domingo, 15 de fevereiro de 2009

Desemprego e fome nos EUA

Desemprego e fome se espalham... nos EUA*  - *15/2/2009* -
http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=20006

A primeira reação costuma ser de espanto, e é seguida de uma pergunta: como
é que os cidadãos do país mais rico do mundo podem chegar a um nível
financeiro tão desesperador? Em seguida, surge entre eles próprios a segunda
reação: lamentar-se com uma dose de constrangimento misturada à outra de
vergonha.

Isso é perceptível até mesmo no jargão oficial do governo.

A reportagem é de *José Meirelles Passos* e publicada pelo jornal *O Globo*,
15-02-2009.

Suas estatísticas mostram que hoje uma em cada nove residências é habitada
por pessoas com "insegurança alimentar". Esse passou a ser o termo usado
para se admitir, de forma menos chocante, de que se tratam de famílias que
chegam a passar fome.

O desemprego crescente — que já atinge a marca de 22,6% em alguns casos — é
uma das maiores causas dessa realidade.

Nada menos do que 3,6 milhões de pessoas ficaram sem trabalho desde dezembro
de 2007, quando começou a recessão. E a estimativa é que mais dois milhões
engrossarão esse contingente até dezembro próximo.

Os chamados "Centros de Carreira", 2.942 postos federais de treinamento e
ofertas de empregos, criados pelo Congresso dez anos atrás, jamais foram tão
freqüentados como nos últimos meses. Eles passaram a ser definidos como
"prontos-socorros" da economia americana:

— O que estamos vendo é um show de horror! – afirmou *Lawrend Mishel*,
presidente do Economic Policy Institute, um centro de pesquisas econômicas
de Washington.

*Classe média faz bico para enfrentar crise *

Cerca de 40 milhões de pessoas nos Estados Unidos não têm o suficiente para
comer. O número de americanos sobrevivendo graças a cupons alimentares
distribuídos pelo governo já ultrapassou pela primeira vez, em novembro
passado, a cifra de 30 milhões.

Trata-se, na verdade, de um cartão eletrônico para ser usado unicamente em
supermercados e armazéns. Para ter direito a ele, o chefe de família precisa
ter uma renda abaixo do equivalente a 130% do índice federal de pobreza
(pouco menos de US$ 2.300 mensais para uma família de quatro pessoas).

Só que o cartão compra cada vez menos, apesar de ser ajustado de acordo com
a inflação.

O seu valor hoje — US$ 110 mensais — é US$ 64 menos do que seria o
necessário para se levar para casa alimentos suficientes para cobrir a dieta
básica estipulada pelo Departamento de Agricultura, para uma família de
quatro pessoas. Por isso, muitas vão também aos centros de caridade que
servem refeições diárias: a procura aumentou 20% nas áreas mais ricas e 40%
nas mais pobres.

O aperto está atingindo em cheio inclusive a classe média.

*Richard*, que tinha um ótimo emprego até dezembro passado, está conseguindo
viver sem aquela ajuda — ainda que a um custo que define como igualmente
humilhante. Ele era alto funcionário na *General Dynamics*, firma
aeroespacial sediada em Falls Church, vizinha da capital americana, e que
também produz submarinos e sistemas avançados de combate para o Pentágono.

*Richard*, de 56 anos, ganhou o suficiente para comprar uma ampla casa, dois
carros importados e até uma lancha. Agora, faz das tripas coração para
tentar manter tais bens, ao preço de uma queda vertiginosa em seu padrão de
vida: ele agora trabalha à noite — das 22h às 5h — carregando mercadorias em
caminhões da UPS, a firma de entregas rápidas.

Dias atrás, ele comemorou o fato de ter conseguido um segundo bico, ainda
que seja para trabalhar *part time*, sem benefícios, no setor que deflagrou
a crise financeira: o de hipotecas, no qual se estima que mais dois milhões
de casas serão arrestadas este ano.

Ele começou a trabalhar numa financeira, aceitando ganhar comissão (2,5%)
que é metade do que a de praxe, para cobrar hipotecas atrasadas durante
algumas horas do dia.

— É um trabalho ingrato. Me corta o coração bater na porta das casas e
apresentar a cobrança, sabendo exatamente, na própria pele, o sacrifício que
as famílias estão fazendo para conseguir sobreviver — disse *Richard*,
praticamente implorando para que seu sobrenome e sua foto não fossem
publicados, sob o argumento de que jamais se sentiu tão envergonhado.

*Na Califórnia, mais cidades com desemprego alto*

Resta saber se o pacote de estímulo econômico de US$ 787 bilhões que o
presidente *Barack Obama* deverá assinar amanhã será suficiente para mudar,
pelo menos em parte, a evidente deterioração no padrão de vida dos
americanos.

Algo realmente não vai bem quando, de uma lista de 34 cidades onde o índice
de desemprego atingiu dois dígitos, 12 são da Califórnia — o estado mais
rico dos EUA.

E ali está o recorde nacional: em El Centro, cidade de 40 mil habitantes,
onde nasceu a cantora *Cher*, nas imediações de San Diego, está com nada
menos do que 22,6% de desempregados.

Ali há dois casos semelhantes ao registrado em New Franklin, no estado de
Ohio — onde 85% dos trabalhadores de uma fábrica de ferramentas que fechou
há um ano até agora não conseguiram outro emprego.

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