Partido dos Trabalhadores se formou tendo como uma de suas obsessões a “igualdade de gênero” - que não chega a ser grande novidade no mercado das ideologias e tampouco é criação petista. Dia virá em que o partido cogitará a adição ao seu nome de “e das Trabalhadoras”.
A onda de estudos de gênero que no Brasil se instalou foi criada pelas fundações ativistas norte-americanas, com especial apreço da Fundação Ford, que financia centros de estudo, institutos e grupos ativistas de esquerda no país desde 1962, tendo como principal objetivo fomentar projetos de mudança social em sentido amplo [1].
Tal caldo intelectual e ativista vem tentando alterar o linguajar tradicional do brasileiro, com vistas a uma retificação comportamental de amplo espectro, bem ao modo da novilíngua orwelliana, dotando-se as palavras de um poder mágico de direcionar e determinar o pensamento. Teoricamente, uma vez acostumando as pessoas a falarem a nova língua e dificultando o acesso ao significado original, novos valores seriam incutidos no indivíduo, por acomodação.
Mas percebe-se que as palavras por si só não têm todo o poder de controle vislumbrado pelos engenheiros comportamentais, ficando o exercício desse poder a cargo das patrulhas intelectual e cultural enquanto a auto-repressão não se instala de vez na cabeça das pessoas. Nessa etapa final, a auto-censura cerceia o indivíduo dos pensamentos e comentários mais naturais e inócuos, receoso de cometer uma “crimidéia”, na terminologia de 1984.
Nesse panorama algo febril, o PT e os partidos de esquerda em geral foram e são as principais forças agentes, os auto-designados portadores do caminho da verdade, aliás como deu a entender a Presidente Rousseff em seu discurso de posse no Congresso Nacional.
Segundo Dilma, instrumento e receptáculo simbólico do messianismo lulista [2], Lula e seu partido nos levaram à outra margem da história, como se isso possuísse algum valor ou até mesmo significado. Um messianismo à brasileira, manco, luliano, que não diz para onde leva, algo como “Povo escolhido e soberano, vencedor incólume da crise mundial e dono do pré-sal salvador, os levarei para o outro lado…”, deixando o povo guiado mais confuso do que na hora de preencher o formulário do imposto de renda.
Quando o então Vosso Excelêncio Lula era criticado por utilizar a língua de modo desleixado, em sua forma e conteúdo, confiante de estar falando ao coração do povo (o que por si só seria insultuoso), a criadagem do poder saia em sua defesa, afirmando mentirosamente que o mensageiro da verdade e da justiça não tivera condições para aprender a língua pátria. E ademais, essas exigências eram coisas de burgueses desocupados que não sabem o que é crescer se alimentando de calango, isso quando se alimentava…
Tal reação da criadagem à crítica pela falta de decoro com a língua por parte do poder exibe, além de sabujice pura e simples, um desprezo para com a inteligência alheia, subentendendo que os governados nunca compreendem o que lhes é dito. Dessa forma, nada poderia ser cobrado do governo porque nunca entendemos as coisas da forma que deveríamos…
Mas agora, tendo a Presidente Rousseff iniciado seus estudos em colégio de classe média alta (burguês, diriam os petistas) possuindo graduação universitária, tendo usufruído de todas as condições de berço para ter aprendido o português culto comete monstruosas gafes de lógica e de gramática, insultos à inteligência e ingerências tolas na língua [3], imagino algumas opções de resposta. Ela não teve tempo de aprender o uso correto da língua pois estava defendendo o país com armas na mão, o que é muito mais importante. É preconceito machista por ser a primeira Presidente mulher na-história-deste-país. É capricho feminino, como a estrela vermelha do PT desenhada nos jardins do Alvorada pela ex-primeira dama, “indivídua” destinada ao mais completo oblívio.
E imagino também que nossa Suprema Dirigenta manterá a bem paga camarilha de defesa, a patrulha da novilíngua, o esquadrão de malabaristas-tradutores de dilmês para português, “o que ela quis dizer foi…”, “ela foi mal interpretada…”, os agentes do “veja bem”, como incessantemente experimentamos nos oito anos sob comando do Grande Guia Genial e Infalível.
Creio que para além de uma questão vernácula, essa é mais uma pequena constatação do avanço da tolerância para com a deterioração das instituições nacionais, sendo o Presidente da República o foco, o poder em si, o capricho vingativo, e não o símbolo impessoal dos valores republicanos.
Notas:
[1] Brook, Nigel & Witoshynsky, Mary (org.). Os 40 anos da Fundação Ford no Brasil: uma parceria para a mudança social. São Paulo: Edusp, 2002.
[2] Assista ao trecho do vídeo com a declaração de Lula quando em campanha para a então candidata Dilma em http://www.midiaamais.com.br/videos-indicados/4319-dilma-o-tampao-de-lula
[3] A propósito de ‘Presidenta’, Napoleão Mendes de Almeida faz as seguintes considerações:
“[…] São em português uniformes os adjetivos terminados em nte, como já no latim havia uma só terminação – ns – para o masculino e feminino dos adjetivo de segunda classe, por cujo paradigma se declinavam os particípios presentes: prudente, amante, vidente, lente, ouvinte. Ninguém, pelo menos em português, diz hoje prudenta, amanta, videnta, lenta, ouvinta. Alguns dos adjetivos de tal terminação andam a ser flexionados em nta no feminino quando substantivados: parenta, infanta, governanta. Presidenta, porém, ainda está, ao que parece, no âmbito familiar e chega a trazer certo quê de pejorativo […]” (Almeida, Napoleão Mendes de. Dicionário de Questões Vernáculas, 3ed. São Paulo: Ática, 1996, p.435-6.)
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