terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Socialismo oportunista e populista dos presidentes de centro-esquerda

*Cinco presidentes e um segredo* - Jeferson Choma da redação do Opinião
Socialista

Para Chávez, Lula, Evo, Correa e Lugo, o socialismo é para ser lembrado em
dias de festas

• Cinco presidentes latino-americanos participam ontem, dia 29 de janeiro,
do debate sobre a crise da economia e o futuro do continente, durante o
Fórum Social Mundial. Além de Lula, estiveram os presidentes Hugo Chávez, da
Venezuela; Evo Morales, da Bolívia; Fernando Lugo, do Paraguai; e Rafael
Correa, do Equador.


Os presidentes dirigiram muitas críticas ao capitalismo e às potências
imperialistas, taxadas como responsáveis pela atual crise econômica. Diante
de um auditório de 8 mil pessoas, Lula criticou a desregulamentação do
mercado e disse que o "Deus mercado" quebrou por "falta de controle". O
presidente ainda criticou os defensores do neoliberalismo e de um Estado com
pouca presença na economia. Segundo ele, aqueles que faziam críticas a
presença do Estado na economia agora defendem que ele deve socorrer os
bancos e às empresas em crise.


O que Lula não disse, porém, é que o seu governo fez o mesmo e não hesitou
em socorrer os lucros dos banqueiros e patrões. Em outubro, o governo
liberou um megapacote de R$ 160 bilhões ao sistema financeiro e mais R$ 19
bilhões aos empresários.


*Socialismo*


Já Evo Morales, Lugo, Chávez e Correa defenderam a criação de uma nova ordem
e a adoção do "socialismo do século 21" em alternativa ao capitalismo. Mas
afinal de que "socialismo" falam estes senhores?


Já virou lugar comum a suposta "defesa do socialismo" realizada por esses
presidentes, especialmente para dias festivos, repletos de ativistas de
esquerda. Mas apesar dos emplumados discursos, todos eles preservam e
respeitam a ordem econômica capitalista em seus respectivos países. Sua
retórica se encontra bem distante da prática. Todos asseguram a manutenção
da propriedade privada dos meios de produção. Com o "socialismo do século
21", as multinacionais continuam explorando as principais fontes de riquezas
naturais destes países, com a mesma sangria de recursos que os governos
anteriores proporcionavam.


Na Venezuela, por exemplo, petroleiras como Exxon Mobil, Chevron Texaco e
Repsol continuam controlando o petróleo, associadas agora à PDVSA, a estatal
petroleira venezuelana. A política econômica do governo Chávez ainda está
voltada aos interesses da burguesia do país. Uma prova é o chamado por um
"reimpulso produtivo", feito a um público formado por industriais e
banqueiros. O plano acaba com o Imposto a Transações Bancárias. Um grande
benefício para empresários e banqueiros, que deixaram de pagar cerca de US$
3 bilhões. A ajuda veio antes mesmo da crise econômica.


Numa rápida entrevista a imprensa, logo após o encerramento do evento,
Chávez declarou: *"Serão 50 milhões de empregos que irão se perder em todo
mundo, segundo as cifras mais conservadoras, não tanto na Venezuela porque
estamos no socialismo e faz pouco tempo que a Venezuela se desenganchou do
capitalismo internacional dirigido pelos Estados Unidos"*, afirmou. Mais uma
vez, a realidade desmente as palavras de Chávez. Oficialmente, segunda
noticia a Agência Bolivariana de Notícias, a taxa de desemprego no país é de
6%, e a informalidade atinge pelo menos metade da população.


Enquanto Chávez dizia que seu socialismo impedirá o desemprego, dois
trabalhadores da Mitsubishi morreram
lutando<http://www.pstu.org.br/internacional_materia.asp?id=9647&ida=0>contra
as demissões na Venezuela. Armados com fuzis, a polícia ocupou a
fábrica lançando uma chuva de balas e bombas de gás lacrimogêneo. A Agência
Bolivariana não noticiou. O governador do Estado, do PSUV, batizou o seu
governo de "revolucionário", o mesmo governo ao qual os policiais estão
subordinados.


A ocupação mostra que a Venezuela não está imune a crise. A queda dos preços
do petróleo poderá agravar ainda mais a situação econômica do país, já
bastante abalada pela inflação e a falta de alimentos. Como Chávez vai agir
diante do recrudescimento das lutas dos trabalhadores na defesa de seus
empregos?

* *

*Ventos da mudança?*


Evo Morales provocou aplausos quando lembrou da aprovação da nova
Constituinte boliviana. Mas esconde que a Constituição que foi ao referendo
nasceu de um pacto com a reacionária burguesia do país, que assassina
indígenas em Santa Cruz. Seu conteúdo incorporou as principais exigências da
burguesia das províncias da chamada meia lua: autonomia, ou seja, maior
controle sobre os recursos naturais nas suas regiões e, claro, garantia de
que seus latifúndios seguirão intactos.


Correa, outro defensor do "socialismo do século 21", defendeu o fim da
exclusão dos povos indígenas originários e o fim da rapina dos recursos
naturais do continente pelas multinacionais. No entanto, deve explicar
porque a principal entidade indígena do Equador, a CONAIE, o acusa em carta
aberta no Fórum de por ignorar direitos fundamentais dos povos indígenas,
reprimir violentamente e atacar seus territórios, debaixo do discurso do
"socialismo do século XXI".


Fernando Lugo disse que levará os ventos da mudança para o Paraguai. Mas não
há nenhuma mudança para os camponeses pobres do país que agora são
reprimidos pelas forças do governo "progressista".


A repressão no campo se abate de forma cruel. Empobrecidas, as massas
camponesas lançam-se desesperadamente em luta por seu direito a um pedaço de
terra. A reação do governo e do agronegócio vem sob disparos. Em outubro do
ano passado, um dirigente camponês, Bienvenido Melgarejo, tombou morto após
levar um tiro no peito durante uma feroz repressão policial contra uma
ocupação situada em Colônia Guarani, no Alto Paraná.


Uma das consequências da crise econômica internacional é levantar o debate
entre a esquerda para um terreno estratégico. Toda a panacéia neoliberal
entoada por anos, de que o socialismo morreu e de que o capitalismo seria a
única alternativa, derrete com a economia capitalista. Mas não é a primeira
vez que se abusa da palavra "socialismo". No século passado, a
social-democracia a utilizou para ocultar seu programa de reformar o
capitalismo. Depois a utilizou para reconstruir o capitalismo na Europa
devastado no pós-guerra. Mas ninguém abusou mais do que o stalinismo que se
utilizou do "socialismo" para justificar seus crimes, assassinatos e acordos
com o imperialismo.


Agora, os governos "progressistas" latino-americanos usam o socialismo como
roupa de gala em dias de festa, para garantir o verniz de esquerda e se
contrapor à crise do neoliberalismo. A experiência histórica mostra que só
existe um caminho para o socialismo: o fim da propriedade privada dos meios
de produção, base que sustenta a existência da burguesia. Só assim é
possível suprimir a busca do lucro por parte da burguesia, força motriz da
produção capitalista, e organizar a economia para satisfazer as necessidades
dos trabalhadores.


Pra enfrentar realmente a crise do capitalismo, é preciso bem mais do que
palavras. É preciso romper com os seus verdadeiros aliados: banqueiros,
empresários e multinacionais.

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