domingo, 30 de outubro de 2011

A derrota na greve dos Correios

Balanço
Porque a greve dos Correios foi derrotada?
Apesar de toda a farofada da burocracia sindical, o fato é que a greve dos Correios foi derrotada. A categoria precisa compreender os motivos dessa derrota para que o movimento possa tirar suas conclusões e avançar no sentido de conquistas suas reivindicações

30 de outubro de 2011

Os trabalhadores dos Correios de todo o País acabaram de protagonizar uma das maiores e mais importantes greves dos Correios, uma mobilização que durou quase um mês, mas que terminou com uma derrota para a categoria, que foi obrigada a retornar ao trabalho sem nenhuma conquista real.
Os trabalhadores foram obrigados a sair da greve, a maioria inclusive sumariamente, sem nem mesmo aprovar a proposta do acordo salarial, como ocorreu, por exemplo, no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Ou seja, a maior greve dos últimos anos terminou com uma debandada geral dos trabalhadores, apesar de ser unanime na categoria a ideia que o acordo não representa nem de longe uma vitória para os grevistas.
Apesar de ser evidente que a greve foi derrota, uma vez que o resultado da mobilização de quase um mês foi míseros R$80 de aumento, desconto de sete dias na folha de pagamento, trabalho nos finais de semana e feriados, aumento de hora extra, volta do banco de horas etc., a burocracia sindical, que no caso dos Correios é representada pelo Bando dos Cinco (PT-PcdoB-PSTU-Psol-PCO), está tentando de todas as formas minimizar os estragos provocados pela derrota da greve, espelhando a ideia de que apesar de todas as perdas, o balanço final teria sido positivo.
Trata-se de um insulto contra o trabalhador. Somente grupos que não possuem qualquer relação com os trabalhadores pode afirmar que o fato de a empresa está impondo um regime de escravidão seria uma coisa positiva. A ideia de “vitória” da greve foi imediatamente rejeitada pelos trabalhadores, que perceberam já nos primeiros dias de retorno ao trabalho que a empresa e o governo colocaram em marcha uma ofensiva contra os grevistas. O absurdo é tamanho que a empresa está tentando inclusive acabar com o repulso remunerado, obrigando a categoria a trabalhar semanas seguidas, sem um único dia de folga.
Compreensão da derrota da greve: um passo fundamental para o desenvolvimento do movimento
Ao contrário da farofada que o Bando dos Cinco (PT-PCdoB-PSTU-Psol-PCO) está apresentando para a categoria, a corrente Ecetistas em Luta está fazendo uma analise seria da greve, justamente por compreender que a evolução da consciência dos trabalhadores, e consequentemente a evolução do próprio movimento, depende do fato de a categoria entender essa derrota para que possa atuar nos acontecimentos.
É evidente que a vitória do governo sobre a greve não fará com que o movimento dos trabalhadores reflua, até porque a revolta da categoria tende a crescer ainda mais à medida que o governo e a empresa começam a colocar em prática, nos setores de trabalho, os ataques que foram previstos com a assinatura do acordo criminoso. Essa situação já pode ser vista com o levante da categoria contra a convocação nos finais de semana, em diversos setores a categoria boicotou abertamente a convocação do segundo domingo pós-greve, bem como no fato de a categoria está repudiando amplamente as direções sindicais que traíram o movimento. É o caso do sindicato do Rio de Janeiro e São Paulo, ambos controlados pelo PCdoB. Em São Paulo a direção do sindicato foi expulsa dos setores de trabalho aos gritos de “vendidos e traidores”.
É unanime entre os trabalhadores que a greve não foi derrotada por falta de força do movimento. O movimento foi forte desde a deflagração da greve e se manteve até o final. Não houve retrocesso, nem mesmo diante da tentativa da burocracia sindical de acabar com o movimento por meio da assinatura de um acordo rebaixado. O acordo foi assinado pelo comando traidor de negociação, mas foi repudiado em todos os estados. A categoria inclusive não se deixou abalar pelas ameaças do dissidio coletivo, chantagem usada pela burocracia para fazer a categoria aceitar o acordo que o Bando dos Cinco havia fechado com a empresa e governo.
A greve não foi derrotada pelo enfraquecimento do próprio movimento, apesar dessa ter sido a greve mais duradoura dos últimos 15 anos e apesar da burocracia de atuado sistematicamente no sentido de cozinhar a greve em banho-maria. O que também fica evidente é que apesar de o movimento ter sido traído, não há dúvidas que a burocracia trabalhou durante todo o movimento no sentido de enfraquecer a luta dos trabalhadores, a traição dos sindicalistas pelegos do Bando dos Quatro não foi a principal causa da derrota da greve.
A categoria já vinha acumulada uma experiência, principalmente com o acordo bianual, contra as traições da burocracia. Não é a toa que mesmo tendo aprovado um acordo que foi unanime entre a burocracia (PT-PCdoB-PSTU-Psol-PCO), a burocracia não conseguiu impor sua vontade nas assembleias e foi obrigada a voltar atrás. O medo, inclusive de agressões físicas, fez com que os mesmos sindicalistas que assinaram o acordo no Tribunal Superior do Trabalho (TST) não tivessem nem mesmo a coragem de defender o mesmo nas assembleias.
Confusão e falta de clareza dos trabalhadores foi principal motivdo da derrota da greve
As traições do Bando dos Quatro, apesar de terem sido constantes, foram insuficientes para acabar com o movimento, justamente porque a categoria já havia acumulado uma experiência com a burocracia que impediu com que o Bando dos Quatro conseguisse sair vitorioso.
O “elemento surpresa” dessa greve foi o TST. Nos últimos dias de greve o tribunal interveio decretando, sem qualquer poder para isso, o fim da greve e a volta ao trabalho. A ação do TST foi complementada pelos sindicalistas do PT, PCdoB, PSTU e Psol que começaram a anunciar em todo o país que a decisão do TST deveria ser atacada, que “a decisão da Justiça não se discute, se cumpre”. Os trabalhadores começaram então a voltar ao trabalho, em uma espécie de debandada geral da greve.
O que aconteceu foi que os trabalhadores, impossibilitados de compreender o que estava acontecendo, com inúmeras dúvidas, sem experiência com o TST, acabaram voltando ao trabalho, encerrando uma greve que, diga-se de passagem, que não precisava ter terminado e que tinha força para continuar. Ou seja, a principal causa da derrota da greve foi a falta de clareza, a falta de uma central que unificasse os trabalhadores, falta de informação, discussão e esclarecimento sobre o que estava sendo colocado naquele momento para os trabalhadores, principalmente sobre o TST.
A confusão que pairou sobre todos os trabalhadores foi o principal fator para a derrota da greve, pois os trabalhadores tinham força para passar por cima dos sindicalistas pelegos. Não tiveram clareza para resistir unificadamente à manobra do TST. Essa confusão geral e a falta de compreensão dos trabalhadores sobre o problema do TST foi utilizado rapidamente pela burocracia sindical, que disseminou ainda mais a confusão, explorou o preconceito e medo de uma parcela dos trabalhadores e diante de um vacilo da categoria, cuidou de encerrar a greve sumariamente.
Todos esses acontecimentos devem ser compreendidos profundamente pelos trabalhadores, uma vez que a força do movimento está, acima de tudo, na consciência dos trabalhadores. Ou seja, a partir do momento que a categoria compreende a manobra do TST como instrumento da burguesia para acabar com o movimento as chances de essa mesma manobra conseguir enganar novamente a categoria será mínima, como aconteceu, por exemplo, com a questão do abono. Os trabalhadores compreenderam que o abono, que antes era uma lei dentro dos Correios, era imposto em todas as campanhas salariais, abono equivale a um congelamento salarial, que os salários vão encolhendo no decorrer do tempo. A partir do momento que os trabalhadores tomaram consciência desse problema, o abono foi abolido das campanhas.
A questão do TST seque a mesma linha do abono.
Por isso a importância de um balanço sério sobre a greve e sobre o que levou a derrota do movimento. A consciência dos trabalhadores é o primeiro passo para que a categoria dos correios e o maior número de trabalhadores em todo o País compreenda o que aconteceu e tire as lições dessa greve para avançar na luta por suas reivindicações.

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