domingo, 29 de maio de 2011

Educação hight-tech para Classe C

Com ensino high-tech para classe C, Anhanguera quer duplicar sua rede

Folha, por
Natália Paiva
 
"Aqui vai ter um "up-link" [equipamento para transmissão ao vivo] de 7,5 metros. Como os da Globo", diz Alexandre Dias, enquanto caminha pela sede do grupo que dirige, em Valinhos (interior paulista), e fala sobre coisas como "computação em nuvem" e capacidade satelital.
Ex-Google e ex-DirectTV, Dias não dirige mais empresa de tecnologia ou de mídia. Ele é presidente do maior grupo de educação superior do país, o Anhanguera, que tem chamado a atenção por seu acelerado crescimento (340 mil alunos, ante 25 mil em 2006), seu enorme apetite (só neste ano já comprou cinco grupos) e seu foco crescente em tecnologia e mídia para classes C e D.
À frente do Anhanguera desde outubro, Dias tem metas concretas para a empresa que faturou R$ 1 bilhão no ano passado: até o fim de 2012, duplicar a rede de ensino e chegar a 500 mil alunos. Para isso, a estratégia é comprar mais 40 campi (hoje, são cerca de 60) e investir em ensino high-tech a baixo custo.
"Gerenciamos uma capacidade satelital de 30 canais de transmissão de aula todas as noites, ao vivo. E estamos migrando para termos essas aulas gravadas e armazenadas num "media center'", afirma. Cerca de 40% dos alunos (18% da receita líquida) são de ensino à distância.
Mas a ideia é investir também em educação via web.
"É tentar enriquecer uma aula presencial pela internet, sem que isso seja um mero complemento." O primeiro passo foi comprar do Google um aplicativo de computação em nuvem (no qual os dados podem ser acessados de qualquer dispositivo).
TABLET CUSTOMIZADO
A ideia é que professor e aluno, por exemplo, postem vídeos, discutam em chats, interfiram e colaborem num mesmo arquivo. Mas, como o aluno do Anhanguera é de classe baixa, cujo acesso à banda larga ainda é limitado, o grupo se vê obrigado a pensar também em aparelhos.
Na quarta, Antônio Carbonari, fundador do grupo, reuniu-se com a ZTE. "A ideia é fazer nosso smartphone, o tablet Anhanguera. Como a escala é grande, o preço vai ser muito menor." Meta: até 50% mais baixo que na loja.
Modelo semelhante já é feito hoje em relação aos livros usados em aula. O grupo negocia um alto volume com a editora, paga os direitos autorais e vende, customizado (capa e apresentação próprias), a um preço até 80% menor. "E a gente coloca ainda em quatro parcelas no carnê do aluno", diz Carbonari.
BUSINESS NA EDUCAÇÃO
Fundada em 1994 por professores em Leme (SP), a empresa sempre focou no jovem das classes C e D que trabalha de dia e estuda à noite.
Num ambiente de melhora da renda e do consumo, a companhia se fortaleceu. Em 2007, foi a primeira de educação a abrir capital na Bolsa.
Dias foi chamado para preparar a empresa para um novo momento: o de expansão nacional. Manaus, Belém, Fortaleza, Recife e Salvador estão no radar do grupo, que negocia entrar no Norte e no Nordeste com, ao menos, 10 mil alunos em cada cidade.
Das cerca de 2.000 instituições privadas de ensino superior, só 73 têm mais de 10 mil. Para Carlos Monteiro, da CM Consultoria, o processo de consolidação do mercado educacional deve se intensificar. Cerca de 15 redes dominam 30% do mercado, mas essa fatia deve chegar a 45%.
"O Anhanguera faz muito bem comprando grupos de cultura institucional fraca e os adaptando a seu modelo de negócios. O apetite dos acionistas é muito grande, e o processo de crescimento orgânico é muito lento, tem de pedir autorização do MEC, que leva até dois anos", diz.
A consultoria Hoper, voltada para educação, estima que o mercado vá girar R$ 29 bilhões em 2011, alta de 6%. O Anhanguera projeta crescimento de até 31% do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), para R$ 315 milhões.
 

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