quinta-feira, 26 de julho de 2007

A QUEIMA DO FUTURO

A QUEIMA DO FUTURO Robert Kurz Com o desenvolvimento da crise económico-social, desde fins dos anosnoventa que a destruição capitalista das bases naturais tem passadoprogressivamente para segundo plano. Agora, de repente, as mudançasdo clima há muito conhecidas fazem de novo manchete. Paralelamenteaos limites internos da valorização do capital (desemprego massivo esub-emprego globais, economia de bolhas financeiras e instáveiscircuitos de déficit) começam a erguer-se os limites externos danatureza. Por um lado, anuncia-se para as próximas décadas oesgotamento das reservas de energias fósseis de acesso fácil. Comesse esgotamento é previsível uma subida de longa duração dos preçosda energia, até aos limites do suportável e mesmo para além deles.Por outro lado, com a emissão de gases com efeito de estufa, foiprogramado um aquecimento global, com catástrofes climáticas emparte já manifestas (secas aqui, inundações acolá, furacões, etc).Segundo um estudo de Nicholas Stern, ex-economista do Banco Mundial,em consequência disso a economia mundial cairá cerca de 20%.Efectivamente, poderiam coincidir ambos os momentos de sentidocontrário dos limites naturais: o choque económico da explosão dopreço da energia poderia reduzir drasticamente as emissões, à custade uma quebra do crescimento, convergindo porém simultaneamente comos efeitos das catástrofes climáticas, que não vão parar a curtoprazo. Já a relativa diminuição das emissões globais de 1990 a 2000,que levou a um falso fim do alerta, não se deveu ao protocolo doclima e às medidas de regulação, mas ao colapso económico do antigobloco do Leste. Foi apenas porque enormes estruturas industriaisforam desvalorizadas pelo mercado mundial e ficaram paralisadas que,segundo o secretariado da Convenção Internacional do Clima, asemissões baixaram 40% neste espaço, com repercussão nos valoresglobais. Desde então as emissões de CO2 a nível mundial subiram denovo dramaticamente; cerca de 25 % só no sector dos transportes, porcausa do processo da globalização.Os responsáveis não são apenas as zonas económicas de exportaçãochinesas e os Estados Unidos. Também a União Europeia ficará muitoaquém dos objectivos do Protocolo de Kyoto. Apesar disso, a ComissãoEuropeia desagravou os limites das emissões de gases dos automóveis,em consequência do lobby automóvel alemão. Pois os conglomeradoslocais fabricam sobretudo modelos ostentosos, com elevadas emissões.Embora fosse necessária uma redução para 120 gramas de CO2 porkilómetro, a auto-vinculação da União Europeia ficou-se pelos 140gramas. Contudo o Classe S da Mercedes emite mais de 300 gramas;sendo isso permitido, graças à gradação em função da cilindrada. Osalemães gostam de considerar-se românticos defensores das florestase "verdes", mas na realidade triunfa a ideologia do cavalo-potência.Só a protecção do clima é que é travada.O capitalismo é uma cultura de combustão, assente num emprego deenergia em crescimento contínuo que, de certa maneira, se queima asi mesmo e consigo o futuro da humanidade. A retórica oca do postode trabalho e a igualmente oca retórica do clima apoiam-semutuamente, no seu sentido contrário. A crise económico-social e acrise ecológica começam a cruzar-se e a potenciar-se uma à outra. Omodo de produção e de vida dominante deixa apenas a alternativa de acatástrofe climática ser abrandada pelo colapso económico ou, pelocontrário, que a catástrofe climática desenfreada leve à violentaqueda da economia. Depois de nós, o dilúvio! Esta secreta divisa dosgestores da combustão deve ser entendida à letra.Original ZUKUNFTSVERBRENNUNG in www.exit-online.org. Publicado noNeues Deutschland, 9.2.2007 http://obeco.planetaclix.pt/ http://www.exit-online.org/

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