domingo, 25 de julho de 2010

Plano Real vai continuar com a Marina, Dilma e Serra

Em NY, investidores veem poucas diferenças em Marina
Para diretor da BlackRock, mercado está tranquilo porque "alicerces do
Plano Real vão continuar", seja com Marina, Serra ou Dilma

BBC Brasil | 23/07/2010 02:59

As propostas econômicas da candidata do Partido Verde (PV) à
Presidência, Marina Silva, expostas nesta quinta-feira em um evento
organizado pela BM&F Bovespa em Nova York, não surpreenderam os
investidores presentes. No geral, eles não viram diferenças entre a
visão de mercado da candidata e de seus concorrentes Dilma Rousseff
(PT) e José Serra (PSDB).

Os investidores ouvidos pela BBC Brasil já esperavam que a candidata
propusesse a manutenção das políticas macroeconômicas implementadas
pelo Plano Real e a independência do Banco Central. Marina confirmou
as expectativas dizendo que seu eventual governo se compromete com
"três alicerces macroeconômicos: o sistema de metas de inflação, a
responsabilidade fiscal e o regime de câmbio flutuante".

William Landers, diretor-gerente da gestora de ativos BlackRock, que
administra cerca de US$ 3 trilhões em recursos em todo o mundo, por
exemplo, disse que dar continuidade "ao que tem funcionado na parte
econômica é muito importante, porque o mercado, nessa parte de
políticas econômicas, não quer ver muitas mudanças". Landers é
responsável pela gestão dos fundos de ações dedicados à América Latina
que reúnem cerca de US$ 9 bilhões.

"Claramente, o foco dela é na parte ambiental, que é importante, mas
não sei se é possível ter uma plataforma completa de governo baseada
em meio ambiente", disse. "O meio ambiente está sendo discutido muito
por aqui, especialmente com todos os investimentos que vão ter que ser
feitos com a Copa do Mundo (de 2014) e os Jogos Olímpicos (de 2016),
mas acho que, no final das contas, a parte econômica (da apresentação
de Marina) ficou dentro do esperado."

Diferença

Landers acredita que "é difícil ficar diferenciando os candidatos,
porque (o discurso) é tudo muito igual". Ele diz que a eleição
presidencial não deve mudar a direção do mercado brasileiro. "O
mercado está tranquilo porque os alicerces do Plano Real vão
continuar, seja na administração de José Serra, de Dilma Rousseff ou
de Marina Silva. Isso dá tranquilidade para não se preocupar com as
eleições, e isso é o que é importante para o mercado hoje em dia."

Segundo Glenn Toth, diretor-gerente da Place Capital Advisors, "as
preocupações da candidata são pertinentes com programas de
investimentos em infraestrutura e capital humano", mas, "para
impressionar, ela precisaria entrar em mais detalhe na parte
financeira". Ana Soriano, diretora da Barclays Capital, disse que
faltou "saber quais são os planos (de Marina) para verdadeiramente
abrir o mercado brasileiro e atrair mais investimentos e talento
humano do exterior".

Os investidores aplaudiram apenas uma vez durante a apresentação da
candidata, após Marina ter declarado que não haverá perdão em seu
governo para empresas que infringiram leis florestais no passado. "A
ministra tem um papel importante na política brasileira, protegendo o
meio ambiente", disse Landers.

Oportunidades

William Rhodes, conselheiro-sênior do Citibank, concorda que o novo
presidente deve continuar as políticas macroeconômicas. "Nada é
perfeito, mas, no geral, essas políticas macroeconômicas têm sido
adequadas", diz. "Uma das coisas que o Brasil começou a fazer e que é
correto é começar a diminuir os programas de estímulo, e isso é
necessário porque muito dinheiro foi direcionado a esses programas. Se
o governo não começar a desacelerar um pouco, vamos acabar com uma
situação semelhante ao sul da Europa", diz.

"Se ele (o governo) superaquecer a economia, vai voltar a inflação. Se
há um país que conhece e respeita a inflação é o Brasil." Rhodes disse
ainda que o Brasil foi "presenteado" com oportunidades excelentes,
como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. "O relógio está correndo e
há muito a fazer."

Outros assuntos abordados por Rhodes durante o evento foram a
necessidade de investimento em capital humano, de reforma fiscal e
administrativa, de proteção ao meio ambiente, de redução da burocracia
e do custo de fazer negócios no país. "O Brasil foi reconhecido de
tantas maneiras. Ele é membro do comitê da Basileia, do G20, foi
escolhido como anfitrião para a Copa do Mundo e para os Jogos
Olímpicos. As pessoas estão olhando para o Brasil mais do que o
fizeram no passado, e isso faz com que os brasileiros também olhem
para si mesmos. Quando isso acontece, não há limites para a grandeza e
o potencial do país", disse.

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