segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Darwin, o abolicionista

Darwin, o abolicionista

Prospect
Adrian Desmond
Pernas acorrentadas, torniquetes usados para amassar os dedos das escravas fugitivas, um menino de 6 anos chicoteado por servir água em um copo sujo: parecem cenas de uma história de terror moderna, mas foram todas vistas pelo jovem Charles Darwin em suas viagens no Beagle ao redor da América do Sul escravagista. Não se encontra menção sobre elas nas páginas muito racionais e científicas de "Sobre a Origem das Espécies". Mas examine os diários, os cadernos particulares e o passado familiar de Darwin e encontrará um homem imerso na retórica e na crença fervorosa do movimento antiescravagista. O homem de ciência público foi influenciado por essas paixões privadas? À luz das minuciosas pesquisas em arquivos das cartas, papéis e anotações de Darwin, acredito que a resposta é um firme "sim". Embora ele nunca tenha admitido publicamente tal motivação política, o sentimento antiescravidão foi um importante apoio à grande conquista intelectual de Charles Darwin - a teoria da evolução. Um jovem rico saído dos claustros de Cambridge, Darwin embarcou no navio Beagle em Plymouth em 27 de dezembro de 1831. Seu itinerário de lugares longínquos é bem conhecido. O que em geral se percebe menos é que a viagem tinha diversos objetivos. Darwin viajou como companheiro do irritadiço capitão Robert FitzRoy, cujo principal objetivo era devolver três aborígines alakaluf e yahgan (para Darwin, "fueguinos", pois vinham da Terra do Fogo, o arquipélago no extremo sul das Américas). Eles haviam sido capturados na viagem anterior do Beagle e cristianizados como experiência. Darwin viveu durante meses com esses chamados "selvagens" civilizados e compreendeu em primeira mão que, como ele escreveu, a distância entre os selvagens e os civilizados não era maior que aquela entre animais selvagens e domésticos. Ainda mais importante, a viagem expôs Darwin ao que poucos cavalheiros ingleses da época jamais veriam - a completa e crua barbárie da escravidão. Em terra na América do Sul, sabemos pelo diário que publicou em 1845 que Darwin viu aquelas correntes, os torniquetes e o menino de 6 anos chicoteado, além de outras "atrocidades de partir o coração". Ele se descreveu como incapacitado, enquanto estrangeiro, de intervir (só o garoto chicoteado teve sua interferência; não sabemos de outra instância). Mas depois da viagem a frustração transbordou para seus cadernos evolucionistas - um recurso de crucial importância no desenvolvimento de suas ideias -, que condenavam o escravagista "que degrada sua Natureza e viola os melhores instintos ao escravizar seu semelhante negro". Mais ou menos na mesma época, os apologistas da escravidão nos EUA afirmavam que os caucasianos e os africanos eram espécies diferentes. Essa alegação não era apenas dos propagandistas no sul do país, mas também de homens de ciência que possuíam escravos. As diversas espécies humanas não tinham uma origem comum, diziam - remontavam imutáveis à época da criação. Essas justificativas dos donos de plantações revoltavam Darwin. Mas não se limitavam aos EUA. Muitos antropólogos na Grã-Bretanha e na América atraíam grandes públicos depois da década de 1840 afirmando que os brancos eram a única espécie capaz de civilização. Afinal, diziam, os negros nunca haviam produzido "um Cícero, um Bacon ou um Shakespeare". Estavam destinados a ser apenas escravos ou criados. Darwin era muito consciente da opinião das "espécies separadas". No Beagle, ele levou uma famosa obra de 17 volumes, o "Dictionnaire Classique d'Histoire Naturelle", que dividia os seres humanos em 15 espécies e, muito ofensivamente (na visão de Darwin), até citava os fueguinos e patagônios como duas delas. Darwin, que conhecia bem esses povos, sabia que eram relacionados intimamente, mas adaptados a terrenos diferentes. Para o "Dictionnaire", cada espécie tinha sua linhagem própria. Os fueguinos e os patagônios não apresentavam maior parentesco que os homens brancos e negros. Assim, Darwin voltou à Inglaterra agradecendo a Deus "que nunca mais visitarei um país escravagista". Os eventos marcaram sua memória. Mas a viagem não foi tanto um despertar quanto uma confirmação das opiniões radicais em que Darwin havia sido criado. Mesmo antes de embarcar no Beagle, ele foi preparado para detestar o que viu no Brasil. A extensão do envolvimento de sua família com o fim de toda a escravidão foi revelada por Jim Moore depois de pesquisar os negligenciados arquivos nas cerâmicas Wedgwood (Josiah Wedgwood, o mestre ceramista, foi o avô materno de Darwin). O trabalho minucioso com milhares de cartas desbotadas não deixou dúvidas sobre esse compromisso. É muito sabido que o avô Wedgwood havia produzido o famoso selo "Não sou um homem e um irmão?" para a Sociedade para a Efetivação da Abolição do Comércio de Escravos - na verdade ele produziu milhares de medalhões com o lema a suas próprias custas, que se tornaram peças na moda, usadas em solidariedade, as papoulas vermelhas da época. Mas ele também patrocinou o grande agitador abolicionista Thomas Clarkson, o homem que percorreu 35 mil milhas entre portos coletando estatísticas sobre o tráfico. O dinheiro de Wedgwood também financiou a Sierra Leone Company, criada para ajudar os escravos libertos a se estabelecerem na África. O primeiro encontro de Darwin com uma pessoa negra é tão intrigante quanto pouco conhecido. Enviado para estudar medicina na Universidade de Edimburgo em 1825, Darwin foi um fracasso, e os poucos anos que passou ali são geralmente desprezados. A cirurgia o aterrorizava; as palestras o entediavam. Mas, no meu entender, ele passou 40 horas no primeiro inverno aprendendo a empalhar aves com um escravo liberto das Guianas, John Edmonston, que contava histórias sobre a vida nas plantações e sobre a floresta tropical. A Guiana estava no noticiário: uma rebelião de escravos havia sido esmagada poucos meses antes, e John (supostamente descendente de cativos na África Ocidental) havia percorrido a floresta com o explorador Charles Waterton, cujo "Wanderings in South America" eram a sensação do momento. Assim, para Darwin, que tinha quase 17 anos, havia um certo encanto na companhia desse homem no gélido inverno de 1826. John tornou-se um "íntimo" nas palavras do próprio Darwin. Ele sabia que os negros podiam ser civilizados. Sabia que as raças não eram espécies separadas, como afirmavam os donos de escravos, mas ficou frustrado por não conseguir fazer nada sobre a escravidão no estrangeiro. Agora seu sentimento reprimido se despejou em uma nova e estranha ciência: uma que se baseava em uma verdade oposta e evidente, de que o escravo negro era "um homem e um irmão". Para ele, o corolário da irmandade era uma imagem racial radicalmente diferente da defendida pela maioria de seus contemporâneos: a de uma "descendência comum". E foi esta que formou a imagem central da original ciência evolucionista de Darwin. Para a maioria dos colegas de Darwin, a evolução era, sob qualquer aspecto, bizarra e execrável. Um de seus professores de geologia e ordenado na igreja queria pisar com "um calcanhar de ferro sobre a cabeça desse aborto nojento". As agonias de Darwin sobre suas próprias teorias são conhecidas. Ele levou três décadas para revelar plenamente suas idéias sobre a evolução humana. Criou sua teoria em 1837-1839, publicou "Sobre a Origem das Espécies", que evitou falar sobre a humanidade, em 1859 e finalmente tomou coragem para anunciar sua crença na evolução humana em "A Descendência do Homem" em 1871. A questão ardente, na verdade, é por que um jovem recém-saído do Beagle, com uma carreira brilhante em perspectiva - um cavalheiro para quem a honra era tudo - pensaria em arriscar tudo para desenvolver uma teoria do "homem-macaco" que confrontava os princípios mais sagrados da sociedade cristã à qual ele pertencia; e por que ele perseverou nisso através de longos anos de dúvida e temível isolamento? É em sua relação com a escravidão e a causa abolicionista que encontramos a resposta. Em primeiro lugar, existe uma pergunta incômoda a ser respondida. Se suas visões abolicionistas orgulhosamente defendidas eram tão centrais para sua ciência, por que Darwin nunca menciona explicitamente a ligação entre elas? A resposta é dupla. Primeiro, mesmo que ele reconhecesse conscientemente esses princípios morais como verdades evidentes, existe o segredo em que ele envolvia todo o seu pensamento sobre a evolução. Em segundo lugar, há uma questão maior na maneira como Darwin concebia suas próprias "motivações". Darwin era um homem de ciência que trabalhou em uma época em que esses homens deviam seguir os princípios indutivos de Bacon. O próprio "A Origem das Espécies" apresenta seu trabalho como um acúmulo paciente de fatos que o obrigou a conclusões evolucionistas. Seus cadernos pessoais, escritos imediatamente depois da viagem do Beagle, contam uma história totalmente diferente; mas Darwin nunca teria concebido seus próprios estudos como motivados por qualquer outra coisa que não a observação e o raciocínio. Suas suposições subjacentes, como acontece com frequência com os cientistas, não foram examinadas. A chave para se entender a posição conflituosa de Darwin e suas ações é não tanto a evidência que ele coletou quanto a maneira particular como ele as formulou. O relato dominante desse processo - que os "fatos" que ele descobriu forçaram sua mão e o levaram a desenvolver suas teorias da maneira como o fez - não se sustenta. Não há dúvida de que as aves de Galápagos e as preguiças dos pampas foram cruciais. Mas muitos naturalistas marinhos tinham visto tanto quanto Darwin viu e não gritaram: "Evolução!". Darwin era diferente. E o historiador da ciência deve tentar entender o que o impeliu a ver a evolução especificamente, e unicamente, em termos da origem comum, e assim fazer do homem apenas um tipo melhor de bruto. Qual foi o ganho moral que superou as consequências: noites sem dormir, o medo da ridicularização, o ostracismo ou pior? A resposta é clara. Levado por sua herança antiescravagista e a terrível experiência da escravidão no Brasil, Darwin voltou à Inglaterra em 1836 e imediatamente concebeu uma imagem de descendência comum. Seus cadernos evolucionistas particulares de 1837-1838 mostram que seu pensamento se afasta do parentesco e da irmandade raciais para unir toda a criação sofredora. Ele desenvolveu essas idéias em um momento de crescente euforia abolicionista, quando os escravos estavam terminando seu "aprendizado" compulsório e finalmente sendo libertados. As origens comuns, naquela época, eram quase desconhecidas na história natural. Mas eram ubíquas na ideologia abolicionista. Essa literatura abolicionista foi a fonte de Darwin. A civilização não era uma prerrogativa branca, ele sabia. Esses sentimentos estão por trás da série de anotações de 1838 em que Darwin levou suas conclusões ao limite. Existem diversas ironias aqui. Darwin estava libertando os escravos para torná-los igualmente humanos. Mas estava também transformando todos os humanos em animais, rejeitando os que "pensam que a origem da humanidade é divina". Para muitos de seus críticos, uma abominação estava substituindo outra; e o remédio evolucionista era tão ruim quanto a doença da escravidão. Também há uma ironia mais triste. O humanismo de Darwin era subjetivo. Ele refletia a natureza conflituosa da sociedade britânica, em que metade do país estava tentando libertar os escravos enquanto seus compatriotas que viviam na Austrália e em outros lugares estavam ocupados exterminando os aborígines nômades em nome do progresso econômico. O próprio Darwin havia testemunhado a limpeza étnica em escala mundial: os indígenas dos pampas na Argentina assassinados pelos gaúchos do general Rosas para liberar o terreno para o gado; os últimos tasmanianos levados para acampamentos. O Beagle chegou em meio das guerras xhosa no Cabo, no início da "Grande Marcha" bôer. Esses eventos prefiguravam um lado mais sombrio do darwinismo; e a visão do próprio Darwin se tornou mais sombria depois que ele leu em Thomas Malthus sobre as guerras e a fome como consequências das pressões populacionais. Ele usou idéias malthusianas para normalizar e naturalizar o genocídio colonial, tornando-o parte do processo evolucionário, sugerindo que esse conflito não apenas foi "natural", mas benéfico (na medida em que os sobreviventes "mais aptos" levaram adiante a raça humana). Os povos incivilizados das planícies estavam indo no caminho da megafauna que ele encontrou fossilizada sob seus pés. Mas Darwin viu o conflito colonial como uma inevitabilidade a ser explicada, e não uma opção política a ser contestada. É uma suprema ironia que o abolicionista gentil e revoltado acabasse justificando a erradicação colonial. Ele não viu a incongruência. E com o passar dos anos, adotou mais as atitudes de sua classe cavalheiresca sobre a ordem moral, tecnológica e intelectual "superior" conquistada pelos europeus brancos. Então temos de viver com Darwin, com verrugas e tudo. Ele foi um homem de sua época, um espelho de sua cultura; racista enquanto também salvador da raça, perturbado pela crueldade enquanto naturalizava o genocídio, capaz de pôr a culpa na natureza e não no homem. A história é confusa e Darwin sempre foi um pensador paradoxal, ainda mais quando começou a se curvar aos ventos no final da vida. Para comemorar figuras históricas, precisamos primeiro compreendê-las. Em 2009, 200 anos depois de seu nascimento, é hora de acender um refletor sobre o Darwin mais jovem - o homem cuja crença na fraternidade humana se transmutou em uma teoria evolucionária da origem comum. Em vez de ser moralmente subversiva, como afirmam seus críticos cristãos, a realização de Darwin se baseou na moral. Em vez de ser uma prática desapaixonada, sua ciência teve um impulso humanitário. Ela fez irmãos e irmãs não apenas de todas as raças humanas por toda a vida

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Crise econômica 1a parte

*Crise leva ao corte de 20 mil na produção de frutas no NE* - *3/2/2009*


http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=19765

Sem encomendas dos EUA e da Europa, safras da região do Vale do São
Francisco devem ser 30% menores neste ano. Região responde por 42% de todas
as exportações de frutas do país; atividade emprega 240 mil pessoas e
movimenta US$ 800 mi/ano.

A reportagem é de *Fábio Guibu* e publicada no jornal *Folha de S.Paulo*,
03-02-2009.

Os importadores europeus e norte-americanos que financiavam a produção de
frutas do Vale do São Francisco, por meio de adiantamentos de até R$ 300
milhões anuais em compras antecipadas, suspenderam as operações neste ano
devido à crise mundial. Descapitalizados, os fruticultores nordestinos já
demitiram cerca de 20 mil pessoas e preveem uma queda de pelo menos 30% na
safra 2009.

O vale é responsável por 42% das exportações de frutas do país, um negócio
que movimenta US$ 800 milhões por ano. A atividade emprega 240 mil pessoas
na região de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) e ocupa 120 mil hectares de
terras irrigadas pelo rio São Francisco.

"A situação é bastante complicada", disse o diretor-executivo da Cooperativa
Agrícola Juazeiro, *Avoni Pereira dos Santos,* 50. "Os compradores não estão
antecipando as compras, e os preços dos produtos caíram até 70% em mercados
como os Estados Unidos." De acordo com ele, a cultura mais afetada foi a da
uva, produzida por 2.200 fruticultores da região. Com a crise, o preço da
caixa de 4,5 kg de uva caiu de US$ 38 para US$ 14 nos EUA. Santos estima que
o prejuízo dos produtores de uva chegou a US$ 110 milhões em 2008.

O Vale do São Francisco produz 97% das uvas exportadas pelo país e 95% das
mangas vendidas ao exterior. "De um lugar próspero, esse lugar passou a ser
um pesadelo." Na empresa Logus Butiá, produtora e exportadora de uvas em
Petrolina (a 790 km de Recife), quase todos os empregados foram demitidos.
Dos 300 funcionários, restaram 50.

Segundo *Cesar Cotrim,* diretor da empresa, em períodos normais de
entressafra (novembro a janeiro), apenas 50 pessoas seriam demitidas. O
restante seria utilizado na preparação dos pomares. "O problema é que
estamos absolutamente descapitalizados", disse Cotrim. "O preço líquido do
nosso produto exportado caiu de US$ 21 em 2007 para US$ 7 em 2008, por
caixa", afirmou. "Isso representa um grande desastre", declarou. "Empatamos
com o custo operacional, mas não temos como pagar os compromissos."

Cotrim espera produzir neste ano apenas um terço das 2.500 toneladas de uva
colhidas no ano passado. "Não há dinheiro para trabalhar a fazenda inteira",
afirmou. Na opinião do vice-presidente da Valexport (Associação dos
Produtores e Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São
Francisco), *Aristeu Chaves,* a saída para a crise na fruticultura não passa
apenas pela concessão de novas linhas de crédito e renegociação dos débitos
antigos.

"Os empresários terão que entender que o mundo mudou com a crise", disse.
"Eles vão ter que repensar o mercado e diversificar." *Chaves* sugere a
intensificação dos negócios no Oriente Médio e na Ásia. "O mercado interno
cresceu, mas ainda não é capaz de absorver a produção do vale", afirmou.

Empresários e produtores da região se reúnem hoje, em Petrolina, com
representantes do governo e de bancos estatais para discutir os problemas e
a aplicação de uma nova linha de crédito, de R$ 200 milhões.

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*20 milhões de migrantes chineses perderam seus empregos* - *3/2/2009* –


http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=19764

Com a crise econômica global derrubando as exportações do país e fechando
fábricas, 20 milhões de migrantes chineses perderam seus empregos nos
últimos meses, e a expectativa é que esse número seja acrescido neste ano de
até 6 milhões de pessoas que irão para as cidades e não encontrarão
trabalho, gerando temores de uma onda de protestos contra o governo.

A reportagem é do jornal *Folha de S.Paulo*, 03-02-2009.

Segundo as estimativas oficiais, cerca de 15% dos 130 milhões de migrantes
tiveram que voltar para a zona rural por não encontrarem emprego. As
demissões, afirmou *Chen Xiwen*, diretor do órgão do governo de políticas
rurais, foram resultado direto da crise global e do seu impacto na indústria
chinesa voltada para a exportação. Ele disse ainda que o aumento do
desemprego será um desafio para a estabilidade social.

"O que os trabalhadores migrantes que perderam seus empregos vão fazer para
obter renda quando retornarem para suas vilas? Como vão lidar com isso? Esse
é um novo fator afetando a estabilidade social neste ano", disse Chen. O
desemprego dos migrantes, além da vida dos próprios, afeta a região de onde
saíram, já que as remessas são importante fonte de renda para as suas
famílias.

Para agravar a situação, o dado de 20 milhões de desempregados leva em conta
apenas aqueles trabalhadores que foram demitidos e voltaram para a zona
rural, não incluindo os que estão sem ocupação, mas permanecem nas cidades.
Além disso, há os trabalhadores urbanos que perderam o emprego e os jovens
que pretendem ingressar no mercado.

O aumento do desemprego é reflexo dos dados econômicos do país, que, ainda
que em muitos casos sejam positivos, estão abaixo da média dos últimos anos.
As exportações -que avançavam há mais de sete anos- recuaram em novembro e
dezembro do ano passado, e o PIB (Produto Interno Bruto) do quarto trimestre
cresceu 6,8%, expansão muito superior à dos países desenvolvidos e de boa
parte dos em desenvolvimento, mas a menor registrada pela China desde 2002.

Com isso, o governo, que no ano passado lançou um pacote de US$ 585 bilhões
(45% do PIB brasileiro de 2007) para estimular a terceira maior economia
mundial, já dá sinais de que pode ampliar o plano.

Por trás do pacote, também está uma preocupação com a manutenção no poder do
regime comunista, no comando desde 1949. O governo considera que precisa
crescer pelo menos 8% para garantir a entrada de mais pessoas no mercado de
trabalho e, assim, garantir a estabilidade social. O governo não divulga há
vários anos estatísticas oficiais com o número de protestos, mas artigo de
uma revista da agência estatal Xinhua prevê que as manifestações serão
recorde neste ano.

"O governo não deve ficar parado, desapontando os agricultores, diz* Liu
Shanying,* da Academia Chinesa de Ciências Sociais. "Se eles ficarem
desempregados por um longo tempo serão uma bomba-relógio." Na época dos
protestos na praça da Paz Celestial, há 20 anos, o PIB chinês se desacelerou
de 11,3%, em 1988, para 4,1%.

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*Trabalhadores contra trabalhadores - 3/2/2009* –

http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=19766

A recessão na Europa faz explodir uma tensão latente entre trabalhadores
locais e milhões de imigrantes que nos últimos anos chegaram ao continente.
Ontem, trabalhadores de uma usina nuclear na Inglaterra decidiram fechar a
instalação em uma greve contra a decisão de uma empresa de dar postos de
trabalho para italianos e portugueses. Nas obras para preparar Londres para
as Olimpíadas 2012, dezenas de romenos foram demitidos para dar lugar a
ingleses.

A reportagem é do jornal *O Estado de S.Paulo*, 03-02-2009.

Com desemprego batendo taxas recordes, vários partidos de oposição e de
extrema direta já questionam governos sobre a abertura de suas fronteiras e
um dos pilares da construção da UE: a livre circulação de trabalhadores. Em
Bruxelas, a ordem é evitar o protecionismo.

Na Itália, membros do governo já indicaram a necessidade de rever as cotas
para a imigração, em uma medida explicitamente protecionista. Na Suíça, o
Parlamento aprovou uma lei endurecendo os controles sobre imigrantes e, no
Parlamento Europeu, uma lei será aprovada nesta semana criando duras penas
contra empregadores que derem trabalho para pessoas sem visto.

Mas é no Reino Unido que a tensão se transformou em uma crise política.
Trabalhadores de uma refinaria da Total iniciaram uma greve diante da
decisão da empresa de dar 200 postos de trabalho a estrangeiros, com
salários mais baixos.

O protesto se espalhou e já envolve várias regiões e centenas de
trabalhadores. Ontem quase mil empregados da usina nuclear de Sellafield, no
Oeste da Inglaterra, optaram por interromper o trabalho por 24 horas.

Na Inglaterra, o desemprego atingiu neste mês sua maior taxa em 11 anos, com
2 milhões de desempregados. Ontem, o ministro de Indústrias do Reino Unido,
*Peter Mandelson*, criticou propostas de que barreiras formais aos
estrangeiros devessem ser criadas.

Segundo ele, 300 mil empresas britânicas dependem de estrangeiros e as
abertura das fronteiras é uma condição para a existência da UE. Mas, na
surdina, o governo demitiu cerca de 200 romenos que trabalhavam ilegalmente
nas obras para preparar Londres para os Jogos Olímpicos de 2012.

Em Londres, o governo endurece a política antiimigração. Mas os protestos em
relação aos imigrantes se proliferaram. Na sede da Total, em Paris, cerca de
600 pessoas fizeram um protesto. Na Suécia e Finlândia, casos já chegaram às
Cortes Supremas. Empregados questionavam a autorização de empresas para
contratar trabalhadores do Leste Europeu por salários mais baixos. A corte
autorizou.

França frente à crise econômica

França frente à crise econômica Bom começo no primeiro teste de força contra Sarkozy Por Juan Chingo - Fração Trotskista - França Quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A jornada de ação de 29 de janeiro na França foi massiva: segundo a polícia mais de um milhão de pessoas participaram em toda a França e 2,5 milhões segundo a CGT. Quantitativamente está à altura das grandes manifestações que fizeram o governo retroceder em 2006 na luta contra o CPE (contrato do primeiro emprego) ou ainda, em 2003, da luta pelas aposentadorias e nas de 1995 contra Juppé frente à reforma do regime especial dos ferroviários e da RATP (metrô e transporte urbano) e da assistência social; mesmo que provavelmente de magnitude menor que a última delas. Contudo, comparada com essas ações, o novo da ação de 29 de janeiro (e potencialmente significativo) é:

1° - A crescente participação, como não se via a muito tempo dos trabalhadores das empresas privadas, industriais ou de serviços, grandes multinacionais como o gigante do aço Arcelor Mittal, as empresas automotivas Peugeot Citroën, Renault Ford, a grande empresa de pneus Michelin, o grupo meio ambiental Veolia, a compania privada de telefones Free ou os grandes supermercados como Carrefour e outros comércios atacadistas como a Fnac e a Galeria Lafayette. Também participaram, mesmo que não organizados, assalariados de pequenas empresas. Desse ponto de vista, é a manifestação de participação operária ou assalariada de trabalhadores públicos (onde há que enfatizar uma forte adesão dos docentes e trabalhadores da saúde, etc.) e privados mais importante das últimas décadas.

2° Diferente da luta contra o CPE ou da luta de 2003 que terminou derrotada ou inclusive da greve geral das estatais de 1995, o movimento atual não tem uma reivindicação aglutinante clara, mas é uma jornada de ação claramente política, contra as consequências do desemprego, a queda do poder de consumo, a destruição da saúde e da educação pública, a precarização do trabalho, em especial entre os mais jóvens e fundamentalmente o sentimento de injustiça de que há resgate dos bancos (nesses dias, fez-se conhecido que, apesar das perdas do último trimestre, fecharam o ano com lucro) e nada para os assalariados ou aposentados. Isso se manifesta na ampla simpatia da população que a ação obteve (cerca de 75% de apoio), coisa que não se via desde 1995, e inclusive em níveis mais altos que nessa época

.

Por outro lado, devemos apontar:

1° Que diferente das lutas antes mencionadas, que se trataram de jornadas de mobilizações, greves e lutas de vários dias ou semanas, a atual foi uma greve e manifestação de um só dia. Em boa medida, as direções sindicais a convocaram para descomprimir a cólera dos assalariados, que poderia expressar-se (existe um grande medo quanto a isso) em duras greves em alguns setores, e sem nenhuima perspectiva de continuidade. No entanto, o êxito da jornada e a negativa do governo em mudar minimamente a orientação do plano de estímulo no sentido que pedem as direções sindicais- favorecendo o consumo e não o investimento ou baixando o ICMS, o que se choca com o déficit fiscal, ou aumentando o salário mínimo, medida fortemente defendida pela MEDEF, mais ainda em tempos de crise- poderia obrigar aos sindicatos a convocar novas jornadas de luta a medida que se aprofunda o desemprego e aumente a briga.

2° Ainda que houvesse setores de estudantes secundaristas bem combativos, que cantavam com toda sua força, ainda está ausente o movimento estudantil, principalmente o universitário. Sua entrada é uma das questões que o governo mais teme (e os mesmos sindicatos, como demonstraram na última onda de lutas conjuntas em 2008, onde a burocracia sindical abandonou o movimento estudantil universitário que terminou fortemente golpeado) pela radicalidade que poderia agregar à situação.

3° Por último, a greve no transporte não foi tão forte como se esperava, o que tirou a espetacularidade e contundência da ação grevística se comparada à outros movimentos, mais ainda levando em conta a importância desse setor na economia capitalista em geral e na França em particular, onde é a coluna vertebral do movimento operário nas últimas décadas. Contudo, esse fato ressalta outra característica da jornada de hoje na qual muitos assalariados ficaram em casa, muitos provavelmente com uma adesão passiva e outros tiraram o dia, ou ainda por medo de perturbações maiores que não aconteceram. A nosso ver, esse elemento que é ressaltado por alguns jornais para respirarem tranquilos, continua enfatizando o caráter político da ação.

A questão continua aberta. O governo, como comenta uma nota de análise do diário Le Monde de 28/01, começa a mostrar sintomas de debilidade. A rapidez de mudança do estado de ânimo da população, que nos últimos 6 meses estava atônita e chocada frente à crise e passou ao atual descontentamento, à volta da “França que resiste”, fez mudar a cara de otimismo do governo da direita dura de Sarkozy. O diário parisiense disse da seguinte maneira: “Nicolas Sarkozy frente à síndrome do país regicida” e coloca que “O presidente da República afirma que quer continuar com as reformas, mas confessa também que ‘ a França não é o país mais simpres do mundo de se governar”, ele recorda que ‘os franceses guilhotinaram um rei’, que ‘em nome de uma medida simbólica, eles podem convulsionar o país’. Ele fala da França como um ‘país regicida’” (Le Monde, Françoise Fressoz, 28/01/2009).

A chave, então, é a capacidade de resposta e organização dos assalariados. Isso passa em primeiro lugar, por lutar pela continuidade das medidas organizando um verdadeiro plano de luta e não as jornadas de ação desconexas que já desgastaram importantes movimentos nas ruas no passado. Em segundo lugar, a chave é votar uma verdadeira pauta de reivindicações que inclua todas as demandas mais sentidos pelo povo trabalhador e pela juventude (e não a súplica debilmente pseudo keynesiana do documento das oito centrais sindicais que convocaram a jornada de 29 de janeiro) que forje verdadeiramente a unidade da classe operária e dos oprimidos, em especial seus setores mais explorados, os jóvens das banlieus que se mobilizaram em grande medida nas recentes marchas contra a agressão sionista a Gaza e como questão determinante, os jovens assalariados, que sofrem majoritariamente a precarização com contratos de duração determinada e hoje são os primeiros a serem demitidos.

Terceiro, há que retomar as melhores tradições de auto-organizaçã o que que vêm dado o ciclo de lutas dos trabalhadores e jovens franceses em especial nas tentativas de coordenação em algumas cidades na greve geral das estatais de 1995 ou o exemplo da Coordenadoria estudantil em 2006 e extendê-lo e apronfundá-lo a todo o movimento operário. É a única forma de superar armdilha que a burocracia colocou às grandes mobilizações dos jóvens e trabalhadores nos últimos anos levando a muitas derrotas ou, quando a magnitude do movimento o impediu, a meros retrocessos parciais que não reverteram a queda do nível de vida da população e que agora se acelerou fortemente com a crise, e permitindo depois ao governo de plantão retomar a ofensiva.

Concluindo, o caráter político da ação agudiza mais que nunca os problemas de programa, estratégia e direção dos assalariados para dar continuidade às ações e elevá-las a um enfrentamento “tout court” contra o regime, o governo e a França dos grandes capitalistas e banqueiros.

Só desse modo, confiando em suas próprias forças e organização, desconfiando dos falsos amigos que agora se aproximam de suas marchas para tentar capitalizar o descontentamento, como a direção do Partido Socialista (que já demonstrou no passado que quando governa, não tem diferença com a direita e agora só quer se relocalizar frente às próximas eleições européias e o crescimento da “extrema esquerda”), poderão os trabalhadores e jóvens franceses derrotar Sarkozy e seu plano que busca que os trabalhadores paguem, mais uma vez, pela crise.

Socialismo oportunista e populista dos presidentes de centro-esquerda

*Cinco presidentes e um segredo* - Jeferson Choma da redação do Opinião
Socialista

Para Chávez, Lula, Evo, Correa e Lugo, o socialismo é para ser lembrado em
dias de festas

• Cinco presidentes latino-americanos participam ontem, dia 29 de janeiro,
do debate sobre a crise da economia e o futuro do continente, durante o
Fórum Social Mundial. Além de Lula, estiveram os presidentes Hugo Chávez, da
Venezuela; Evo Morales, da Bolívia; Fernando Lugo, do Paraguai; e Rafael
Correa, do Equador.


Os presidentes dirigiram muitas críticas ao capitalismo e às potências
imperialistas, taxadas como responsáveis pela atual crise econômica. Diante
de um auditório de 8 mil pessoas, Lula criticou a desregulamentação do
mercado e disse que o "Deus mercado" quebrou por "falta de controle". O
presidente ainda criticou os defensores do neoliberalismo e de um Estado com
pouca presença na economia. Segundo ele, aqueles que faziam críticas a
presença do Estado na economia agora defendem que ele deve socorrer os
bancos e às empresas em crise.


O que Lula não disse, porém, é que o seu governo fez o mesmo e não hesitou
em socorrer os lucros dos banqueiros e patrões. Em outubro, o governo
liberou um megapacote de R$ 160 bilhões ao sistema financeiro e mais R$ 19
bilhões aos empresários.


*Socialismo*


Já Evo Morales, Lugo, Chávez e Correa defenderam a criação de uma nova ordem
e a adoção do "socialismo do século 21" em alternativa ao capitalismo. Mas
afinal de que "socialismo" falam estes senhores?


Já virou lugar comum a suposta "defesa do socialismo" realizada por esses
presidentes, especialmente para dias festivos, repletos de ativistas de
esquerda. Mas apesar dos emplumados discursos, todos eles preservam e
respeitam a ordem econômica capitalista em seus respectivos países. Sua
retórica se encontra bem distante da prática. Todos asseguram a manutenção
da propriedade privada dos meios de produção. Com o "socialismo do século
21", as multinacionais continuam explorando as principais fontes de riquezas
naturais destes países, com a mesma sangria de recursos que os governos
anteriores proporcionavam.


Na Venezuela, por exemplo, petroleiras como Exxon Mobil, Chevron Texaco e
Repsol continuam controlando o petróleo, associadas agora à PDVSA, a estatal
petroleira venezuelana. A política econômica do governo Chávez ainda está
voltada aos interesses da burguesia do país. Uma prova é o chamado por um
"reimpulso produtivo", feito a um público formado por industriais e
banqueiros. O plano acaba com o Imposto a Transações Bancárias. Um grande
benefício para empresários e banqueiros, que deixaram de pagar cerca de US$
3 bilhões. A ajuda veio antes mesmo da crise econômica.


Numa rápida entrevista a imprensa, logo após o encerramento do evento,
Chávez declarou: *"Serão 50 milhões de empregos que irão se perder em todo
mundo, segundo as cifras mais conservadoras, não tanto na Venezuela porque
estamos no socialismo e faz pouco tempo que a Venezuela se desenganchou do
capitalismo internacional dirigido pelos Estados Unidos"*, afirmou. Mais uma
vez, a realidade desmente as palavras de Chávez. Oficialmente, segunda
noticia a Agência Bolivariana de Notícias, a taxa de desemprego no país é de
6%, e a informalidade atinge pelo menos metade da população.


Enquanto Chávez dizia que seu socialismo impedirá o desemprego, dois
trabalhadores da Mitsubishi morreram
lutando<http://www.pstu.org.br/internacional_materia.asp?id=9647&ida=0>contra
as demissões na Venezuela. Armados com fuzis, a polícia ocupou a
fábrica lançando uma chuva de balas e bombas de gás lacrimogêneo. A Agência
Bolivariana não noticiou. O governador do Estado, do PSUV, batizou o seu
governo de "revolucionário", o mesmo governo ao qual os policiais estão
subordinados.


A ocupação mostra que a Venezuela não está imune a crise. A queda dos preços
do petróleo poderá agravar ainda mais a situação econômica do país, já
bastante abalada pela inflação e a falta de alimentos. Como Chávez vai agir
diante do recrudescimento das lutas dos trabalhadores na defesa de seus
empregos?

* *

*Ventos da mudança?*


Evo Morales provocou aplausos quando lembrou da aprovação da nova
Constituinte boliviana. Mas esconde que a Constituição que foi ao referendo
nasceu de um pacto com a reacionária burguesia do país, que assassina
indígenas em Santa Cruz. Seu conteúdo incorporou as principais exigências da
burguesia das províncias da chamada meia lua: autonomia, ou seja, maior
controle sobre os recursos naturais nas suas regiões e, claro, garantia de
que seus latifúndios seguirão intactos.


Correa, outro defensor do "socialismo do século 21", defendeu o fim da
exclusão dos povos indígenas originários e o fim da rapina dos recursos
naturais do continente pelas multinacionais. No entanto, deve explicar
porque a principal entidade indígena do Equador, a CONAIE, o acusa em carta
aberta no Fórum de por ignorar direitos fundamentais dos povos indígenas,
reprimir violentamente e atacar seus territórios, debaixo do discurso do
"socialismo do século XXI".


Fernando Lugo disse que levará os ventos da mudança para o Paraguai. Mas não
há nenhuma mudança para os camponeses pobres do país que agora são
reprimidos pelas forças do governo "progressista".


A repressão no campo se abate de forma cruel. Empobrecidas, as massas
camponesas lançam-se desesperadamente em luta por seu direito a um pedaço de
terra. A reação do governo e do agronegócio vem sob disparos. Em outubro do
ano passado, um dirigente camponês, Bienvenido Melgarejo, tombou morto após
levar um tiro no peito durante uma feroz repressão policial contra uma
ocupação situada em Colônia Guarani, no Alto Paraná.


Uma das consequências da crise econômica internacional é levantar o debate
entre a esquerda para um terreno estratégico. Toda a panacéia neoliberal
entoada por anos, de que o socialismo morreu e de que o capitalismo seria a
única alternativa, derrete com a economia capitalista. Mas não é a primeira
vez que se abusa da palavra "socialismo". No século passado, a
social-democracia a utilizou para ocultar seu programa de reformar o
capitalismo. Depois a utilizou para reconstruir o capitalismo na Europa
devastado no pós-guerra. Mas ninguém abusou mais do que o stalinismo que se
utilizou do "socialismo" para justificar seus crimes, assassinatos e acordos
com o imperialismo.


Agora, os governos "progressistas" latino-americanos usam o socialismo como
roupa de gala em dias de festa, para garantir o verniz de esquerda e se
contrapor à crise do neoliberalismo. A experiência histórica mostra que só
existe um caminho para o socialismo: o fim da propriedade privada dos meios
de produção, base que sustenta a existência da burguesia. Só assim é
possível suprimir a busca do lucro por parte da burguesia, força motriz da
produção capitalista, e organizar a economia para satisfazer as necessidades
dos trabalhadores.


Pra enfrentar realmente a crise do capitalismo, é preciso bem mais do que
palavras. É preciso romper com os seus verdadeiros aliados: banqueiros,
empresários e multinacionais.

Trabalho de luto

Trabalho de luto

Relatório da OIT sobre a América Latina e anúncios de demissões nos EUA, na Europa e no Japão apontam para o derretimento dos níveis de emprego em escala global RICARDO ANTUNES ESPECIAL PARA A FOLHA

Começam a ficar mais claros os contornos e as primeiras consequências da crise que vem liquefazendo o sistema do capital em escala global. O Fórum de Davos (Suíça) "começa com executivos em pânico" (Dinheiro, 28/1). Lá, onde estão reunidos representantes das "classes verdadeiramente perigosas", os executivos globais contabilizam o que já é incontável e mergulham numa crise de proporções alarmantes. Enquanto isso, no outro canto do mundo, em Belém, o Fórum Social Mundial ganha uma impulsão extra. Isso porque ele vem, desde 2001, denunciando a lógica destrutiva dominante. Se ainda não foi capaz de oferecer um projeto societal alternativo e global para o mundo, contrário aos imperativos do capital, muitos de seus partícipes sabem que o capitalismo é o responsável pela (des)sociabilidade vigente e suas mazelas. Esse sistema poderá até ser ainda mais longevo, mas será sempre empurrado no tranco. Ora definhando o Estado ao mínimo (no que tange à sua dimensão pública), ora tendo surtos intervencionistas, como este que se abateu no governo de George W. Bush e de seus epígonos. Mas a crise vive um ciclo prolongado, datado do início dos anos 1970. Começou destroçando os países do Terceiro Mundo. Um a um, Brasil, Argentina, México, Uruguai, Colômbia, para ficarmos somente em alguns exemplos da América Latina, foram mergulhados no estancamento e na recessão, o que fez desmoronar o pouco que esses países construíram no capítulo dos direitos sociais do trabalho. Mas isso foi só o começo: depois foi a vez, no fim dos anos 1980, de levar à bancarrota o chamado "socialismo real" (União Soviética e o restante do Leste Europeu). Menos do que expressão do "fim do socialismo", esse fato antecipava uma nova etapa da crise do próprio capital. No olho do furacão No presente, depois do seu epicentro ter passado pelos principais países capitalistas (Japão, Alemanha, Inglaterra e França), chegou ao coração do sistema: os EUA estão agora no olho do furacão. E, com isso, uma vez mais se acentua o caráter pendular do trabalho. Nos países que vivenciaram traços do Estado de Bem-Estar Social, especialmente na Europa social-democrática, o dilema se colocou (ainda que sem tocar na raiz do problema) entre trabalhar menos e viver as benesses do ócio, curtindo o "tempo livre" (vale a indagação: será mesmo tempo livre, sem aspas?). Trabalhar menos, para todos viverem uma vida melhor, tornou-se consigna forte. Mas na América Latina (e o mesmo vale para a Ásia e a África) a dilemática tem uma profundidade ainda maior. Neste verdadeiro continente do labor, o pêndulo é ainda mais ingrato em seus dois polos opostos: ele oscila entre trabalhar ou não trabalhar; entre encontrar labor ou soçobrar no desemprego. Mais precisamente, entre sobreviver ou experimentar a barbárie, pois o Estado de Bem-Estar Social sempre andou muito longe daqui. Migalhas No meio do caminho, uma massa monumental de assalariados vivenciando uma precarização estrutural do trabalho em escala continental. Crianças, negros, índios, homens e mulheres trabalhando no fio da navalha. Conforme recordou Mike Davis, em seu "Planeta Favela" [ed. Boitempo], "não é raro encontrar [na América Central] empregadas domésticas de sete ou oito anos com jornadas semanais de 90 horas e um dia de folga por mês" ("Child Domestics", Domésticas Infantis, relatório da Human Rights Watch de 10/6/2004). Com a crise, o quadro se agrava: no recentíssimo "Panorama Laboral para América Latina e Caribe - 2008" (Organização Internacional do Trabalho, 27/1), o cenário social apresentado é de tal gravidade que beira a devastação. Se o desemprego diminuiu nos últimos cinco anos, o relatório da OIT antecipa que, "devido à crise, até 2,4 milhões de pessoas poderão entrar nas filas do desemprego regional em 2009", somando-se aos quase 16 milhões já desempregados (sem falar no "desemprego oculto", nem sempre captado pelas estatísticas oficiais). Ou seja, o que se conquistou em migalhas, a crise derreteu no último trimestre de 2008. Se, no centro do sistema, têm-se as maiores taxas de desemprego das últimas décadas, no continente latino-americano esse quadro se agudiza. Na maioria dos países houve retração salarial; as mulheres trabalhadoras têm sido mais afetadas, com taxa de desemprego 1,6 vez maior que os homens, e o desemprego juvenil, em 2008, em nove países, foi 2,2 vezes maior do que a taxa de desemprego total. A informalidade, que era exceção no passado, torna-se a regra. Flexibilidade No Brasil, a "marolinha" já desempregou milhares de trabalhadores na indústria, nos serviços e na agroindústria (atingindo até o etanol do trabalho semiescravo)

. O país, que o governo Lula afirmou ter uma economia estável e refratária à crise, está vendo a cada dia a corrosão dos níveis de emprego. O empresariado pressiona mais uma vez para aumentar a "flexibilidade" da legislação trabalhista, com a falácia de que assim se preservam empregos. Nos EUA, na Inglaterra, na Espanha e na Argentina, entre tantos outros exemplos, flexibilizou-se muito. Fica a indagação: por que então o desemprego vem se ampliando tanto nesses países? Para concluir, vale adicionar mais uma contradição vital em que o mundo mergulhou, quando o olhar vai além do cenário televisivo oferecido pelo contagiante "big brother" global: quando se reduzem as taxas de emprego, aumentam os níveis de degradação e barbárie em amplitude global. Se, em contrapartida, o mundo produtivo retomar os níveis altos de crescimento, esquentando a produção e seu modo de vida fundado na superfluidade e no desperdício, aquecerá ainda mais o universo, o que é mais um passo certo para uma outra tragédia já bastante anunciada.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Líder do nacional-bolcheviques é preso na Russia

Rússia O líder do partido nacional-bochevique foi detido de forma violenta este sábado em Moscou 31/01 14:15 CET

Edouard Limonov tentava organizar uma manifestação não autorizada para exigir a demissão do primeiro-ministro Vladimir Putin. A manisfestação foi a primeira de uma série de protestos programados para hoje. A crise económica levou milhares de pessoas descontentes às ruas de várias cidades russas para contestar as políticas do Governo. Em Vladivostok o Partido Comunista mobilizou três mil manifestantes entre os quais se encontravam militantes de outras formações. Ao mesmo tempo, um número maior de apoiantes do partido no poder, o Rússia Unida, manifestava-se na mesma cidade. O protesto realizou-se na presença de dirigentes locais e proclamavam o apoio a Putin. Tem o video lá pra conferir : http://www.euronews.net/pt/article/31/01/2009/anti-government-protests-in-russia

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

EUA - Obama perante os escombros

*Estados Unidos - Obama perante os escombros* - por Serge
Halimi<http://pt.mondediplo.com/spip.php?auteur56>

A entrada em funções de Barack Obama vai confirmar uma tripla ruptura.

Em primeiro lugar, uma ruptura política.

É a primeira vez desde 1965 que um presidente democrata inicia o mandato num
contexto de fraqueza, ou até de desgraça, das forças conservadoras. Em 1977,
Jimmy Carter venceu, sobretudo – e por pouca margem – graças à promessa de
uma renovação moral *(«Eu nunca vos mentirei»)*, na seqüência do escândalo
de Watergate, tendo a sua presidência sido marcada por uma política
monetarista e pelas primeiras grandes medidas de desregulamentação; em 1993,
Bill Clinton apresentou-se como o homem que iria «modernizar» o Partido
Democrata recuperando muitas idéias republicanas (pena de morte, ataque às
proteções sociais, austeridade financeira).

Em seguida, uma ruptura econômica.

O neoliberalismo à moda de Reagan deixou de ser defensável até para os que
eram seus partidários. George W. Bush admitiu-o *«com muito gosto»* durante
a última conferência de imprensa que deu como presidente, na segunda-feira
dia 12 de Janeiro: *«Pus de lado alguns dos meus princípios liberais quando
os meus conselheiros econômicos me informaram que a situação que íamos
enfrentar podia ser pior do que a Grande Depressão* (a crise de 1929)*»*.
Dizer *«pior»* é apesar de tudo um pouco exagerado, tendo em conta o quanto
a crise de 1929 fez fermentar «as vinhas da ira» e o quão pouco faltou para
o país mergulhar no caos. Ainda assim, 2008 termina com uma perda de 2,6
milhões de empregos nos Estados Unidos, 1,9 milhões dos quais apenas nos
últimos quatro meses do ano, o que representa o pior desempenho desde 1945 e
bem pode ser designado como uma queda livre. Isso ainda poderia passar se as
contas estivessem equilibradas e existisse uma possibilidade ilimitada de
recuperação através do endividamento, mas a realidade é outra. O déficit
orçamental vai atingir este ano 1,2 bilhões de dólares e 8,3 por cento do
produto nacional bruto (PNB). Também neste caso, o número é tão mau que
impressiona: além de ultrapassar os maus resultados da era Reagan (6% em
1983), assinala uma triplicação do déficit de um ano para outro. E, para
piorar a situação, cada dia parece anunciar uma nova falência bancária.

Por fim, uma ruptura diplomática.

Sem dúvida que, desde a Segunda Guerra Mundial, a imagem dos Estados Unidos
no mundo nunca esteve tão degradada. A maioria dos países considera muitas
vezes em percentagens esmagadoras, que a superpotência americana desempenha
um papel negativo nas questões mundiais. Iraque, Médio Oriente Afeganistão:
o *status quo* é de tal modo ruinoso e mortífero que parece inconcebível. De
resto, Obama começou a campanha em 2007 invocando a necessidade de uma
retirada do Iraque e foi graças a essa insistência que venceu Hillary
Clinton – sua futura secretária de Estado… – nas primárias democratas. O
calendário dessa retirada parece, todavia, estar já a opor o presidente
eleito (mais impaciente) e os militares (mais *«prudentes»*
[1<http://pt.mondediplo.com/spip.php?article438#nb1>]).
Mas a impaciência do primeiro não se explica minimamente por uma disposição
pacifista, decorrendo, sobretudo da vontade de Obama de deslocar para o
Afeganistão uma parte das tropas retiradas do Iraque. Ora, não é certo que
as perspectivas de atolamento sejam menores em Cabul do que em Bagdá…

Politicamente, o novo presidente tem as mãos livres. A paisagem de escombros
que herda vai condenar os seus adversários políticos a uma certa contenção.
A sua eleição, amplamente conseguida, beneficiou do entusiasmo das forças
vivas da nação, e em particular dos jovens. Por fim, tal como é em grande
medida sugerido pelos dossiês especiais, muitas vezes hagiográficos, que a
imprensa do mundo inteiro está a dedicar a Obama, a esperança suscitada pela
sua chegada à Casa Branca é imensa. Isso não se explica apenas pelo fato de
o presidente dos Estados Unidos ser negro. De repente, a «marca América»
está novamente de pé. Algumas decisões com forte dimensão simbólica
relativas ao encerramento de Guantanamo e à proibição da tortura vão
fortalecer esta impressão de se estar numa nova era. *«Devemos ser
igualmente diligentes a conformarmos-nos aos nossos valores e a proteger a
nossa segurança»*, anunciou o novo presidente.

As dificuldades vão começar em seguida. Não basta regar a economia americana
com liquidez para que a máquina econômica e o emprego voltem a pôr-se em
movimento. A preocupação da população quanto ao futuro é tão grande que, em
vez de se aprestar a consumir mais, poupa mais do que nunca
[2<http://pt.mondediplo.com/spip.php?article438#nb2>].
A taxa de endividamento das famílias, que desde 1952 estava em constante
aumento, registrou o primeiro recuo no terceiro trimestre do ano passado.
Ora, o que é seguramente desejável a médio e a longo termo vem colocar em
perigo o relançamento rápido que a nova equipa da Casa Branca prevê
conseguir através do consumo e do endividamento. *«Se não fizermos nada,
esta recessão pode durar anos»*, preveniu Obama, desejoso de que o seu
programa de despesas suplementares de 775 mil milhões de dólares, composto
por despesas públicas e diminuições de impostos, seja adotado o mais
depressa possível pelo Congresso. Será este programa suficiente? Alguns
economistas democratas como Paul Krugman consideram-no insuficiente e mal
concebido [3 <http://pt.mondediplo.com/spip.php?article438#nb3>].

A situação internacional também não parece prestar-se a resultados
imediatos. Deliberadamente ou não, os dirigentes israelitas colocaram o seu
grande aliado perante um fato consumado – uma guerra particularmente
impopular no mundo árabe – e obrigaram o novo presidente a dedicar-se
imediatamente a um dossiê minado que não era de forma alguma uma sua
prioridade. A parcialidade que Obama poderá demonstrar nesta situação, uma
vez que já ninguém imagina que os Estados Unidos possam vir a defender uma
posição equilibrada no Médio Oriente, poderá enfraquecer muito depressa a
sua popularidade internacional.

Contudo, nem tudo se resume a um homem, mesmo que novo. Até porque a
novidade é muito menos visível quando se examina as escolhas feitas por
Obama para o seu gabinete. Se há uma ministra do Trabalho próxima dos
sindicatos, Hilda Solis, que promete uma ruptura com as políticas
anteriores, há também uma ministra dos Negócios Estrangeiros, Hillary
Clinton, cujas orientações diplomáticas cortam menos com o passado, e um
ministro da Defesa, Robert Gates, simplesmente herdado da administração
Bush. Quanto à diversidade da equipa, não é seguramente de natureza
sociológica. Entre as trinta e cinco primeiras nomeações de Obama contam-se
vinte e dois diplomados por uma universidade de elite americana ou por um
distinto colégio universitário britânico… Faz lembrar um pouco o regresso à
«competência», aos *«best and brightest»* (os melhores e os mais brilhantes)
da administração Kennedy-Johnson. A imodéstia que caracteriza este gênero de
indivíduos condu-los por vezes a fazerem presunções sobre as suas forças e a
tornarem-se os arquitetos de catástrofes planetárias, como se observou
durante a Guerra do Vietnam. Nos tempos que correm, a ameaça mais temível
nos Estados Unidos é o atolamento «centrista» e não a audácia do *«Yes, we
can»*.

domingo 18 de Janeiro de 2009
Notas

[1 <http://pt.mondediplo.com/spip.php?article438#nh1>] Ler «Timetable for
Iraq too slow for Obama», *International Herald Tribune*, 15 de Janeiro de
2009.

[2 <http://pt.mondediplo.com/spip.php?article438#nh2>] Cf. «Hard-Hit
Families Finally Start Saving, Aggravating Nation's Economic
Woes<http://online.wsj.com/article/SB123120525879656021.html>»,
*The Wall Street Journal*, 6 de Janeiro de 2009.

[3 <http://pt.mondediplo.com/spip.php?article438#nh3>] Paul Krugman, «The
Obama Gap <http://www.nytimes.com/2009/01/09/opinion/09krugman.html>», *The
New York Times*, 8 de Janeiro de 2009.