Avança Amazonas x PSOL: o confronto desigual entre o Amazonas da Propaganda e o da realidade
Por Fernando Lobato - Historiador e Candidato a Vice-Governador pelo PSOL nas Eleições 2010
O que é a realidade? Aquilo que percebemos com os nossos sentidos ou a interpretação que a grande mídia faz dos fatos do dia a dia? Não pensem que seja fácil responder essa questão, visto que, na dinâmica frenética de nossa sociedade capitalista, o tempo é um bem escasso e deixa poucas brechas para o pensamento reflexivo. Se já é escasso para a reflexão sobre a vida individual e familiar, muito mais o é para a possibilidade de percepção acerca do mundo em que vivemos. Imersas nessa escassez de tempo, as pessoas se habituam a consumir informações pré-fabricadas de forma muito parecida com aquela fatia de pizza pré-p ronta que é levada ao forno para saciar a fome gastando pouco tempo.
Vivendo nessa conjuntura capitalista, as pessoas estão muito mais propensas a aceitar como realidade a interpretação que a grande mídia faz dos fatos, comprovando a máxima de Goebels, o chefe de propaganda de Hitler, de que uma mentira contada muitas vezes vira verdade inquestionável. Eis o que inspirou o Partido Socialismo e Liberdade a centrar sua campanha eleitoral na contradição que há entre dois Amazonas bem distintos: o da propaganda do Governo Eduardo/Omar e o da realidade propriamente dita. As contradições são inúmeras e evidentes para quem quiser percebê-las, mas, infelizmente, a grande maioria permanece presa na dimensão paralela que a propaganda governamental construiu.
Na propaganda eleitoral de Eduardo e Omar o Amazonas é retratado como terra da fartura e da felicidade. Numa das cenas veiculadas, um caboclo carrega um pirarucu imenso enquanto outros torra m farinha num grande tacho. O verde pulula na tela dando a entender que a Zona Franca Verde é um sucesso retumbante. Numa outra tomada, cheguei a sentir água na boca ao olhar para uma pilha de melancias com aspecto suculento. Num outro programa, um agricultor de Iranduba, que disse ter vindo do Pará, relatou que terra melhor que o Amazonas não há, pois o governo teria lhe dado terra, trator e muitas outras facilidades para produzir e ganhar dinheiro. Com esse enredo, não seria exagero dizer que o paraíso existe e fica aqui.
O PSOL, já consciente dos limites dessa propaganda governamental, lançou-se numa pesquisa de campo para averiguar os dados do Amazonas da realidade que, obviamente, quem está no poder não quer mostrar, visto que os mesmos, necessariamente, fragilizam o mundo mágico que a propaganda, com muito esforço, foi capaz de construir e, ao mesmo tempo, desmascaram aqueles que o forjaram. Não esperávamos, é bom destacar, que a distância e ntre ficção e realidade fosse tão grande, fato que, inclusive, nos surpreendeu e que nos faz ter dificuldade de dimensionar a largura do fosso que separa as duas dimensões. É como se olhássemos para um poço que nunca se consegue visualizar o fundo. Exagero nosso? Você vai ver que não.
Nossa viagem pelo Amazonas da realidade começou com uma análise de nossos dados econômicos. Na propaganda, somente se mostra o lado interessante do ponto de vista do marketing, ou seja, o de que Manaus é uma das capitais de maior PIB do país, logo mais ricas, ainda que o silêncio sobre quem fica com a maior parte dessa riqueza seja total. Não se fala ou comenta que o PIB de nosso interior é quase três vezes menor que o do Maranhão, reconhecidamente um dos estados mais desafortunados da federação. Os dados de nosso interior não são ainda mais catastróficos porque Coari, com seu gás e petróleo, dá uma importante contribuição numérica para evitar uma vergon ha ainda maior.
Municiados dos números do IBGE, começamos a checar a situação real da produção no interior e, para nossa própria surpresa, descobrimos que a realidade é bem pior do que os números dizem. Estávamos certos, por exemplo, que o ovo era o único alimento em que o Amazonas era auto-suficiente, ou seja, não era preciso importar para complementar a demanda de consumo, mas descobrimos que não, pois boa parte dele já vem de Goiás. Estávamos certos, também, que, apesar de grande parte da farinha de cada dia estar vindo do Pará e do Acre, ainda estaria longe o tempo em que teríamos que importar o inigualável tambaqui. Boquiabertos, descobrimos que o nosso peixe mais apreciado também já está vindo dos rios de Rondônia e Roraima.
Como se vê, não estamos falando de produtos como goma para tapioca, arroz, feijão, melancia, cheiro verde, banana, mamão, maracujá, laranja, tangerina e muitos outros que todos sabem ser importado s em grande medida e que, com pouco investimento, poderiam estar sendo produzidos aqui mesmo. O caso do cheiro verde, além de vergonhoso, demonstra o grau de absurdo a que chegamos, visto que se trata de uma especiaria chique que chega aqui de avião fretado. Quem nos lê, pode pensar que estamos contando uma daquelas histórias do personagem Pantaleão, que Chico Anísio, com seu talento fora de série, levou às telas, mas, infelizmente, trata-se da mais pura verdade.
Em qualquer lugar do Brasil, quando alguém do interior visita a cidade grande, na ida, leva produtos naturais para venda aos urbanóides e, na volta, trás produtos industrializados. No Amazonas, isso quase não ocorre. Voltam com industrializados sim, mas junto levam também melancia, laranja, frango congelado e outros produtos alimentícios que não conseguem adquirir na área rural. Moral da história, a renda salarial gerada pela Zona Franca e pelos órgãos públicos está indo quase toda em bora para melhorar a vida de quem vive fora do estado. Mas apesar disso, o governo continua a fingir que essa realidade não existe, que tudo são flores, que o Amazonas está avançando e vai avançar muito mais, que a Copa vai ser aqui e a vida de todos vai ficar ainda melhor, ou seja, continua substituindo o Amazonas real pelo da propaganda.
Em Manaus, o dinheiro ganho com muito trabalho não gera melhor qualidade de vida, pois a cidade incha cada vez mais e o caos aparece no trânsito engarrafado, no calor insuportável gerado pelo asfalto quente, no crescente número de crianças se drogando nas ruas, no crescente número de flanelinhas que disputam entre si as áreas de estacionamento. Como a realidade é um caos constante, torna-se necessário construir ilhas de fuga para os que podem pagar e isso move a indústria do Shopping Center, cada vez mais ativa em nossa cidade. Eis, para você que me lê, um breve e rápido resumo do modelo de desenvolvimento que a propaganda governamental vende como maravilhoso e perfeito. Nós do PSOL, preferimos ter a coragem de enxergar a realidade de frente para buscar entendê-la e superá-la, pois temos claro que o pior dos cegos é aquele que deseja continuar cego.
fonte: www.blogdofernandolobato.blogspot.com
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