sábado, 28 de fevereiro de 2009

Crise econômica - 4a parte

*O nome da crise*" É preciso sepultar equivocadas interpretações que ajudam a explicar nossatolerância ao problema do desemprego", escreve *CesarBenjamin<http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=19539>*, editor da Editora Contraponto, em artigo publicado no jornal *Folha de S.Paulo*, 21-02-2009. Segundo ele, "é preciso sepultar quatro interpretaçõesequivocadas, amplamente difundidas, que ajudam a explicar a nossa tolerânciaao problema".*Eis o artigo.*O Brasil assistiu com leniência a um salto no patamar histórico dodesemprego durante a década de 1990. Nos últimos anos, houve uma suave quedanos índices, mas tudo indica que no próximo período o problema se tornaránovamente agudo. A recente queda na produção industrial foi de quase 20% emapenas um trimestre, um recorde que sinaliza o início de um ciclo decontração. Os números sobre o desemprego acabam refletindo esse movimentocom alguma defasagem no tempo. É o que veremos nos próximos meses. Combateressa tendência será o grande desafio. É preciso sepultar *quatrointerpretações* equivocadas, amplamente difundidas, que ajudam a explicar anossa tolerância ao problema.O aumento do desemprego foi apresentado, nos últimos 20 anos, como umsubproduto do aumento da produtividade da economia brasileira, o quepermitia considerá-lo, implícita ou explicitamente, como um aspectoproblemático de um processo essencialmente desejável e virtuoso. Daí a ideiade uma certa inevitabilidade. É falso:* modernização técnica e emprego nãose excluem*. O problema é que, no Brasil, a produtividade aumentou muitomais do que a produção, pois o crescimento econômico foi rastejante.Quando a produção cresce com a produtividade, o nível de emprego se mantém.Quando cresce mais, ele aumenta.Uma *segunda interpretação* tem destacado a baixa qualidade da força detrabalho brasileira. Abandona-se, assim, a questão social (ofertainsuficiente de empregos) e se transfere o problema para os indivíduosafetados (sua "baixa empregabilidade").Porém, excetuando situações específicas, não representativas do conjunto,também é *falsa a ideia de que o trabalhador brasileiro não tem aqualificação que a economia demanda*. As estatísticas mostram que perdem oemprego, principalmente, pessoas com 35 a 45 anos de idade, chefes defamília, com experiência profissional e razoável qualificação.Na outra ponta, criam-se empregos, principalmente, no setor de serviços semqualificação: balconistas, vigilantes, motoboys e assim por diante.Ao contrário do que se pensa, nossa força de trabalho se tornousuperqualificada em relação ao tipo de emprego que foi criado nos últimos 20anos no Brasil, cuja economia perdeu capacidade de agregar valor a cadeiasprodutivas cada vez mais internacionalizadas.A *terceira interpretação* falsa destaca o excesso de encargos sociais.Divulga-se que eles representam 102% dos salários. A base desse cálculo estáerrada, pois ele considera encargos o descanso semanal, as férias, o décimoterceiro etc. Encargos, em todo o mundo, são apenas as contribuiçõesdestinadas a fundos coletivos que financiam políticas gerais.Tudo o que é apropriado pelo próprio trabalhador é parte do seu salário.Fazendo as contas corretamente, a relação entre encargos e salários, noBrasil, é de apenas 25%. Além disso, o que é relevante para o investimento éo custo total do trabalho, que se mantém idêntico nas duas contas e énotoriamente baixo entre nós. A retirada de direitos trabalhistas não geranenhum novo posto de trabalho.Por fim, repete-se que o *desemprego é uma situação típica das metrópoles,onde se realizam as pesquisas mensais, e não se repetiria no conjunto dopaís*. Porém o último Censo -a única pesquisa com abrangência nacional-apurou uma taxa média de 15,04% em todo o território, quando o desempregomedido pelo IBGE em regiões metropolitanas estava em torno de 7%.Combater essas mistificações é o primeiro passo para enfrentarmos o problemacom a seriedade que ele merece.

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