“PT deve se transformar em partido de milhões”, diz membro da direção da sigla
11 FEVEREIRO 2011 SEM COMENTÁRIOS
Valter Pomar ressalta importância das bases populares para fortalecer o partido
Por José Henrique Lopes, do R7
Fundado em 1980 para representar e defender os interesses da classe trabalhadora, o PT se converteu em um dos maiores partidos de esquerda da América Latina. Hoje, porém, ao completar oito anos no poder, é alvo de críticas por algumas de suas alianças, consideradas excessivamente pragmáticas.
Valter Pomar, doutor em História pela USP (Universidade de São Paulo) e representante da corrente Articulação de Esquerda no Diretório Nacional da sigla, diz ver com restrições algumas dessas alianças, que considera dispensáveis.
Ele reitera, porém, as bandeiras tradicionais do partido, que em sua opinião devem guiar a ação dos petistas também na participação do governo da presidente Dilma Rousseff, recém-iniciado.
- Por exemplo, a situação internacional exige alterações substanciais na política monetária e cambial. E supõe ampliação do apoio à agricultura familiar e à reforma agrária.
Quanto às perspectivas para o futuro, Pomar ressalta a importância do diálogo com as bases da legenda para que ele continue se fortalecendo como “organização coletiva”.
- O PT precisa se fortalecer, se transformar em um partido de milhões de pessoas organizadas em torno de um projeto socialista para o Brasil.
Leia, a seguir, trechos da entrevista concedida por Valter Pomar ao R7:
R7 – Quais desafios se impõem ao PT neste momento, com o início de um governo e o ex-presidente Lula deixando o centro da política institucional?
Valter Pomar – Primeiro, trabalhar para que o governo Dilma implemente o programa vitorioso nas eleições de 2010. Segundo, mobilizar a sociedade em defesa das reformas estruturais, com destaque para as reformas tributária, política, urbana e agrária e a democratização das comunicações. Terceiro, ganhar a maioria do povo brasileiro para as ideias do socialismo.
R7 – Com Lula deixando a presidência, pode-se dizer que um ciclo chegou ao fim? Há necessidade de renovar lideranças?
Pomar – São duas questões: uma diz respeito ao Brasil, outra ao PT. O governo Dilma tem que concluir a transição, iniciada no governo Lula, do neoliberalismo em direção ao desenvolvimentismo. O que significa que vai se intensificar a disputa entre os dois modelos de desenvolvimento que sempre pautaram a história brasileira: o conservador (que concentra riqueza e poder) e o democrático (que distribui riqueza e poder). Para isto, Lula continuará sendo importante, mas muito mais importante é o PT como organização coletiva, que precisa se fortalecer, transformar-se em um partido de milhões de pessoas organizadas em torno de um projeto socialista para o Brasil.
R7 – Quais são as perspectivas quanto à participação e influência do PT no governo de Dilma Rousseff?
Pomar – Participação e influência, o PT tem e continuará tendo. A questão é o conteúdo desta participação e influência, o que exigirá do PT maior capacidade de formulação estratégica, para apresentar ao governo a opinião partidária sobre os temas decisivos da pauta nacional e internacional. Por exemplo, a situação internacional exige alterações substanciais na política monetária e cambial. E supõe ampliação do apoio à agricultura familiar e à reforma agrária.
R7 – Fala-se muito do fenômeno lulista, mas a votação de Dilma seria uma evidência de que o ex-presidente pode, sim, transferir ao partido pelo menos parte de sua popularidade?
Pomar – Sim, a eleição de 2010 mostrou o peso de Lula. Mas também mostrou que apenas Lula não basta. Sem partido, sem movimentos sociais, sem a esquerda em geral, não teríamos vencido o segundo turno. Minha ênfase é na organização coletiva.
R7 – Há partidos surgidos de dissidências petistas, como o PSOL, e intelectuais que romperam com o PT e criticam o partido por ser hoje uma força do campo da ordem, que está se centralizando e tem o pragmatismo como norte. O senhor concorda?
Pomar – Não. Quem acha isso acaba se aliando com a direita. Claro que o PT sofre enormes pressões conservadoras e pragmáticas, que se não forem revertidas podem, no médio prazo, mudar o caráter do partido. Mas, por enquanto, a direita, o grande capital e os Estados Unidos continuam desgostando do PT.
R7 – O PT é, ainda hoje, um partido de esquerda e de orientação socialista?
Pomar – Somos um partido de esquerda e socialista. E um partido das classes trabalhadoras. Agora, há setores dentro do PT que não são nada disso.
R7 – Como o senhor vê as alianças que deram sustentação ao governo Lula e que subsistem neste início de gestão de Dilma Rousseff?
Pomar – Vejo de maneira crítica. Algumas destas alianças eram e são perfeitamente dispensáveis. Em outros casos, o exagero na busca de aliados quase destruiu o PT. Dou como exemplo o que ocorreu em Minas Gerais, Maranhão e Rio de Janeiro.
R7 – Predomina, a partir da chegada à Presidência, uma visão excessivamente institucional? Falta diálogo com as bases, com os movimentos sociais?
Pomar – A estratégia do PT, desde 1987, combinava três dimensões: luta social, luta institucional-eleitoral e organização partidária e de um forte movimento socialista no Brasil. Nos anos 90, por diversos motivos, a dimensão institucional-eleitoral se hipertrofiou. A chegada à Presidência reforçou o que vinha de antes. Nosso desafio é, mantendo e ampliando a presença institucional, recuperar a força social, qualificar a organização partidária e ampliar a dimensão ideológica.
Por José Henrique Lopes, do R7
Fundado em 1980 para representar e defender os interesses da classe trabalhadora, o PT se converteu em um dos maiores partidos de esquerda da América Latina. Hoje, porém, ao completar oito anos no poder, é alvo de críticas por algumas de suas alianças, consideradas excessivamente pragmáticas.
Valter Pomar, doutor em História pela USP (Universidade de São Paulo) e representante da corrente Articulação de Esquerda no Diretório Nacional da sigla, diz ver com restrições algumas dessas alianças, que considera dispensáveis.
Ele reitera, porém, as bandeiras tradicionais do partido, que em sua opinião devem guiar a ação dos petistas também na participação do governo da presidente Dilma Rousseff, recém-iniciado.
- Por exemplo, a situação internacional exige alterações substanciais na política monetária e cambial. E supõe ampliação do apoio à agricultura familiar e à reforma agrária.
Quanto às perspectivas para o futuro, Pomar ressalta a importância do diálogo com as bases da legenda para que ele continue se fortalecendo como “organização coletiva”.
- O PT precisa se fortalecer, se transformar em um partido de milhões de pessoas organizadas em torno de um projeto socialista para o Brasil.
Leia, a seguir, trechos da entrevista concedida por Valter Pomar ao R7:
R7 – Quais desafios se impõem ao PT neste momento, com o início de um governo e o ex-presidente Lula deixando o centro da política institucional?
Valter Pomar – Primeiro, trabalhar para que o governo Dilma implemente o programa vitorioso nas eleições de 2010. Segundo, mobilizar a sociedade em defesa das reformas estruturais, com destaque para as reformas tributária, política, urbana e agrária e a democratização das comunicações. Terceiro, ganhar a maioria do povo brasileiro para as ideias do socialismo.
R7 – Com Lula deixando a presidência, pode-se dizer que um ciclo chegou ao fim? Há necessidade de renovar lideranças?
Pomar – São duas questões: uma diz respeito ao Brasil, outra ao PT. O governo Dilma tem que concluir a transição, iniciada no governo Lula, do neoliberalismo em direção ao desenvolvimentismo. O que significa que vai se intensificar a disputa entre os dois modelos de desenvolvimento que sempre pautaram a história brasileira: o conservador (que concentra riqueza e poder) e o democrático (que distribui riqueza e poder). Para isto, Lula continuará sendo importante, mas muito mais importante é o PT como organização coletiva, que precisa se fortalecer, transformar-se em um partido de milhões de pessoas organizadas em torno de um projeto socialista para o Brasil.
R7 – Quais são as perspectivas quanto à participação e influência do PT no governo de Dilma Rousseff?
Pomar – Participação e influência, o PT tem e continuará tendo. A questão é o conteúdo desta participação e influência, o que exigirá do PT maior capacidade de formulação estratégica, para apresentar ao governo a opinião partidária sobre os temas decisivos da pauta nacional e internacional. Por exemplo, a situação internacional exige alterações substanciais na política monetária e cambial. E supõe ampliação do apoio à agricultura familiar e à reforma agrária.
R7 – Fala-se muito do fenômeno lulista, mas a votação de Dilma seria uma evidência de que o ex-presidente pode, sim, transferir ao partido pelo menos parte de sua popularidade?
Pomar – Sim, a eleição de 2010 mostrou o peso de Lula. Mas também mostrou que apenas Lula não basta. Sem partido, sem movimentos sociais, sem a esquerda em geral, não teríamos vencido o segundo turno. Minha ênfase é na organização coletiva.
R7 – Há partidos surgidos de dissidências petistas, como o PSOL, e intelectuais que romperam com o PT e criticam o partido por ser hoje uma força do campo da ordem, que está se centralizando e tem o pragmatismo como norte. O senhor concorda?
Pomar – Não. Quem acha isso acaba se aliando com a direita. Claro que o PT sofre enormes pressões conservadoras e pragmáticas, que se não forem revertidas podem, no médio prazo, mudar o caráter do partido. Mas, por enquanto, a direita, o grande capital e os Estados Unidos continuam desgostando do PT.
R7 – O PT é, ainda hoje, um partido de esquerda e de orientação socialista?
Pomar – Somos um partido de esquerda e socialista. E um partido das classes trabalhadoras. Agora, há setores dentro do PT que não são nada disso.
R7 – Como o senhor vê as alianças que deram sustentação ao governo Lula e que subsistem neste início de gestão de Dilma Rousseff?
Pomar – Vejo de maneira crítica. Algumas destas alianças eram e são perfeitamente dispensáveis. Em outros casos, o exagero na busca de aliados quase destruiu o PT. Dou como exemplo o que ocorreu em Minas Gerais, Maranhão e Rio de Janeiro.
R7 – Predomina, a partir da chegada à Presidência, uma visão excessivamente institucional? Falta diálogo com as bases, com os movimentos sociais?
Pomar – A estratégia do PT, desde 1987, combinava três dimensões: luta social, luta institucional-eleitoral e organização partidária e de um forte movimento socialista no Brasil. Nos anos 90, por diversos motivos, a dimensão institucional-eleitoral se hipertrofiou. A chegada à Presidência reforçou o que vinha de antes. Nosso desafio é, mantendo e ampliando a presença institucional, recuperar a força social, qualificar a organização partidária e ampliar a dimensão ideológica.
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