sábado, 28 de fevereiro de 2009
Crise econômica - 3a parte
Nem mesmo o Carnaval, com seus dias de alegria e folia pelo país, podeencobrir o drama do desemprego que avança com números já assustadores.Segundo dados do Ministério do Trabalho, no mês de janeiro foram fechados101.748 postos de trabalho com carteira assinada. Façamos as contas: isso dáuma média de 3.282 demissões por dia. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, desde novembro foram eliminados 800 mil empregos com carteiraassinada no país. Bem, a conta anterior fica então "modesta". Pois temosentão uma média diária de 8.800 postos de trabalho fechados por dia, semcontar já o mês de fevereiro. Sem falar que nas vésperas do Carnaval aEmbraer anuncia 4.200 demissões.E só estamos falando dos empregos formais, com carteira assinada, ainda nãosurgiram números e levantamentos das conseqüências da crise econômica sobreos setores mais precarizados, subempregados da classe trabalhadora.*Cinismo do grande capital *Naturalmente esta situação no Brasil é reflexo do agravamento da criseeconômica mundial, que parece não ter chegado ainda ao seu fundo do poço ajulgar pelos números da violenta retração recessiva nos países centrais, omassivo desemprego, a bancarrota de gigantes do setor financeiro e daprodução nos Estados Unidos, Europa e Japão.Números que indicam uma situação criminosa, repleta de cinismo do grandecapital e de bravatas do governo. Pois cá como lá, a receita do grandecapital é despejar sobre os trabalhadores o ônus da crise na forma dedemissões, retirada de direitos, enquanto governos e bancos centrais tratamde despejar montanhas de dinheiro para salvar o capitalismo.No Brasil, o cinismo começa pelas grandes empresas, que nos períodos decrescimento bateram recordes de produção e de lucros: bancos, montadoras,empresas exportadoras, como a Embraer. Mal começa a crise e os cálculos sãosimples para o capital: cortam-se os empregos e custos trabalhistas. Eaproveitando o momento de extrema dificuldade e defensiva em que ficam ostrabalhadores diante da ameaça do desemprego, recolocam na pauta a questãoda retirada de direitos trabalhistas, flexibilização dos salários e dajornada como contrapartida para garantir o emprego.Vejam o caso da Embraer. A empresa quer cortar 20% do seu quadro defuncionários, mas segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dosCampos a empresa tem uma carteira de pedidos firmes de US$ 21,6 bilhões dedólares e uma produção contratada de 270 aeronaves para 2009.*Política do governo não defende emprego*Mas há cinismo também nas excessivas bravatas do governo federal e dopróprio presidente, que se limita a manifestações públicas de desagrado coma situação, críticas aos empresários que demitem, mas não há medidasefetivas para estancar essa sangria dos postos de trabalho. Como se jáconformado com essa situação, uma das maiores medidas de impacto do governofoi anunciar uma tímida extensão das parcelas do seguro desemprego e aindaassim para alguns setores...Mas peguemos o próprio caso das 4.200 demissões da Embraer para avaliar oquilate do cinismo. Pois neste caso, o governo federal é acionista daEmbraer, ainda que minoritário, através do BNDES, sem falar dos fundos depensão de estatais que também participam da gestão da empresa. Maisimportante: como membro do Conselho de Administração, o governo, através doBNDES, tem poder de vetar as demissões...A questão é que o foco da política geral do governo para os tempos de criseé, em primeiro lugar, salvar os capitalistas, seus negócios e tentarreaquecer a economia pelo mercado interno. Volta-se a reduzir, ainda quetimidamente, taxas de juros, mantém-se um aumento real do mínimo, os bancosestatais liberam dinheiro para empresas, estatiza-se com reservas cambiais adívida externa de curto prazo das empresas privadas.Bem, as empresas tomam dinheiro do governo e compram títulos da dívidapública, fazem outras aplicações financeiras, mas continuam demitindo. Ogiro para o mercado interno com esse nível de desemprego, combinado com ofato, nada secundário, de que o endividamento da população (cartão decrédito, cheque especial, empréstimos consignados) está em torno de 40% doPIB, além da pressão concreta para a redução de salários, não dá umaperspectiva animadora de reaquecimento da economia. E sob o atual cenárioexterno catastrófico, não se reorienta em curto prazo uma economia voltadapara exportação para o mercado interno.*Medidas concretas e radicais *Há uma situação dramática que é a ausência de uma plataforma geral, de umacampanha nacional de massas que explicitasse um ponto de vista da classetrabalhadora para defender o emprego sem aceitar o jogo da flexibilização dedireitos e salários.Com o aval de direções sindicais colaboracionistas, pouco afeitas aconstruir uma resistência difícil, mas imprescindível para defender oemprego diante desta ofensiva, tem avançado o número de acordos que aceita aredução dos salários com redução de jornada.É necessária uma campanha nacional para exigir a proibição das demissões eestabilidade no emprego. Começar por uma ampla, massiva e unitária campanhapara barrar as mais de 4 mil demissões na Embraer já seria um ótimo ponto departida.A defesa da redução da jornada sem redução salarial e corte de direitosdeveria estar no topo de uma campanha nacional dos sindicatos e centrais queefetivamente se propõem a defender a classe trabalhadora, assim como arejeição a qualquer tipo de formato de reforma trabalhista.Também não se deve ter qualquer preconceito quanto a pautar na sociedademedidas que certamente seriam atacadas e vistas como absurdas ou radicaispelo grande capital e sua mídia. Por exemplo, o controle público e do Estadode empresas que estão demitindo em massa ou próximas de fechar. Qual seria oproblema de o Estado assumir o controle da produção e da empresa junto comos trabalhadores que nela trabalham diante de situação tão excepcional emque nos encontramos? Ou vamos continuar no terreno das declarações oficiaisapenas condenando a situação de desemprego massivo?Seria correta uma série de medidas práticas do Estado em relação aosdesempregados, como uma verdadeira extensão do seguro-desemprego para pelomenos 12 meses, aumento do seu valor, incluindo aí direitos para odesempregado, como verba para transporte; massiva e imediata política deinvestimentos estatais na construção de escolas, hospitais, casas, serviçosde infra-estrutura, não apenas para gerar empregos, mas também para levardignos serviços públicos e sociais para a maioria da população,especialmente nestes tempos de crise.Em tempo: para isso, não seria má idéia que se recolocasse na pauta asuspensão do pagamento dos juros da dívida pública. Medida que abririaamplas fontes de recursos para o governo investir na geração de empregos eserviços e para dar um fim na picaretagem que empresas e bancos continuamoperando, beneficiando-se dos títulos da dívida e dos seus juros para manterseus lucros ou diminuir prejuízos.Pois, enquanto isso...8.800 trabalhadores e trabalhadoras são demitidos pordia no Brasil...*Fernando Silva é jornalista*
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