segunda-feira, 30 de julho de 2007
As amantes de Mauricio de Nassau
Jornal do Commercio
As amantes de Nassau
Publicado em 27.07.2007
Leonardo Dantas Silva
Ao contrário dos portugueses que traziam suas famílias aferrolhadas nas casas-grandes, escondendo suas mulheres e filhas da vista de estranhos e até mesmo dos parentes, o holandês era mais liberal no trato da vida do lar e de suas relações em sociedade.
Em maior número do que as originárias de Portugal, as mulheres holandesas revelavam jovialidade pouco comum às nativas. Testemunha frei Manuel Calado, quando das festas em regozijo à Aclamação do Duque de Bragança, D. João IV, ao trono de Portugal, realizadas no Recife em abril de 1641: "Nesses convites se achavam as mais lindas damas e as mais graves mulheres, holandesas, francesas e inglesas, que em Pernambuco havia, e bebiam alegremente melhor que os homens, e arrimavam-se ao bordão de que aquele era o costume de suas terras".
No ambiente da família holandesa, ao que se depreende das inúmeras denúncias chegadas ao Conselho Eclesiástico, a situação parecia não ser diferente, como assevera Hermann Wätjen: "Muita mulher infiel de soldado, metida em varas, teve de passar horas inteiras no pelourinho, exposta ao calor ardente do sol, na praça pública, muita dama elegante foi vergastada coram publico pelo carcereiro mor".
Como agente ativo da prática do adultério não escapou nem o conde João Maurício de Nassau, que teria tido relacionamentos afetivos com várias mulheres, inclusive com Dona Anna Paes, proprietária do Engenho Casa Forte, que o tratava "de vossa excelência a muito obediente cativa".
Em 1630, quando da invasão holandesa, Dona Anna Paes (1612-1678) era casada com o capitão Pedro Correia da Silva, morto em combate quando da defesa do Forte São Jorge. Viúva ainda jovem, Anna Paes veio novamente a casar com o capitão holandês Charles de Tourlon, oficial da guarda pessoal do conde de Nassau, continuando a residir em seu engenho em Casa Forte.
Em 1643, acusado por Nassau de crime de traição, foi Charles de Tourlon preso e remetido de volta à Holanda, tendo falecido na Zelândia em 18 de fevereiro de 1644. Novamente viúva, Anna Paes torna a casar com o conselheiro Gisbert de With, do Conselho de Justiça, em companhia de quem se transfere para a Holanda e aonde vem a falecer em 1672.
Mulher instruída, ela oferece ao conde a dádiva de "seis caixas de açúcar branco", cada caixa de açúcar pesava em média 20 arrobas, ou seja, 300 quilos. Divulgada pela primeira vez por José Higino Duarte Pereira, no n.º30 da Revista do Instituto Arqueológico Pernambucano (Recife, 1886), transcrita com correções por José Antônio Gonsalves de Mello, em 1947, a carta em questão, numa leitura livre do português em uso nos nossos dias, teria o seguinte teor: "Ilmo. Sr. - Como nós devemos toda a obediência a nossos superiores tanto mais a vossa excelência de quem temos recebido tantas honras e mercês, assim que este ânimo me faz tomar atrevimento de pedir a vossa excelência queira aceitar seis caixas de açúcar branco, perdoando-me vossa excelência o atrevimento (que meu ânimo é de servir a vossa excelência) e fico pedindo que Deus aumente a vida e estado de vossa excelência para amparo de suas cativas. De vossa excelência a muito obediente cativa Dona Anna Paes".
Mas não ficou somente em Dona Anna Paes, o relacionamento do conde João Maurício de Nassau com outras mulheres. Denuncia frei Manuel Calado o seu envolvimento com Margarita Soler. Tratava-se de uma jovem senhora casada com um senhor-de-engenho, que abandonara o marido, segundo o seu próprio pai, em razão de sua frieza (impotência) e de suas ausências com os seus compromissos matrimoniais. Era ela filha do reverendo calvinista Vicente Soler, espanhol de Valência, o qual tendo sido frade agostiniano migrou para a França onde adotou o calvinismo, vindo a casar-se com uma mulher de nome Maria, de cujo casamento lhe vieram dois filhos Margarita e Jean Soler.
Escreve frei Manuel Calado ser "Margarita Soler uma das amantes do Conde de Nassau, que a desprezou pelo amor da filha do sargento-mor Cornélio Bayer", fato que veio dar "causa da filha de Soler morrer de paixão e de tristeza".
Em se falando das aventuras amorosas de João Maurício, o escritor José Van den Besselaar, lembra ainda as suas ligações com Inês Gertrudes Van Byland, esposa do seu mordomo em Cleve, da qual existe um retrato pintado por Jan de Baen (o mesmo que pintou o retrato de Nassau) no museu daquela cidade da Alemanha: "A vida amorosa de Maurício está por se escrever ainda, e talvez seja impossível reconstruí-la, porque neste terreno é muito difícil separar os boatos mexeriqueiros de informações seguras e objetivas. Só podemos dizer que Maurício, ao contrário de muitos outros príncipes da sua época, não deixou bastardos conhecidos como tais".
» Leonardo Dantas Silva é jornalista e escritor.
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