domingo, 6 de fevereiro de 2011

A Revolução Árabe

*Revolução Árabe, efeito dominó contra a crise capitalista* - Almir Cezar -
02/02/2011
 
 <http://www.destakjornal.com.br/images/news/20110202/3040500.jpg>
*Efeito Dominó no mundo Árabe*
 
 A Revolução corre pelos países árabes igual efeito dominó
 
Manifestantes têm protestado contra o alto custo de vida e a falta de
liberdades políticas no país. Depois de Tunísia e Egito, a revolta popular
árabe contra regimes ditatoriais, conhecida como "Revolução de Jasmim",
chegou a Jordânia e Argélia.
 
Começou na Tunísia, onde a "Revolução de Jasmim" com  afastamento do governo
do ex-presidente Zine El Abidine Ben Ali, que fugiu do país. Em seguida
chegou com força no Egito. Os protestos que tomam conta do Egito desde o dia
25 de janeiro e exigem a renúncia do presidente Hosni Mubarak foram
inspirados nas manifestações na Tunísia.
 
Agora a "onda" chegou à Argélia, Iêmen, Jordânia, Síria, Sudão, que são
alguns dos países nos quais os cidadãos saíram às ruas para exigir seus
direitos sociais, econômicos e políticos. Todas as manifestações seguem o
padrão que têm abalado o mundo árabe: é organizada pela internet e busca
maior liberdade de expressão, respeito aos direitos humanos e melhora no
padrão de vida. O povo da Tunísia rompeu o costume do medo e mostrou que era
possível - com uma velocidade surpreendente - derrubar um regime, com uma
dificuldade menor do que a imaginada
 
*Crise econômica e não religião como fermento da revolução *
 
Esta revolta popular que atinge grande parte do mundo árabe é laica, e nada
tem haver com o que a grande mídia e o imperialismo, que tenta divulgar  ou
passar a imagem como um processo com viés islâmico, na tentativa de
aterrorizar a opinião pública do Ocidente. Vale lembrar que, esses ditadores
laicos são aliado dos países imperialistas, são muito responsável, em
relação ao interesse geopolítico na região, por controle (eufemisticamente
chamado de "esforços de paz") no Oriente Médio. Por sua vez, a ideologia
imperialista cínica defende que os países árabes o senso democrático é
limitado a estreitas elites liberais enquanto que a vasta maioria só pode
ser mobilizada através do fundamentalismo religioso ou do nacionalismo.
Embora verdade que, o vazio deixado pelo pan-arabismo (tão combatido pelo
Ocidente) acabou sendo ocupado pelos movimentos islâmicos que tiveram e têm
setores não sectários que são antiimperialistas como o caso do Hezbolah no
Líbano e o Hamas na Palestina e outras mais sectárias e fundamentalistas que
não tem cumprido este papel. Porém, a revolução vem provando como errada tal
ideologia.
 
 
O caso exemplar dessa tendência laica e deflagrada pela crise econômica é do
incidente que iniciou a primeira onda de protestos na Tunísia. Um vendedor
de frutas,que ao atear fogo em seu corpo em 17 de dezembro passado,
incendiou seu país até que derrubou o ditador Ben Ali. O caso é realmente
exemplar: Bouazizi revoltou-se porque policiais confiscaram sua banca, o
espancaram e não devolveram seu negócio que lhe rendia 75 dólares mensais
que sustentavam sua mãe e irmã. Seu pai morreu quando ele tinha 3 anos e
desde os 10 ele vendia nas ruas depois do colégio.
 
O jovem que se lançou às chamas, era, na verdade, um universitário graduado
que, como tantos outros, não encontrava um emprego apropriado. Ele tentou
sobreviver com dificuldades vendendo frutas e legumes, mas até mesmo isso se
tornou impossível quando a polícia o deteve por vender sem licença. Em
desespero, ele decidiu pôr fim à sua vida em gesto dramático. Ele faleceu
algumas semanas mais tarde. Esse incidente provocou uma onda massiva de
manifestações e protestos.
 
 
*Caréstia e desemprego, combustível da revolta *
 
O aumento no preço das commodities, em especial os alimentos, leva à fome, à
carestia ou à forte perda no poder de compra, uma das causas das revoltas
populares na Tunísia, no Egito e outros países. Esse aumento se deve à
especulação financeira, com os alimentos sendo considerados mercadorias e
negociados nas bolsas dos mercados e futuros, e não à falta de terras ou
capacidade para cultivar.
 
 <http://www.obrasileirinho.com.br/wp-content/uploads/2011/01/egito1.jpg>
 
A carestia dos artigos de primeira necessidade, a consequente fome, e a
perda do poder de compra dos salários pela elevação dos preços, associada ao
desemprego que explodiu após a crise mundial de 2008, são "combustíveis" que
acabam obrigando as populações a assumirem condutas mais críticas e duras
contra os governos anti-democráticos.
 
Os ditadores não ditam, eles obedecem ordens. "Ditadores são sempre
fantoches políticos. Os ditadores não decidem." O presidente Hosni Mubarak
do Egito, assim como era Ben Ali da Tunísia, é o fiel servidor dos
interesses económicos tanto das elites locais como das multinacionais
ocidentais. E na crise esses governos,a té mais que os pseudo-democráticos
(democráticos burgueses) se veem mais obrigados a atender esses interesses,
impondo aos trabalhadores às perdas com a crise e  aumento da exploração.
 
O levante começou como movimento contra o desemprego e a carestia, sobretudo
contra o preço dos alimentos, mas rapidamente converteu-se em revolução que
exigia liberdades civis e a deposição do homem que a população via como
responsável por suas tragédias. As multidões gritavam “Pão, água e sem Ben
Ali”.
 
O regime da Tunísia comprometeu a velha base produtiva da economia, seguindo
à risca  por anos a fio as recomendações de sempre do FMI e do Banco
Mundial, para privatizar indústrias e cooperativas agrícolas do setor
público. Em lugar do que antes havia, cresceu uma economia muito mais
contingente, de empresas têxteis e *call centers *operados por investidores
estrangeiros, que só ofereciam empregos e subempregos temporários e mal
remunerados, e *resorts* e *spas* para atrair turistas às ensolaradas praias
do país. Turismo e* call centers*, nos quais os tunisinos trabalhavam como
empregados de consumidores ocidentais, são os dois principais itens da lista
de exportações recomendada pelo Banco Mundial. Com a crise de 2008 tudo isso
veio abaixo.
 
É por isso, que a grande massa nas ruas denuncia a ilegitimidade também do
governo de transição iniciado com a queda de Ben Ali e exige “um novo
Parlamento, uma nova constituição e uma nova República”. A revolução na
Tunísia é precedente que fez ver no mundo árabe a possibilidade de
democratização, é de sua única possibilidade de construção de baixo para
cima, e como esta é necessidade primária para lutar contra as consequências
do capitalismo.
 

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