terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

França frente à crise econômica

França frente à crise econômica Bom começo no primeiro teste de força contra Sarkozy Por Juan Chingo - Fração Trotskista - França Quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A jornada de ação de 29 de janeiro na França foi massiva: segundo a polícia mais de um milhão de pessoas participaram em toda a França e 2,5 milhões segundo a CGT. Quantitativamente está à altura das grandes manifestações que fizeram o governo retroceder em 2006 na luta contra o CPE (contrato do primeiro emprego) ou ainda, em 2003, da luta pelas aposentadorias e nas de 1995 contra Juppé frente à reforma do regime especial dos ferroviários e da RATP (metrô e transporte urbano) e da assistência social; mesmo que provavelmente de magnitude menor que a última delas. Contudo, comparada com essas ações, o novo da ação de 29 de janeiro (e potencialmente significativo) é:

1° - A crescente participação, como não se via a muito tempo dos trabalhadores das empresas privadas, industriais ou de serviços, grandes multinacionais como o gigante do aço Arcelor Mittal, as empresas automotivas Peugeot Citroën, Renault Ford, a grande empresa de pneus Michelin, o grupo meio ambiental Veolia, a compania privada de telefones Free ou os grandes supermercados como Carrefour e outros comércios atacadistas como a Fnac e a Galeria Lafayette. Também participaram, mesmo que não organizados, assalariados de pequenas empresas. Desse ponto de vista, é a manifestação de participação operária ou assalariada de trabalhadores públicos (onde há que enfatizar uma forte adesão dos docentes e trabalhadores da saúde, etc.) e privados mais importante das últimas décadas.

2° Diferente da luta contra o CPE ou da luta de 2003 que terminou derrotada ou inclusive da greve geral das estatais de 1995, o movimento atual não tem uma reivindicação aglutinante clara, mas é uma jornada de ação claramente política, contra as consequências do desemprego, a queda do poder de consumo, a destruição da saúde e da educação pública, a precarização do trabalho, em especial entre os mais jóvens e fundamentalmente o sentimento de injustiça de que há resgate dos bancos (nesses dias, fez-se conhecido que, apesar das perdas do último trimestre, fecharam o ano com lucro) e nada para os assalariados ou aposentados. Isso se manifesta na ampla simpatia da população que a ação obteve (cerca de 75% de apoio), coisa que não se via desde 1995, e inclusive em níveis mais altos que nessa época

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Por outro lado, devemos apontar:

1° Que diferente das lutas antes mencionadas, que se trataram de jornadas de mobilizações, greves e lutas de vários dias ou semanas, a atual foi uma greve e manifestação de um só dia. Em boa medida, as direções sindicais a convocaram para descomprimir a cólera dos assalariados, que poderia expressar-se (existe um grande medo quanto a isso) em duras greves em alguns setores, e sem nenhuima perspectiva de continuidade. No entanto, o êxito da jornada e a negativa do governo em mudar minimamente a orientação do plano de estímulo no sentido que pedem as direções sindicais- favorecendo o consumo e não o investimento ou baixando o ICMS, o que se choca com o déficit fiscal, ou aumentando o salário mínimo, medida fortemente defendida pela MEDEF, mais ainda em tempos de crise- poderia obrigar aos sindicatos a convocar novas jornadas de luta a medida que se aprofunda o desemprego e aumente a briga.

2° Ainda que houvesse setores de estudantes secundaristas bem combativos, que cantavam com toda sua força, ainda está ausente o movimento estudantil, principalmente o universitário. Sua entrada é uma das questões que o governo mais teme (e os mesmos sindicatos, como demonstraram na última onda de lutas conjuntas em 2008, onde a burocracia sindical abandonou o movimento estudantil universitário que terminou fortemente golpeado) pela radicalidade que poderia agregar à situação.

3° Por último, a greve no transporte não foi tão forte como se esperava, o que tirou a espetacularidade e contundência da ação grevística se comparada à outros movimentos, mais ainda levando em conta a importância desse setor na economia capitalista em geral e na França em particular, onde é a coluna vertebral do movimento operário nas últimas décadas. Contudo, esse fato ressalta outra característica da jornada de hoje na qual muitos assalariados ficaram em casa, muitos provavelmente com uma adesão passiva e outros tiraram o dia, ou ainda por medo de perturbações maiores que não aconteceram. A nosso ver, esse elemento que é ressaltado por alguns jornais para respirarem tranquilos, continua enfatizando o caráter político da ação.

A questão continua aberta. O governo, como comenta uma nota de análise do diário Le Monde de 28/01, começa a mostrar sintomas de debilidade. A rapidez de mudança do estado de ânimo da população, que nos últimos 6 meses estava atônita e chocada frente à crise e passou ao atual descontentamento, à volta da “França que resiste”, fez mudar a cara de otimismo do governo da direita dura de Sarkozy. O diário parisiense disse da seguinte maneira: “Nicolas Sarkozy frente à síndrome do país regicida” e coloca que “O presidente da República afirma que quer continuar com as reformas, mas confessa também que ‘ a França não é o país mais simpres do mundo de se governar”, ele recorda que ‘os franceses guilhotinaram um rei’, que ‘em nome de uma medida simbólica, eles podem convulsionar o país’. Ele fala da França como um ‘país regicida’” (Le Monde, Françoise Fressoz, 28/01/2009).

A chave, então, é a capacidade de resposta e organização dos assalariados. Isso passa em primeiro lugar, por lutar pela continuidade das medidas organizando um verdadeiro plano de luta e não as jornadas de ação desconexas que já desgastaram importantes movimentos nas ruas no passado. Em segundo lugar, a chave é votar uma verdadeira pauta de reivindicações que inclua todas as demandas mais sentidos pelo povo trabalhador e pela juventude (e não a súplica debilmente pseudo keynesiana do documento das oito centrais sindicais que convocaram a jornada de 29 de janeiro) que forje verdadeiramente a unidade da classe operária e dos oprimidos, em especial seus setores mais explorados, os jóvens das banlieus que se mobilizaram em grande medida nas recentes marchas contra a agressão sionista a Gaza e como questão determinante, os jovens assalariados, que sofrem majoritariamente a precarização com contratos de duração determinada e hoje são os primeiros a serem demitidos.

Terceiro, há que retomar as melhores tradições de auto-organizaçã o que que vêm dado o ciclo de lutas dos trabalhadores e jovens franceses em especial nas tentativas de coordenação em algumas cidades na greve geral das estatais de 1995 ou o exemplo da Coordenadoria estudantil em 2006 e extendê-lo e apronfundá-lo a todo o movimento operário. É a única forma de superar armdilha que a burocracia colocou às grandes mobilizações dos jóvens e trabalhadores nos últimos anos levando a muitas derrotas ou, quando a magnitude do movimento o impediu, a meros retrocessos parciais que não reverteram a queda do nível de vida da população e que agora se acelerou fortemente com a crise, e permitindo depois ao governo de plantão retomar a ofensiva.

Concluindo, o caráter político da ação agudiza mais que nunca os problemas de programa, estratégia e direção dos assalariados para dar continuidade às ações e elevá-las a um enfrentamento “tout court” contra o regime, o governo e a França dos grandes capitalistas e banqueiros.

Só desse modo, confiando em suas próprias forças e organização, desconfiando dos falsos amigos que agora se aproximam de suas marchas para tentar capitalizar o descontentamento, como a direção do Partido Socialista (que já demonstrou no passado que quando governa, não tem diferença com a direita e agora só quer se relocalizar frente às próximas eleições européias e o crescimento da “extrema esquerda”), poderão os trabalhadores e jóvens franceses derrotar Sarkozy e seu plano que busca que os trabalhadores paguem, mais uma vez, pela crise.

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