Frei Fernando de Brito: ‘Justiça é parte essencial da democracia e da fé’
Tatiana Félix *
Adital -
Frei Fernando de Brito lança hoje (25), em Fortaleza, Ceará, seu livro "Cartas da Prisão e do Sítio", dando início à série Coleção Ao Portador, do Instituto Frei Tito de Alencar. O lançamento acontecerá às 18h, no auditório Rachel de Queiroz, bloco Ícaro de Sousa, na Av. da Universidade, 2762, no bairro Benfica e encerra as atividades da I Semana Municipal de Direitos Humanos Frei Tito de Alencar, que acontece na capital cearense desde a última segunda-feira (23).
A iniciativa do Instituto Frei Tito pretende resgatar as memórias do período em que os frades dominicanos, como Frei Tito e Frei Fernando, defenderem um sistema socialista, além disso, fortalece os debates sobre Lei da Anistia, novas práticas de tortura, o papel da igreja e dos Direitos Humanos.
Sobre a primeira parte do livro, "Cartas da Prisão", Frei Fernando informou que o objetivo dos religiosos presos era escrever aos seus familiares e amigos denunciando o que acontecia na prisão, as injustiças cometidas e a perseguição política. "A gente estava em uma situação semelhante a dos cristãos como Paulo, que escreveram o Evangelho," comparou.
Frei Fernando recordou que na época da ditadura, muitos diziam que o movimento contra a repressão era fraco e que eles não conseguiriam implantar o Socialismo. "Mas, a luta era contra a repressão, contra a tortura e pelos Direitos Humanos, e não pela implantação do socialismo", esclareceu.
Ele destacou que ainda hoje existe tortura, praticada em delegacias, por policiais e por grupos de extermínio, mas, ressaltou que, apesar de precisar ainda de avanços, a democracia foi uma conquista. "Muitas conquistas vieram deste tempo. Hoje, temos os Direitos Humanos e meios de comunicação que dão espaço para esse movimento sem que haja perseguição", completou.
Já a segunda parte da obra, "Cartas do Sítio", são relatos de uma época posterior, quando em 1996, ele passou a viver no Sítio do Conde, no litoral norte do estado da Bahia. "Queria manter contato com amigos de outros estados. As cartas transmitem a vivência de coisas pequenas com o povo pobre, são fatos reais relatados com sentimento, angústia, alegria, desespero, solidariedade", explicou.
Frei Fernando disse que o que liga estes dois momentos tão diferentes registrados no livro, é o povo. "Dentro da prisão, era um universo político daqueles que lutaram pelo povo, e no Sítio são os relatos das necessidades e costumes vividos do povo pobre, como eles vivem o amor de Deus por eles. É outra forma de lutar pelos Direitos Humanos", afirmou.
Para ele, a publicação das obras que compõem a Coleção Ao Portador e a realização da I Semana Municipal de Direitos Humanos Frei Tito, junto com outros eventos que acontecem pelo país, fortalecem toda a Rede que luta pelo fim da tortura, pela revisão da Lei da Anistia e pela implantação dos Direitos Humanos. "A gente não pode esquecer a justiça é parte essencial da democracia e da fé", finalizou.
Frei Fernando
Frei Fernando é um frade dominicano, nascido em Visconde do Rio Branco, em Minas Gerais. Foi preso político entre os anos de 1968 e 1974 em São Paulo e sofreu sessões de tortura por proclamar o Evangelho e lutar pelo fim da ditadura no país. Atualmente, o religioso vive na Bahia, lutando pelo fim das desigualdades sociais.
Para conhecer os relatos de Frei Fernando acesse: http://frbritoop.blogspot.com/
* Jornalista da Adital
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