negócio para as colônias, em comparação com o que aconteceu com a América espanhola ou a portuguesa. FOLHA - A crise atual pode levar a região a repetir erros do passado, como pôr a democracia em risco ou se voltar para o populismo? Há risco de a história se repetir? FUKUYAMA - Não é inevitável, mas é um grande risco. Até para quando as coisas estão indo bem. Nos últimos anos, esse tipo de populismo vem voltando à região em países como a Bolívia e a Venezuela e potencialmente até com a quase eleição de Lopes Obrador no México. E, obviamente, quando as coisas não vão bem, ainda mais com o descrédito das ideias vindas de Washington, esse pensamento tem tudo para voltar a ser alimentado. A única coisa que pode ajudar é que, acredito, as sociedades aprendem com o passar do tempo, então acho que as pessoas sabem que o populismo também tem seus perigos. FOLHA - A eleição de Obama não mitiga esse risco? FUKUYAMA - Sim, se ele levar os EUA a uma direção completamente diferente, e a política americana é notável por se reinventar. Creio que estamos nesse processo. Finalmente saímos dos anos Reagan. Ideias diferentes vão começar a sair de Washington, e espero que haja um pouco mais de humildade na política externa, um enfoque mais cooperativo com outras nações. Se isso acontecer mesmo, os EUA podem recuperar um pouco da boa vontade e da credibilidade perdidas nos últimos oito anos. FOLHA - Qual será o papel do Brasil nesse "novo mundo"? FUKUYAMA - É um papel muito importante, porque o país dá o tom para o que vai acontecer nos outros países na região. Acho que uma das razões pelas quais a América Latina como um todo está se saindo bem é que os dois últimos presidentes do país foram bons líderes. O que acontece no Brasil tem um impacto muito importante nos outros países. FOLHA - O que mais a região deveria estar fazendo e não está? FUKUYAMA - Se olharmos para as origens da desigualdade, algumas são herdadas do passado, mas é quase tudo resultado de políticas sociais, que na América Latina são reforçadas o tempo inteiro. Se compararmos seu nível de desigualdade com o de lugares como o Japão ou a Europa Ocidental ou mesmo os EUA, há uma redistribuição de renda substancial dos mais ricos para os mais pobres. E isso não acontece na América Latina porque os gastos públicos acabam ajudando as elites ou a classe média. Então daria para fazer muita coisa só com a redistribuição desses gastos, se você conseguir passar pela oposição de grupos políticos que representam essas elites. FOLHA - O Bolsa Família seria um mecanismo? FUKUYAMA - É um programa social relativamente bem feito e que foi criado para diminuir essa desigualdade. Economistas que estudaram o Bolsa Família provaram que a iniciativa foi bem-sucedida. Meu medo é que a crise faça desses programas sua primeira vítima. O outro perigo é que a corrupção ainda existe e pode fazer esse dinheiro ir para os protegidos dos políticos em vez de ir para os mais pobres de verdade. Isso já acontece na Nicarágua, mas, até onde sei, ainda não acontece no Brasil. Mas é um perigo, e a sociedade deve prestar atenção. FOLHA - Como o mundo sairá da crise? FUKUYAMA - Não sei o que vai acontecer no resto do mundo, mas acho que os EUA estão caminhando para uma recessão bem longa, porque passamos os últimos 30 anos gastando mais do que tínhamos, especialmente nos últimos oito anos. E será muito difícil recomeçar o processo de crescimento com toda essa dívida. Sou moderadamente pessimista nesse aspecto. E isso vai ter um impacto no resto do mundo, porque os EUA serviram como o motor do consumo mundial. FOLHA - As ações do novo governo vão funcionar? FUKUYAMA - Suspeito que esse plano não será suficiente e, se você olhar para os detalhes, há várias coisas que poderiam ser diferentes. O problema é que, quando você se oferece para gastar US$ 800 bilhões, muitos interesses políticos acabam sendo envolvidos e muitos gastos previstos não vão aos lugares certos. Dá para fazer muitas críticas, mas também não vejo alternativa nesse momento. FOLHA - Será o fim não da história, mas do capitalismo como o conhecemos? FUKUYAMA - É o fim do reaganismo, não do capitalismo, de um movimento que há 30 anos prega a não-intervenção no mercado. Não, não é o fim do capitalismo, mas um movimento pendular geracional nas políticas e nas ideias. Não estou condenando o reaganismo, que foi muito importante para o mundo: a liberalização da economia brasileira no governo de Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, foi muito importante, apesar de não ter ido tão longe quanto deveria, mas tirou o Brasil da hiperinflação e da péssima situação macroeconômica em que estava antes. Mas essa fase acabou, agora vamos começar uma nova, com mais intervenção do Estado. De novo, não é o fim do capitalismo, é só mais um ciclo da economia e da história.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Filhos de políticos em escolas públicas

Os políticos terão que matricular seus filhos em escolas públicas
Projeto obriga políticos a matricularem seus filhos em Escolas públicas.
UMA CORRENTE DIFERENTE.
Trata-se de um movimento de apoio à idéia do senador Cristovam Buarque, que era candidato a presidente com a proposta da educação.
Ele apresentou um projeto de lei propondo que todo político eleito (vereador, prefeito, deputado, etc.) seja obrigado a colocar os filhos na escola pública.As conseqüências seriam as melhores possíveis.. Quando os políticos se virem obrigados a colocar seus filhos na escola pública, a qualidade do ensino no país irá melhorar.
E todos sabem das implicações decorrentes do ensino público que temos no Brasil. SE VOCÊ CONCORDA COM A IDÉIA DO SENADOR, DIVULGUE ESSA MENSAGEM no seu dia-a-dia e pela internet (em cópia oculta e apague o endereço de quem lhe enviou, para evitar SPAM).. E ajude a REALIZAR essa idéia. Ela pode, realmente, mudar a realidade do nosso país. O projeto PASSARÁ, SE HOUVER A PRESSÃO DA OPINIÃO PÚBLICA. http://www.senado. gov.br/sf/ atividade/ Materia/detalhes .asp?p_cod_ mate=82166 PROJETO DE LEI DO SENADO Nº , DE 2007 Determina a obrigatoriedade de os agentes públicos eleitos matricularem seus filhos e demais dependentes em escolas públicas até 2014. O CONGRESSO NACIONAL decreta: Art. 1º Os agentes públicos eleitos para os Poderes Executivo e Legislativo federais, estaduais, municipais e do Distrito Federal são obrigados a matricular seus filhos e demais dependentes em escolas públicas de educação básica. Art. 2º Esta Lei deverá estar em vigor em todo o Brasil até, no máximo, 1º de janeiro de 2014.Parágrafo Único. As Câmaras de Vereadores e Assembléias Legislativas Estaduais poderão antecipar este prazo para suas unidades respectivas. JUSTIFICAÇÃO = No Brasil, os filhos dos dirigentes políticos estudam a educação básica em escolas privadas. Isto mostra, em primeiro lugar, a má qualidade da escola pública brasileira, e, em segundo lugar, o descaso dos dirigentes para com o ensino público. Talvez não haja maior prova do desapreço para com a educação das crianças do povo, do que ter os filhos dos dirigentes brasileiros, salvo raras exceções, estudando em escolas privadas. Esta é uma forma de corrupção discreta da elite dirigente que, ao invés de resolver os problemas nacionais, busca proteger-se contra as tragédias do povo, criando privilégios. Além de deixarem as escolas públicas abandonadas, ao se ampararem nas escolas privadas, as autoridades brasileiras criaram a possibilidade de se beneficiarem de descontos no Imposto de Renda para financiar os custos da educação privada de seus filhos. Pode-se estimar que os 64.810 ocupantes de cargos eleitorais - vereadores, prefeitos e vice-prefeitos, deputados estaduais, federais, senadores e seus suplentes, governadores e vice-governadores, Presidente e Vice-Presidente da República - deduzam um valor total de mais de 150 milhões de reais nas suas respectivas declarações de imposto de renda, com o fim de financiar a escola privada de seus filhos alcançando a dedução de R$ 2.373,84 inclusive no exterior. Considerando apenas um dependente por ocupante de cargo eleitoras. O presente Projeto de Lei permitirá que se alcance, entre outros, os seguintes objetivos: a) ético: comprometerá o representante do povo com a escola que atende ao povo; - b) político: certamente provocará um maior interesse das autoridades para com a educação pública com a conseqüente melhoria da qualidade dessas escolas. - c) financeiro: evitará a "evasão legal" de mais de 12 milhões de reais por mês, o que aumentaria a disponibilidade de recursos fiscais à disposição do setor público, inclusive para a educação; d) estratégica: os governantes sentirão diretamente a urgência de, em sete anos, desenvolver a qualidade da educação pública no Brasil. Se esta proposta tivesse sido adotada no momento da Proclamação da República, como um gesto republicano, a realidade social brasileira seria hoje completamente diferente. Entretanto, a tradição de 118 anos de uma República que separa as massas e a elite, uma sem direitos e a outra com privilégios, não permite a implementação imediata desta decisão. Ficou escolhido por isto o ano de 2014, quando a República estará completando 125 anos de sua proclamação. É um prazo muito longo desde 1889, mas suficiente para que as escolas públicas brasileiras tenham a qualidade que a elite dirigente exige para a escola de seus filhos. Seria injustificado, depois de tanto tempo, que o Brasil ainda tivesse duas educações - uma para os filhos de seus dirigentes e outra para os filhos do povo -, como nos mais antigos sistemas monárquicos, onde a educação era reservada para os nobres. Diante do exposto, solicitamos o apoio dos ilustres colegas para a aprovação deste projeto.Sala das Sessões, Senador CRISTOVAM BUARQUE

Crise econômica - parte 2

*Protestos contra as demissões e a retirada de direitos agitam fevereiro* Nos próximos dias 11 e 12, os trabalhadores vão às ruas contra os efeitos da crise *Da redação do Opinião Socialista.* Na medida em que a crise econômica se agrava, aumenta a pressão para a flexibilização de direitos, redução salarial e demissões. Apesar dos lucros recordes do último período, os patrões querem reduzir salários e direitos por conta da crise. Caso mais expressivo é a Vale, que quer reduzir para metade os salários de 19 mil trabalhadores de Minas e Mato Grosso do Sul, sem ao menos garantir os empregos. Os trabalhadores, porém, não aceitarão arcar com os custos da crise. No próximo dia 11 ocorre um grande ato em frente à sede da Vale, no Rio de Janeiro. O protesto é organizado por uma ampla gama de entidades, que vai da Conlutas, Intersindical até a CUT. No Fórum Social Mundial em Belém, o dia de luta foi referendado pelo seminário unitário que envolveu, além da Conlutas e Intersindical, pastorais sociais e organizações como o MTL. Já no dia seguinte, dia 12 de fevereiro, ocorrem dois atos. Um em São Paulo, em frente à sede da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Outro, em Minas Gerais, em frente à FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais), na capital Belo Horizonte. Essas entidades patronais promovem uma intensa campanha de pressão pela retirada de direitos e redução de salários, ao mesmo tempo em que exigem mais benefícios do governo e nem consideram a hipótese de estabilidade no emprego. Os protestos vão exigir a estabilidade e a redução da jornada de trabalho, sem redução de salários, a fim de combater o desemprego.

Darwin, o abolicionista

Darwin, o abolicionista

Prospect
Adrian Desmond
Pernas acorrentadas, torniquetes usados para amassar os dedos das escravas fugitivas, um menino de 6 anos chicoteado por servir água em um copo sujo: parecem cenas de uma história de terror moderna, mas foram todas vistas pelo jovem Charles Darwin em suas viagens no Beagle ao redor da América do Sul escravagista. Não se encontra menção sobre elas nas páginas muito racionais e científicas de "Sobre a Origem das Espécies". Mas examine os diários, os cadernos particulares e o passado familiar de Darwin e encontrará um homem imerso na retórica e na crença fervorosa do movimento antiescravagista. O homem de ciência público foi influenciado por essas paixões privadas? À luz das minuciosas pesquisas em arquivos das cartas, papéis e anotações de Darwin, acredito que a resposta é um firme "sim". Embora ele nunca tenha admitido publicamente tal motivação política, o sentimento antiescravidão foi um importante apoio à grande conquista intelectual de Charles Darwin - a teoria da evolução. Um jovem rico saído dos claustros de Cambridge, Darwin embarcou no navio Beagle em Plymouth em 27 de dezembro de 1831. Seu itinerário de lugares longínquos é bem conhecido. O que em geral se percebe menos é que a viagem tinha diversos objetivos. Darwin viajou como companheiro do irritadiço capitão Robert FitzRoy, cujo principal objetivo era devolver três aborígines alakaluf e yahgan (para Darwin, "fueguinos", pois vinham da Terra do Fogo, o arquipélago no extremo sul das Américas). Eles haviam sido capturados na viagem anterior do Beagle e cristianizados como experiência. Darwin viveu durante meses com esses chamados "selvagens" civilizados e compreendeu em primeira mão que, como ele escreveu, a distância entre os selvagens e os civilizados não era maior que aquela entre animais selvagens e domésticos. Ainda mais importante, a viagem expôs Darwin ao que poucos cavalheiros ingleses da época jamais veriam - a completa e crua barbárie da escravidão. Em terra na América do Sul, sabemos pelo diário que publicou em 1845 que Darwin viu aquelas correntes, os torniquetes e o menino de 6 anos chicoteado, além de outras "atrocidades de partir o coração". Ele se descreveu como incapacitado, enquanto estrangeiro, de intervir (só o garoto chicoteado teve sua interferência; não sabemos de outra instância). Mas depois da viagem a frustração transbordou para seus cadernos evolucionistas - um recurso de crucial importância no desenvolvimento de suas ideias -, que condenavam o escravagista "que degrada sua Natureza e viola os melhores instintos ao escravizar seu semelhante negro". Mais ou menos na mesma época, os apologistas da escravidão nos EUA afirmavam que os caucasianos e os africanos eram espécies diferentes. Essa alegação não era apenas dos propagandistas no sul do país, mas também de homens de ciência que possuíam escravos. As diversas espécies humanas não tinham uma origem comum, diziam - remontavam imutáveis à época da criação. Essas justificativas dos donos de plantações revoltavam Darwin. Mas não se limitavam aos EUA. Muitos antropólogos na Grã-Bretanha e na América atraíam grandes públicos depois da década de 1840 afirmando que os brancos eram a única espécie capaz de civilização. Afinal, diziam, os negros nunca haviam produzido "um Cícero, um Bacon ou um Shakespeare". Estavam destinados a ser apenas escravos ou criados. Darwin era muito consciente da opinião das "espécies separadas". No Beagle, ele levou uma famosa obra de 17 volumes, o "Dictionnaire Classique d'Histoire Naturelle", que dividia os seres humanos em 15 espécies e, muito ofensivamente (na visão de Darwin), até citava os fueguinos e patagônios como duas delas. Darwin, que conhecia bem esses povos, sabia que eram relacionados intimamente, mas adaptados a terrenos diferentes. Para o "Dictionnaire", cada espécie tinha sua linhagem própria. Os fueguinos e os patagônios não apresentavam maior parentesco que os homens brancos e negros. Assim, Darwin voltou à Inglaterra agradecendo a Deus "que nunca mais visitarei um país escravagista". Os eventos marcaram sua memória. Mas a viagem não foi tanto um despertar quanto uma confirmação das opiniões radicais em que Darwin havia sido criado. Mesmo antes de embarcar no Beagle, ele foi preparado para detestar o que viu no Brasil. A extensão do envolvimento de sua família com o fim de toda a escravidão foi revelada por Jim Moore depois de pesquisar os negligenciados arquivos nas cerâmicas Wedgwood (Josiah Wedgwood, o mestre ceramista, foi o avô materno de Darwin). O trabalho minucioso com milhares de cartas desbotadas não deixou dúvidas sobre esse compromisso. É muito sabido que o avô Wedgwood havia produzido o famoso selo "Não sou um homem e um irmão?" para a Sociedade para a Efetivação da Abolição do Comércio de Escravos - na verdade ele produziu milhares de medalhões com o lema a suas próprias custas, que se tornaram peças na moda, usadas em solidariedade, as papoulas vermelhas da época. Mas ele também patrocinou o grande agitador abolicionista Thomas Clarkson, o homem que percorreu 35 mil milhas entre portos coletando estatísticas sobre o tráfico. O dinheiro de Wedgwood também financiou a Sierra Leone Company, criada para ajudar os escravos libertos a se estabelecerem na África. O primeiro encontro de Darwin com uma pessoa negra é tão intrigante quanto pouco conhecido. Enviado para estudar medicina na Universidade de Edimburgo em 1825, Darwin foi um fracasso, e os poucos anos que passou ali são geralmente desprezados. A cirurgia o aterrorizava; as palestras o entediavam. Mas, no meu entender, ele passou 40 horas no primeiro inverno aprendendo a empalhar aves com um escravo liberto das Guianas, John Edmonston, que contava histórias sobre a vida nas plantações e sobre a floresta tropical. A Guiana estava no noticiário: uma rebelião de escravos havia sido esmagada poucos meses antes, e John (supostamente descendente de cativos na África Ocidental) havia percorrido a floresta com o explorador Charles Waterton, cujo "Wanderings in South America" eram a sensação do momento. Assim, para Darwin, que tinha quase 17 anos, havia um certo encanto na companhia desse homem no gélido inverno de 1826. John tornou-se um "íntimo" nas palavras do próprio Darwin. Ele sabia que os negros podiam ser civilizados. Sabia que as raças não eram espécies separadas, como afirmavam os donos de escravos, mas ficou frustrado por não conseguir fazer nada sobre a escravidão no estrangeiro. Agora seu sentimento reprimido se despejou em uma nova e estranha ciência: uma que se baseava em uma verdade oposta e evidente, de que o escravo negro era "um homem e um irmão". Para ele, o corolário da irmandade era uma imagem racial radicalmente diferente da defendida pela maioria de seus contemporâneos: a de uma "descendência comum". E foi esta que formou a imagem central da original ciência evolucionista de Darwin. Para a maioria dos colegas de Darwin, a evolução era, sob qualquer aspecto, bizarra e execrável. Um de seus professores de geologia e ordenado na igreja queria pisar com "um calcanhar de ferro sobre a cabeça desse aborto nojento". As agonias de Darwin sobre suas próprias teorias são conhecidas. Ele levou três décadas para revelar plenamente suas idéias sobre a evolução humana. Criou sua teoria em 1837-1839, publicou "Sobre a Origem das Espécies", que evitou falar sobre a humanidade, em 1859 e finalmente tomou coragem para anunciar sua crença na evolução humana em "A Descendência do Homem" em 1871. A questão ardente, na verdade, é por que um jovem recém-saído do Beagle, com uma carreira brilhante em perspectiva - um cavalheiro para quem a honra era tudo - pensaria em arriscar tudo para desenvolver uma teoria do "homem-macaco" que confrontava os princípios mais sagrados da sociedade cristã à qual ele pertencia; e por que ele perseverou nisso através de longos anos de dúvida e temível isolamento? É em sua relação com a escravidão e a causa abolicionista que encontramos a resposta. Em primeiro lugar, existe uma pergunta incômoda a ser respondida. Se suas visões abolicionistas orgulhosamente defendidas eram tão centrais para sua ciência, por que Darwin nunca menciona explicitamente a ligação entre elas? A resposta é dupla. Primeiro, mesmo que ele reconhecesse conscientemente esses princípios morais como verdades evidentes, existe o segredo em que ele envolvia todo o seu pensamento sobre a evolução. Em segundo lugar, há uma questão maior na maneira como Darwin concebia suas próprias "motivações". Darwin era um homem de ciência que trabalhou em uma época em que esses homens deviam seguir os princípios indutivos de Bacon. O próprio "A Origem das Espécies" apresenta seu trabalho como um acúmulo paciente de fatos que o obrigou a conclusões evolucionistas. Seus cadernos pessoais, escritos imediatamente depois da viagem do Beagle, contam uma história totalmente diferente; mas Darwin nunca teria concebido seus próprios estudos como motivados por qualquer outra coisa que não a observação e o raciocínio. Suas suposições subjacentes, como acontece com frequência com os cientistas, não foram examinadas. A chave para se entender a posição conflituosa de Darwin e suas ações é não tanto a evidência que ele coletou quanto a maneira particular como ele as formulou. O relato dominante desse processo - que os "fatos" que ele descobriu forçaram sua mão e o levaram a desenvolver suas teorias da maneira como o fez - não se sustenta. Não há dúvida de que as aves de Galápagos e as preguiças dos pampas foram cruciais. Mas muitos naturalistas marinhos tinham visto tanto quanto Darwin viu e não gritaram: "Evolução!". Darwin era diferente. E o historiador da ciência deve tentar entender o que o impeliu a ver a evolução especificamente, e unicamente, em termos da origem comum, e assim fazer do homem apenas um tipo melhor de bruto. Qual foi o ganho moral que superou as consequências: noites sem dormir, o medo da ridicularização, o ostracismo ou pior? A resposta é clara. Levado por sua herança antiescravagista e a terrível experiência da escravidão no Brasil, Darwin voltou à Inglaterra em 1836 e imediatamente concebeu uma imagem de descendência comum. Seus cadernos evolucionistas particulares de 1837-1838 mostram que seu pensamento se afasta do parentesco e da irmandade raciais para unir toda a criação sofredora. Ele desenvolveu essas idéias em um momento de crescente euforia abolicionista, quando os escravos estavam terminando seu "aprendizado" compulsório e finalmente sendo libertados. As origens comuns, naquela época, eram quase desconhecidas na história natural. Mas eram ubíquas na ideologia abolicionista. Essa literatura abolicionista foi a fonte de Darwin. A civilização não era uma prerrogativa branca, ele sabia. Esses sentimentos estão por trás da série de anotações de 1838 em que Darwin levou suas conclusões ao limite. Existem diversas ironias aqui. Darwin estava libertando os escravos para torná-los igualmente humanos. Mas estava também transformando todos os humanos em animais, rejeitando os que "pensam que a origem da humanidade é divina". Para muitos de seus críticos, uma abominação estava substituindo outra; e o remédio evolucionista era tão ruim quanto a doença da escravidão. Também há uma ironia mais triste. O humanismo de Darwin era subjetivo. Ele refletia a natureza conflituosa da sociedade britânica, em que metade do país estava tentando libertar os escravos enquanto seus compatriotas que viviam na Austrália e em outros lugares estavam ocupados exterminando os aborígines nômades em nome do progresso econômico. O próprio Darwin havia testemunhado a limpeza étnica em escala mundial: os indígenas dos pampas na Argentina assassinados pelos gaúchos do general Rosas para liberar o terreno para o gado; os últimos tasmanianos levados para acampamentos. O Beagle chegou em meio das guerras xhosa no Cabo, no início da "Grande Marcha" bôer. Esses eventos prefiguravam um lado mais sombrio do darwinismo; e a visão do próprio Darwin se tornou mais sombria depois que ele leu em Thomas Malthus sobre as guerras e a fome como consequências das pressões populacionais. Ele usou idéias malthusianas para normalizar e naturalizar o genocídio colonial, tornando-o parte do processo evolucionário, sugerindo que esse conflito não apenas foi "natural", mas benéfico (na medida em que os sobreviventes "mais aptos" levaram adiante a raça humana). Os povos incivilizados das planícies estavam indo no caminho da megafauna que ele encontrou fossilizada sob seus pés. Mas Darwin viu o conflito colonial como uma inevitabilidade a ser explicada, e não uma opção política a ser contestada. É uma suprema ironia que o abolicionista gentil e revoltado acabasse justificando a erradicação colonial. Ele não viu a incongruência. E com o passar dos anos, adotou mais as atitudes de sua classe cavalheiresca sobre a ordem moral, tecnológica e intelectual "superior" conquistada pelos europeus brancos. Então temos de viver com Darwin, com verrugas e tudo. Ele foi um homem de sua época, um espelho de sua cultura; racista enquanto também salvador da raça, perturbado pela crueldade enquanto naturalizava o genocídio, capaz de pôr a culpa na natureza e não no homem. A história é confusa e Darwin sempre foi um pensador paradoxal, ainda mais quando começou a se curvar aos ventos no final da vida. Para comemorar figuras históricas, precisamos primeiro compreendê-las. Em 2009, 200 anos depois de seu nascimento, é hora de acender um refletor sobre o Darwin mais jovem - o homem cuja crença na fraternidade humana se transmutou em uma teoria evolucionária da origem comum. Em vez de ser moralmente subversiva, como afirmam seus críticos cristãos, a realização de Darwin se baseou na moral. Em vez de ser uma prática desapaixonada, sua ciência teve um impulso humanitário. Ela fez irmãos e irmãs não apenas de todas as raças humanas por toda a vida

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Crise econômica 1a parte

*Crise leva ao corte de 20 mil na produção de frutas no NE* - *3/2/2009*


http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=19765

Sem encomendas dos EUA e da Europa, safras da região do Vale do São
Francisco devem ser 30% menores neste ano. Região responde por 42% de todas
as exportações de frutas do país; atividade emprega 240 mil pessoas e
movimenta US$ 800 mi/ano.

A reportagem é de *Fábio Guibu* e publicada no jornal *Folha de S.Paulo*,
03-02-2009.

Os importadores europeus e norte-americanos que financiavam a produção de
frutas do Vale do São Francisco, por meio de adiantamentos de até R$ 300
milhões anuais em compras antecipadas, suspenderam as operações neste ano
devido à crise mundial. Descapitalizados, os fruticultores nordestinos já
demitiram cerca de 20 mil pessoas e preveem uma queda de pelo menos 30% na
safra 2009.

O vale é responsável por 42% das exportações de frutas do país, um negócio
que movimenta US$ 800 milhões por ano. A atividade emprega 240 mil pessoas
na região de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) e ocupa 120 mil hectares de
terras irrigadas pelo rio São Francisco.

"A situação é bastante complicada", disse o diretor-executivo da Cooperativa
Agrícola Juazeiro, *Avoni Pereira dos Santos,* 50. "Os compradores não estão
antecipando as compras, e os preços dos produtos caíram até 70% em mercados
como os Estados Unidos." De acordo com ele, a cultura mais afetada foi a da
uva, produzida por 2.200 fruticultores da região. Com a crise, o preço da
caixa de 4,5 kg de uva caiu de US$ 38 para US$ 14 nos EUA. Santos estima que
o prejuízo dos produtores de uva chegou a US$ 110 milhões em 2008.

O Vale do São Francisco produz 97% das uvas exportadas pelo país e 95% das
mangas vendidas ao exterior. "De um lugar próspero, esse lugar passou a ser
um pesadelo." Na empresa Logus Butiá, produtora e exportadora de uvas em
Petrolina (a 790 km de Recife), quase todos os empregados foram demitidos.
Dos 300 funcionários, restaram 50.

Segundo *Cesar Cotrim,* diretor da empresa, em períodos normais de
entressafra (novembro a janeiro), apenas 50 pessoas seriam demitidas. O
restante seria utilizado na preparação dos pomares. "O problema é que
estamos absolutamente descapitalizados", disse Cotrim. "O preço líquido do
nosso produto exportado caiu de US$ 21 em 2007 para US$ 7 em 2008, por
caixa", afirmou. "Isso representa um grande desastre", declarou. "Empatamos
com o custo operacional, mas não temos como pagar os compromissos."

Cotrim espera produzir neste ano apenas um terço das 2.500 toneladas de uva
colhidas no ano passado. "Não há dinheiro para trabalhar a fazenda inteira",
afirmou. Na opinião do vice-presidente da Valexport (Associação dos
Produtores e Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São
Francisco), *Aristeu Chaves,* a saída para a crise na fruticultura não passa
apenas pela concessão de novas linhas de crédito e renegociação dos débitos
antigos.

"Os empresários terão que entender que o mundo mudou com a crise", disse.
"Eles vão ter que repensar o mercado e diversificar." *Chaves* sugere a
intensificação dos negócios no Oriente Médio e na Ásia. "O mercado interno
cresceu, mas ainda não é capaz de absorver a produção do vale", afirmou.

Empresários e produtores da região se reúnem hoje, em Petrolina, com
representantes do governo e de bancos estatais para discutir os problemas e
a aplicação de uma nova linha de crédito, de R$ 200 milhões.

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*20 milhões de migrantes chineses perderam seus empregos* - *3/2/2009* –


http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=19764

Com a crise econômica global derrubando as exportações do país e fechando
fábricas, 20 milhões de migrantes chineses perderam seus empregos nos
últimos meses, e a expectativa é que esse número seja acrescido neste ano de
até 6 milhões de pessoas que irão para as cidades e não encontrarão
trabalho, gerando temores de uma onda de protestos contra o governo.

A reportagem é do jornal *Folha de S.Paulo*, 03-02-2009.

Segundo as estimativas oficiais, cerca de 15% dos 130 milhões de migrantes
tiveram que voltar para a zona rural por não encontrarem emprego. As
demissões, afirmou *Chen Xiwen*, diretor do órgão do governo de políticas
rurais, foram resultado direto da crise global e do seu impacto na indústria
chinesa voltada para a exportação. Ele disse ainda que o aumento do
desemprego será um desafio para a estabilidade social.

"O que os trabalhadores migrantes que perderam seus empregos vão fazer para
obter renda quando retornarem para suas vilas? Como vão lidar com isso? Esse
é um novo fator afetando a estabilidade social neste ano", disse Chen. O
desemprego dos migrantes, além da vida dos próprios, afeta a região de onde
saíram, já que as remessas são importante fonte de renda para as suas
famílias.

Para agravar a situação, o dado de 20 milhões de desempregados leva em conta
apenas aqueles trabalhadores que foram demitidos e voltaram para a zona
rural, não incluindo os que estão sem ocupação, mas permanecem nas cidades.
Além disso, há os trabalhadores urbanos que perderam o emprego e os jovens
que pretendem ingressar no mercado.

O aumento do desemprego é reflexo dos dados econômicos do país, que, ainda
que em muitos casos sejam positivos, estão abaixo da média dos últimos anos.
As exportações -que avançavam há mais de sete anos- recuaram em novembro e
dezembro do ano passado, e o PIB (Produto Interno Bruto) do quarto trimestre
cresceu 6,8%, expansão muito superior à dos países desenvolvidos e de boa
parte dos em desenvolvimento, mas a menor registrada pela China desde 2002.

Com isso, o governo, que no ano passado lançou um pacote de US$ 585 bilhões
(45% do PIB brasileiro de 2007) para estimular a terceira maior economia
mundial, já dá sinais de que pode ampliar o plano.

Por trás do pacote, também está uma preocupação com a manutenção no poder do
regime comunista, no comando desde 1949. O governo considera que precisa
crescer pelo menos 8% para garantir a entrada de mais pessoas no mercado de
trabalho e, assim, garantir a estabilidade social. O governo não divulga há
vários anos estatísticas oficiais com o número de protestos, mas artigo de
uma revista da agência estatal Xinhua prevê que as manifestações serão
recorde neste ano.

"O governo não deve ficar parado, desapontando os agricultores, diz* Liu
Shanying,* da Academia Chinesa de Ciências Sociais. "Se eles ficarem
desempregados por um longo tempo serão uma bomba-relógio." Na época dos
protestos na praça da Paz Celestial, há 20 anos, o PIB chinês se desacelerou
de 11,3%, em 1988, para 4,1%.

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*Trabalhadores contra trabalhadores - 3/2/2009* –

http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=19766

A recessão na Europa faz explodir uma tensão latente entre trabalhadores
locais e milhões de imigrantes que nos últimos anos chegaram ao continente.
Ontem, trabalhadores de uma usina nuclear na Inglaterra decidiram fechar a
instalação em uma greve contra a decisão de uma empresa de dar postos de
trabalho para italianos e portugueses. Nas obras para preparar Londres para
as Olimpíadas 2012, dezenas de romenos foram demitidos para dar lugar a
ingleses.

A reportagem é do jornal *O Estado de S.Paulo*, 03-02-2009.

Com desemprego batendo taxas recordes, vários partidos de oposição e de
extrema direta já questionam governos sobre a abertura de suas fronteiras e
um dos pilares da construção da UE: a livre circulação de trabalhadores. Em
Bruxelas, a ordem é evitar o protecionismo.

Na Itália, membros do governo já indicaram a necessidade de rever as cotas
para a imigração, em uma medida explicitamente protecionista. Na Suíça, o
Parlamento aprovou uma lei endurecendo os controles sobre imigrantes e, no
Parlamento Europeu, uma lei será aprovada nesta semana criando duras penas
contra empregadores que derem trabalho para pessoas sem visto.

Mas é no Reino Unido que a tensão se transformou em uma crise política.
Trabalhadores de uma refinaria da Total iniciaram uma greve diante da
decisão da empresa de dar 200 postos de trabalho a estrangeiros, com
salários mais baixos.

O protesto se espalhou e já envolve várias regiões e centenas de
trabalhadores. Ontem quase mil empregados da usina nuclear de Sellafield, no
Oeste da Inglaterra, optaram por interromper o trabalho por 24 horas.

Na Inglaterra, o desemprego atingiu neste mês sua maior taxa em 11 anos, com
2 milhões de desempregados. Ontem, o ministro de Indústrias do Reino Unido,
*Peter Mandelson*, criticou propostas de que barreiras formais aos
estrangeiros devessem ser criadas.

Segundo ele, 300 mil empresas britânicas dependem de estrangeiros e as
abertura das fronteiras é uma condição para a existência da UE. Mas, na
surdina, o governo demitiu cerca de 200 romenos que trabalhavam ilegalmente
nas obras para preparar Londres para os Jogos Olímpicos de 2012.

Em Londres, o governo endurece a política antiimigração. Mas os protestos em
relação aos imigrantes se proliferaram. Na sede da Total, em Paris, cerca de
600 pessoas fizeram um protesto. Na Suécia e Finlândia, casos já chegaram às
Cortes Supremas. Empregados questionavam a autorização de empresas para
contratar trabalhadores do Leste Europeu por salários mais baixos. A corte
autorizou.