Desemprego e fome se espalham... nos EUA* - *15/2/2009* - http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=20006 A primeira reação costuma ser de espanto, e é seguida de uma pergunta: como é que os cidadãos do país mais rico do mundo podem chegar a um nível financeiro tão desesperador? Em seguida, surge entre eles próprios a segunda reação: lamentar-se com uma dose de constrangimento misturada à outra de vergonha. Isso é perceptível até mesmo no jargão oficial do governo. A reportagem é de *José Meirelles Passos* e publicada pelo jornal *O Globo*, 15-02-2009. Suas estatísticas mostram que hoje uma em cada nove residências é habitada por pessoas com "insegurança alimentar". Esse passou a ser o termo usado para se admitir, de forma menos chocante, de que se tratam de famílias que chegam a passar fome. O desemprego crescente — que já atinge a marca de 22,6% em alguns casos — é uma das maiores causas dessa realidade. Nada menos do que 3,6 milhões de pessoas ficaram sem trabalho desde dezembro de 2007, quando começou a recessão. E a estimativa é que mais dois milhões engrossarão esse contingente até dezembro próximo. Os chamados "Centros de Carreira", 2.942 postos federais de treinamento e ofertas de empregos, criados pelo Congresso dez anos atrás, jamais foram tão freqüentados como nos últimos meses. Eles passaram a ser definidos como "prontos-socorros" da economia americana: — O que estamos vendo é um show de horror! – afirmou *Lawrend Mishel*, presidente do Economic Policy Institute, um centro de pesquisas econômicas de Washington. *Classe média faz bico para enfrentar crise * Cerca de 40 milhões de pessoas nos Estados Unidos não têm o suficiente para comer. O número de americanos sobrevivendo graças a cupons alimentares distribuídos pelo governo já ultrapassou pela primeira vez, em novembro passado, a cifra de 30 milhões. Trata-se, na verdade, de um cartão eletrônico para ser usado unicamente em supermercados e armazéns. Para ter direito a ele, o chefe de família precisa ter uma renda abaixo do equivalente a 130% do índice federal de pobreza (pouco menos de US$ 2.300 mensais para uma família de quatro pessoas). Só que o cartão compra cada vez menos, apesar de ser ajustado de acordo com a inflação. O seu valor hoje — US$ 110 mensais — é US$ 64 menos do que seria o necessário para se levar para casa alimentos suficientes para cobrir a dieta básica estipulada pelo Departamento de Agricultura, para uma família de quatro pessoas. Por isso, muitas vão também aos centros de caridade que servem refeições diárias: a procura aumentou 20% nas áreas mais ricas e 40% nas mais pobres. O aperto está atingindo em cheio inclusive a classe média. *Richard*, que tinha um ótimo emprego até dezembro passado, está conseguindo viver sem aquela ajuda — ainda que a um custo que define como igualmente humilhante. Ele era alto funcionário na *General Dynamics*, firma aeroespacial sediada em Falls Church, vizinha da capital americana, e que também produz submarinos e sistemas avançados de combate para o Pentágono. *Richard*, de 56 anos, ganhou o suficiente para comprar uma ampla casa, dois carros importados e até uma lancha. Agora, faz das tripas coração para tentar manter tais bens, ao preço de uma queda vertiginosa em seu padrão de vida: ele agora trabalha à noite — das 22h às 5h — carregando mercadorias em caminhões da UPS, a firma de entregas rápidas. Dias atrás, ele comemorou o fato de ter conseguido um segundo bico, ainda que seja para trabalhar *part time*, sem benefícios, no setor que deflagrou a crise financeira: o de hipotecas, no qual se estima que mais dois milhões de casas serão arrestadas este ano. Ele começou a trabalhar numa financeira, aceitando ganhar comissão (2,5%) que é metade do que a de praxe, para cobrar hipotecas atrasadas durante algumas horas do dia. — É um trabalho ingrato. Me corta o coração bater na porta das casas e apresentar a cobrança, sabendo exatamente, na própria pele, o sacrifício que as famílias estão fazendo para conseguir sobreviver — disse *Richard*, praticamente implorando para que seu sobrenome e sua foto não fossem publicados, sob o argumento de que jamais se sentiu tão envergonhado. *Na Califórnia, mais cidades com desemprego alto* Resta saber se o pacote de estímulo econômico de US$ 787 bilhões que o presidente *Barack Obama* deverá assinar amanhã será suficiente para mudar, pelo menos em parte, a evidente deterioração no padrão de vida dos americanos. Algo realmente não vai bem quando, de uma lista de 34 cidades onde o índice de desemprego atingiu dois dígitos, 12 são da Califórnia — o estado mais rico dos EUA. E ali está o recorde nacional: em El Centro, cidade de 40 mil habitantes, onde nasceu a cantora *Cher*, nas imediações de San Diego, está com nada menos do que 22,6% de desempregados. Ali há dois casos semelhantes ao registrado em New Franklin, no estado de Ohio — onde 85% dos trabalhadores de uma fábrica de ferramentas que fechou há um ano até agora não conseguiram outro emprego.
domingo, 15 de fevereiro de 2009
Desemprego e fome nos EUA
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário