Novelas, ilusões e esquecimentos
Lucas Mani Jordão
Professor de português, mora em Ribeirão Preto, São Paulo
Adital
A nova novela do SBT, Amor e Revolução, tem como temática a ditadura militar brasileira, os chamados anos de chumbo, de 1964 a 1985. Foram 20 longos anos de perseguição, censura, repressão, torturas, muito sangue e dor. Todo sofrimento impingido pela elite brasileira e mundial (EUA), com apoio dos militares, visava sufocar qualquer outra forma de organização social que não a capitalista, qualquer pensamento que não visasse o lucro e a exploração do outro em benéfico próprio.O final do regime repressivo marca também o início da consolidação do capitalismo no Brasil. A escola, a mídia, o trabalho alienante e o medo cercaram as pessoas por todos os lados. Mutilaram uma geração de idealistas revolucionários que sonhavam com a utopia de um mundo livre do mercado, da exploração e do dinheiro; esforçam-se por criar gerações de estúpidos, que como gado aceitam, insossos, o pesado fardo de terem toda a existência manipulada: do nascimento ao abate.
O período da ditadura passa quase em branco pelas salas de aula, quando passa por lá geralmente é de forma superficial, tendenciosa e acrítica. Na mídia aqui e ali pipocam, vez ou outra, reportagens e artigos sobre o assunto, mas raramente vão além da superficialidade. Ouso dizer que a ditadura brasileira começa a ser esquecida, imersa na irrelevância do trabalho mecânico e do consumismo.
Nesse momento o Governo brasileiro usa de todos os meios para negar justiça ao povo e, principalmente, às famílias das vítimas da cruel ditadura militar/capitalista brasileira. Esforça-se para não julgar os milicos criminosos por suas atrocidades. Mesmo tendo sido condenado pela OEA (Organização dos Estados Americanos), o Brasil continua priorizando os direitos do capital em detrimento dos direitos humanos.
O estado de ignorância em que vive boa parte da população faz com que a novela Amor e Revolução surja como um ponto brilhante que pode, ao menos, iluminar um pouco algumas sangrentas páginas de nossa história, pois as atrocidades dos militares em nome do capital atingem através da TV todo o território nacional, entram nas casas das pessoas, invadem seu cotidiano, mostrando um pouco daquilo que alguns se esforçam muito para que esqueçamos.
É preciso, porém, considerar alguns pontos para que não sejamos iludidos por nenhuma falácia hipócrita e ideologicamente formatada:
1 – A novela é um produto. Idealizado para ser vendido e ajudar a vender outros tantos produtos. O lucro é o objetivo final de uma novela, o mesmo lucro que foi a razão da ditadura militar.
2 – As empresas midiáticas defendem interesses próprios. Filtram ideologicamente todo o conteúdo veiculado para que este não fira seus propósitos. Muitas vezes formam conglomerados empresariais que fabricam e vendem de entretenimento, comida e brinquedos a cosméticos.
3 – Mega empresários controlam as mídias do mundo por onde circulam milhares de milhões em dinheiro. Mídias essas que são peças fundamentais do aparado de controle das massas orquestrado pelo capital.
4 – Esses empresários mantêm um estreito laço com os Governos instituídos (seja financiando campanhas, alardeando interesses do Estado ou mesmo omitindo e/ou distorcendo fatos), sempre recebendo em troca facilidades, favores e benefícios. Basta lembrar que recentemente uma empresa do conglomerado do qual faz parte o SBT, especificamente o banco Panamericano, recebeu uma robusta ajuda do Governo Federal para evitar a bancarrota causada por fraudes.
5 – Por mais que num país dominado por uma elite cruel que faz de tudo para infantilizar seu povo, levando-o ao esquecimento de suas próprias raízes, a novela Amor e Revolução signifique, no mínimo, que a história será contada e não esquecida, que o povo terá a oportunidade saber alguns passos que o levaram a estar aqui, hoje e dessa forma, é preciso ter em mente que a história é contada pelos "vencedores”, que temos que procurar as informações em várias fontes além da TV (livros, filmes, documentários, pesquisas, artigos, estudos, etc.), e, acima de tudo, refletir sobre as informações recebidas, pesá-las, medi-las, compará-las e contextualizá-las para que não sejamos presos em mais teias de ilusões e esquecimentos
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