quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Réquiem ao petismo

Réquiem ao petismo.




Para estabelecer-se, o lulismo primeiro rivalizou com o petismo; depois o submeteu. Entre eles a relação dialética entre luta política e liderança carismática converteu-se em hegemonia do lulismo como ideologia que – ao negar a aparência – reafirma a essência do capital. De maneira que o petismo ainda hoje aparece, aos setores da oposição de direita mais delirantes e reacionários, uma sombra perigosa, um demônio a ser esconjurado. No entanto, o petismo não é mais demônio que enlouquece e apaixona; nem sombra que anuncia novos tempos: é nostálgica caricatura de seu próprio passado.



Entre bandeiras vermelhas e discursos lacrimosos, o petismo tudo cede ao lulismo. O lulismo ao aliar-se as oligarquias reacionárias de Sarney e Collor, o capital financeiro e o FMI (Fundo Monetário Internacional) o faz em nome do passado de lutas do petismo e para honrar a história dos milhares de homens e mulheres que generosamente entregaram os melhores anos de sua vida à construção do primeiro partido do povo. Para se defender a revolução, apóia-se a reação; para defender o povo, alia-se aos seus inimigos. Em nome de, em memória da, para honrar a: o lulismo é o sujeito; o petismo, o predicado. No entanto, como predicado o petismo se pensa sujeito: a caricatura de seu passado nostálgico é o bálsamo que alivia as feridas abertas pelo fisiologismo que a prática do lulismo alastrou pela cultura política nacional. Sem referências éticas e políticas, o petismo aferrou-se aos grilhões do imaginário que criou de si mesmo: no plano das idéias encontra a filosofia moral que o mundo real arrebenta e tripudia. O ascetismo petista dialeticamente produziu o lulismo como ideologia secular.



A vitória do lulismo sobre o petismo reflete-se na candidatura de Dilma a presidência. Os que já se aventuraram em ouvir a candidata petista à presidência em debates, palestras e pronunciamentos percebem que sua contribuição a política nacional não consegue caminhar um palmo além de números, estatísticas, projetos e programas que, em si, não dizem nada. Não há um projeto, pois ele já está pré-definido: o lulismo. O sucesso do lulismo, do qual as intenções de voto que elegem Dilma no primeiro turno é mais um episódio, como o cantos das sereias, está na capacidade de afastar subjetivamente a classe trabalhadora, a sociedade civil e os movimentos sociais da realidade material em que vivemos. Longe do deserto do real, o lulismo transforma a estupidez em virtude, a desmobilização em engajamento, a realidade em ficção e, por fim, o mito em realidade. O lulismo é o ópio do povo. Para ele o petismo é apenas uma lembrança atraente e repugnante do qual não pode se livrar.



Fábio Nogueira, Sociólogo, militante do PSOL e da Coordenação Nacional do Círculo Palmarino.

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