O Brasil dos brasilianistas
Pesquisadores que se ocupam de entender o Brasil
O economista Albert Fishlow pertence à recente tradição de estudiosos estrangeiros que têm em comum um peculiar objeto de estudo: o Brasil. Por se ocuparem de estudar o "florão da América" acabaram apelidados de brasilianistas. A origem da palavra é um tanto apócrifa e incerta. O historiador Thomas Elliot Skidmore, ele próprio tido como pioneiro, decano "de honra" e o maior entre os brasilianistas, garante que quem inventou o apelido foi o ensaísta e jornalista brasileiro Francisco de Assis Barbosa (1914-1991). Há décadas, ao passar uma temporada com Skidmore na Universidade de Wisconsin, Francisco Assis Barbosa surpreendeu-se com o número de pesquisadores norte-americanos especialistas em estudos brasileiros.
Há mais dez anos, só dava Thomas Skidmore. Suas análises sobre o governo FHC foram bastante requisitadas na campanha que conduziu o tucano ao seu segundo mandato na presidência do país. Hoje, aos 78 anos, Skidmore cedeu o lugar a uma nova geração de estudiosos. Segundo reportagem publicada pelo jornal O Globo há dois anos, em 2008, eram cerca de dez mil jovens estudantes que aprendiam o português nas universidades americanas, um aumento de 50% em relação a 2004. O mesmo período assistiu um crescimento de 20% no número de acadêmicos que estudavam e lecionavam assuntos brasileiros em instituições universitárias nos EUA. O mesmo acontece na Europa. Podemos citar Timothy Power (na foto abaixo), diretor do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford, Inglaterra, que concedeu recentemente entrevista ao programa Milênio, da Globo News, transcrita e publicada pela Consultor Jurídico.
Alguns desses scholars focam suas pesquisas no sistema jurídico brasileiro. O próprio Thomas Skidmore, autor de clássicos brasilianistas como Brasil: de Getúlio a Castelo (1975) e Uma história do Brasil (1998), estudou a Constituição de 1824 e a influência que a Carta sofreu de doutrinas liberais, que, por exemplo, legaram ao texto a ideia de se estabelecer uma democracia parlamentar no Brasil em pleno século 19.
Albert Fishlow, também sensível à atuação da Justiça, declarou, durante a visita do então presidente do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes à Universidade Columbia, em Nova York, que a Justiça brasileira cumpre um papel central na estabilidade institucional que tomava campo no Brasil, por vezes, ofuscando a classe política.
Muitos destes "brasilianistas" são conhecedores de minúcias sobre a rotina política de pequenos municípios do interior do país, que muitos de nós nem sabemos que existem. É o caso do historiador Zephyr Frank, da Universidade Stanford, que passou dois anos enfurnado em grotões de Mato Grosso, estudando a organização de comunidades agrárias e modelos de produção rural do interior do Brasil. Frank também foi citado como exemplo da nova geração de estudiosos estrangeiros na reportagem publicada pelo O Globo há mais de dois anos.
A maioria desses pesquisadores são fluentes na língua portuguesa, conhecem bem a cultura do país e, não raro, são obcecados por figuras do nosso passado, como o intenso fascínio de Thomas Skidmore (na foto ao lado) por Getúlio Vargas. “Não temos uma biografia dele, ninguém tem coragem”, desabafou o historiador durante a entrevista que concedeu ao Programa Roda Viva em 1997.
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