segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A História Real do Brasil

*A HISTÓRIA REAL DO BRASIL - *Laerte Braga
 
Em pleno funcionamento do Congresso Nacional Constituinte (não tivemos
Assembléia Nacional Constituinte) e ainda sob a tutela de setores das forças
armadas, pior, sendo presidente da República José Sarney (aliado
incondicional da ditadura militar), o trêfego Pimenta da Veiga, deputado
eleito pelo PMDB de Minas, buscava assinaturas para propor emenda ao
anteprojeto de Constituição que determinava a liberação de documentos
secretos do governo federal após vinte e cinco anos e em casos extremos,
após cinqüenta anos, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos.
 
Um dos deputados procurados por Pimenta da Veiga foi Amaral Neto, oriundo do
lacerdismo e figura fundamental para a ditadura em seus primeiros momentos.
A resposta do deputado carioca foi fulminante – “você está louco, quer por
fogo no Brasil?”
 
Pimenta da Veiga, bem ao seu estilo tucano (é anterior à fundação do PSDB)
respondeu que aquilo não era para valer, era apenas para fazer média com seu
eleitorado.
 
Não prosperou como era fácil de prever. E Amaral Neto não assinou.
 
A candidatura do general Ernesto Geisel à presidência da República em 1974
foi imposta por seu irmão, Orlando Geisel, todo poderoso ministro do
Exército, do famigerado governo de Garrastazu Medice.
 
Geisel fora chefe do Gabinete Militar de Tancredo Neves, no breve período
parlamentarista no governo de João Goulart, historicamente era ligado ao
marechal Lott – falo de Ernesto – e tido como militar anti-americano entre
seus pares. Escapou do processo de degola nas forças armadas após o golpe de
1964 por conta de dois fatores. O primeiro deles Castelo Branco. Foi o
presidente que abriu a temporada de barbárie e era amigo íntimo do Geisel
que viria a ser o futuro presidente. Segundo, seu próprio irmão, Orlando.
 
De qualquer forma foi jogado em escaninhos das forças armadas. Primeiro na
PETROBRAS e em seguida no STM (Superior Tribunal Militar), uma espécie de
velório para militares incômodos ou então prêmio para amigos dos donos do
poder.
 
O principal mentor político de Geisel, ou oráculo do ex-presidente, era
Tancredo Neves, então deputado federal do PMDB. E foi de Geisel que partiram
as primeiras articulações dentro das forças armadas para levar Tancredo a
ser o primeiro presidente civil no pós ditadura.
 
Entre o golpe de 1964 e sua candidatura presidencial Ernesto Geisel
dedicou-se ao exercício de não falar nada, entrar na muda como dizem em
Minas, para evitar ser estraçalhado pela chamada linha dura – extrema
direita – do Exército brasileiro.
 
A própria escolha de Garrastazu Medice se deu após o golpe dentro do golpe
em 1968, com a incapacidade do presidente Costa e Silva, num processo
eleitoral interno, dentro das forças armadas. Disputou a indicação e venceu
o general Afonso de Albuquerque Lima, que acabou ministro do Interior.
 
Medice era o preferido dos grupos de repressão e as eleições nos quartéis
quase que repetiram o sistema de votação anterior à revolução de 1930. Voto
aberto e sob vigilância dos setores que detinham os comandos. Era uma época
em que a tal hierarquia se fundava na maior vocação para a barbárie. Vale
dizer que em determinados momentos sargentos mandavam mais que majores,
capitães, por aí afora.
 
Contava o número de escalpos de presos políticos torturados, presas
estupradas, assassinatos, o de sempre em regimes dessa natureza e com essa
característica.
 
Sem julgamento de mérito, Ernesto Geisel equilibrou-se entre concessões à
linha dura e atitudes como a mandar Delfim Neto para ser embaixador em
Paris, numa espécie de exílio dourado, mas longe do Brasil, conhecida a
extraordinária capacidade do ex todo poderoso ministro para articulações de
bastidores (fofocas para ser mais direto).
 
A cada passo numa direção Geisel dava outro noutra direção.
 
O assassinato de Wladimir Herzog foi um desafio à determinação do general
presidente de colocar um fim à tortura. Mas só conseguiu demitir o
comandante do antigo II Exército, com a segunda morte, a do operário Manuel
Fial Filho. Geisel, dentro de seu Ministério, tinha um adversário, Sílvio
Frota, ministro do Exército e ligado à linha dura.
 
A vitória final de Geisel só veio quando da indicação do general João
Baptista de Oliveira Figueiredo para seu sucessor. Com apoio do chefe do
Gabinete Militar Hugo de Andrade Abreu o presidente deu um contra golpe às
manobras de Sílvio Frota. O ministro pretendia ser ele o indicado para
concorrer à sucessão presidencial.
 
A rigor, Frota, que tinha como certo o apoio da maioria da tropa, foi pego
de surpresa e praticamente ficou detido no chamado Forte Apache – Brasília –
enquanto Hugo Abreu anulava suas forças principalmente dentro do Exército.
 
O golpe militar de 1964 promoveu o maior expurgo na história das forças
armadas brasileiras. Mais de dois mil e quinhentos oficiais, suboficiais e
sargentos foram reformados ou demitidos, muitos deles presos e assassinados,
caso do capitão Lamarca e do major Cerveira, por exemplo. Ou do brigadeiro
Rui Moreira Lima, de larga tradição legalista dentro da força aérea, vivo
até hoje e exemplo de brasilidade em todos os sentidos.
 
O próprio Eduardo Gomes, fundador e patrono da Aeronáutica brasileira foi
colocado numa geladeira ao dar apoio ao capitão Sérgio Macaco punido por ter
denunciado o plano terrorista do brigadeiro Burnier. Esse queria explodir o
gasômetro no Rio de Janeiro e colocar a culpa do atentado nos comunistas,
aumentando o tom da repressão. Anulando os chamados setores moderados do
golpe.
 
Há dúvidas sobre as circunstâncias da morte de Castelo Branco, como resta
como última tentativa visível de sobrevivência das forças de extrema
direita, o fracassado atentado do Rio Centro, no Rio, durante um show de
música popular brasileira. No governo Figueiredo. A bomba explodiu no colo
de um sargento que estava a bordo de um karmanghia com um capitão, ambos
encarregados do atentado. Os culpados seriam os comunistas.
 
O sargento morreu e o capitão terminou coronel. Valeu a saída de Golbery do
Couto e Silva, ligado a Geisel e que defendeu a punição dos culpados com
inquérito público.
 
O processo democrático, numa boa medida, implica em reconstrução das forças
armadas brasileiras. A imensa maioria dos chefes militares continua batendo
continência para a bandeira e os interesses dos Estados Unidos e enxergando
a presença de comunistas debaixo de cada cama de cada brasileiro.
 
Não há um compromisso explícito dos militares brasileiros com o País, mas
com empresas multinacionais, latifúndio e a política imperialista dos EUA.
Vivem ainda na pré-história, no tempo da guerra fria.
 
Uma das atitudes de Geisel quando presidente foi romper o acordo militar
Brasil – EUA. Uma das concessões mais perigosas do governo Lula na sua
política de uma no cravo e outra na ferradura foi o de reatar esse acordo.
 
Outra atitude de Geisel foi fortalecer a IMBEL (INDÚSTRIA BRASILEIRA DE
MATERIAL BÉLICO) e a ENGESA (ENGENHEIROS ESPECIALIZADOS S/A). Num dado
momento os veículos militares brasileiros, produzidos por essas empresas
estatais, OSÓRIO e URUTU se mostraram superiores aos produzidos pela
indústria bélica dos EUA, da França, da Grã Bretanha, da Bélgica e ganharam
mundo afora sobretudo países árabes como a Líbia e o Iraque.
 
A EMBRAER, ainda estatal, começou a desenvolver em parceria com setores da
construção aeronáutica da Itália, um projeto de caça bombardeio com
tecnologia brasileira e italiana.
 
Quando citei acima a questão dos documentos secretos tinha em mente a
história até agora secreta, das pressões e ações (de guerra inclusive) do
governo dos EUA, contra a exportação de equipamentos bélicos produzidos por
empresas estatais brasileiras para outros países.
 
O sucateamento da ENGESA e da IMBEL começou no governo Figueiredo e foi
acentuado nos seus sucessores civis. A EMBRAER estatal, capaz de colocar a
indústria aeronáutica brasileira entre as melhores do mundo, foi privatizada
no governo de FHC.
 
Nada por acaso, tudo deliberado em Washington. Militares e governos
subordinados aos interesses norte-americanos.
 
É recente a decisão do governo do ex-presidente Bush de vetar a venda de
aviões de treinamento tucano da EMBRAER para a Venezuela. Por deterem
tecnologia norte-americana em determinados componentes e pela participação
acionária de grupos dos EUA.
 
Essas concessões, perigosas e que ferem a nossa soberania, plenas a
absolutas no governo de FHC, cederam, por exemplo, no primeiro escândalo
daquele governo (por si só um escândalo), o controle da Amazônia, no projeto
SIVAM – SISTEMA DE VIGILÂNCIA DA AMAZÔNIA –, operado por uma “empresa” dos
EUA e militares brasileiros, ou supostamente brasileiros.
 
FHC só não cedeu a base de Alcântara, no Maranhão, por força da pressão
popular e da reação de setores nacionalistas das forças armadas.
 
A hipótese da eleição do candidato José Arruda Serra abre a possibilidade
tão sonhada pelos norte-americanos no campo militar. Bases no Brasil. Na
Amazônia, no Nordeste e no Sul.
 
Várias tentativas já foram feitas e refugadas.
 
Como dizia Nixon, “para onde se inclinar o Brasil, vai se inclinar a América
Latina”, logo, é fundamental ter o controle do Brasil.
 
Num momento em que os EUA assumem o controle de praticamente todo o mundo a
partir de uma “uma embriaguês pelo poder militar” (definição de Hans Blinx,
inspetor da ONU no Iraque à época que precedeu a invasão - 2003 – e
constatou a mentira das armas químicas e biológicas) o Brasil ganha
contornos vitais para a política capitalista e imperialista norte-americana.
 
A presença de governos independentes e com projetos de integração
latino-americana como o da Venezuela, da Bolívia, da Nicarágua, Cuba, a
própria Argentina e o Brasil noutra dimensão – uma no cravo outra na
ferradura – ou o “capitalismo a brasileira” como bem definiu Ivan Pinheiro,
secretário geral do PCB – Partido Comunista Brasileiro – e candidato à
presidente da República, transforma o processo eleitoral brasileiro num jogo
decisivo para as políticas norte-americanas.
 
Lula reativou o acordo militar com os EUA e com isso abriu espaços para os
militares que vestem fardas brasileiras e pensam e prestam obediência a
Washington e em seus quase oito anos, não foi capaz de resolver o problema
de novos caças bombardeios para a FAB – FORÇA AÉREA BRASILEIRA -, tamanhas
as pressões dos EUA, tanto quanto, retardou a construção de submarinos
nucleares, indispensáveis à nossa soberania. A compra de dois desses
submarinos à França foi paliativo, temos tecnologia nacional para construir
essas belonaves.
 
Se uma no cravo e outra na ferradura é uma forma de buscar avanços
compensatórios em outros setores, é algo a se discutir. As concessões muitas
vezes, ou todas as vezes, são maiores que os ganhos. A própria política de
alianças é complicada quando se tem setores do latifúndio próximos do
governo.
 
O agronegócio é uma das formas de dominação econômica e estratégica. Está
todo ele em mãos estrangeiras. Cria um nível de dependência absoluto na
agricultura.
 
É claro que retrocesso é José Arruda Serra. Não significa que Dilma Roussef
seja avanço lato senso. Significa que uma volta aos tempos de FHC liquida
qualquer perspectiva a curto e médio prazo de nos transformamos numa
potência livre, soberana e justa em todos os sentidos.
 
E isso, como disseram Ivan Pinheiro em entrevista a RECORDNEWS e Plínio de
Arruda Sampaio no debate da BANDEIRANTES, vai depender basicamente dos
movimentos populares. Da formação e organização. São a força motriz da real
independência do Brasil.
 
Se não temos bases militares dos EUA no Brasil, temos boa parte de nossas
forças armadas colonizadas e subordinadas aos EUA.
 
E o maior de todos os desafios em tempos atuais. O da Comunicação. A grande
mídia em nosso País é tudo menos brasileira. Controlada por grupos
econômicos estrangeiros, submissa a interesses de potências outras.
Concentrada em poucas mãos, poucas famílias (mafiosas), tenta moldar o
pensamento do brasileiro de tal forma que num dado momento, por exemplo,
saci pererê some para dar lugar ao haloween. Nossas escolas, tanto privadas
como públicas, já incorporaram essa data ao seu calendário. É só um exemplo.
 
A história real do Brasil precisa ser conhecida. Precisa ser pública. E um
desafio, dentre tantos para o próximo governo, o Poder Legislativo, é acabar
com os segredos de Estado.
 
Exibir a barbárie nua e crua da ditadura militar que hoje permite a
torturadores como Torres de Melo se arvorarem em patriotas defensores da
honra nacional. Mas pior que ele, pau mandado, na junção de grandes
empresas, latifúndio, banqueiros e boa parte das nossas forças armadas,
transformados em uma realidade de espetáculo, alienar o cidadão comum, as
classes médias (come arroz e feijão e arrota maionese e está sempre pronta a
dizer sim senhor), impedir que o movimento popular ganhe força,
criminalizando-o (a recente CPI do MST não encontrou nenhuma irregularidade
no uso de financiamentos para agricultores e a GLOBO sequer tocou no
assunto), enfim, uma espécie de FANTÁSTICO SHOW DA VIDA, onde o principal
problema do Brasil é o goleiro do Flamengo, Bruno.
 
Não se trata só de abrir os baús da ditadura. Mostrar a face real dos
governos militares. Mas colocar a nu também os que hoje se escondem sob o
manto da democracia e conspiram para que sejamos apenas um sonho emasculado
em colônia do capitalismo selvagem dos norte-americanos e tudo o que
representam.
 
Gente padrão Jarbas Vasconcelos, Roberto Freire, Alberto Goldman, etc, etc.
 
Aviões militares fabricados por Israel estão, dois deles, na região de Santa
Cruz do Sul, com presença de técnicos de Israel, fazendo demonstrações de
vôos não tripulados e podem vir a se incorporar a FAB.
 
São vinte toneladas de equipamentos no aeroporto Luís Beck da Silva. São
dois “HERMES 450” fabricados pela empresa israelense ELBIT SYSTEMS e perto
de quarenta homens acompanham os exercícios da Base Aérea de Santa Maria,
entre eles representantes da empresa fabricante e seus credenciados no
Brasil, a AEROELETRÔNICA.
 
Esses aviões são usados no Oriente Médio para monitorar o povo palestino,
despejar bombas, monitorar o sul do Líbano e a eventualidade de uso deles
pelo Brasil implica em dependência tecnológica – não há transferência de
tecnologia para o Brasil -, naquilo que somos capazes de fazer.
 
Segundo o tenente coronel Paulo Ricardo Laux, gerente do grupo de trabalho
os aviões vão se exibir até o dia vinte de agosto.
 
Por coincidência ou não, a grande colônia palestina no Brasil está naquela
região, no Sul do País. Onde Bush queria colocar uma base para controlar o
“terrorismo”. E também o Aquífero Guarani, a quinta maior reserva de água
subterrânea do mundo.
 
É hora de encarar o desafio de expor as histórias secretas que são, na
verdade, as histórias reais dos que controlam o Brasil e querem-no colônia
de interesses estrangeiros. E de enfrentar o desafio da Comunicação. Romper
a barreira imposta pela grande mídia corrupta, venal e dominada igualmente
por esses mesmos grupos.

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